31.12.09

Le notti bianche


Realização Luchino Visconti. Le Notti Bianche (1957).
Música: Thirteen Woman, de Bill Haley


Que 2010 seja vivido com a intensidade das quatro noites brancas de Mario e Natalia. Longe da solidão que nos faz chorar sobre pontes em dias de Inverno. Um dia de cada vez. Tranquilos.

30.12.09

Epigrama

XX

EPIGRAMA

Mesmo que não me apeteça
Passar o ano
O ano passa por mim!


Eduardo Graça, in Poemas Manuscritos
Edição de Autor, Novembro 2009

____________________________________

Eduardo, o Natal fez com que eu entorpecesse. juro que às vezes quero ser urso para hibernar entre o pelo dos meus. em redor das lareiras na casa antiga dos pais avós família. e agora aqui, na casa que cresce com as filhas. ando sem vontade de sair à rua. não me apetece chuva nem frio. de tempos a tempos, verifico se chegou alguma mensagem de fora a que tenha de dar resposta. e hoje chegou uma, embrulhada em envelope, com sêlo postal. Já não é a primeira vez. reconheci o remetente. e por isso sorri logo. Abri os Poemas Manuscritos e ando a lê-los com o vagar de quem quer saborear e a dedicação que a generosidade da dádiva me suscita. Voltarei a eles. Por agora, fica o gesto de agradecimento e um poema que tocou o urso que está dentro de mim.

Though nothing can bring back the hour of splendour in the grass

What though the radiance which was once so bright
Be now for ever taken from my sight,
Though nothing can bring back the hour
Of splendour in the grass, of glory in the flower;
We will grieve not, rather find
Strength in what remains behind...

William Wordsworth (1802-1804),
Ode: Intimations of Immortality from Recollections of Early Childhood




Realização Elia Kazan. Splendor in the Grass (1961)

29.12.09

Before Sunset #2

Our lives might have been so much different!

You think so?

I actually do...

Maybe not, maybe we would have hated each other, eventually.

Oh, what, like we hate each other now?

No, maybe we're... we're only good at... brief encounters, walking around in European cities, in one climate!

Oh, God, why didn't we exchange phone numbers and stuff? Why didn't we do that?
Because we were young and stupid?

You think we still are?

I guess when you're young... you just believe... there'll be many people with whom you'll connect with. Later in life you only realize it only happens a few times. Yeah, you can screw it up! You know, misconnect... Well, the past is the past. It was meant to be that way.

Yeah, you really believe that?

That everything is faded?
Well, you know, the world might be less free than you think.

Yeah?


Richard Linklater
Julie Delpy
Ethan Hawke
(Before Sunset, 2004)

28.12.09

On s'embrasse #10


Realização Mike Nichols. Closer (2004)


...pronto, e agora acabamos com os beijos, ok? tens a certeza? unh... não.

Before Sunset

People just have an affaire, or even... entire relationships...
They break up and they forget!
They move on like they would have changed a brand of Cereals!

I feel I was never able to forget anyone I've been with.

Because each person have... you know, specific qualities.
You can never replace anyone.
What is lost is lost.
Each relationship, when it ends, really damages me.
I haven't fully recovered.
That's why I'm very careful with getting involved, because...
It hurts too much!

Even getting laid!
I actually don't do that... I will miss of the person the most mundane things.

Like I'm obsessed with little things.
Maybe I'm crazy, but... When I was a little girl, my mom told me that I was always late to school. One day she followed me to see why... I was looking at chestnuts falling from the trees, rolling on the sidewalk, or... ants, crossing the road... the way a leaf casts a shadow on a tree trunk...

Little things.

I think it's the same with people. I see in them little details,
so specific to each other, that move me, and that I miss, and... will always miss.

You can never replace anyone, because everyone is made of such beautiful specific details.
Like I remember the way... your beard has a little bit of red in it.
And how the sun was making it glow that... that morning, right before you left.
I remember that, and... I missed it!

I'm really crazy, right?


