29.11.09

Le marteau(!) du maître

Le Marteau sans Maître, a obra o conceito de Boulez que fixei. e depois de uma conversa, voltar a ouvir. é difícil aderir. eu, leiga. descobri um fragmento de Sur Incises, composição mais recente (com condução) do mestre. estranha-se sempre. às vezes entranha. Pierre Boulez nasceu em 1925. Com First Sonata for Piano, em 1946, inicia o movimento avant-garde na Europa. Em 1948, no pós-guerra, compõe a Second Sonata for Piano, considerada uma obra-prima e a melhor composição para piano escrita no século XX. ele vive antes-depois do seu meu tempo. eu ainda não nasci.


Pierre Boulez com Ensemble InterContemporain.

27.11.09

Mishima

Já foi há muito tempo. li o livro certo para a idade que tinha, O Tumulto das Ondas. mais tarde vieram os outros livros de Mishima. Confissões de Uma Máscara (1949) e O Templo Dourado (1956) e a tetralogia O Mar da Fertilidade (1964-1970). A existência como uma representação. determinada pela busca do Belo. Quando o filme de Paul Schrader saiu, senti-o como uma resposta a um apelo muito pessoal. (pouca gente lia Mishima). O filme fez-me descobrir Philip Glass. Ouvi a banda sonora até à exaustão. até descobrir a trilogia. rendi-me a P. Glass. (agora, as suas composições já não têm o mesmo efeito). O dia 25 de Novembro, na minha História do mundo, também é o dia da morte planeada e tumultuosa de um samurai, romancista, dramaturgo, actor e realizador de cinema. Yukio Mishima. que num último "acto de beleza mortífera" quis superar a mera representação.


In 25th November, 1970, Yukio Mishima, in the ritual act of Seppuku, knelt on a carpet and plunged a dagger into his abdomen. Mishima had sacrificed his own life, a gesture of defiance against the violation of his country's dignity.
Mishima designed his life as a drama; in his books he plotted out his life down to the last chapter. A twentieth century writer of the highest acclaim, Yukio Mishima generated more than 30 novels, in addition to numerous plays and movies. He was truly a renaissance man and was not only Japanese, but a world figure
.

23.11.09

À escuta #89

- Meninas, quero a luz fechada e logo a seguir vem o beijinho!
S - ... pois, mas como eu quero VER o beijinho, vou aí agora!

Caderno de Memórias Coloniais


«Manuel deixou o seu coração em África. Também conheço quem lá tenha deixado dois automóveis ligeiros, um veículo todo-o-terreno, uma carrinha de carga, mais uma camioneta, duas vivendas, três machambas, bem como a conta no Banco Nacional Ultramarino, já convertida em meticais.
Quem é que não foi deixando os seus múltiplos corações algures? Eu há muitos anos que o substituí pela aorta


Pode descolonizar-se um país. Mas é impossível descolonizar-se a alma.


Não me apetece esperar pela distribuição do livro nas livrarias, eu já o encomendei. Em primeiro lugar, porque eu sei que a Isabela pensa e escreve MUITO bem. E depois, porque o tema me interessa. O tempo histórico está em nós, quase geneticamente inscrito. Com o 25 de Abril e a independência das ex-colónias, houve uma ruptura nos discursos. e dos paradigmas que formavam a nossa Identidade. mas verdade é que todos, ex-colonizadores (os que se aceitaram como tal. e mesmo os que se recusaram a sê-lo) e ex-colonizados, "pensam" diferentes tempos em simultâneo. A Isabela tem razão. Não aconteceu, não conseguimos, em muitos domínios, a descolonização do "ser colonizador" ou do "ser colonizado". A herança colonial é imensa e fazemos transferência dessa memória. Vivemos, aqui e lá, em estado de "colonialidade". nesta era pós-colonial. Que não se confunda esta fragmentação com qualquer aspiração eurocentrista. Frantz Fanon falou da "guerra mental do colonialismo". As marcas dessa guerra são apenas mais duradouras do que poderíamos desejar.


Sobre o tema, o investigador (em estudos pós-coloniais) Nelson Maldonato-Torres, é uma referência. Leiam The Topology of Being and the Geopolitics of Knowledge: Modernity, Empire, Coloniality.

20.11.09

Ace in the Hole (1951)

Outro filme "completo" no Youtube. Menos conhecido que Double Indemnity (1944). Completamente fora da linha de Some Like It Hot (1959). Still, Billy Wilder.
No cinema seria melhor! still...

