27.11.07

Blog adormecido

Irving Penn
Girl in Bed, 1949



Mais uns dias e volto. Obrigada pela V/ preocupação. Eu estou bem. Apeteceu-me apenas milagrar uma greve à internet.

15.11.07

Pôr-da-Terra

Sou a Carrie! :)

Você até é muito descontraída e divertida, mas no que diz respeito às relações gosta de sentir compromisso e seriedade. Ainda pensa muito no passado e isso impede-a de andar para a frente. É inteligente mas deixa-se levar pelo coração.


[Post extraído dos "rascunhos" arquivados há uma eternidade e não lançados por serem idiotas mas que se lixe, façam o teste, estes testes foram criados para nos aumentar a auto-estima e nos deixarem bem dispostos. às vezes qualquer coisinha serve. outras vezes nem um passeio com o Big]

12.11.07

Norman Mailer


«Podem chamar-me D.T., que é abreviatura de Dieter, um nome alemão, e D.T. serve, agora que estou na América, esta nação curiosa. Se recorro a uma grande dose de paciência, é porque o tempo aqui passa sem significado para mim, e esse é um estado que nos predispõe à rebelião. Será essa a razão porque estou a escrever um livro?»


Norman Mailer começa assim o seu último e derradeiro livro, The Castle in the Forest, ou O Fantasma de Hitler na tradução portuguesa. Mais uma obra de conteúdo político, escrita por um homem que gostava de se caracterizar como um "conservador de esquerda". Morreu aos 84 anos. A morte dele apanhou-me no início do capítulo 10. Não se faz. Voltei atrás. A nossa relação com os escritores não é bem a que queremos. Eles enchem-nos a cabeça com nomes e pensamentos novos e depois desligam-se enquanto ainda os imaginamos a imaginar. Não se faz.

11.11.07

Cine Eco #n+2

Para seguir com interesse, os relatórios pessoais de Lauro António, Director Artístico do festival.

À escuta #57

No dia das Bruxas, a A. teve que fazer uma composição na escola (1º ciclo/2º ano) em que o mote era "Se eu fosse à consulta da Bruxa". Eis o resultado, com erros ortográficos e tudo:

«Se eu fosse à consulta da Bruxa, dizia que era uma seca. Se eu fica-se a durmir em casa de uma bruxa não gostava. As bruxas cheiram mal porque não tomam banho. As bruxas só comem doces e não comem comida boa. Eu não queria que as bruxas me enfeiticem com aquelas mãos. As bruxas assustão-nos mas nós não temos medo delas. Algumas bruxas vestem-se de preto e de azul e de verde. Eu não queria ter uma avó ou uma mãe como uma bruxa.»



P.S.: Continuem a dar palpites sobre a identidade do visitante VIP deste sábado de Novembro.

10.11.07

Adivinhem quem apareceu de helicóptero em Aveiro, neste sábado de Novembro!


A personalidade desceu do heli, cumprimentou o povo e dirigiu-se à casa que foi preparada especialmente para ele. Pretende ficar por cá até ao Natal. O local de aterragem foi o largo de um Centro Comercial (Forum Aveiro).

Volte-Face



VOLTE-FACE é uma publicação temática que alia de forma original a poesia ao design, numa linha de intervenção arrojada e interdisciplinar. Cada edição, no papel, é apresentada sob a forma de performances, que revivificando-a, estendem o conceito editorial, de base, para apresentações ao vivo que aliam ainda outras formas de expressão, no palco. Dando a conhecer o segundo número desta publicação, a performance VOLTE-FACE #2, conjuga a declamação (de poemas seleccionados a partir da edição) com a música ao vivo (contrabaixo + bateria digital +samplers), projecção vídeo multimédia e a dança contemporânea. Prosseguindo a sua senda de actuações ao vivo, o VOLTE-FACE trar-nos-á nova emissão de sentido(s), numa abordagem poética e visual singular, criada por este colectivo vivo e surpreendente:

a próxima apresentação vai acontecer dia 14 de Novembro, às 21:15 H, na Sala 2 do Cinema Quarteto, no âmbito do encerramento do
Festival Número-Projecta '07 .






Guião SARA ÉVORA FERREIRA, J.C. JERÓNIMO, ANDRÉ GASPAR, ANTÓNIO FARIA
Poema e Declamação J.C. JERÓNIMO
Ilustração [Intro] CARLOS ALBERTO CAVACO
Realização e Montagem ANDRÉ GASPAR, ANTÓNIO FARIA
Animação Multimédia [Intro] ANDRÉ GASPAR, ANTÓNIO FARIA
Figuração XIBITA
Contrabaixo TIAGO ALMEIDA
Bateria Digital JOÃO FERNANDES
Sonoplastia e Samplers RUI BENTES (Shhh...)
Produção CONFLITO ESTÉTICO - ASSOCIAÇÃO CULTURAL
[vídeo premiado no Video Run Contest '06 (Restart)]

Mais vídeos-poema Volte-Face

9.11.07

Ideias para um romance #1

Duarte Vitória
Polarity
Óleo s/ tela - 170x200 cm - 2007


Ao sair de casa cruzo-me com um grupo de estudantes. Um deles tenta convencer os colegas de que ouviu esta notícia na televisão: «um conjunto de escritores decidiu fazer greve____ e eram muitos e alguns até famosos, como por exemplo... ». Atravessei a rua___ e fiquei sem saber os nomes dos futuros grevistas.

Duarte Vitória





POLARITY
Exposição de Pintura na
Galeria de Arte Contemporânea Nuno Sacramento

Inauguração 10 de Novembro de 2007


A exposição estará patente até 5 de Dezembro de 2007.


8.11.07

AXN

Mário Vitória
Os limites da semelhança
Acrílico s/tela - 150x150 cm - 2007


Numa perspectiva sociológica:
- De que forma é possível estabelecermos relações através da Internet?
- Qual o impacto social da mudança que a Internet provocou? Será cada vez mais essa a tendência?
- Cada vez são mais as profissões que dependem da utilização da Internet. Como se tem verificado essa evolução social?
- Quais as principais vantagens desse fenómeno?
- Em que medida podemos dizer que a Internet facilita o dia-a-dia dos portugueses?

Estas foram as questões a que respondi para uma mini-reportagem da AXN (produção: Take 5). Passa hoje às 15h, na madrugada do dia 9 às 3:29 e mais umas tantas vezes ao longo do mês. A AXN pode ser vista na TV Cabo, Cabo Visão e noutras
plataformas de televisão.

Reabertura do Cinema Oita

O Cineclube de Aveiro anuncia a reabertura do Cinema Oita, hoje, Quinta-Feira, pelas 22 horas com o filme Mysterious Skin — Pele Misteriosa


Título original: Mysterious Skin
Realização: Gregg Araki
Intérpretes: Joseph Gordon-Levitt, Brady Corbet, Elisabeth Shue, Michelle Trachtenberg, Bill Sage, Mary Lynn Rajskub
Estados Unidos/Holanda, 2004


Em exibição de 8 a 12 de Novembro, sempre às 22h.

Ego Skin II

Se a pele for o limite do corpo. sendo que corresponde aos contornos da figura humana para quem desenha. Se a pele se expressar em dueto. um dueto definido à partida. então a pele são os poros, as peles respiram-se. e se, a proposta: mais 15 minutos para recriação desse "material". por uma coreógrafa, um encenador de teatro e um desenhador digital. Se a pele se reinventar assim. temos movimentos de repetição, a nossa rotina, de abertura, o nosso desejo, de troca, a sensualidade, o sexo, de repulsa ou escárnio, táctil feio, e ninguém pode esquecer todos os outros sentidos, apesar de, ou precisamente porque, se trata de pele. a coreógrafa acelerou o ritmo do dueto e acrescentou mais pedaços do arquivo humano de movimentos. o desenhador riscou, coloriu, projectou, fundiu, alongou, jogou. o encenador brincou com o reflexo das peles, uma contra a outra, uma atrás da outra, revelando, revelando. queremos ver ser ficar nus. mas resistimos.
Diverti-me imenso. mas a sala poderia ter ficado mais quente. faltava gente. Amélia Bentes e Ludger Lamers mereciam mais olhos, poros, corações!

7.11.07

Ego Skin




Explorar o conceito de ego enquanto «imagem de si mesmo» é o objectivo de Ego Skin, projecto dirigido por Amélia Bentes. O espectáculo é o resultado do desafio lançado a três criadores de áreas artísticas distintas - Claudio Hochman (teatro), Lia Rodrigues (dança) e António Jorge Gonçalves (desenho digital ao vivo) - para que trabalhassem, transformassem ou recriassem um dueto previamente criado por Amélia Bentes e Ludger Lamers. Pretende-se que o produto final seja uma viagem de tripla-perspectiva sobre o mesmo tema, tendo como referência o corpo-pele, fronteira de identidade e defesa. O corpo, ser-no-mundo que participa, comunga e comunica, torna-se simultaneamente superfície de inscrição, sujeito e objecto, vivente e vivido, tocante e tocado. É partindo desta imagem que o corpo se modela, se transfigura, se desfigura, ideia que implica necessariamente a subordinação do corpo ao olhar do outro.

Concepção e Direcção Amélia Bentes
Interpretação Amélia Bentes e Ludger Lamers
Criadores convidados Lia Rodrigues (dança), Claudio Hochman (teatro) e António Jorge Gonçalves (desenho digital ao vivo)
Música Martins Carlos
Assistência de ensaios (Lia Rodrigues) Marta Silva
Texto (Lia Rodrigues) excerto de “Muito, meu amor” de Pedro Paixão
Texto e letras de canções (Claudio Hochman) Claudio Hochman
Apoio Vocal Paulo Filipe
Desenho de Luzes Cristina Piedade
Figurinos e Imagem de Divulgação Vel Z
Direcção Técnica Raúl Seguro
Produção Executiva ACCCA / Narcisa Costa e Maria João Garcia


Uma antevisão do projecto realizado por António Jorge Gonçalves (desenho digital ao vivo):


No Teatro Aveirense, às 21.30, integrado no ciclo Dança e Novas Tecnologias.

6.11.07

Apenas

Mário Vitória
Nomes Novos para Coisas Antigas
Acrílico s/ tela - 150x150 cm - 2007

Gosto particularmente da pergunta que encerra o último artigo de Eduardo Graça no SM - sobre o Tratado de Lisboa ou «o chapéu jurídico da UE»:
«como hão-de os cidadãos, conformados à descrença nas suas próprias virtudes, ajudar à riqueza da nação?».
O Andarilho que anda a vaguear pelo Divas (coluna da direita) é apenas o músico que fez a primeira parte do concerto do Lloyd Cole, em Aveiro. Houve quem apreciasse mais o Andarilho que o cool cold Lloyd. No site do Andarilho, podemos ficar a conhecer melhor o seu percurso e influências (mas são boas, são boas).

5.11.07

À escuta #56

Elas também foram ver A Espera, perfomance inspirada em «À Espera de Godot» de Beckett. De facto, a peça não é para a idade delas. Foi preciso tranquilizá-las em alguns momentos. Mas sobretudo, a dúvida: quem é Godot? vai aparecer ou não? por que se atrasou? não gosta deles (de Estragon e Vladimir)? como é que eu já sabia que o Godot não ia aparecer?
Explico-lhes que já li aquela "história" e que naquele teatro os actores tinham decidido contar a mesma história mas de outra maneira___, por exemplo, ali há uma menina e na história só existem homens. Ainda bem que puseram uma menina! Mas, para surpreenderem toda a gente, o melhor mesmo era se o Godot aparecesse no fim!

À escuta #55

Ou: Os estados melancólicos das minhas filhas

Domingo, almoço num restaurante ao pé da praia, uma mesa cheia de adultos e crianças. A A. de repente começa a chorar. Qual era a razão? Não conseguia suportar um quadro fixado na parede à frente dela. O quadro retratava um palhaço tristonho a tocar violino, com um cão que parecia estar a latir (tipo o Pantufa dos livros da Anita) aos pés. Compreendo a desolação. Empresto-lhe os meus óculos escuros para ver se alivio a paisagem e a melancolia. Mas ela só ficou feliz quando deixou de ver o quadro.

Hoje demanhã, a caminho da escola, a S. pergunta-me se vai ter que se levantar cedo para o resto da vida. Respondo-lhe que sim (meus Deus, que crueldade!). Mesmo quando entrar na universidade? Sim (tenho esperança). Então a única diferença, conclui, é sair de casa demanhã cedo sozinha ou acompanhada pelos pais. Pois, quando entrar na universidade já vai poder ir sozinha, respondo-lhe animada, imaginando a sua aspiração a uma vida independente. Mas ela pergunta: Mesmo nos dias em que fizer muito frio?

3.11.07

A Espera


Uma sugestão absurda: ___ ler absurdo, antes de ver absurdo, A Espera, uma criação performativa livremente inspirada em «À Espera de Godot».
Helena Botto e Jorge Neto são Vladimir e Estragon, vagabundos (atletas) subservientes e cegos ao interminável preenchimento do tempo da vida, escravos do peso de carregar os dias como uma espera sem qualquer sentido; e são Pozzo e Lucky, as duas outras personagens, que criam uma forma de jogo (original, nesta peça), na qual se defrontam com igual indiferença e consciência de inutilidade, no espectáculo do servilismo à sua condição (belíssimo, o recurso ao símbolo da gaiola, e o adereço de per se). Bruno Pinho é a música, o circo, a pantomina, e participa também na acção passando desesperados charming days and evenings esperando por Godot. Quem é, o que é Godot? A incerteza ou Deus, a esperança ou o nada, tudo o que nunca aparece a horas certas, ou que nunca veremos, mas que estamos convencidos de que pode aparecer, vai aparecer, vai acontecer, convém não acontecer. Entretanto, (re)pousamos as nossas vidas nos mesmos lugares todos os dias, ou movemo-nos. Porque há sempre uma escolha. Let's Go? Estes performers movem-se___e já
ressuscitaram um Teatro.

VLADIMIR: When I think of it . . . all these years . . . but for me . . . where would you be . . . (Decisively.) You'd be nothing more than a little heap of bones at the present minute, no doubt about it.

(...)
ESTRAGON: Let’s go.
VLADIMIR: We can’t.
ESTRAGON: Why not?
VLADIMIR: We’re waiting for Godot

(...)
VLADIMIR: I felt lonely.
ESTRAGON: I had a dream.
VLADIMIR: Don't tell me!
ESTRAGON: I dreamt that—
VLADIMIR: DON'T TELL ME!
ESTRAGON: (gesture toward the universe). This one is enough for you? (Silence.) It's not nice of you, Didi. Who am I to tell my private nightmares to if I can't tell them to you?
VLADIMIR: Let them remain private. You know I can't bear that.
ESTRAGON: (coldly.) There are times when I wonder if it wouldn't be better for us to part.
VLADIMIR: You wouldn't go far.

(...)
ESTRAGON: Let's hang ourselves immediately!
VLADIMIR: From a bough? (They go towards the tree.) I wouldn't trust it.
ESTRAGON: We can always try.
VLADIMIR: Go ahead.
ESTRAGON: After you.
VLADIMIR: No no, you first.
ESTRAGON: Why me?
VLADIMIR: You're lighter than I am.
ESTRAGON: Just so!
VLADIMIR: I don't understand.
ESTRAGON: Use your intelligence, can't you?
Vladimir uses his intelligence.
VLADIMIR: (finally). I remain in the dark
(...)
VLADIMIR: Well? What do we do?
ESTRAGON: Don't let's do anything. It's safer.
VLADIMIR: Let's wait and see what he says.
ESTRAGON: Who?
VLADIMIR: Godot.
ESTRAGON: Good idea.

(...)
VLADIMIR: One is what one is.
ESTRAGON: No use wriggling.
VLADIMIR: The essential doesn't change.

(...)
POZZO: Ah yes! The night. (He raises his head.) But be a little more attentive, for pity's sake, otherwise we'll never get anywhere. (He looks at the sky.) Look! (All look at the sky except Lucky who is dozing off again. Pozzo jerks the rope.) Will you look at the sky, pig! (Lucky looks at the sky.) Good, that's enough. (They stop looking at the sky.) What is there so extraordinary about it? Qua sky. It is pale and luminous like any sky at this hour of the day. (Pause.) In these latitudes. (Pause.) When the weather is fine. (Lyrical.) An hour ago (he looks at his watch, prosaic) roughly (lyrical) after having poured forth even since (he hesitates, prosaic) say ten o'clock in the morning (lyrical) tirelessly torrents of red and white light it begins to lose its effulgence, to grow pale (gesture of the two hands lapsing by stages) pale, ever a little paler, a little paler until (dramatic pause, ample gesture of the two hands flung wide apart) pppfff! finished! it comes to rest. But– (hand raised in admonition)– but behind this veil of gentleness and peace, night is charging (vibrantly) and will burst upon us (snaps his fingers) pop! like that! (his inspiration leaves him) just when we least expect it. (Silence. Gloomily.) That's how it is on this bitch of an earth.
Long silence.

(...)
VLADIMIR: Well? Shall we go?
ESTRAGON: Yes, let’s go.
They do not move.

(...)
VLADIMIR: Say, I am happy.
ESTRAGON: I am happy.
VLADIMIR: So am I.
ESTRAGON: So am I.
VLADIMIR: We are happy.
ESTRAGON: We are happy. (Silence.) What do we do now, now that we are happy?
VLADIMIR: Wait for Godot. (Estragon groans. Silence.) Things have changed here since yesterday.
ESTRAGON: And if he doesn't come?

(...)
POZZO: I am blind.
Silence.
ESTRAGON: Perhaps he can see into the future

(...)
ESTRAGON: We always find something, eh Didi, to give us the impressione we exist?

(...)
VLADIMIR: Well? Shall we go?
ESTRAGON: Yes, let's go.
They do not move.


A Espera vai voltar a acontecer nos dias 8, 9 e 10 de Novembro, pelas 22 horas, no Estúdio PerFormas.

