21.1.05

Dans ces bras-là II


Robert Zverina, Been There

"Tu vas me manquer", dit-elle - comme on manque un train.
Ela está sentada na Frégate, ela lê Le Monde.
E de repente, ainda que já há muito tempo tivéssemos passado os Bairros Sociais* de Mantes-la-Jolie - faltam menos de dez minutos de trajecto, os passageiros já se amontoam junto às portas -, ela agarra subitamente nas suas coisas e começa a avançar pela carruagem em sentido contrário, abre a porta enfolada, atravessa uma nova carruagem, depois outra, depois ainda outra - "oh mana, a saída é para o outro lado", lança-lhe um sujeito estendido no meio da passagem, ela passa por cima dele, ela continua, ela quer percorrer todo o combóio antes da chegada, antes da confusão da descida, ela quer ter a certeza de que está enganada.
As carruagens da cauda do combóio estão quase vazias, um simples olhar tranquiliza-a, não há ninguém.
Ela abre a última porta, ela passa. Através do vidro do fundo, vêem-se os carris, a estrada, as árvores que fogem. E mesmo ao lado, sozinho, vendo a paisagem, ele está ali, é ele.
Ela avança no corredor (esbofeteá-lo, arrancar-lhe metade dos cabelos, atirar-se de bem alto), a sombra da sua silhueta fá-lo levantar os olhos, ele sorri como se estivesse orgulhoso dela, bem jogado darling - o marido é muito fair-play, muito desportivo. Quando fica ao seu nível, ela atira-lhe a pasta com toda a força à cabeça, perdido meu amor, apanha com isto no nose, honey, never give all the heart , my tailor is rich and my wife is crazy. Depois ela desaparece, son of a bitch.


in Laurens, Camille, Dans ces bras-là, P.O.L. éditeur, 2000, pp 143-144
(* Bairros Sociais: no original les HLM - Habitation a Loyer Modéré)

Sem comentários: