17.3.05

Contra Divas: Condução Automóvel

Free Image Hosting at Eu sempre gostei de carrinhos de choque e de montanhas russas, pelo que nada faria prever a minha incapacidade natural para conduzir sem pensar nas pessoas que posso atropelar!
Tirei a carta em Lisboa, ali para os lados da Praça de Espanha, isto é, no meio da confusão. Tive um bom instrutor, benfiquista e muito popular. Com frequência abria a janela do carro e gritava para um conhecido na rua qualquer coisa do género: Oh, o nosso glorioso! Não te vi no jogo, pá! Este domingo é que vai ser dar-lhes! As primeiras vezes assustei-me mas, mesmo sendo do Sporting, simpatizava com ele.
Mais próximo da data do exame de condução, começou a assustar-me com "os engenheiros" e até eu percebi que se estava a fazer a umas luvas! Decidi não ligar às suas insinuações, chumbei. Mas nem eu me passaria a mim própria. Foi um golpe no meu amor-próprio! Cheguei ao pé dos meus amigos com a disposição de uma eterna condenada ao insucesso.
O segundo exame correu bem, além de que só precisei de meter a primeira e segunda mudanças porque apanhei a hora de ponta. Poucos meses depois de ter a carta, tive um acidente. Causa do acidente: excesso de simpatia (perdoem-me o eufemismo mas custa dizer que foi por burrice). Vinha da direita mas decidi deixar passar o sujeito da esquerda, que hesitou, então se não queres vou eu e avançamos os dois ao mesmo tempo. Para não chocarmos enfiei-me num carro que estava estacionado. Os prejuízos ascenderam aos 100 contos, algo pesado para 1986! Ainda hoje consigo ver a chapa encolher como se fosse um acordeão. Decidi que nunca mais pegava num carro.
Quando o meu irmão, dez anos mais novo que eu, me começou a dar boleia, percebi que algo estava errado. Mas arranjei sempre boas razões para não recomeçar a conduzir. Ou porque podia andar a pé, ou porque não havia lugar para estacionar, ou porque o Lauro António também não conduz.
Não sei se é por tudo isto que sou incapaz de reconhecer a marca de um carro. A nossa memória é selectiva e a minha baniu todas as informações relativas a mecânica e a design automóvel. A pior coisa que me poderão dizer é "segue-me, tenho um Audi 123 vtxi". Num país em que o automóvel é acentuadamente percebido e usado como símbolo de status, esta limitação até tem as suas vantagens: desarmo qualquer pretensioso em dois minutos.
Uma vez li que as pessoas não gostam de conduzir porque têm carências afectivas. Não conduzir seria como pedir colo, numa atitude do género: leva-me contigo, toma conta de mim, deixa-me em casa, faz com que não tenha que tomar decisões sobre o caminho a seguir, és tu que decides. Talvez haja alguma verdade em tudo isto mas também é possível não gostar de conduzir e ponto final. como não gostar de ler e ponto final. como não querer casar ou ter filhos e ponto final. ou não?
Lá fui eu tirar umas liçõezinhas extra para aumentar a confiança e agora pego no carro. Mas sinceramente, não gosto. Para mim, conduzir, sobretudo em auto-estrada, é como fazer uma aula de aeróbica. Manter-se entre duas linhas brancas que parecem não ter fim é como olhar para o espelho e flectir 1,2,3 as pernas, levantar e 1,2,3 os braços. É contra-natura. O nosso olhar, os nossos movimentos, foram feitos para cair em tentações, para se distrairem.
Portugal regista um dos maiores índices de sinistralidade da Europa. Uma das causas apontadas é o excesso de velocidade. É um dado que dá provas de uma certa irresponsabilidade mas, se pensarmos melhor, não é essa forma de conduzir uma espécie de escape ao tédio da condução? Começo a achar que o mais certo é os portugueses adorarem carros, mas não gostarem de conduzir..., como eu.
Para os macho-men: não se admitem bocas do género "mulheres ao volante, bla bla bla" neste estabelecimento. O Lauro António é homem, pai de filhos, etc.! :-)

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