31.5.07

Prendam a chuva

A chuva continua a cair em Aveiro. Ocorre-me novamente...




Aplastamiento de las gotas







Yo no sé, mira, es terrible cómo llueve. Llueve todo el tiempo, afuera tupido y gris, aquí contra el balcón con goterones cuajados y duros, que hacen plaf y se aplastan como bofetadas uno detrás de otro, qué hastío. Ahora aparece una gotita en lo alto del marco de la ventana; se queda temblequeando contra el cielo que la triza en mil brillos apagados, va creciendo y se tambalea, ya va a caer y no se cae, todavía no se cae. Está prendida con todas las uñas, no quiere caerse y se la ve que se agarra con los dientes, mientras le crece la barriga; ya es una gotaza que cuelga majestuosa, y de pronto zup, ahí va, plaf, deshecha, nada, una viscosidad en el mármol.

Pero las hay que se suicidan y se entregan enseguida, brotan en el marco y ahí mismo se tiran; me parece ver la vibración del salto, sus piernitas desprendiéndose y el grito que las emborracha en esa nada del caer y aniquilarse. Tristes gotas, redondas inocentes gotas. Adiós gotas. Adiós.

Texto e voz de: Julio Cortázar

As casas pressentidas #2

como água nos meus olhos, um livro de poesia. de Luís Serrano. casas pre(s)sentidas.


AS MÃOS E A CASA

As mãos tocam o frio
das paredes
deixam na casa
uma réstea de luz
a memória inexpugnável
de um gesto

Agora a casa
pode ruir
transformar-se de repente
numa lembrança
de pedra
de madeira rasgada
pelo vento

ou as mãos
regressarem à terra
a voz
perder-se nas arquivoltas
do coro

que nada
nem ninguém
apagará o silêncio desse gesto
o rasto discreto
de um tal signo

Night Mare


Deitei-me às 21h30, depois de adormecer as minhas filhas. Estava cansada. Vivo numa casa muito velha, as madeiras rangem, as cores das paredes, das carpetes, dos pesados cortinados de cetim, estão desbotadas, mas gosto do tom quente que resiste ao tempo. Os móveis também são de outra época, já cá estavam quando aluguei a casa e dão-lhe um ar decadente. mas já me habituei. É um velho e imenso apartamento. Na verdade, uma parte da casa não está sequer ocupada, é como se existissem dois apartamentos ligados, mas só um estivesse vivo. Estou animada com a chegada de outro casal, mesmo se me incomoda um pouco a ideia de partilharmos o mesmo espaço. Também eles mudam de país com frequência. São franceses. Ela chama-se Charlotte e andou todo o dia a encaixar os seus pertences nos quartos que lhe cedi. O mais difícil foi decidir onde deitar a bébé. Eles já viveram aqui, e a verdade é que nem sabem como aceitaram voltar a esta casa. Do outro lado, na parte desocupada, às vezes aparecem pessoas que já morreram. Eu já vi uma mulher e uma menina, talvez sejam mãe e filha, e andam sempre juntas. Ambas usam vestidos compridos, de tecido de veludo verde escuro, têm o cabelo preso, bem arranjado. É estranho quando nos fixam, mas não são muito expressivas e mantêm-se sempre a uma certa distância.
As minhas filhas adoram a ideia de ter uma bébé em casa. Nós, os adultos, decidimos sair para festejar a chegada dos nossos amigos. Decidimos ir "àquele lugar". Todos dizem que é fantástico, o meu marido já lá foi e fala muito da parte da Vénus, mas eu só imagino como será. A verdade é que, mal chegámos, me desagradou o excesso de gente. O sítio é uma espécie de labirinto, cheio de barreiras que temos que atravessar entre espaços. Muitas escadas de corda, vários desníveis que nos obrigam a saltar ou a mergulhar, redes por todo o lado separando vias de acesso, uma confusão! Inicialmente até estava divertida e fiquei espantada com a minha rapidez e agilidade. Mas depois apeteceu-me sair dali, e lembrei-me que deixara as crianças sozinhas. Era estranho não me ter lembrado disso mais cedo. Felizmente o meu marido também quis regressar, disse-me que havia ali um quarto com cadáveres empalhados e que hoje não tinha disposição para ver aquilo. Passámos pela zona Vénus no caminho para a saída. Havia quilos e quilos de felpo e tínhamos que descobrir a abertura, colada com fita aderente. Era contagiante a animação. Acabei de joelhos, à procura. Um amigo explicou-me como funcionava e todos me avisaram que, uma vez lá dentro, deveria procurar a saída vermelha, por ser a mais divertida ou a mais sensual, não percebi bem. A ideia era enfiar-me de cabeça no buraco, deixando todo o corpo deslizar, e foi o que fiz. Não esperava encontrar tanta gente naquela espécie de cave, respirava-se mal, o tecido de felpo cobria-nos, havia uma luz ténue, alaranjada, tentei avançar mas tropecei, fiquei cheia de calor, um calor insuportável, comecei a entrar em pânico, já só queria sair dali, ia gritar, gritar para me tirarem dali... mas acordei antes do grito, sentindo uma pressão enorme no peito e medo. O pesadelo perseguia-me, absolutamente nítido.

Levantei-me da cama. Já passava da meia-noite.

Vai ser difícil voltar a adormecer.
Ouço as notícias, ligo o portátil e escrevo. Se houvesse por aí um psi que quisesse interpretar o sonho, eu deixava.

Monte da Lua

O Divas é um dos blogues do momento n' O Monte da Lua, que é um sítio diferente do Mar da Tranquilidade. Agradeço o destaque ao astronauta José Cavalheiro!

(e desisto do Technorati)
(a imagem é da minha iniciativa: mas espero que JC não aprecie a águia. uma águia como insígnia da missão Apollo 11! na atmosfera lunar um lagarto seria muito mais oportuno!)

30.5.07

P.S.:

Não se esqueçam de escutar Diarabi na coluna ao lado ou aqui. Esta música embala bem a poesia.

As casas pressentidas

intermitente, nas minhas mãos, um livro de poesia. de Luís Serrano. casas pre(s)sentidas.


A VELHA CASA

Noutro tempo
os frutos anoiteciam
sobre a mesa

ou subiam
pelas paredes brancas
dos quartos

aguardavam as crianças

e a casa
retinha um aroma
de maças e terra

de terra e fábula

Havia pêssegos e uvas
relembro

e uma água antiga
ascendia no ar
prolongava pela noite
um silêncio
de gestação

sobre o espanto
da infância adormecida

Era grande a casa
por esse tempo

grande a mesa

agora não mais
do que aquilo que resta
dum castanheiro
sem idade

El Crimen del padre Amaro

O crime do Padre Amaro, de Carlos Carrera, com Gael García Bernal e Ana Claudia Talancón, será exibido hoje no Auditório da Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, em Famalicão.

