28.12.07

Feliz 2008!

Jorge Vieira


Eu gosto de olhar para trás, não consigo sequer não o fazer. Mas também espreito o futuro, tentando adivinhar, com ou sem ansiedade - depende da alma dos dias, o que vou olhar e enfrentar. Por isso este desenho de Jorge Vieira. mesmo se a razão nem sempre tenha que ser chamada.

é claro, o busto que se ergue, inteiro, o olhar decidido, é também o presente que queremos ser. um presente intenso de memória. enriquecendo o passo seguinte.

Benazir Bhutto


Benazir Bhutto, agora mártir, não era um arauto da democracia nem da justiça e, em campanha, também não soube "fazer a paz". Benazir, um mártir entre mais de setecentos outros, apenas este ano. Tudo o que sobe não converge...

«Ce drame est le dernier d'une série record d'attentats suicide dans l'histoire du Pakistan, qui ont fait plus de 780 morts en 2007. Le plus meurtrier, pour l'heure, avait déjà visé une manifestation du parti de Benazir Bhutto: le 18 octobre, deux kamikazes avaient tué 139 personnes lors d'un gigantesque défilé de sympathisants qui célébraient, à Karachi, la grande ville du sud, le retour de l'ex-Premier ministre après six années d'exil.» [
Nouvel Obs]

Dedos com música


«Primeiro saiu um dó, que vinha um pouco rouco; depois, um ré; em seguida, saiu um mi, mais decidido; logo a seguir, ouviu um fá, um sol muito feliz (...).
Depois de ouvir toda a escala musical, Sara abriu os olhos e olhou para as suas mãos. Estava maravilhada! A música parecia mesmo ter saído dos seus dedos! Seria que os seus dedos tinham realmente música lá dentro, música nascida no céu?!, perguntava-se ela muito admirada.»

in Dedos com Música, de Maria Teresa Maia Gonzalez
Livros Horizonte, 2007


Parabéns, minha S., pela tua primeira audição de piano. A ansiedade toda da véspera e do próprio dia desapareceu mal te sentaste! Tocaste Dr. Faust, de Fritz Emonts, e eu senti um orgulho imenso! Estavas cheia de energia e muito concentrada: tocaste mesmo bem!

27.12.07

Tudo o que sobe deve convergir


Já chegou ao mercado o segundo volume de contos de Flannery O'Connor. Eu aguardava e não perdi pela espera. Cada conto é um murro no estômago. Absolutamente obrigatório ler e sofrer. Compreendemos melhor a América rural de hoje (d)escrita por ela entre 1956 e 1965. O'Connor é simplesmente genial na construção dos personagens e ambientes.

Tudo o que sobe não converge

É republicano. Nunca votou por uma restrição à compra de armas por particulares. É contra o financiamento estatal das IVG. Não é perfeito! Mas sempre se opôs à guerra no Iraque e defende uma redução dos impostos. Tem um conceito quase profético de Estado ou talvez seja apenas fiel aos princípios da Constituição americana. Apela ao respeito da soberania de todos os Estados e a um cessar das acções neo-imperialistas americanas. Vamos ouvir falar de Ron Paul enquanto durarem as Primárias. Fenómeno efêmero, portanto. Mesmo se está casado com a mesma mulher há várias décadas (garantia de muitos votos adicionais!). Caros europeus não votantes nas eleições americanas, ouçam The song of silence!

21.12.07

o passo adiante

dar o passo adiante
todos os dias.
a náusea causada pelo excesso
a embaraçar-te os pés,
o precipício de cada minuto
a estrangular-te .

o que há de movimento organizado,
aleatório,
ou apenas ansiedade,
no mundo.
nesse excesso gigantesco que é o mundo.

o que há de sem sentido e louco
neste espaço de acasos,
neste espaço de ausências,
de vozes entrecruzadas e surdas,
os desencontros minando tudo.

o que há de vertigem
nas bordas de cada corpo gratuito,
cada minuto afundando-te
na angústia.
nestas horas de impuro silêncio,
sem mãos a te ampararem,
sem olhos a perceberem as mãos.

o que há de repentino terror
no assalto das sensações,
no florescer abrupto dos sentimentos
parados
frente ao humano trêmulo que és,
a desejar a morte.

a morte antes de tudo o mais,
porque a vida é uma impossibilidade constante,
dar o passo adiante, um peso insuportável.

silvia chueire


[Silvia, não sei como o link caiu, juro que não o eliminei. O blogrolling às vezes faz das suas e é injusto! A sua poesia e você estão aqui, mesmo à distância de um mar. Ambas conhecemos a canção do Chico e o poema de Pessoa: "navegar é preciso"! Feliz Natal, minha amiga!]