Richard Linklater
Julie Delpy
Ethan Hawke
(Before Sunset, 2004)

17.12.09

Era uma vez uma princesa e um príncipe que casaram..., ela com outra princesa e ele com um príncipe, de reinos nada distantes


E parece que é hoje. Algumas histórias de encantar serão reescritas. E eu congratulo-me por viver esse dia histórico. Logo à noite, espero brindar! ---------- mas amigos e amigas a quem a lei possa interessar directamente, não se precipitem. Vocês sabem, os casamentos têm nuances que as paixões e a razão desconhecem. se bem que não me surpreenderia se a taxa global de divórcio baixasse graças a vocês (os heteros, infelizmente, usufruem cada vez mais de outra conquista histórica, o direito ao divórcio). O mais importante é... básico. que todos passem a ter os mesmos direitos. Proibir a adopção a uma parte da população - devido apenas à sua orientação sexual - é o amargo que fica na boca. É certamente inconstitucional vedar esse direito. Qualquer pedido para adopção pode ser recusado. mas deve fundamentar-se a recusa a partir da análise do caso concreto. Neste domínio, continuamos a aguardar melhores dias. Quanto ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, que não haja nenhuma surpresa... Eu quero mesmo brindar e estou já de olho no casamento de duas pessoas muito especiais.

Danos mentais


«O Instituto de Meteorologia informa que no dia 17-12-2009 pelas 01:37 (hora local) foi registado nas estações da Rede Sísmica do Continente, um sismo de magnitude 6.0 (Richter) e cujo epicentro se localizou a cerca de 100 km a Oeste-Sudoeste do Cabo S.Vicente.
Este sismo, de acordo com a informação disponível até ao momento, não causou danos pessoais ou materiais e foi sentido em todo o território do Continente, verificando-se que a intensidade máxima foi de V (escala de Mercalli modificada) na região de Lagos e Portimão.
Até ao momento foram registadas cinco réplicas de menor magnitude.»


Estava eu deitada a ler quando senti a cama elevar-se e tremer. Gostei da sensação mas fiquei inquieta. Poltergeist, pensei. Quando parou, a primeira coisa que fiz foi espreitar para debaixo da cama. Depois é que percebi que tinha ocorrido um sismo. As filhas dormiam tranquilas. Em poucos segundos, pude perceber o estado de fragilidade psíquica e física em que me encontro. Poltergeist!! E sim, a cama elevou-se alguns centímetros por causa de um sismo com epicentro a mais de 400 km de Aveiro. É assustador.(quando acordei tinha esquecido o episódio. no café em frente à escola é que não se falava de outra coisa. eu só pensava no meu delírio poltergeist e nos 15 ou 20 segundos de intensa actividade mental paranormal.)


[Imagem: Michelle Doll. Renew (2006). oil on masonite 8x10]

13.12.09

Katy Perry

I kissed a girl



Us girls we are so magical
Soft skin, red lips, so kissable
Hard to resist so touchable
Too good to deny it
Ain't no big deal, it's innocent

I kissed a girl and I liked it


[As teenagers americanas "soltam-se". o L Word chegou à pop music com este toque de inocência e "no big deal". as time goes by. com Madonna ainda era perverso. still «It's not what I'm used to» ou, pior!, «I hope my boyfriend don't mind it». o futuro ainda por construir.] [sei lá. talvez o futuro não exija nenhuma "definição" em termos de identidade sexual][eu ainda a pensar em As Horas, Nova Iorque, Clarissa e Richard. ou na entrevista de Stephen Daldry: «We're allowed to do everything. I refuse to be boxed in to the idea that "Oh, no, I can't have kids cause I'm gay." I can have kids if I'm gay. And I can also get married and have a fantastic life... To all questions [having to do] with my marriage, the answer to everything is yes. Do I have sex with my wife? Yes. Is it a real marriage? Yes. Am I gay? Yes."][acho que Durkheim falaria de anomia. erradamente. não há perda de identidade. há ganho de identidades. e sempre a necessidade de estabelecer um equilíbrio entre prazer e dever, o desejo e a norma][bem, vou ali e já volto. a Kate Perry é uma treta]

Temos de criar esse futuro

Mais uma excelente entrevista de Alexandra Lucas Coelho no Ípsilon (10-12-09). Caetano aos 67 anos. A infância da velhice, diz ele. Ouçamos o canto:

