31.5.07

Night Mare


Deitei-me às 21h30, depois de adormecer as minhas filhas. Estava cansada. Vivo numa casa muito velha, as madeiras rangem, as cores das paredes, das carpetes, dos pesados cortinados de cetim, estão desbotadas, mas gosto do tom quente que resiste ao tempo. Os móveis também são de outra época, já cá estavam quando aluguei a casa e dão-lhe um ar decadente. mas já me habituei. É um velho e imenso apartamento. Na verdade, uma parte da casa não está sequer ocupada, é como se existissem dois apartamentos ligados, mas só um estivesse vivo. Estou animada com a chegada de outro casal, mesmo se me incomoda um pouco a ideia de partilharmos o mesmo espaço. Também eles mudam de país com frequência. São franceses. Ela chama-se Charlotte e andou todo o dia a encaixar os seus pertences nos quartos que lhe cedi. O mais difícil foi decidir onde deitar a bébé. Eles já viveram aqui, e a verdade é que nem sabem como aceitaram voltar a esta casa. Do outro lado, na parte desocupada, às vezes aparecem pessoas que já morreram. Eu já vi uma mulher e uma menina, talvez sejam mãe e filha, e andam sempre juntas. Ambas usam vestidos compridos, de tecido de veludo verde escuro, têm o cabelo preso, bem arranjado. É estranho quando nos fixam, mas não são muito expressivas e mantêm-se sempre a uma certa distância.
As minhas filhas adoram a ideia de ter uma bébé em casa. Nós, os adultos, decidimos sair para festejar a chegada dos nossos amigos. Decidimos ir "àquele lugar". Todos dizem que é fantástico, o meu marido já lá foi e fala muito da parte da Vénus, mas eu só imagino como será. A verdade é que, mal chegámos, me desagradou o excesso de gente. O sítio é uma espécie de labirinto, cheio de barreiras que temos que atravessar entre espaços. Muitas escadas de corda, vários desníveis que nos obrigam a saltar ou a mergulhar, redes por todo o lado separando vias de acesso, uma confusão! Inicialmente até estava divertida e fiquei espantada com a minha rapidez e agilidade. Mas depois apeteceu-me sair dali, e lembrei-me que deixara as crianças sozinhas. Era estranho não me ter lembrado disso mais cedo. Felizmente o meu marido também quis regressar, disse-me que havia ali um quarto com cadáveres empalhados e que hoje não tinha disposição para ver aquilo. Passámos pela zona Vénus no caminho para a saída. Havia quilos e quilos de felpo e tínhamos que descobrir a abertura, colada com fita aderente. Era contagiante a animação. Acabei de joelhos, à procura. Um amigo explicou-me como funcionava e todos me avisaram que, uma vez lá dentro, deveria procurar a saída vermelha, por ser a mais divertida ou a mais sensual, não percebi bem. A ideia era enfiar-me de cabeça no buraco, deixando todo o corpo deslizar, e foi o que fiz. Não esperava encontrar tanta gente naquela espécie de cave, respirava-se mal, o tecido de felpo cobria-nos, havia uma luz ténue, alaranjada, tentei avançar mas tropecei, fiquei cheia de calor, um calor insuportável, comecei a entrar em pânico, já só queria sair dali, ia gritar, gritar para me tirarem dali... mas acordei antes do grito, sentindo uma pressão enorme no peito e medo. O pesadelo perseguia-me, absolutamente nítido.

Levantei-me da cama. Já passava da meia-noite.

Vai ser difícil voltar a adormecer.
Ouço as notícias, ligo o portátil e escrevo. Se houvesse por aí um psi que quisesse interpretar o sonho, eu deixava.

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