19.11.09

Retalhos da vida de um médico


[O CD de homenagem a Ary dos Santos foi distribuído na última edição da Visão e do Expresso]

Serras, veredas, atalhos,
Estradas e fragas de vento,
Onde se encontram retalhos
De vidas em sofrimento

Retalhos fundos nos rostos,
Mãos duras e retalhadas
Pelo suor do desgosto,
Retalha as caras fechadas

O caminho que seguiste,
Entre gente pobre e rude,
Muitas vezes tu abriste
Uma rosa de saúde

Cada história é um retalho
Cortado no coração
De um homem que no trabalho
Reparte a vida e o pão

As vidas que defendeste,
E o pão que repartiste,
São lágrimas que tu bebeste
Dos olhos de um povo triste

E depois de tanto mundo,
Retalhado de verdade,
Também tu chegaste ao fundo
Da doença da cidade

Da que não vem na sebenta,
Daquela que não se ensina,
Da pobreza que afugenta
Os barões da medicina

Tu sabes quanto fizeste,
A miséria não segura,
Nem mesmo quando lhe deste
A receita da ternura

Mário Barradas (1931-2009)

Alertada pela tristeza de um amigo. meu e de Mário Barradas. para a grandeza de Mário Barradas.

«
O encenador Mário Barradas “marcou o teatro de toda a segunda metade do século XX português”, disse o director da Companhia de Teatro de Almada. Joaquim Benite sublinhou "o papel importante que [Barradas] desempenhou na descentralização do teatro, tendo marcado a cena portuguesa pós 25 de Abril".(...) Empenhou-se muito na descentralização, à qual votou toda a sua vida, aliás esta opção fez-se notar quando assumiu funções como director-geral das Artes, cuja acção se sente hoje no tecido teatral português"...»

«
Nascido em Ponta Delgada, em 1931, Mário Barradas fundou em Janeiro de 1975, no primeiro projecto de descentralização teatral em Portugal, o Centro Cultural de Évora, antecessor do CENDREV, e uma escola de formação teatral.»

Cinco anos

Este blogue começou a 19 de Novembro de 2004. com Arendt no pensamento e um livro de Süskind na mão.

... Se Hannah Arendt tiver razão, a liberdade depende da acção (action). Homens livres. Através da sua obra e do seu pensamento, eles empenham-se em transformar o nosso mundo. Enveredaram por caminhos arriscados ou pouco explorados, seguindo o princípio da fidelidade ao sonho. Ou a um sonho. Porque é possível.

Alguns são Divas e todos os reconhecemos. Outros são fantásticos Contrabaixos, instrumentos que as boas orquestras não dispensam mas em que nem sempre reparamos.

Eu queria falar desses Homens.




"Comer marisco ou sopa rica de peixe! Enquanto o homem que a adora fica numa sala à prova de som e não faz outra coisa senão pensar nela, com um instrumento disforme entre as mãos, do qual nem um, nem um único som é capaz de tirar, dos que ela canta! ...Sabem do que é que eu preciso? Preciso sempre de uma mulher que nunca hei-de ter. Enquanto eu não a tiver, não preciso de nenhuma outra."

Patrick Süskind (1984). O Contrabaixo . Ed. Difel: pp 53-54


Eu também preciso do que nunca hei-de ter. para além de me ser indispensável o que já tenho.

18.11.09

Semântica...

Caroline Westerhout
The real world does no longer exist, 2009



Lê-se o poema. Espanta-se. com a autoria também. imaginam quem o «orden(h)ou» ?

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Ordeno ao ordenador que me ordene o ordenado
Ordeno ao ordenador que me ordenhe o ordenhado
Ordinalmente
Ordenadamente
Ordeiramente.
Mas o desordeiro
Quebrou o ordenador
E eu já não dou ordens
coordenadas
Seja a quem for.
Então resolvo tomar ordens
Menores, maiores,
E sou ordenado,
Enfim --- o ordenado
Que tentei ordenhar ao ordenador quebrado.
--- Mas --- diz-me a ordenança ---
Você não pode ordenhar uma máquina:
Uma máquina é que pode ordenhar uma vaca.
De mais a mais, você agora é padre,
E fica mal a um padre ordenhar, mesmo uma ovelha
Velhaca, mesmo uma ovelha velha,
Quanto mais uma vaca!
Pois uma máquina é vicária (você é vigário?):
Vaca (em vacância) à vaca.
São ordens...
Eu então, ordinalmente ordeiro, ordenado, ordenhado,
Às ordens da ordenança em ordem unida e dispersa
(Para acabar a conversa
Como aprendi na Infantaria),
Ordenhado chorei meu triste fado.
Mas tristeza ordenhada é nata de alegria:
E chorei leite condensado,
Leite em pó, leite céptico asséptico,
Oh, milagre ordinal de um mundo cibernético!