20.12.07

Bichos

Acabo de ler Gatos e Mais Gatos de Doris Lessing, a escritora que ganhou o último Nobel da Literatura (e que eu não conhecia). O livro lembrou-me um pouco Cão como Nós, de Manuel Alegre, apesar da estrutura narrativa ser mais sofisticada em Doris Lessing. Os bichos são os protagonistas e os humanos não passam de objectos (observadores) com os quais interagem (e seduzem). Apesar disso, de vez enquando, DL não resiste a umas extraordinárias analogias entre a vida de uns e outros:

«Depois de um certa idade - às vezes muito cedo, para alguns de nós - já não há pessoas novas, nem bichos, sonhos, caras, acontecimentos: tudo já aconteceu antes, apareceu antes, com máscaras diferentes, diferentes roupas, outra nacionalidade, outra cor; mas é o mesmo, o mesmo, e tudo é um eco e uma repetição; e não há dor que não seja uma recorrência de outra coisa lá atrás na memória que se expressa numa angústia inacreditável, dias de lágrimas, solidão, conhecimento de traição - e tudo por um pequeno, magro, gato moribundo.» pp. 19-20

in Doris Lessing, Gatos e Mais Gatos, Ed. Cotovia, 1995

À escuta #59

A - Mamã, quando eu andar na universidade [isto é, quando for grande], se der um beijo a um rapaz, zangas-te?
- Se gostares muito dele e ele gostar muito de ti, não me zango!
[sorriso de satisfação]
- Mas vou contar-te um segredo: os rapazes gostam de namoradas que só lhes dão beijos a eles - por isso, tens que pensar bem, para não andares a dar beijos a muitos rapazes. [sim, eu sei, mas tenho que educar a rapariga com bons princípios]
A - Mas, e se eles não souberem dos outros beijos?
- Eles acabam sempre por saber. O melhor mesmo é só dar beijos a quem gostamos muito, até porque esses são os melhores beijos.
[sorriso maroto]
A - Mas o teu segredo é tipo um truque, não é?

À escuta #58

[Recentemente, elas dormiram pela primeira vez em casa de uma amiga sem os pais, e outras duas amigas passaram cá a noite. Agora, se deixássemos, havia festas de pijama todos os dias.]

- Queres mesmo ir dormir a casa da tua amiga? Está tão mau tempo, preferia que ficasses aqui, quentinha, na nossa casa.
A - Mamã, sabes que eu gosto muito de ti e tudo isso, mas eu tenho a minha vida..
.

17.12.07

Bienal Internacional de Cerâmica de Aveiro VII




Alberto Vieira

VI

QUEM JÁ OUVIU FALAR DA BIENAL INTERNACIONAL DE CERÂMICA DE AVEIRO (8ª EDIÇÃO)?

QUEM TENCIONA VISITAR ESTA MAGNÍFICA EXPOSIÇÃO, RESULTANTE DO MAIS IMPORTANTE CONCURSO DEDICADO À CERÂMICA ARTÍSTICA REALIZADO EM PORTUGAL?

O júri, constituido por Pedro Matos Fortuna, Francisco Laranjo, João Carqueijeiro e Ana Maria Senos, selecionou 103 obras de 83 artistas oriundos de 15 países.

DE 8 A 3O DE DEZEMBRO
DOM. A SEX. DAS 14H ÀS 19H
SÁB. DAS 15H ÀS 22H
no Pavilhão do PARQUE DAS FEIRAS E EXPOSIÇÕES DE AVEIRO
e também no MUSEU DA REPÚBLICA, GALERIA DA PEDRICOSA, GALERIA DA CÂMARA MUNICIPAL, CAPITANIA E OUTRAS GALERIAS DA CIDADE

AS ENTRADAS CUSTAM 1 EURO (ESTUD. E IDOSOS - 0.50).