O filme baseia-se na obra homónima de Eça de Queirós. Após a projecção, seguir-se-à um debate com a moderação de Cláudia de Sousa Dias____ que todos conhecem de
Há sempre um livro...

Horrores do Afinador

Depois do Livro que continua à espera dos vossos Princípios, do inteligente Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz que já chegou aos sem cem, O Afinador de Sinos lançou a Casa dos Horrores. O melhor pior é que estas casas são mais familiares que estranhas!

(...) A polícia organizou uma demonstração de como deve a população reagir em caso de sequestro dentro de um autocarro. Alguns polícias faziam de sequestradores, populares faziam de utentes, os restantes polícias faziam de si próprios. O exercício iniciou-se e uma metralhadora começou a disparar balas verdadeiras.(...) [aqui]

Mack the knife

Ainda a Ute Lemper e as vontades que ela pode dar! Isto tudo sem se ver! Imaginem se pudéssemos ver!

29.5.07

Banda Sonora II

Hoje, de novo, no programa Banda Sonora, do Rádio Clube Português, com o Nuno Infante do Carmo. AQUI. Às 23 horas dou-vos música!

O Sol dos Scorta #4

"- As gerações sucedem-se, don Salvatore. E, vendo bem, qual o significado de tudo isto? Será que, no fim, saberemos alguma coisa? Pense na minha família. Os Scorta. Cada um lutou à sua maneira. E, cada um à sua maneira, todos conseguiram superar-se. Para chegar a quê? A mim? Sou realmente melhor do que foram os meus tios? Não. Então de que serviram os seus esforços? De nada. Don Salvatore, de nada. É de chorar, ter de dizer isso.
- Pois é - respondeu don Salvatore -, as gerações sucedem-se. Basta que façamos o melhor que soubermos, que transmitamos alguma coisa e cedamos o lugar.
(...)
- Estava justamente a perguntar-me - prosseguiu o padre -, antes de chegares, Elia, no que se tornou a nossa aldeia. É o mesmo problema. A outra escala. Diz-me, em que se tornou Montepuccio?
- Num saco de dinheiro sobre um monte de pedras - respondeu Elia amargo.
- Sim, o dinheiro enlouqueceu-os. O desejo de possuir cada vez mais. O medo de lhe sentir a falta. O dinheiro é a sua única obsessão.
- Talvez - acrescentou Elia -, mas importa reconhecer que os montepuccianos já não morrem de fome. As crianças já não sofrem de malária e todas as casas têm água corrente.
- É verdade - disse don Salvatore. - Enriquecemos, mas quem avaliará, um dia, o empobrecimento que acompanhou esta evolução? A vida da aldeia é pobre. Estes cretinos ainda nem sequer se aperceberam."


in O Sol dos Scorta, um romance de Laurent Gaudé. pp 212



Qualquer semelhança com a realidade não é pura coincidência.

28.5.07

Banda Sonora

Banda Sonora é um programa da autoria de Nuno Infante do Carmo. Passa às 23h no Rádio Clube Português. A convidada de hoje e amanhã, terça-feira, sou eu. Ao Nuno, agradeço o convite e as horas passadas no melhor estúdio do mundo. Vocês, não se esqueçam de sintonizar o RCP ou de ouvir aqui a emissão !

Michel Houellebecq realizador de cinema


L'Hebdo Cinéma 3 février 2007


Michel Houellebecq inscreve-se agora "na casta restrita e heterogénea de romancistas realizadores" em França. Antes dele, Cocteau, Marcel Pagnol, Christophe Honoré, Emmanuel Carrère ou, mais recentemente, Marc Lévy (com a adaptação de Mes amis Mes amours).

A adaptação ao cinema do livro A possibilidade de uma Ilha será realizada pelo escritor lui même. Escrever um guião sem ter escrito o romance não lhe interessaria. Para Houellebecq, o processo de realização começou com a escrita do livro. A circunstância de ser escritor-realizador parece-lhe facilitar a tarefa de adaptação "porque não temos nenhum respeito por nós próprios" e assim não se sentirá condicionado se tiver que alterar elementos do romance, por estes não funcionarem em cinema. O que lhe parece difícil é escolher as pessoas, actores e outros colaboradores. Há pontos comuns entre os romances e os filmes. Por exemplo, na escrita, os personagens acabam por escapar ao seu autor. Cita o caso da personagem Valérie no livro Plataforma que "lhe estragou completamente o livro, ganhando todo o protagonismo". Um actor, em função da escolha que for feita, também vai "bifurcar", dar um sentido particular à personagem.

Mesmo tratando-se de Houellebecq, que conhece já a glória na literatura, as reacções a este seu projecto, por parte do mundo do cinema, não foram as mais positivas, e em matéria de financiamentos (públicos) as portas não se abriram como seria de esperar. Por razões de cultura de Estado, diz Houellebecq.

Será ele igualmente apaixonante por trás da câmara? Fez estudos (que não concluiu) no Institut Lumière, realizou quatro curtas metragens, admira Louis de Funès e David Lynch, mas apenas adianta que este será "um filme de antecipação" (não exactamente science fiction), como aliás, para quem já leu o livro, é de esperar. A (segunda) Possibilidade de uma Ilha em cinema já está a ser rodada. Aguardemos, pois!

Ando a ler...



Um dos primeiros livros de um dos meus escritores (muito contemporâneos) preferidos. Recentemente publicado em Portugal pela Quasi Edições.

27.5.07

试听|下载本曲铃声|免费点本歌给朋友|歌词|MP3

Andei à procura de uma faixa precisa do último álbum dos Maroon 5... e finalmente encontrei-a! Vamos ser muitos Back At Your Door!

