15.3.05

Ociosidade

Os meus pais, para apresentar ainda um antagonismo existente entre eles e o meu tio Georg, detestavam a chamada ociosidade, porque não sabiam que uma pessoa intelectual não conhece a ociosidade, não pode sequer permitir-se a ociosidade, que uma pessoa intelectual vive precisamente com extrema intensidade e com o máximo interesse quando, por assim dizer, se entrega à ociosidade, porque eles nunca souberam fazer nada da sua verdadeira ociosidade, porque na sua ociosidade não se passava nada, com efeito, absolutamente nada, porque eles na verdade e na realidade não eram capazes de pensar, quanto mais dar curso a um processo intelectual. Para a pessoa intelectual a chamada ociosidade nem sequer é possível. A ociosidade dos meus pais era, contudo, uma verdadeira ociosidade, pois neles nada se passava quando eles nada faziam. Pelo contrário, a pessoa intelectual exerce a maior actividade quando, por assim dizer, nada faz. Mas não é possível fazer compreender isso aos verdadeiros ociosos, como os meus pais e em geral todos os meus.

[in Bernhard, Thomas, Extinção, Assírio & Alvim, 2004, pp 51-52]

É claro que dedico este post à equipa do
Amor e Ócio (com a quase certeza de que a Maria Heli deve conhecer T. Bernhard). E parabéns pelo programa na Rádio!

7 comentários:

Rui Baptista disse...

É pá, obrigado! A Maria Heli, que é uma miúda muito emocional, ainda não parou de fungar. Daqui a pouco ela vem aqui deixar o seu testemunho. Beijos e abraços. RB

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

De nada, caro vizinho! e, p.f., ampare a Maria Heli, há coisas piores!
PS: bela foto! ;-)

Maria Heli disse...

Querida MRF, uma diva entre as divas, acertaste... lindo! Interessantes excertos do último romance de Thomas Bernhard, que também aprecio, sem dúvida!
Vivam as cumplicidades, os blogs, a partilha, mesmo que virtual! As pontes, toda a espécie de vias que nos levem a pessoas de gosto afinado! Vivam os contrabaixos e os saxofones - aposto que também gostas de jazz ! - e, claro, o amor, o ócio e o exagerado do Rui Baptista que me faz mais emotional do que aquilo que sou, realmente ;)
beijos e obrigada

Nota: aguardo pelo teu post sobre condução!

Anónimo disse...

Qual quê!
Claro que és uma real emotional girl!
E só tenho pena de não ter sido eu a baptizar-te. Levas tudo com emoção, és toda emoção.
Até eu, já estou aqui aos vivas na secretária!
E o RB colocou ali a mensagem e agora, curiosos, todos vimos até aqui espreitar.
E deixamos postas e tudo!
A minha vida alterou-se desde que entrei prá bloggosfera e a culpa é tua. Só tua!
Parabéns MRF pelo seu blog! Tb PRÓS favoritos!a FICAR DOIDO QUE HAJA MUITOS CULPADOS :)

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Olá! eu adorava poder servir-vos um chazinho ou um café. Façam de conta. Olha que gente mais linda mais cheia de graça! :-)
Um abraço

Anónimo disse...

Pois! convida pró café e para o cházinho e ontem ~`a noite não se conseguia entrar nesta casa, nem batendo 5 vezes que é como quem diz, nem clikando 5 vezes!
Só para dizer que vim pelo amor e ócio e fiquei fã de divas e contrabaixos. Muito bom.
Que duas!:)

Anónimo disse...

E esse cafezinho? sai ou não sai?
parabéns tem um blog muito bonito.
Jaime