«Há algo muito importante no facto de Lula ser pouco ilustrado do ponto de vista formal, no facto dele continuar falando como no ambiente de pessoas, em geral analfabetas, onde ele cresceu. Isso é relevante, e mais ainda do que possamos pensar. Não conheço nenhum caso. Não posso imaginar o que aconteceria na França se um homem que usasse os verbos todos errados em relação aos sujeitos chegasse a se candidatar a presidente, e a ganhar as eleições. Que escândalo não seria na Argentina. Então, o facto de um homem ignorante nas letras e na informação escolar ter-se tornado presidente - e ser um presidente importante, relevante, e sob muitos aspectos bom, embora sob outros muito mau também -, é algo que diz muito sobre o Brasil, sobre a informalidade brasileira, sobre um caso extremo de não-vigência do preconceito linguístico.
Gente!, este homem foi eleito Presidente da República dizendo "as porta", sem fazer o plural, a concordância! Então, os brasileiros são um povo que não demonstrou preconceito quanto a isso. Nem sequer as classes altas o fizeram. Porque se houve quem o comentasse, isso não atrapalhou a eleição, e muito menos atrapalha a aprovação que ele tem, recorde em qualquer época no Brasil, e um dos maiores índices de qualquer presidente em qualquer país do mundo.
O Brasil é muito especial quanto a isso também. Ou seja, eu olho para Lula e vejo um número enorme de coisas de que posso me orgulhar, e são características do Brasil.»

«Uma vez, fiquei uns 20 dias na África, sobretudo na Nigéria e na Costa do Marfim. Nunca tinha estado lá. Passei pelo Senegal, que achei muito bonito, mas em Lagos era terrível.
E conversando com o professor Agostinho [da Silva], dessa segunda vez, eu disse para ele: "Professor, sabe que eu me senti mal na África? Achei que nos dá a sensação de que lá não há futuro. Não há futuro possível. É terrível dizer isso." E ele falou: "Mas é, não há mesmo. Por isso temos de fazer mais fortemente o que fazemos. Temos de criar esse futuro." Acho isso muito bonito.
E a ideia de que Portugal civilizou a Ásia, a África e América e falta civilizar a Europa é muito bonita, porque é muito desabusada, e na contramão do óbvio. Portugal é justamente o país da Europa Ocidental que ficou mais para trás na história.
Mas acontece que o pensamento dele desde sempre foi que terá sido uma benção Portugal ter ficado para trás quando a Inglaterra entrou nesse mundo que o fez como o conhecemos hoje, e a França, e a Alemanha. Ele era muito erudito e muito inteligente, e ao mesmo tempo tinha esse pensamento de que eu gostava muito.»

«Na história que se ensina no Brasil, os professores tendem a ir para a esquerda, e os livros passaram a tender também, e muitas vezes toda a história de Portugal, da descoberta, da colonização brasileira, é apresentada como um mau sucesso. D. João VI seria um sujeito que ainda estava ligado às ideias católicas medievais, seria uma corte que não se modernizou, e isso teria levado para o Brasil um negócio atrasado.
Isso é que o professor Agostinho, e acho que Fernando Pessoa também, viam como uma vantagem, A minha vantagem, e talvez eu me identifique muito com essas pessoas, foi sempre considerar as desvantagens como uma oportunidade.»

«No livro "Verdade Tropical", o momento mais criticado foi eu dizer que o Brasil deveria ser ateu. E criticado com razão. Não há o menor indício de que o Brasil tenha vocação para isso.
Mas o ateísmo filosófico moderno, que tem a ver com a experiência do mundo moderno que vimos vivendo, não pode ser simplesmente negado. Eu não acredito na nova religiosidade, e acho que isso é um problema imenso, que tem de ser transposto. O Brasil tem tarefas imensas, e uma virada grande tem de incluir isso [o ateísmo].»

