4.3.05

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O que está in , o que é top, o business, as miúdas, fazem parte do universo de Octave, criativo na filial francesa de uma grande agência de publicidade internacional. Tem como função escrever slogans, “aforismos que se vendem”, e assim abusar de todas as donas de casa com menos de cinquenta anos que vivam à face da terra, transformando os seus fantasmas em actos de compra.
Octave começa a encarar essa actividade como intrinsecamente frustrante, uma vez que utiliza a mentira e a ilusão como motores criativos. Falar em criatividade torna-se mesmo um abuso. "Chamo-me Octave e visto-me na APC. Sou publicitário: sim, poluo o universo. Sou um tipo capaz de vos vender merda. Que vos faz sonhar com coisas que nunca tereis. Céu sempre azul, miúdas que nunca são feias, a felicidade perfeita retocada na PhotoShop."
O narrador torna-se de tal forma cínico em relação ao seu trabalho que parece desejar ser odiado pelo leitor. Ele cita com frequência Goebbels e Hitler para lembrar como a publicidade está próxima da propaganda, compara os directores da agência a generais conduzindo a terceira guerra mundial. Um dia decide recolher elementos que lhe permitam escrever um livro que seja o mais ofensivo possível para a sua empresa, de forma a que o demitam - não dispensa a indemnização por despedimento! Com impertinência e hipocrisia, este autor/narrador (Beigbeder foi publicitário durante anos e o livro é assumidamente autobiográfico), cria um estilo muito eficaz, que usa para defender ideologias como a anti-mundialização, o anti-mercantilismo, o anti-consumismo. "Não vejo interesse em escrever livros a não ser que seja para cuspir na sopa".
Como bom publicitário, Beigbeder adora inventar frases e é capaz de inventar "fórmulas" que são poderosas, aliando ao humor um cinismo muito destrutivo. A depressão do narrador faz-nos pensar em
Houellebecq (que de resto defendeu Beigbeder, ainda antes do romance ser lançado, contra aqueles que desejavam instaurar-lhe um processo). As seis partes do livro, baptizadas com pronomes pessoais (eu, tu, ele...), permitem-lhe adoptar um ponto de vista sempre diferente. Mas o que torna o livro mais singular é que aquilo que o narrador anuncia na abertura da obra - que vai ser despedido quando a direcção tomar conhecimento do livro, o autor vai vivê-la na vida real. Houellebecq qualificou este dispositivo experimental de "auto-ficção prospectiva".
Beigbeder, com esta sua denúncia do sistema capitalista assente num quadro panfletário do mundo da publicidade, foi aplaudido por toda a crítica e criou um best-seller já traduzido em vários países, nomeadamente em Portugal.

99 Francos foi traduzido por € 14.99 - A outra face da moeda, pela Presença.
De alguma forma é um livro moral. Mas o divertimento está garantido!

6 comentários:

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

É verdade que as indemnizações em Portugal não são as mesmas que em França! Be careful!

Elvira disse...

Acho o tipo um grande convencido... Lembro-me dele a apresentar programas de televisão narcissistas. E a achar os livros dos outros uma m.... !

Anónimo disse...

Muito interessante. Sobre os nazis, por exemplo, e sobre a inacreditável, aos olhos de hoje, ascensão do Partido Nacional Socialista, é incontornável passar pela Leni Riefenstahl, a realizadora oficial da propaganda audiovisual Nazi.

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Elvira, ele é convencido, arrogante, becê-begê até dizer chega, impertinente e faz questão de o ser. Juntemo-lhes sentido de humor, infantilidade, etc.. Tudo isso é o personagem mediático Beigbeder. Comecei por estranhar, depois entranhou. Acabei por gostar imenso das críticas que fazia no "Rive Droite Rive Gauche" do Ardisson. Quando passou a ter o seu pp programa era delirante. Às vezes muito bom, outras vezes uma nulidade. Mas tem o mérito de comunicar de uma forma diferente. E de ter uma bagagem cultural mto boa. (enfim, ou se gosta ou não se gosta!)
Obrigada pelas tuas visitas e parabéns pelo teu blog: é bom haver embaixadores de Portugal da tua qualidade num país que tem uma imagem muito estereotipada de nós.

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Bagaço, a Riefensthal mete qqr realizador actual no bolso!

uivomania disse...

Pertinentíssimo! Talvez o homem tenha pensado: Se não podes mudar nada junta-te a eles e denuncia!
Ainda assim, ponho-me a pensar, se a malta é enganada ou quer mesmo é acreditar na propaganda que é posta no prato... em jeito de fuga de uma realidade diz não querer aceitar, mas que, nada faz para mudar...