8.5.07

Vieira da Silva no Brasil

As Bandeiras Vermelhas
1939


A vida e a obra de Vieira da Silva

CAMILA MOLINA

A artista Maria Helena Vieira da Silva nasceu em Lisboa, Portugal, em 13 de junho de 1908. Na sua família, todo mundo gostava de arte. Seu avô era dono de um importante jornal chamado O Século e estar em contato com artistas, obras e livros era natural para Maria Helena. Ela uma vez chegou a dizer que não tinha muitas distrações quando criança, que uma de suas diversões preferidas era ver peças de teatro. Maria Helena não era muito chamada pelo nome, mas pelo sobrenome: Vieira da Silva. Tinha olhos grandes, verdes.

Com 20 anos, se mudou para Paris, França, cidade que nas primeiras décadas do século 20 se transformou num importante centro de arte porque artistas de todo o mundo se mudaram para lá. Jovem, fez parte de um grupo conhecido como Escola de Paris. Nessa época, conheceu o pintor húngaro Arpad Szenes, com quem se casou.

Nos primeiros anos da década de 30, Vieira da Silva começou a fazer obras abstratas. Num dos quadros expostos no MAM, Ateliê Lisboa, feito em 1934/35, a artista pintou na tela uma espécie de quarto vazio misterioso e nele passa um trenzinho no chão. Ela também gostava de usar o tema do jogo de xadrez (o tabuleiro com quadrados pretos e brancos) para criar obras abstratas. Vieira da Silva foi ficando famosa ainda jovem.

História Trágico-Marítima
1944


Nos tempos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), tempos difíceis na Europa, ela e seu marido se mudaram para o Brasil porque Szenes era judeu e tinha de fugir do nazismo. Chegaram em 1940 ao Rio.

Fizeram alguns amigos, entre eles a poeta Cecília Meirelles. No Brasil, Vieira da Silva pintou figuras de seu cotidiano, fez desenhos sobre a paisagem do Rio, ilustrou livros. Mas ela não foi feliz aqui. Em 1947, eles voltaram para a França (ela até se naturalizou francesa). Continuou famosa durante toda a sua vida. Morreu em Paris em 1992.


O Quarto Cinzento
1950

A pintura cantada de Vieira da Silva

JULIA CONTIER

Como seria o seu desenho se você estivesse ouvindo uma música? Será que ele seria diferente se você o desenhasse em silêncio? A artista portuguesa Vieira da Silva sempre pintava seus quadros ouvindo músicas clássicas.

Pensando nisso, o maestro Henrique Lian preparou uma trilha sonora para a exposição Vieira da Silva no Brasil, em cartaz no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), até o dia 3 de junho. Ele selecionou algumas músicas que a artista ouvia enquanto pintava, como Villa-Lobos e J. S. Bach.

A exposição começa com desenhos do período em que a artista esteve no Brasil e produziu desenhos mais figurativos, ou seja, que representam figuras. A paisagem do Rio e amigos dela estão retratados nos desenhos de nanquim.

No espaço seguinte, fica o grande painel da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro que está sendo restaurado pelo artista Antônio Sarasá (leia mais sobre restauração ao lado). A obra tem três metros de altura e três de largura e retrata, em sua parte principal, duas meninas colhendo frutos de uma laranjeira.

No decorrer do espaço, as pessoas podem conferir outras obras de Vieira e perceber a mistura que a artista faz entre figuração e abstração, entre figura e traços não definidos. No quadro A História Trágico Marítimo, por exemplo, existe uma variedade de cores e um movimento das linhas e das pinceladas que nos deixam na dúvida se as pessoas estão caindo do barco ou entrando nele. Outro quadro bem abstrato, com muitas linhas, é Londres. Ele foi pintado em 1959 e ganhou o Grande Prêmio na 6ª Bienal Internacional de Artes de São Paulo.

Além dos quadros, os visitantes podem conferir duas poesias de Murilo Mendes, fotografias, ilustrações para livros e recortes de jornal com comentários de época sobre as mostras realizadas pela artista no período em que aqui viveu.

As Grandes Construções
1956

O que é restauração?

O Painel de Azulejos foi pintado em 1943 por Vieira da Silva. Esta é uma das obras mais importantes da artista, já que foi o único painel de azulejos criado por ela em sua carreira.

Ele foi encomendado para decorar o refeitório da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e fica lá até hoje, mas estava começando a ficar todo desgastado.

Alguns azulejos estavam com cores diferentes, outros estavam quebrados e até faltavam algumas peças. O mural foi ficando cada vez mais diferente da pintura original.

Os organizadores da exposição Vieira da Silva no Brasil aproveitaram o evento para restaurar o painel, ou seja, para consertar o que não estava em um bom estado.

“A importância da restauração é que sempre vem com uma pesquisa histórica, então você junta valores histórico-culturais”, explica o restaurador Antônio Luis Sarasá. “O restauro serve para deixar a obra em bom estado por muito mais tempo. Depois de pronta devemos conservá-la”, completa.


PASSO-A-PASSO


O Museu de Arte Moderna (MAM) exibe o processo de restauração do painel em tempo real, direto do Estúdio Sarasá, através de um vídeo, onde podemos ver os artistas pintando e consertando os azulejos.

À medida que as peças ficam prontas, elas são coladas em uma parede no Museu, até que o painel fique completo no final da exposição.

Os visitantes ainda podem conferir uma grande mesa com diversos materiais e ferramentas utilizados em restauração, como pincéis feitos de crina de cavalo e diversas misturas de tintas.

Além de acompanhar o processo de restauro em um monitor de plasma localizado no espaço da exposição, o público pode acessá-lo pela internet, no site do museu .



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Artigos do jornal O Estado de São Paulo
Imagens de obras pertencentes ao CAM da Fundação C. Gulbenkiam e à Tate Gallery (O Quarto Cinzento)
Chamada de atenção para esta exposição no MAM de São Paulo pela minha amiga carioca Simone Villas Boas --- que agora tem o blog [correio electrônico]

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