Nomeação II



A Hipátia também acha que este é um blog com tomates.
Obrigada pela distinção! Já agora, para quando um jantar, mesmo sem escritor famoso?
Jean-Sébastien Monzani
Dreamland, The Tree of Knowledge



Feiras do livro a definhar


77ª Feira do Livro do Porto


77ª Feira do Livro de Lisboa


Feira do Livro de Aveiro


O Sol dos Scorta #3

"- É ouro- dizia o tio. - Quem disser que somos pobres nunca comeu um pedaço de pão ensopado em azeite do nosso. É como quem saboreia as colinas. Cheira a pedra e a sol. Cintila. É bonito, espesso, untuoso. O azeite é o sangue da nossa terra. (...)
Talvez sejamos miseráveis e ignorantes, mas por termos extraído azeite das pedras, por termos feito tanto de tão pouco, salvar-nos-emos."

in O Sol dos Scorta, um romance de Laurent Gaudé pp 133

26.5.07

Comunicar é preciso


A Igreja das Carmelitas, uma das mais belas de Aveiro, abriu as portas ao público (desde 4 de Abril). Foi restaurada e vale mesmo a pena a visita! Acreditem que franquear aquela porta na Praça Marquês de Pombal é garantia de deslumbramento. A riqueza das paredes azulejadas, os motivos e a intensidade da cor nas pinturas do tecto, o ambiente envolvente que a luz filtrada pelas janelas favorecem, deixam-nos forçosamente contemplativos e deleitados. Entrar naquela Igreja é também forçar-nos a uma pausa no quotidiano. Quando por lá passo, é raro não entrar, nem que seja por uns segundos, para buscar o belo, o repouso ou o empolgamento, a sensação de regresso a um passado glorioso, mesmo que excessivo, na fé e na ostentação. Deambulo por ali, é uma Igreja pequena, fixo mais um pormenor...

Mas nunca vi nenhuma informação, um folheto mínimo, que esclarecesse o visitante sobre a história da Igreja ou sobre as pinturas e azulejos recentemente restaurados. Especulamos pois, certamente mal, sobre os factos históricos e os sentidos que nos invadem os olhos.


Retrato de Santa Joana Princesa
Nuno Gonçalves, 1472-1475


Leio no site do IPM que essa abertura foi "assegurada pelo Museu de Aveiro durante o período de obras do Museu, na sequência de protocolo entre a Paróquia da Glória, o IPPAR (Direcção Regional de Coimbra) e o Museu. O Museu de Aveiro fica agora com um circuito de visita aberto ao público constituído pela Igreja do antigo Convento de Jesus, de Aveiro, e Túmulo da Princesa Santa Joana, (do Museu de Aveiro), e pela Igreja das Carmelitas, de Aveiro.
O horário de abertura ao público é das 10.00 às 13.00 e das 14.00 às 17.30, de terça-feira a Domingo, (excepto os dias feriados de 1 de Janeiro, Domingo de Páscoa, dia 1 de Maio e 25 de Dezembro), sendo a entrada gratuita.
"

Leio no site do IPM porque o Museu de Aveiro não tem site!


O Museu não tem site mas "Aveiro e o convento no tempo da Princesa Joana" poderão vir a encantar os mais pequenos. Acabo de ler numa pequena nota de imprensa que no dia 29 de Maio vai acontecer o lançamento do site infantil Era Uma Vez Em Aveiro, um projecto gerido pelo Museu de Aveiro. O site já está on line, pelo que os nossos filhos/alunos já podem começar a explorá-lo. Quanto aos adultos, especular sobre factos e sentidos faz parte da nossa civilização! E enquanto esperam pela sua vez, também podem ir até lá. A visita virtual é divertida!

Oficinas Sem Mestre ou Era uma vez... todas as crianças

"A associação Oficinas Sem Mestre tem por objectivo o bem estar da criança e pretende ser um lugar onde se operam grandes transformações, um espaço onde se pensa a saúde mental, com todas as perplexidades, dúvidas, inquietações, intuições e possíveis caminhos que isto possa sugerir. A ideia das Oficinas nasceu há cerca de dois anos pela mão de um grupo de psicólogos de Aveiro, Coimbra e Lisboa. Cedo abriram as portas a outras áreas profissionais. Em comum todos eles trabalham diariamente com crianças. (...)"

A não perder: a entrevista com a psicóloga Maria João Regala no jornal O Aveiro

Entretanto, hoje, todos estão convidados a participar na tertúlia Prevenindo comportamentos de risco: diferentes estratégias para a promoção de estilos de vida saudáveis.

Oradores: Paula Garcia (Teatro Viriato) e Maria João Regala (Psicóloga Clínica)
Dia 26, às 15h, na Escola Básica 2/3 - Aires Barbosa, em Aveiro

25.5.07

Nomeação



Vim agora da minha tertúlia e ficaram-me as palavras do F.. Ele falava destes tempos em que é tão evidente a superação do ser pelo parecer. Não sei se tenho ou não tomates, há momentos em que me convenço disso e outros em que tenho sérias dúvidas. Por exemplo, confesso que não sei como reagir contra toda a desinformação que nos rodeia, as overdoses de notícias sobre o triste caso da menina desaparecida no Allgarve, os diplomas e as anedotas, a multiplicação de pães candidatos à CML, a multiplicação de peixes arguidos nas autarquias, exigências de demissão de ministros e directores, OTA e alternativas condenadas à partida, reduções do déficit e greves gerais, e nada, nada com substância, com coerência, princípio, meio e fim, teoria e prática, sentido do consequente, nada que nos faça querer arquivar a folha do jornal, ou sentir que vale a pena a inquietude, porque esta se generaliza e por isso algo vai mudar. É preciso ter tomates para quê? Para continuar a denunciar, para além das simpatias políticas? Para permanecer no nosso parvo quotidiano fiel a ideais esparsos? Ok, tenho tomates, tenho tomates com sete vidas. E depois?

Por agora, basta-me nomear outros cinco blogs com tomates. Canja!

A Ilusão da Visão

Dolo Eventual

Esquerda Republicana

O Mundo Perfeito

Vida das Coisas

O Sol dos Scorta #2

"Quanto mais trabalhavam, mais bonita se apresentava a tabacaria. Os homens sabem-no. Quer se trate de uma loja, de um terreno ou de um barco, existe uma ligação obscura entre o homem e o seu utensílio, feita de respeito e de ódio. O homem cuida dele. Rodeia-o de mil atenções e, de noite, insulta-o. O utensílio desgasta o homem. Destrói-o. Rouba-lhe os domingos e a vida em família, mas o homem por nada deste mundo se separaria dele. Era o que acontecia entre a tabacaria e os Scorta. Amaldiçoavam-se e, ao mesmo tempo, veneravam-se, como se venera quem nos dá de comer e se amaldiçoa quem nos envelhece precocemente."


in O Sol dos Scorta, um romance de
Laurent Gaudé pp 101

Passeio de Domingo elsewhere


Já assinaram a petição que ele lançou?