LAMENTAVELMENTE NÃO EXISTE UM CATÁLOGO (NEM MESMO UM DESDOBRÁVEL RUDIMENTAR!) DISPONÍVEL (OU À VENDA) PARA OS VISITANTES.

QUEM É O RESPONSÁVEL PELA DIVULGAÇÃO DO EVENTO? A NOTORIEDADE É MÍNIMA, O QUE É ABSOLUTAMENTE LAMENTAVEL PORQUE A EXPOSIÇÃO É DE ELEVADA QUALIDADE! ESTE DOMINGO, EU E O MEU PEQUENO GRUPO ÉRAMOS OS ÚNICOS VISITANTES!


[Todas as fotos: MRF]

Bienal Internacional de Cerâmica de Aveiro V




Ao primeiro olhar, percepcionamos as peças que compõem a obra como esculturas de madeira. Os pequenos bancos iludem-nos: na verdade, são de cerâmica. Essa é uma tendência clara na nova cerâmica artística: a imitação de outros materiais. Vejam o 2º Prémio (post I): «Ovos» parecem pedras, «Raízes» parecem esculturas de madeira. Mas é com a textura do papel que mais se brinca e inventa.

Depois a tendência para o texto impresso, poesia inscrita em artefactos de cerâmica.

Pequenas notas. Nadas. Fiquei com vontade de usufruir de uma visita guiada (pela primeira vez isso é possível, por alunos finalistas do curso de Engenharia Cerâmica e Vidro da Universidade de Aveiro). Se for essa também a V/ vontade liguem para este número: 234 377 763.

Bienal Internacional de Cerâmica de Aveiro IV


Bienal Internacional de Cerâmica de Aveiro III



Bienal Internacional de Cerâmica de Aveiro II



[detalhes de Growing]

Growing

Jasmina Pejcici (Sérvia)
1º Prémio



Bienal Internacional de Cerâmica de Aveiro

Raízes

Ovos

Santa Rita (Portugal)
2º Prémio

14.12.07

Recordar Giacometti

A troca diária de correspondência entre dois jornalistas, António Martins Neves em Portugal e Fernando Peixeiro em Cabo Verde, começou há alguns meses no Atlântico expresso. Madeira Luis, um amigo muito especial, falou-me com espanto e encanto de dois posts de homenagem a Giacometti. Num deles é citado. Dizia esse amigo, que já conta com mais de setenta anos, que a "memória global" criada por via da internet continuava a fasciná-lo. A verdade é que este "mar de palavras e memórias" criado pelos dois jornalistas é raro. Os dois posts são belíssimos, ricos de História, enfeitados com as muitas pontas de um longo fio___ que continua a ser tecido. O que conhecemos de facto de Giacometti? Quando poderemos aceder ao resultado do seu trabalho (para efeitos de estudo ou puro deleite)?

27.11.07

Blog adormecido

Irving Penn
Girl in Bed, 1949



Mais uns dias e volto. Obrigada pela V/ preocupação. Eu estou bem. Apeteceu-me apenas milagrar uma greve à internet.

15.11.07

Pôr-da-Terra

Sou a Carrie! :)

Você até é muito descontraída e divertida, mas no que diz respeito às relações gosta de sentir compromisso e seriedade. Ainda pensa muito no passado e isso impede-a de andar para a frente. É inteligente mas deixa-se levar pelo coração.


[Post extraído dos "rascunhos" arquivados há uma eternidade e não lançados por serem idiotas mas que se lixe, façam o teste, estes testes foram criados para nos aumentar a auto-estima e nos deixarem bem dispostos. às vezes qualquer coisinha serve. outras vezes nem um passeio com o Big]

12.11.07

Norman Mailer


«Podem chamar-me D.T., que é abreviatura de Dieter, um nome alemão, e D.T. serve, agora que estou na América, esta nação curiosa. Se recorro a uma grande dose de paciência, é porque o tempo aqui passa sem significado para mim, e esse é um estado que nos predispõe à rebelião. Será essa a razão porque estou a escrever um livro?»