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[Resposta na caixa de comentários]

17.11.09

My Story



O objectivo do projecto "MyStory – Democracia à altura das crianças” é dar voz às crianças angolanas, como é o direito delas (declaração da ONU dos direitos das crianças, artigos 12 e 13).

O objectivo é estimular a capacidade das crianças de comunicar oralmente, usando as suas próprias histórias como o meio para atingir esse fim.

O projecto “
MyStory – Democracia à altura das crianças” nasceu de uma colaboração entre a organização dinamarquesa Gi en Historie e a Save the Children Denmark.

O objectivo, a longo prazo, da Gi en Historie é criar uma plataforma global na internet chamada MyStory, que pretende reunir histórias contadas por crianças oriundas das mais variadas partes do mundo.



14.11.09

1-0, 1-1, 1-2, n-n

Portugal venceu a Bósnia-Herzegovina por 1-0. Teria sido bom voltar a Mostar (ou Sarajevo) e ver lá o jogo. ou... quero lá saber do jogo. Eu tenho é vontade de voltar à Bósnia-Herzegovina. As sequências de imagens que não vou esquecer são bem melhores que passes de futebol. (ok, viva a Selecção nacional! :P)

Fotos MRF
Mostar, 2008

4.11.09

lembrar Malraux

"A tragédia da morte consiste em que ela transforma a vida em destino."

André Malraux
(Paris, 3 de novembro de 1901 — Créteil, 23 de novembro de 1976)


2.11.09

Marie NDiaye

A escritora francesa Marie NDiaye (de ascendência senegalesa) foi hoje anunciada como a vencedora do prémio Goncourt. (...) NDiaye, de 42 anos, foi distinguida pelo livro “Trois Femmes Puissantes” (“Três Mulheres Poderosas”), que aborda o problema da imigração ilegal de africanos para a Europa e as relações entre os países africanos e os ex-colonizadores, temas que têm sido frequentes na obra da escritora.



Marie NDiaye, Trois femmes puissantes

Frédéric Beigbeder



O escritor francês Frédéric Beigbeder conquistou hoje o Prémio Renaudot com o romance "Un roman français", publicado pela Grasset.

Comecei por o ver como crítico literário no programa de Thierry Ardisson, o fantástico «Rive Droite, Rive Gauche», que passava no Paris Première (fins de 90, até 2002). Depois achei por bem ler os seus romances (inaugurais). O escritor ficava sempre aquém das aspirações do crítico. As obras, assentes numa ideia-tema (e sátira) forte, eram sobretudo divertidas e "irreverentes".
Havia rumores que o apontavam para o prémio Renaudot deste ano, não quis acreditar. Agora resta-me concluir que a cotação de Beigbeder subiu junto dos "canónicos". O enfant terrible, que começou a conquistar público na viragem do século, começa a ser levado a sério pelos seus pares. Ainda não li "Un Roman Français" mas, dada a assinatura, quero crer que inventou novo(s) cânone(s). É possível até que tenha criado uma Nouvelle Histoire da Literatura francesa... com muito cinismo e humor (negro).

Se quiserem ler breves notas, mini-recensões sobre alguns dos seus anteriores romances, vão ao arquivo do Divas. Para conhecer a marca Beigbeder, visitem o "site não oficial" do escritor, S.N.O.B. (e este título quer dizer alguma coisa, sim).


P.S.: Não sei se não haverá mais surpresas nesta rentrée...

Adenda: reacção do escritor ao Prémio Renaudot


Découvrez Frédéric Beigbeder prix Renaudot 2009 pour "Un roman français"

1.11.09

À escuta #88

Na missa, o padre:
- Bem aventurados os pobres, bem aventurados os que choram,...

A.:
- ...os que choram? mesmo se for uma birra?
Eu:
- O que é que achas?
A:
- Não deve ser,... mas dava jeito!

Sunday Picnic

Nadav Kander
Chongqing IV (Sunday Picnic)


Vencedor da segunda edição do Prix Pictet: Nadav Kander, natural de Israel.