[Se precisarem de mais argumentos]

24.5.07

O Sol dos Scorta #1



"Quando partimos de Montepuccio para Nápoles, acompanhados por don Giorgio, que quis levar-nos até ao cais de embarque, pareceu-me que a terra ressoava debaixo dos nossos passos, como se resmungasse contra estes filhos que tinham a ousadia de querer abandoná-la. Saímos de Gargano, descemos até à grande e triste planície de Foggia e atravessámos a Itália de um lado a outro até chegarmos a Nápoles. Arregalámos os olhos diante de um labirinto de gritos, imundície e calor. A grande cidade cheirava a carne rija e a peixe podre. As ruelas de Spaccanapoli regurgitavam de crianças de ventres inchados e bocas desdentadas.

Don Giorgio levou-nos até ao porto e embarcámos num desses paquetes construídos para transportar famintos de um ponto ao outro do globo, entre grandes golfadas de fuelóleo. Instalámo-nos na ponte, no meio dos nossos semelhantes. Europeus miseráveis de olhar esfomeado. Famílias inteiras ou crianças sozinhas. Como todos os outros, demos as mãos para não nos perdermos na multidão. Como todos os outros, na primeira noite, não fomos capazes de conciliar o sono, receando que mãos viciosas nos roubassem o cobertor que partilhávamos. Como todos os outros, chorámos quando o imenso paquete saiu da baía de Nápoles.'É a vida que começa', murmurou Domenico. (...) Como todos os outros, voltámo-nos para a América, à espera do dia em que avistaríamos a costa, à espera, em estranhos sonhos, de que ali tudo fosse diferente, as cores, os odores, as leis dos homens. Tudo. Maior. Mais fácil.
(...)

À chegada desembarcámos com entusiasmo. (...)
Quando me apresentei diante do médico, ele deteve-me por meio de um gesto. Observou-me os olhos e, sem dizer nada, fez-me uma marca na mão, a giz. (...)
Só compreendemos o que se passava quando chegou um intérprete. Eu tinha uma infecção. (...)
O chão fugiu-me debaixo dos pés. Fui rejeitada, don salvatore. Estava tudo acabado. (...)

O intérprete exprimiu-se mais uma vez: 'Volta para trás... a viagem é gratuita... não há problema... gratuita...', só tinha aquela palavra na boca."

in O Sol dos Scorta, um romance de
Laurent Gaudé. pp. 71-73


Um fragmento de um romance galardoado com o Goncourt em França, um romance que serve a História, ficcionando aqui sobre a emigração na Europa. Depois, este artigo jornalístico sobre a imigração na Europa. Duas leituras para não esquecermos que as rotas se alteraram mas a necessidade e o medo são os mesmos.

23.5.07

À escuta #39

A - Mamã, nunca me esqueças!
- Eu podia lá esquecer-te, nunca, nunca!
A - Mas quando fores velhota, se calhar vais esquecer-te de mim...
- Os pais nunca esquecem os filhos, eu prometo que nunca me vou esquecer de ti!
A - Eu acho que só vais pensar nos filhos que a S. vai ter.
S - Eu vou ter quatro filhos, duas raparigas e dois rapazes!
A - Eu não quero ter nenhum, vou ser só tia, como a tia C. e a tia D., e tu vais esquecer-te de mim...
- Mas porque é que tu não queres ter filhos?
S - Eu sei porquê, é que ela não quer que lhe cortem a barriga...
A - Não é só por isso, é que acho que não tenho paciência para bébés... e depois tu só vais pensar nos teus netos...
- Não te preocupes, eu vou sempre pensar em ti, tenhas filhos ou não! Mas sabes que a mim não me doeu quase nada ter filhos...
S - Não?
- Não!
S (indignada)- Mas é preciso casar para ter filhos, não é?
A (animada)- Eu posso casar e não ter filhos, não posso?

À escuta #38

- Daqui a uns anos vai ser divertido, vamos poder usar a mesma roupa... Eu vou ter imensa sorte, porque vocês têm umas roupas giras, coloridas...
A - E nós vamos poder usar as tuas roupas?
- Claro! Vocês vão crescer...
S - Sim, mas não te esqueças de que vais descer...
- Descer?
S- Sim, os velhos ficam todos mais pequenos e alguns até ficam tortos...


[Conversa animadora com as minhas filhas de 7 anos]

No reply #1

Supostamente com origem no orkut, é relativamente frequente receber mensagens que exploram possíveis fragilidades nas relações. Haverá quem morda o isco?


Ola, Desculpe pois não tive coragem de te falar pessoalmente, então resolvi te enviar um e-mail, para te dizer que você esta sendo traido, com o seu melhor amigo. Tem coisas que a gente só acredita vendo então veja você mesmo com os seus próprios olhos essas Fotos dos dois juntos...

Clique aqui e veja as fotos

21.5.07

E depois do adeus e venham mais cinco!


Cinco divas já responderam ao desafio lançado por mim e pelo Afinador de Sinos.

Depois da Ivamarle, foram o João Francisco, a J.P., a Elipse e o Bagaço Amarelo que nos ofereceram os seus Princípios. Todos eles já estão publicados no Livro! Muito obrigada a todos!


Eis o início dos últimos Princípios de romances sem-fim milagrados:

LII
A paisagem parecia ser imutável. As ondas iam e vinham da mesma maneira tranquila e quase silenciosa do passado. O sol era, quando entrava lentamente no mar, do mesmo laranja intenso e quase perfeito.

LIII
Do que ele tinha medo era do poço das palavras dela. Não queria escutá-la por muito tempo por isso replicava e contrapunha, percebendo que precisava do confronto para não lhe dar espaço. Sabia que ganhava nos argumentos, treinados desde o berço ou desde a definição dos genes.

LIV
Disse-lho depois do sexo. Disse-lhe enquanto o mirava no espelho grande quando se afastou até à porta do quarto, nua. Memorizou-lhe as costas curvadas em harmónio os pés enclavinhados no tapete a testa luzidia apoiada nos nós dos dedos, adivinhando-lhe os tremores e nada mais que isso.

LV
Há tanto tempo que vivia com o gato que deixara de lhe dar a importância da vida. Sabia que aquele aglomerado de massa e energia respirava, mas não se dava conta dos seus movimentos calculistas nem dos seus instintos felinos.



E agora venham mais cinco para chegarmos à última página!


P.S. - o email desta casa é: divasecontrabaixos@hotmail.com

Início da Plataforma 2

18.5.07

Às vezes o amor



"As cidades onde marcavam encontros furtivos, o mapa que iam traçando, ponto por ponto, no corpo e na memória, e incluía bares, hotéis, aeroportos, cadeiras do Jardim do Luxemburgo, o início do Tiergarten, o relógio do Bahnhof Zoo, horários, mesas de café, altifalantes, lojas, impressos, chegadas e partidas, filas de trânsito onde táxis avançavam penosamente sob a chuva.
Incluía todas as cidades possíveis, excepto a deles, que se tinham tornado opacas, porque as tinham colocado provisoriamente no parêntesis da vida. Ignoravam-nas no tempo intermédio, e só se sentiam vivos a caminho de outras. (...)