11.12.09

À escuta #92

- Olá meninas!
S - A A. tem uma má notícia para ti.
A - Mesmo muito má...
- O que é que se passou?
A - Tirei «Não Satisfaz» a matemática!
S - Armada em espertinha e tira NS!
- Oh não, não aceito isso! Não estiveste concentrada, tu sabias a matéria! O que é vamos fazer, menina? Vais passar as férias a estudar!
S - Eu não tirei NS. Também vou ter que estudar matemática nas férias?
A - Parem, por favor! Eu já fui massacrada pela P. que viu a minha nota e disse a todos da turma e todos me gozaram. De vocês esperava mais. Isso, põe-me de castigo. Pois é, odiar matemática é um pecado, é muito pior que drogar-se e ir para a prisão! E já sei, não me vais deixar ver televisão. Até os prisioneiros vêem a televisão que lhes apetece na cadeia mas eu não vou poder! (choro) Odeio matemática! Tenho culpa?
- Ok, vamos acalmar. Mas devo dizer-te que o problema não se resolve se te convences que odeias matemática. E não odeias. Há coisas que gostas...
A - Ah sim, o quê?
- Gostas da tabuada... E o último teste correu bem, não correu?
A - Se só gostares de um dedo da tua mão, sobrevives?

[Eu sei, três mulheres juntas dá sempre melodrama! :)]

7.12.09

À escuta #91

[Telepizza anuncia "quartas-feiras loucas" com 50% de desconto]

A - Por que é que as quartas-feiras são loucas?
S - Não vês que fazem um desconto?
A - Isso é ser louco?

6.12.09

Teste de maternidade

O fim de semana chega ao fim e a sensação de cansaço não desaparece. Você decide então aplicar uma máscara facial, tomar um longo duche quente, lavar a cabeça, enfim, descontrair um pouco. Mal entra na banheira, a sua ajuda é solicitada na resolução da ficha nº 3 e acaba por não fazer tudo o que pretendia fazer enquanto espreita os números por trás da cortina. Se conseguir chegar ao fim sem lançar pragas ao pai, ao filho e ao espírito santo, tem nota 10 no teste de maternidade. Eu hoje não consegui esse feito. A meio deu-me para praguejar. baixinho, porque o primeiro e último estão longe, e o segundo não pode ouvir estas coisas.

5.12.09

A Ilha Nua

Um poema cinemático dedicado a todos os seres humanos que tentam sobreviver em condições terrivelmente agrestes. Filmado no arquipélago Setonaikai (Japão). Não se ouve uma palavra. Não é preciso.

À escuta #90

A - Hoje vi na televisão o maior navio do mundo! Era fantástico! Ah eu adorava fazer um cruzeiro até ao Egipto num navio assim!
- Pois, mas isso deve ser caríssimo!
A - Pois deve! E sabes, tinha muitos velhinhos... Fiquei admirada.
- Porquê? As pessoas de idade têm mais tempo para viajar e num barco não se devem cansar muito...
A - Não viste o tamanho... Por exemplo, se o navio se afundar, como o Titanic, os velhinhos morrem de certeza. Mas não foi isso que achei estranho... É que não sabia que eles eram românticos.
- Românticos?
A - Sim, havia muitos casais, que devem ser casados, não achas? Há quantos anos é que eles podem estar casados?
- Não sei, depende.
A - Vai ser sempre muito tempo. Eu pensava que os velhinhos queriam era ficar em casa, elas a fazer malha, eles a ver televisão, e afinal há uns que gostam de namorar!
- Claro!
- Claro? Quero ver-te com 70 anos no maior barco do mundo aos beijinhos!