Norman Mailer começa assim o seu último e derradeiro livro, The Castle in the Forest, ou O Fantasma de Hitler na tradução portuguesa. Mais uma obra de conteúdo político, escrita por um homem que gostava de se caracterizar como um "conservador de esquerda". Morreu aos 84 anos. A morte dele apanhou-me no início do capítulo 10. Não se faz. Voltei atrás. A nossa relação com os escritores não é bem a que queremos. Eles enchem-nos a cabeça com nomes e pensamentos novos e depois desligam-se enquanto ainda os imaginamos a imaginar. Não se faz.

11.11.07

Cine Eco #n+2

Para seguir com interesse, os relatórios pessoais de Lauro António, Director Artístico do festival.

À escuta #57

No dia das Bruxas, a A. teve que fazer uma composição na escola (1º ciclo/2º ano) em que o mote era "Se eu fosse à consulta da Bruxa". Eis o resultado, com erros ortográficos e tudo:

«Se eu fosse à consulta da Bruxa, dizia que era uma seca. Se eu fica-se a durmir em casa de uma bruxa não gostava. As bruxas cheiram mal porque não tomam banho. As bruxas só comem doces e não comem comida boa. Eu não queria que as bruxas me enfeiticem com aquelas mãos. As bruxas assustão-nos mas nós não temos medo delas. Algumas bruxas vestem-se de preto e de azul e de verde. Eu não queria ter uma avó ou uma mãe como uma bruxa.»



P.S.: Continuem a dar palpites sobre a identidade do visitante VIP deste sábado de Novembro.

10.11.07

Adivinhem quem apareceu de helicóptero em Aveiro, neste sábado de Novembro!


A personalidade desceu do heli, cumprimentou o povo e dirigiu-se à casa que foi preparada especialmente para ele. Pretende ficar por cá até ao Natal. O local de aterragem foi o largo de um Centro Comercial (Forum Aveiro).

Volte-Face



VOLTE-FACE é uma publicação temática que alia de forma original a poesia ao design, numa linha de intervenção arrojada e interdisciplinar. Cada edição, no papel, é apresentada sob a forma de performances, que revivificando-a, estendem o conceito editorial, de base, para apresentações ao vivo que aliam ainda outras formas de expressão, no palco. Dando a conhecer o segundo número desta publicação, a performance VOLTE-FACE #2, conjuga a declamação (de poemas seleccionados a partir da edição) com a música ao vivo (contrabaixo + bateria digital +samplers), projecção vídeo multimédia e a dança contemporânea. Prosseguindo a sua senda de actuações ao vivo, o VOLTE-FACE trar-nos-á nova emissão de sentido(s), numa abordagem poética e visual singular, criada por este colectivo vivo e surpreendente:

a próxima apresentação vai acontecer dia 14 de Novembro, às 21:15 H, na Sala 2 do Cinema Quarteto, no âmbito do encerramento do
Festival Número-Projecta '07 .






Guião SARA ÉVORA FERREIRA, J.C. JERÓNIMO, ANDRÉ GASPAR, ANTÓNIO FARIA
Poema e Declamação J.C. JERÓNIMO
Ilustração [Intro] CARLOS ALBERTO CAVACO
Realização e Montagem ANDRÉ GASPAR, ANTÓNIO FARIA
Animação Multimédia [Intro] ANDRÉ GASPAR, ANTÓNIO FARIA
Figuração XIBITA
Contrabaixo TIAGO ALMEIDA
Bateria Digital JOÃO FERNANDES
Sonoplastia e Samplers RUI BENTES (Shhh...)
Produção CONFLITO ESTÉTICO - ASSOCIAÇÃO CULTURAL
[vídeo premiado no Video Run Contest '06 (Restart)]

Mais vídeos-poema Volte-Face

9.11.07

Ideias para um romance #1

Duarte Vitória
Polarity
Óleo s/ tela - 170x200 cm - 2007


Ao sair de casa cruzo-me com um grupo de estudantes. Um deles tenta convencer os colegas de que ouviu esta notícia na televisão: «um conjunto de escritores decidiu fazer greve____ e eram muitos e alguns até famosos, como por exemplo... ». Atravessei a rua___ e fiquei sem saber os nomes dos futuros grevistas.

Duarte Vitória





POLARITY
Exposição de Pintura na
Galeria de Arte Contemporânea Nuno Sacramento

Inauguração 10 de Novembro de 2007


A exposição estará patente até 5 de Dezembro de 2007.