Se o amor acabesse, pensaram saindo do taxi com as malas e partilhando ainda o mesmo guarda-chuva antes de partirem para destinos diferentes, se o amor acabasse, todas as cidades se tornariam ilegíveis."

A Mulher que Prendeu a Chuva, in: Cidades, pp 105-106
Sudoeste Editora, 2007


Aproveito para vos informar das datas das próximas apresentações do último livro de Teolinda Gersão:

FNAC NORTESHOPPING
19 de Maio, Sábado, 21:30

FNAC COLOMBO - LISBOA
29 de Maio, Terça-feira, 18:30

SUITE PARA DOM ROBERTO

BERNARDO SASSETTI, EM CONCERTO

Dia 18, 6ªf., 21H30, TEATRO DAS FIGURAS (TEATRO MUNICIPAL DE FARO)

BERNARDO SASSETTI, EM CONCERTO QUE IGUALMENTE COMEMORA O 10º ANIVERSÁRIO DO SEU TRIO, ESTREIA EM FARO A SUA ÚLTIMA COMPOSIÇÃO MUSICAL, "SUITE PARA DOM ROBERTO", UMA ENCOMENDA DO CINECLUBE DE FARO.


JUSTIFICAÇÃO DE UMA ENCOMENDA
Como encerramento oficial das comemorações do 50º aniversário do Cineclube de Faro e celebração do 10º aniversário do Trio de Bernardo Sassetti, apresenta-se, em estreia absoluta, a obra encomendada a Bernardo Sassetti "Suite para Dom Roberto", peça musical inspirada no filme "Dom Roberto", de Ernesto de Sousa. Este filme foi produzido em 1962 com fundos vindos da Cooperativa do Espectador, constituída expressamente para esse efeito no seio do movimento cineclubista da época. 44 anos depois lançou o Cineclube de Faro uma subscrição pública no seu universo de associados que permitiu custear a composição desta obra musical.

A Voz Humana na Feira do Livro de Aveiro

Encenação do mítico e devastador monólogo escrito em 1930 por Jean Cocteau interpretado por Carolina Rodrigues, no papel de uma mulher que mantém ao telefone uma conversa atribulada, simultaneamente terna e dolorosa, com o seu antigo amante.

"...Claro que é preciso desligar, mas custa muito...Sim. Ter a ilusão de estarmos abraçados um ao outro e de repente interpor caves, esgotos, uma cidade inteira entre nós...Lembras-te da Ivone, que não podia conceber como a voz passava através de um fio tão torcido? Pois tenho o fìo em volta do pescoço. A tua voz em volta do pescoço..."

Dia 19, às 21:30

TRANSNATURA VIDEOLAB 2007


PROGRAMAÇÃO GERAL / PROGRAMME

(18 de Maio) (May 18)
“IMAGEM CORPO” - ”Corpo Formal” (“IMAGE-BODY”- “Formalized Body”)
“Tela Humana" VIDEOLAB
“Corpo” o habitante (Portugal)
"Two Thousand Walls (A Song for Jayyous) PETER SNOWDON (Inglaterra)
“Manic Chinatown Bycicle” JEREMY SLATER (EUA)
“The Chase” FRODE KLEVSTUL (Noruega)
“Empieza por la a” JOHANNA REICH (Alemanha)
“Keyframe” ROBERTO ZITOLO (Itália)
“The Beach: (Closed Eyes. Strong Sunlight.)” STEVEN JONES (Inglaterra)
“Lurk” JEREMY NEWMAN (EUA)
“...” LAETITIA BOURGET (França)
“U.F.O” MOONA (Reunion Island)
“Black White” PRIYANKA DASGUPTA (Índia)
“Siempre” SOPHIE SINDAHL-INVERNESSE E MICHAEL LISNET (EUA)

(19 de Maio) (May 19)
“IMAGEM-PENSAMENTO” (“Image-Thought”)
"D'ailleurs, Derrida" de Safaa Fathy – apresentação por Maria Fernanda Bernardo Alves

(25 de Maio) (May 25)
"The Gospel According to Philip K. Dick" de Mark Steensland - apresentação por Jorge Rosa

(28 de Maio) (May 28)
Ciclo de Vida, Ciclo de Cinema – apresentação por José Ferreira-Alves (Centro de Psicopedagogia da UC)

(1 de Junho) (June 1)
“IMAGEM CORPO” - “Corpo Material” (“IMAGE-BODY”- “Material Body”)
(intro) “Bell” DIETMAR KRUMREY (EUA)
“The Cost of Living” DV8 PHYSICAL THEATRE (Inglaterra)
“Violin Phase” THIERRY DE MEY
“Le P’tit Bal” PHILIPPE DECOUFLÉ (França)
“Solo” THOMAS LOVELL BALOGH

(2 de Junho) (June 2)
“IMAGEM-PENSAMENTO” (“Image-Thought”)
"Judith Butler, philosophe en tout genre" de Paule Zajdermann – apresentação por Ana Luísa Amaral

(6 de Junho) (June 6)
"Zizek" de Astra Taylor – apresentação por Jacinto Godinho

(7 de Junho) (June 7)
“IMAGEM CORPO” - “Corpo Transmutado” (“IMAGE-BODY” – “Transfigured Body”)
(intro) “Loud And Clear” DIETMAR KRUMREY (EUA)
“Ornamental” ANNA CHIARETTA LAVATELLI (EUA)
“Words as Adornments” NATHANIEL WOJTALIK (EUA)
“Love [Me] Tender” MARY BOGDAN (Canadá)
“Kip Masker” MARIA PETSCHNIG (Áustria)
“Entitled As” ARZU OZKAL TELHAN (TURQUIA)
“Mother’s Milk” AMELIA WINGER-BEARSKIN (EUA)
“Packaged Goods” LEAH MEYERHOFF (EUA)
“Gender Bender Hallo” ALISON WILLIAMS (África do Sul)
“Nothingness” ARZU OZKAL TELHAN (Turquia)

(8 de Junho) (June 8)
“IMAGEM-PENSAMENTO” (“Image-Thought”)
"La Société du spectacle" de Guy Debord – apresentação por José Pinto

(9 de Junho) (June 9)
"Deleuze – C(h)i pensa il cinema?" Curso em Vincennes – apresentação por José Gil

(15 de Junho) (June 15)
"Foucault par lui-même" de Philippe Calderon e François Ewald – apresentação por António Fernando Cascais

(16 de Junho) (June 16)
"Cremaster 3" de Matthew Barney – apresentação por José A. Bragança de Miranda

VIDEOLAB ALCAINS 2007

Integrado no 1º Festival da Juventude de Alcains a realizar nos dias 18 e 19 de Maio de 2007.
Organização: ALCINE – Cineclube de Alcains e Companhia de Teatro "Cães à Solta".