2.11.07

Youcali

Ou um post dedicado à Claudia Sousa Dias:



É quase no fim do mundo
Que meu barco errante
Vagueando pelas ondas
Me conduziu um dia
A ilha é pequena
Mas a fada que lá vive
Gentilmente nos convida
A um passeio por ali

Youkali
A terra dos desejos
Youkali
A alegria, o prazer
Youkali
É o lugar onde esquecemos os problemas
É em nossa noite como uma fresta de luz
A estrela que seguimos
É Youkali

Youkali
É a honra dos juramentos perdidos
Youkali
A terra do amor correspondido
É a esperança
Que há em todo coração humano
A libertação do que esperamos para o amanhã

Youkali
A terra de nossos desejos
Youkali
É alegria, é prazer
Mas é um sonho, uma insensatez
Não há
Youkali"

-Kurt Weill

Youkali é um "Tango Habanera" composto por Kurt Weill durante o seu exílio em França. Na verdade, Weill escrevera a música em 1934 (para a peça Marie Galante) e só em 1946 Roger Fernay criou esta letra. Música e poema invocam uma ilha paradisíaca e o desejo de fuga de uma Europa ameaçadora, em vias de entrar na II Guerra Mundial. Um ano depois de ter composto esta canção, Weill deixou a França em direcção aos EUA, escapando assim à perseguição nazi.

Videolab Lagos 2007

Bertold Brecht

Brecht tem, sobre a poesia, o mesmo pensamento que tem sobre a arte dramática. Ela é uma ferramenta em defesa da liberdade do homem. Nos seus poemas, o mesmo sentido épico e didático das peças teatrais. Recusa uma poesia alheia aos acontecimentos sociais. Exige que ela intervenha sem perder o seu sentido artístico. E apeteceu-me reler, relembrar. A primeira vez que ouvi a sua poesia foi pela voz de um amigo, o C.. Ele subiu a um banco e, numa casa ainda em construção, - mas já com a lareira acesa, inundou-nos de Brecht. Havia gente de todas as cores políticas e um violinista holandês que não percebia nada do que se dizia mas que o ia acompanhando. Lembrar Brecht é também essa cálida memória dos dezoito anos depois de entrar na universidade, e do primeiro grupo de amigos de Lisboa.

1898-1956
(foto de 1956)

A Excepção e a Regra

Estranhem o que não for estranho.
Tomem por inexplicável o habitual.
Sintam-se perplexos face ao quotidiano.
Procurem um remédio para o abuso
Mas não se esqueçam de que o abuso é sempre a regra.

A Fumaça

A pequena casa entre árvores no lago.
Do telhado sobe fumaça
Sem ela
Quão tristes seriam
Casa, árvores e lago.


A Máscara Do Mal

Na minha parede há uma escultura de madeira japonesa
Máscara de um demónio mau, coberta de esmalte dourado.
Compreensivo observo
As veias dilatadas da fronte, indicando
Como é cansativo ser mal


No Muro Estava Escrito Com Giz:

Eles querem a guerra.
Quem escreveu
Já caiu.


Para Ler De Manhã E À Noite

Aquele que amo
Disse-me
Que precisa de mim.
Por isso
Cuido de mim
Olho meu caminho
E receio ser morta
Por uma só gota de chuva.

1947, EUA


Perguntas De Um Operário Que Lê.

Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruida,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Indias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas


Também o Céu

Também o céu às vezes desmorona
E as estrelas caem sobre a terra
Esmagando-a com todos nós.
Isto pode ser amanhã.


Lloyd Cold

Ele cantou Jennifer She Said, mas senti falta dos Commotions. Ou seja, Lloyd Cole é exímio mas depois da quinta canção já sentimos um certo enfado (acho que usei uma palavra muito forte; vamos antes dizer, sonolência)(esqueçam, eu gostei)(há nele uma tal bonomia!)(preferia beber uns copos com ele, podia ser a Super Bock que tanto aprecia, e que ele fosse entrecortando a conversa com uma, duas canções)(o rapaz do vídeo de baixo pode continuar no vídeo)(o Lloyd Cole de hoje, com as duas guitarras, que ele próprio afina - o luxo do afinador profissional acabou há algum tempo - parece bem consigo mesmo)(cada vez menos popular, diz)(isso é o menos)(mas exige-se menos reserva num espectáculo intimista)(e variações de ritmo!)(a sério, fiquei com mais vontade. mais vontade de conversar do que de o ouvir cantar)(merda, mas ele é mesmo bom músico)(vão vê-lo e decidam, que eu não consigo desatar isto)