8.11.07

AXN

Mário Vitória
Os limites da semelhança
Acrílico s/tela - 150x150 cm - 2007


Numa perspectiva sociológica:
- De que forma é possível estabelecermos relações através da Internet?
- Qual o impacto social da mudança que a Internet provocou? Será cada vez mais essa a tendência?
- Cada vez são mais as profissões que dependem da utilização da Internet. Como se tem verificado essa evolução social?
- Quais as principais vantagens desse fenómeno?
- Em que medida podemos dizer que a Internet facilita o dia-a-dia dos portugueses?

Estas foram as questões a que respondi para uma mini-reportagem da AXN (produção: Take 5). Passa hoje às 15h, na madrugada do dia 9 às 3:29 e mais umas tantas vezes ao longo do mês. A AXN pode ser vista na TV Cabo, Cabo Visão e noutras
plataformas de televisão.

Reabertura do Cinema Oita

O Cineclube de Aveiro anuncia a reabertura do Cinema Oita, hoje, Quinta-Feira, pelas 22 horas com o filme Mysterious Skin — Pele Misteriosa


Título original: Mysterious Skin
Realização: Gregg Araki
Intérpretes: Joseph Gordon-Levitt, Brady Corbet, Elisabeth Shue, Michelle Trachtenberg, Bill Sage, Mary Lynn Rajskub
Estados Unidos/Holanda, 2004


Em exibição de 8 a 12 de Novembro, sempre às 22h.

Ego Skin II

Se a pele for o limite do corpo. sendo que corresponde aos contornos da figura humana para quem desenha. Se a pele se expressar em dueto. um dueto definido à partida. então a pele são os poros, as peles respiram-se. e se, a proposta: mais 15 minutos para recriação desse "material". por uma coreógrafa, um encenador de teatro e um desenhador digital. Se a pele se reinventar assim. temos movimentos de repetição, a nossa rotina, de abertura, o nosso desejo, de troca, a sensualidade, o sexo, de repulsa ou escárnio, táctil feio, e ninguém pode esquecer todos os outros sentidos, apesar de, ou precisamente porque, se trata de pele. a coreógrafa acelerou o ritmo do dueto e acrescentou mais pedaços do arquivo humano de movimentos. o desenhador riscou, coloriu, projectou, fundiu, alongou, jogou. o encenador brincou com o reflexo das peles, uma contra a outra, uma atrás da outra, revelando, revelando. queremos ver ser ficar nus. mas resistimos.
Diverti-me imenso. mas a sala poderia ter ficado mais quente. faltava gente. Amélia Bentes e Ludger Lamers mereciam mais olhos, poros, corações!

7.11.07

Ego Skin




Explorar o conceito de ego enquanto «imagem de si mesmo» é o objectivo de Ego Skin, projecto dirigido por Amélia Bentes. O espectáculo é o resultado do desafio lançado a três criadores de áreas artísticas distintas - Claudio Hochman (teatro), Lia Rodrigues (dança) e António Jorge Gonçalves (desenho digital ao vivo) - para que trabalhassem, transformassem ou recriassem um dueto previamente criado por Amélia Bentes e Ludger Lamers. Pretende-se que o produto final seja uma viagem de tripla-perspectiva sobre o mesmo tema, tendo como referência o corpo-pele, fronteira de identidade e defesa. O corpo, ser-no-mundo que participa, comunga e comunica, torna-se simultaneamente superfície de inscrição, sujeito e objecto, vivente e vivido, tocante e tocado. É partindo desta imagem que o corpo se modela, se transfigura, se desfigura, ideia que implica necessariamente a subordinação do corpo ao olhar do outro.

Concepção e Direcção Amélia Bentes
Interpretação Amélia Bentes e Ludger Lamers
Criadores convidados Lia Rodrigues (dança), Claudio Hochman (teatro) e António Jorge Gonçalves (desenho digital ao vivo)
Música Martins Carlos
Assistência de ensaios (Lia Rodrigues) Marta Silva
Texto (Lia Rodrigues) excerto de “Muito, meu amor” de Pedro Paixão
Texto e letras de canções (Claudio Hochman) Claudio Hochman
Apoio Vocal Paulo Filipe
Desenho de Luzes Cristina Piedade
Figurinos e Imagem de Divulgação Vel Z
Direcção Técnica Raúl Seguro
Produção Executiva ACCCA / Narcisa Costa e Maria João Garcia


Uma antevisão do projecto realizado por António Jorge Gonçalves (desenho digital ao vivo):


No Teatro Aveirense, às 21.30, integrado no ciclo Dança e Novas Tecnologias.