Sessão Videolab | 19 de Maio | 16H00

One de Frode Klevstul | Experimental | 1’ | Noruega

O tempo – uma eterna fonte de discussão.

Selecções oficiais: Festival International du Court Métrage (2006). International Panorama of Indie Filmmakers (2005). Moscow International Videoart Festival (2005). Zeitgeist International Film Festival (2005)

http://klevstul.com


Acqua (Water) de Mauro Magazzino | Ficção | 10' | Itália
Uma criança vai para a praia com a família. O pai quer forçá-la a entrar na água mas a criança tem medo. Escondida atrás do chapéu de praia, num voo da imaginação levada pelo vento, a criança é transportada para uma praia calma e deserta. Ai, longe dos gritos do pai, vai aprender a não ter medo da água.

Best Film – Italian Competition at 23rd Torino Film Festival. Special Mentioning (9th Parma Video Festival).


Colourful EU de Peter Vadócz | Animação experimental | 1’21’’ | Hungria

À medida que anda pelas ruas, as bandeiras dos países da União Europeia surgem para onde quer que se olhe. A União Europeia está nos objectos, nas criaturas, nas pessoas. As “Cores da União Europeia” envolvem-nos. Um filme experimental para celebrar o 50º aniversário da União Europeia.

Prix Europa Spot Main award - PRIX EUROPA 2006 – Berlin, Germany. Main prize - NOKIA Mobile Film Festival - Budapest, Hungary.

http://www.kodolanyi.hu/alkotomuhely/



Mário Neto de Alexandre Antunes, Victor Lemos, João Delicado e André Silva | Ficção | 5’30’’ | Portugal

É mais um dia de trabalho rotineiro na vida de Mário Neto. Socialmente bem sucedido vive numa aparente felicidade até que se apercebe da sua condição de marioneta social. Optará ele por uma cómoda escravidão, ou por uma tempestuosa liberdade?

Melhor filme na mostra MadeInDeCA 06, Aveiro, Portugal


Nico de Lou Ma Ho | Ficção | 3’ | França

Antes de pôr fim à vida, um homem escreve uma carta de despedida à mulher. Mas quem é realmente esta mulher?

Official Selections: Super Short Films Festival (London - July 2006). Seoul Film Festival (Korea - Sept 2006). Eberswalde Film Festival (Germany - Oct 2006). Istanbul International Children's Film Festival (Turquie - Nov 2006). International Film Festival La Boca Del Lobo (Madrid - Nov 2006). Buenos Aires Rojo Sangre Film Festival (Argentina - Nov 2006). http://www.sdpfilms.com/


Team Queen de Leah Meyerhoff | Video clip | 4’ | EUA

Team Queen é o melhor do burlesco Nova-Iorquino

www.leahmeyerhoff.com


Djamel's Eyes de David Casals-Roma | Drama | 11' | Espanha

Djamel e Paco recuperam de um naufrágio num hospital italiano. Partilham o mesmo quarto mas são muito diferentes um do outro, com visões completamente opostas do mundo. Paço está imobilizado na cama e Djamel descreve-lhe todas as coisas bonitas que vê através da janela: o mar, a praia, os pescadores… Com o tempo e a conversa acabam por se aperceber que afinal não são assim tão diferentes um do outro como inicialmente pensavam, até que o destino bate à porta….

Special Jury Award at the Kimera Cineclub Film Festival of Termoli in Italy. Awarded by the European Commission to develop the script "Djamel's Eyes". Winner of the Tamashii Award at the Con-Can Movie Festival (Tokyo, Japan). http://www.davidcasals-roma.com


Liver de Ianthe Jackson | Animação | 1’50’’ | EUA

Uma curiosa troca de órgãos...

www.ianthejackson.com


Boletos por Favor de Lucas Figueroa | Ficção | 14’ | Espanha

Um comboio, uma perseguição, uma só forma de escapar…

Best of Show and Best Foreign Film - MAIN ST. Fort Worth Arts Festival

www.boletosporfavor.com


Looking for Alfred de Johan Grimonprez | Ficção | 10' | Bélgica

Qual é o seu filme de Hitchcock favorito? Obcecado com a desconstrução/reconstrução das nossas visões corrompidas dos media, da celebridade e da aparência, Johan Grimonprez juntou um grupo tagarela e desconcertante de sósias de Hitchcock, cambaleantes na sua obesidade e exigentes na atitude, na procura de encontrar o espécime mais fiel. A dimensão desta tarefa só é igualada pelo enredo demoníaco embora com estilo – mostrando-o tanto dentro como fora da personagem – enquanto os futuros duplos reproduzem uma selecção das aparições de marca que Hitchcock fez nos seus próprios filmes. O resultado poderia ser visto como o destronamento do Mestre do Suspense ou uma celebração da iconografia. Só não tome banho antes de o ver!

ArtfilmBiennale Cologne - Special mention of the Film Critics Jury. Winner of the International Media Award 2005 / Centre for Art and Media ZKM, Karlsruhe/SWR Südwestrundfunk/ARTE/ Swiss DRS. Winners of the International Media Art Award 2004-2005, Goethe Institut Barcelona, November 15 2005.EMAF Award 19th European Media Art Festival (EMAF) in Osnabrueck, Germany.

www.zapomatik.com


Once Upon a Time a King de Massimiliano Mauceri | Ficção | 10’ | Itália

Quem está certo, está errado e vice-versa…

Vincitore Marzocco 2003 Festival Valdarno Cinema Fedic; Vincitore Festival Cortofiction di Chianciano Terme; Vincitore Transdimentional Film Festival - Long Beach, California (USA); Vincitore Wilton Fall Foliage Film Festival - Wilton, New Hampshire (USA); Vincitore Artsfest Film Festival - Harrisburg, Pennsylvania (USA); Vincitore Festival Corti a Firenze Premio CGS;Vincitore Festival Schermi Irregolari di Firenze; Vincitore Festival Felino Video; Vincitore (categoria Ispirazione) Bassano Corto Festival; Vincitore Festival Corto Qui Brescia; Vincitore Global Art Film Festival Tour - Los Angeles, California (USA); Vincitore Clorofilla Film Festival di Festa Ambiente; VINCITORE Occhio al Corto Film Festival; Vincitore ex-aequo Rassegna Nazionale Cortometraggio Lino Micciche'; Miglior Film Straniero Red Bank International Film Festival - Red Bank, New Jersey (USA; Miglior Film Staniero Gulf Coast and Video Festival - Nassau Bay, Taxas (USA);Miglior Film Internazionale Atlanta Underground Film Festival - Atlanta, Georgia (USA); Grand Goldie Film Award Goldie Film Awards - Palatka, Florida (USA); Targa d'Argento, secondo classificato Forest Theater Film Festival - Forest Grove, Oregon (USA); Premio del Pubblico, secondo classificato Chlotrudis Short Film Festival - Brookline - Cambridge, Massachusetts (USA); Premio Solero, come secondo classificato, Festival Quargnento; Premio del Corallo, come secondo classificato, Festival Riviera di Gallura; Terzo Premio Festival Cortometraggi da Sogni di Ravenna; Terzo Premio Video Festival di Canzo; Videocorto d'Argento Nettuno Film Festival; Miglior Regia al Festival Opere Nuove di Bolzano; Miglior Regia Jalari in Corto; Miglior Fotografia al Festival TagliaCorto di Firenze; Premio Sfera Fidelio al Festival Cortopotere di Bergamo; Menzione speciale della Giuria al Festival del Cinema di Lioni; Menzione Speciale della Giuria al Festival Pratometraggi di Prato; Menzione Speciale della Giuria Festival Bassa In Corto; Menzione Speciale della Giuria Palermo Film Festival; Menzione Speciale della Giuria Festival Idee In Corto di Aquino; Miglior Attrice Protagonista Festival Per Un Pugno di Corti; Miglior Attrice Protagonista Nettuno Film Festival; Premio del Pubblico al Festival Fiaticorti di Istrana; Premio Troisi (assegnato da registi e attori) Nettuno Film Festival.


The End is Fast approaching de Frode Klevstul | Experimental | 10'' |

O fim aproxima-se rapidamente.

http://klevstul.com

17.5.07

O Livro dos Bons Princípios continua depois do adeus


Talvez não tenham chegado ao último parágrafo, mas deixei-vos lá um convite, em meu nome e em nome do Afinador de Sinos. A proposta é a seguinte: depois dos nossos 50 Princípios de romances, sejam agora vocês a milagrar inícios tramas enredos que estimulem a imaginação dos leitores e os levem, quiça, a continuar a história.

A Ivamarle foi a primeira a responder ao desafio. O início do seu texto é assim:

"De repente estacou, ao aperceber-se que caminhava como quem tem pressa. Que disparate, pressa de quê ou para quê? Nem os seus dias tinham pressa, passavam devagar e pausadamente; ele sempre achou que destoava do resto da multidão, precisamente pela calma dos seus passos."

Para o ler do princípio até ao fim-que-não-o-é, já sabem, devem ir à página 51 do Livro.

16.5.07

Malena. ou a guerra

Malena Bellucci viúva de um soldado que não morreu desperta paixões em 1941, na Sicília, e ainda hoje Malenas viúvas... ou Bellucci. Os olhos filtram ou rendem-se às invasões.

15.5.07

O poder de Eva

Ora bem, vamos lá ver se consigo alinhar meia dúzia de palavras (saibam que não há palavra que não volte atrás para corrigir). estou com os copos, ou melhor estou com um jarro de sangria ---feita pela Eva, no Clandestino---, bebida lentamente, com mordidelas às maças, durante umas horas à conversa. Se estivesse em Lisboa, e que saudades que sinto de Lisboa, acabava a noite no Jamaica, mas aqui não há Jamaica e já não tenho 20 anos, nem trinta, entrei nos "entas" e por isso já estou chez moi e daqui a umas horas ponho o meu ar respeitável e levo as crianças à escola. e na verdade nem troco isso por nada. porque elas, as filhas, são mesmo a coisa mais perfeita que fiz e tenho na vida. Enfim, lá estou eu, mas vi O Caimão de Nanni Moretti e depois apeteceu-me mesmo espairecer. que me doeu mais a "história" da vida daquele realizador que a Itália do Berlusconi. Coisas da vida, pois! Talvez quem não conheça a figura se revolte, mas eu já disse aqui que estou longe do "so close", e do "por um fio", e a insanidade democrática e os jogos de manipulação política são tantos que ficamos cada vez mais imunes--- vocês não? Mas sim, Moretti forever, para sempre, cada vez mais depressivo, é certo, mas depois de O quarto do filho, sei que a loucura é catarse. Vão ver, mas digam-me lá se aquela música do Damien Rice pode aparecer ali, na assinatura do divórco, se aquilo não é uma prova de que o Moretti anda mais atento à política do que aos top ten musicais (e ainda bem, mas ele deveria saber que aquele sucesso comercial podia cair mal n'O Caimão). Eu imaginei logo um filho a dizer-lhe: "pai, aquela música do Damien Rice fica bem aqui" e ele a dizer que sim, rendendo-se à suposta ignorância da sua geração--- ou talvez não, talvez ele nos quisesse fazer sorrir e ironizar com a dor que acontece todos os dias.

Não sei nada. O que é óbvio, às vezes funciona bem! Por exemplo, este fim de semana vi o espectáculo "A Música no Coração" do Filipe La Féria, no Politeama e pensei que ele não inovou, ele reproduziu, num palco, um filme. Mas foi tão profissional (e teve orçamento para satisfazer os caprichos de director perfeccionista) no décor, na encenação, no casting, na selecção das traduções, que convenceu. Eu teria comprado o CD com as músicas em português para as filhas decorarem Dezasseis, quase dezassete, que é o que elas andam agora a cantarolar, ou Edelweiss, a canção sobre a flor nacional austríaca--- mas não havia à venda. Eu sei, é parolice, no original é melhor, mas olhem que elas têm sete anos e livrá-las do monopólio Floribella ou Docemania era uma conquista e tanto! (sim, elas sabem de cor "fecha a porta, apaga as luzes, vem sentar-te a meu lado..." --- e eu até me divirto, que uma das minhas diversões aos vinte era cantar isto com sotaque do norte: "feicha a puorta, apaga a luz, bem sentar-te a mueu lado"--- pelo que a gente dá sempre uma no cravo e outra na ferradura).

Enfim, gostava de andar agora na bicicleta voadora do Pavilhão do Conhecimento! Já experimentaram? Não dá nenhuma adrenalina, nunca sentimos que podemos cair. Mas talvez depois de um jarro de sangria eu pudesse cair e balançar-me na rede de protecção. Andei lá para a frente e para trás e nada!

Antes de terminar: vocês nunca continuaram--- mentira, a JP fê-lo ---mas O Livro dos Bons Princípios já reune 50 princípios possíveis de romances. Agora, eu o Afinador de Sinos decidimos pôr um fim no Livro. ou melhor, queremos que sejam vocês a fazê-lo. Eu volto a lembrar-vos do desafio, que muitos nunca vão chegar a ler este último parágrafo! Mas é assim: o que vos propomos desta vez é que sejam vocês a escrever um Bom Princípio para um romance. O Bagaço Amarelo já disse que o fará. Serão publicados os 10 primeiros Princípios enviados por email para mim ou para o Afinador. Passem a palavra e terminem este Livro em glória.

Agora, se não se importam, vou ali ver o tecto do meu quarto balançar. e sentir os meus olhos fecharem à luz de O Sol dos Scorta de Laurent Gaudé, o meu actual livro de cabeceira.

14.5.07

Matar mulheres em nome da honra, da vergonha ou da religião

-- ainda sobre a descontinuidade na História e a justaposição dos tempos.

"Killing women for reasons of honor, shame and religion does happens in regions of Kurdistan and Iraq. The above incidents are not uncommon in some of the deeply religious and traditional communities. For long violence against women has been commonly used as a political and religious weapon and as a means of social control."

O único crime da curda Doa Aswad, de 17 anos, foi apaixonar-se e ter querido casar com um sunita muçulmano, apesar de pertencer a uma família Yezidi. Não sei se devemos ver os vídeos do massacre desta jovem mulher, mas eles existem ---porque os seus assassinos possuem telemóveis de última geração e filmaram a barbárie.


No AINA News: seis pequenos vídeos e a notícia.
No Kurdish Aspect: "Honour Killing” Sparks Fears of New Iraqi Conflict
E nos anexos (novo espaço que acabei de criar), o artigo de João Pedro Pereira do Público de hoje.

A Mulher que prendeu a chuva #3

No conto "A Mulher que prendeu a chuva"(1), uma mulher é responsabilizada pela seca e sacrificada. O que aparece aqui como um possível mito africano foi um mito no Ocidente na época medieval: a mulher encarnando o mal.
Nesta narrativa, o povo da tribo hesita, não quer matar "a mulher que prendeu a chuva", mas vence o pensamento mágico.

No conto "Roma"(2), lemos: "[no Coliseu havia] tronos de mármore onde as Vestais se sentavam, na mesma fila dos Senadores (a crueldade das virgens, dissemos). E depois recordámos que as Vestais eram mortas quando cediam ao desejo de um homem e morriam sufocadas dentro de paredes, não sem antes lhes ter sido dada uma vela acesa e pão, para terem tempo de ver a extensão do seu erro, antes de sucumbirem à sua morte vagarosa." (p. 49)

No conto "História antiga"(3), uma mulher que sempre fora "escrava" do marido é assassinada por ele, quando as vizinhas o avisam de que ela tem um amante. "Esteve preso alguns meses e foi julgado, mas o juiz acabou por o mandar em paz. não era crime matar a mulher própria, quando apanhada em flagrante." (p. 75)


--- desfazendo uma representação contínua da História,
pergunto: sendo certo que os tempos se justapõem. que resquícios do passado se cruzam ainda na nossa mentalidade?


(1)(2)(3) in  A Mulher que Prendeu a Chuva, de Teolinda Gersão

Meme

Uma Simples Cubata levou-me a ler umas coisas sobre memética... ao desafiar-me para reproduzir um meme. Pois bem, um meme é aquilo a que eu chamava gene cultural (termo que inventei ou me ocorreu de imediato ao ler a auto-biografia da Filomena Mónica).

O elemento ambiental do meme é, por norma, outro humano, a partir de quem a informação de um certo comportamento é obtida e imitada, mas também existem ambientes inanimados geradores de memes. Estas fontes inanimadas de informação são designadas pelo termo "sistemas retentores", e é esse o caso dos livros ou dos blogues.

Isso quer dizer que, de forma mais ou menos consciente, os visitantes do sistema retentor Divas & Contrabaixos têm andado a captar "ideias ou partes de ideias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto unidade autónoma", desde Novembro de 2004, data de início do blog. ---- o que me parece uma boa razão para não propagar agora nenhuma ideia potencialmente memética.

--- mas como estou com dificuldade para me despedir do universo de Teolinda Gersão, de quem li quase toda a obra recentemente, vou deixar uma citação, que traduz bem a minha ideia da História das civilizações--- e da pequena história de cada um:

"Precisávamos de tempo mas o tempo cercáva-nos, cada pedra começava milénios atrás e tudo, segundo o guia, era digno de menção e de memória."

Fragmento de Roma, in A Mulher que Prendeu a Chuva de Teolinda Gersão
Sudoeste Editora, Março 2007



Devo passar o desafio a outros seis blogues--- que nos-transmitem-excelentes-memes-todos-os-dias (pelo que nem espero resposta)(convidar e desobrigar de imediato também é um comportamento memético emergente): [Correio Eletrônico], O que cai dos dias, Roubarte, Rendez-vous (CSD), Tabacaria, Voz Oblíqua,

11.5.07

Vampiros

Lembram-se de vos falar de uma exposição sobre o Zeca Afonso em Viseu? O projecto foi aprovado por unanimidade na AM, mas depois tudo foi feito--- e assim continua a ser ---de forma a que o público não possa ver a exposição! Finalmente alguém (A. Pinto Correia) veio para a rua gritar!

So close

Vendo o estado do país e do mundo, a desesperança cresce. Dantes - não sei quando, há anos -, vivia muitas vezes a expectativa, a sensação, de que faltava pouco, muito pouco, para que qualquer coisa fosse perfeita. não para sempre, mas por um momento. Hoje, tenho saudades deste "so close" que se resumia num gesto. Os olhos brilhavam e os dedos diziam "so close". Já não estamos próximos de nada quase perfeito. Na verdade, nem podemos inverter a lógica e dizer "foi por um fio", um pequeno fio. O que se perde é tanto que não há fios que escoem. Hoje, tudo se dilui por mares imensos de desatenção ou burrice, compadrio, crime e impunidade (a ideia do crime & castigo já não é romântica, é niilista).


Desenho de TCA


Confortam-nos uns close-ups, iluminuras pagãs, que evidenciam rostos, gostos, ou simples traços que nos estimulam. São fragmentos de belo, testemunhos de ternuras e bondades, ou marcas de saber. que não quero dasaprender de procurar e guardar.