6.11.07

Apenas

Mário Vitória
Nomes Novos para Coisas Antigas
Acrílico s/ tela - 150x150 cm - 2007

Gosto particularmente da pergunta que encerra o último artigo de Eduardo Graça no SM - sobre o Tratado de Lisboa ou «o chapéu jurídico da UE»:
«como hão-de os cidadãos, conformados à descrença nas suas próprias virtudes, ajudar à riqueza da nação?».
O Andarilho que anda a vaguear pelo Divas (coluna da direita) é apenas o músico que fez a primeira parte do concerto do Lloyd Cole, em Aveiro. Houve quem apreciasse mais o Andarilho que o cool cold Lloyd. No site do Andarilho, podemos ficar a conhecer melhor o seu percurso e influências (mas são boas, são boas).

5.11.07

À escuta #56

Elas também foram ver A Espera, perfomance inspirada em «À Espera de Godot» de Beckett. De facto, a peça não é para a idade delas. Foi preciso tranquilizá-las em alguns momentos. Mas sobretudo, a dúvida: quem é Godot? vai aparecer ou não? por que se atrasou? não gosta deles (de Estragon e Vladimir)? como é que eu já sabia que o Godot não ia aparecer?
Explico-lhes que já li aquela "história" e que naquele teatro os actores tinham decidido contar a mesma história mas de outra maneira___, por exemplo, ali há uma menina e na história só existem homens. Ainda bem que puseram uma menina! Mas, para surpreenderem toda a gente, o melhor mesmo era se o Godot aparecesse no fim!

À escuta #55

Ou: Os estados melancólicos das minhas filhas

Domingo, almoço num restaurante ao pé da praia, uma mesa cheia de adultos e crianças. A A. de repente começa a chorar. Qual era a razão? Não conseguia suportar um quadro fixado na parede à frente dela. O quadro retratava um palhaço tristonho a tocar violino, com um cão que parecia estar a latir (tipo o Pantufa dos livros da Anita) aos pés. Compreendo a desolação. Empresto-lhe os meus óculos escuros para ver se alivio a paisagem e a melancolia. Mas ela só ficou feliz quando deixou de ver o quadro.

Hoje demanhã, a caminho da escola, a S. pergunta-me se vai ter que se levantar cedo para o resto da vida. Respondo-lhe que sim (meus Deus, que crueldade!). Mesmo quando entrar na universidade? Sim (tenho esperança). Então a única diferença, conclui, é sair de casa demanhã cedo sozinha ou acompanhada pelos pais. Pois, quando entrar na universidade já vai poder ir sozinha, respondo-lhe animada, imaginando a sua aspiração a uma vida independente. Mas ela pergunta: Mesmo nos dias em que fizer muito frio?

3.11.07

A Espera


Uma sugestão absurda: ___ ler absurdo, antes de ver absurdo, A Espera, uma criação performativa livremente inspirada em «À Espera de Godot».
Helena Botto e Jorge Neto são Vladimir e Estragon, vagabundos (atletas) subservientes e cegos ao interminável preenchimento do tempo da vida, escravos do peso de carregar os dias como uma espera sem qualquer sentido; e são Pozzo e Lucky, as duas outras personagens, que criam uma forma de jogo (original, nesta peça), na qual se defrontam com igual indiferença e consciência de inutilidade, no espectáculo do servilismo à sua condição (belíssimo, o recurso ao símbolo da gaiola, e o adereço de per se). Bruno Pinho é a música, o circo, a pantomina, e participa também na acção passando desesperados charming days and evenings esperando por Godot. Quem é, o que é Godot? A incerteza ou Deus, a esperança ou o nada, tudo o que nunca aparece a horas certas, ou que nunca veremos, mas que estamos convencidos de que pode aparecer, vai aparecer, vai acontecer, convém não acontecer. Entretanto, (re)pousamos as nossas vidas nos mesmos lugares todos os dias, ou movemo-nos. Porque há sempre uma escolha. Let's Go? Estes performers movem-se___e já
ressuscitaram um Teatro.

VLADIMIR: When I think of it . . . all these years . . . but for me . . . where would you be . . . (Decisively.) You'd be nothing more than a little heap of bones at the present minute, no doubt about it.

(...)
ESTRAGON: Let’s go.
VLADIMIR: We can’t.
ESTRAGON: Why not?
VLADIMIR: We’re waiting for Godot

(...)
VLADIMIR: I felt lonely.
ESTRAGON: I had a dream.
VLADIMIR: Don't tell me!
ESTRAGON: I dreamt that—
VLADIMIR: DON'T TELL ME!
ESTRAGON: (gesture toward the universe). This one is enough for you? (Silence.) It's not nice of you, Didi. Who am I to tell my private nightmares to if I can't tell them to you?
VLADIMIR: Let them remain private. You know I can't bear that.
ESTRAGON: (coldly.) There are times when I wonder if it wouldn't be better for us to part.
VLADIMIR: You wouldn't go far.

(...)
ESTRAGON: Let's hang ourselves immediately!
VLADIMIR: From a bough? (They go towards the tree.) I wouldn't trust it.
ESTRAGON: We can always try.
VLADIMIR: Go ahead.
ESTRAGON: After you.
VLADIMIR: No no, you first.
ESTRAGON: Why me?
VLADIMIR: You're lighter than I am.
ESTRAGON: Just so!
VLADIMIR: I don't understand.
ESTRAGON: Use your intelligence, can't you?
Vladimir uses his intelligence.
VLADIMIR: (finally). I remain in the dark
(...)
VLADIMIR: Well? What do we do?
ESTRAGON: Don't let's do anything. It's safer.
VLADIMIR: Let's wait and see what he says.
ESTRAGON: Who?
VLADIMIR: Godot.
ESTRAGON: Good idea.

(...)
VLADIMIR: One is what one is.
ESTRAGON: No use wriggling.
VLADIMIR: The essential doesn't change.

(...)
POZZO: Ah yes! The night. (He raises his head.) But be a little more attentive, for pity's sake, otherwise we'll never get anywhere. (He looks at the sky.) Look! (All look at the sky except Lucky who is dozing off again. Pozzo jerks the rope.) Will you look at the sky, pig! (Lucky looks at the sky.) Good, that's enough. (They stop looking at the sky.) What is there so extraordinary about it? Qua sky. It is pale and luminous like any sky at this hour of the day. (Pause.) In these latitudes. (Pause.) When the weather is fine. (Lyrical.) An hour ago (he looks at his watch, prosaic) roughly (lyrical) after having poured forth even since (he hesitates, prosaic) say ten o'clock in the morning (lyrical) tirelessly torrents of red and white light it begins to lose its effulgence, to grow pale (gesture of the two hands lapsing by stages) pale, ever a little paler, a little paler until (dramatic pause, ample gesture of the two hands flung wide apart) pppfff! finished! it comes to rest. But– (hand raised in admonition)– but behind this veil of gentleness and peace, night is charging (vibrantly) and will burst upon us (snaps his fingers) pop! like that! (his inspiration leaves him) just when we least expect it. (Silence. Gloomily.) That's how it is on this bitch of an earth.
Long silence.

(...)
VLADIMIR: Well? Shall we go?
ESTRAGON: Yes, let’s go.
They do not move.

(...)
VLADIMIR: Say, I am happy.
ESTRAGON: I am happy.
VLADIMIR: So am I.
ESTRAGON: So am I.
VLADIMIR: We are happy.
ESTRAGON: We are happy. (Silence.) What do we do now, now that we are happy?
VLADIMIR: Wait for Godot. (Estragon groans. Silence.) Things have changed here since yesterday.
ESTRAGON: And if he doesn't come?

(...)
POZZO: I am blind.
Silence.
ESTRAGON: Perhaps he can see into the future

(...)
ESTRAGON: We always find something, eh Didi, to give us the impressione we exist?

(...)
VLADIMIR: Well? Shall we go?
ESTRAGON: Yes, let's go.
They do not move.


A Espera vai voltar a acontecer nos dias 8, 9 e 10 de Novembro, pelas 22 horas, no Estúdio PerFormas.