3.12.09

Killing in Sarajevo


Acabo de ler O Violoncelista de Sarajevo de Steven Galloway (um autor/livro que o marcas d'água me fez conhecer). São várias as descrições de percursos, ruas, praças que reconheço, calcorreados pelas personagens. Poderia ilustrar algumas dessas passagens do livro com fotografias que tirei recentemente (talvez o faça noutra altura). A enorme diferença é que eu percorri uma cidade liberta, tranquila, sem ameaças de morteiros e de balas de atiradores furtivos ao virar de qualquer esquina. O que motivou esta leitura foi a possibilidade de conhecer a Sarajevo anterior às marcas que encontrei: a Sarajevo cercada. Numa obra que evoca ainda uma Sarajevo mais distante, inteira, mesmo se nunca imaculada. Através da leitura, pude sobrepor três tempos próximos uns dos outros, do ponto de vista cronológico, e completamente fragmentados, em termos de memória colectiva. centrados num mesmo espaço. Era o que queria. e o livro cumpriu esta promessa (não outras, mais literárias). O espaço físico confunde-se com o espaço psicológico. As feridas, os buracos, a destruição, as barreiras, atingem paredes, casas, ruas, pessoas, como se as últimas fossem feitas da mesma matéria morta e anónima, ou simbólica e singular: um peão, uma casa; um violoncelista, a histórica Biblioteca Municipal (detalhe na foto abaixo). unidos no mesmo destino. o de ruir. com maior ou menor dignidade.


Em O Violoncelo de Sarajevo ninguém sobrevive. mesmo quando o corpo se ergue e aparentemente domina o espaço: o da vida interior e o que o rodeia. Todos foram forçados a vestir outra personalidade. Flecha, a atiradora furtiva que procura defender a cidade, personifica essa deslocação do ser.

«Perceber que a vida é maravilhosa e que não durará para sempre é uma dádiva rara. Por isso, quando Flecha aperta o gatilho e acaba com a vida de um dos soldados que tem na mira, fá-lo não porque queira vê-lo morto - embora não possa negar que quer - mas porque os soldados a privaram, e a quase todas as outras pessoas que vivem na cidade, dessa dávida. O facto de a vida ter um fim tornou-se tão evidente por si mesmo que perdeu todo o significado.» [pp. 20-21]

Pensei então no (pre)conceito moral dominante segundo o qual matar inimigos, em situação de guerra, não é condenável. O direito à vida pode, nesse contexto, ser violado. Mesmo a propósito, leio (via
Crítica: blog de filosofia) que Jeff McMahan defende em Killing People a teoria de que as condições em guerra não são pertinentes para definir o que a moralidade permite ou não, e que as justificações para matar pessoas são as mesmas em todos os contextos. Por exempo: em caso de legítima defesa. Todos poderíamos, face à percepção dessa ameaça, vestir a pele de Flecha. ou a de um soldado sérvio. e matar. Nesta obra, McMahan acaba defendendo uma visão que põe em causa a teoria da "guerra justa". Para o autor, na maioria dos casos, é moralmente errado lutar numa guerra... que é injusta. No meu ponto de vista, lutar no Iraque, lutar no Afeganistão, ter combatido nas ex-colónias, seria então imoral. Mas quem pode definir de forma objectiva "a justiça" de uma guerra! Muitos nomearão os ataques no Afeganistão "moralmente" aceitáveis.

Sobre a necessidade de libertação de Sarajevo havia unanimidade. Não obstante, a intervenção da NATO foi adiada. Nos 44 meses do cerco, o terror contra Sarajevo e seus moradores variaram de intensidade, mas o propósito sempre foi o mesmo: infligir o maior sofrimento possível aos civis a fim de forçar as autoridades bósnias a aceitar as exigências sérvias. O Exército da República Srpska cercou a cidade, colocando tropas e artilharia nas colinas circundantes. Civis foram atacados durante quase quatro anos. Estima-se que mais de 12.000 pessoas foram mortas e 50.000 feridas durante o cerco, sendo que 85% das vítimas eram civis.

«-
Se ficarmos, vão disparar sobre nós das colinas até estarmos todos mortos (...).
- O mundo nunca permitirá que isso aconteça. Terão que nos ajudar mais tarde ou mais cedo (...) - diz Emina.
Dragan não consegue perceber, pelo tom de voz dela, se acredita naquilo que diz. Não sabe como poderia acreditar. Certamente, ambos vêem a cidade desintegrar-se diante dos seus olhos
.» [p. 66]

A justiça tardou. Raramente se discute a imoralidade da observação passiva.


Obras referidas:
- Steven Galloway (2009). O violoncelo de Sarajevo. Lisboa. Editorial Presença
-
Jeff McMahan (2009). Killing in War. Hardback

1.12.09

Dia mundial da luta contra a sida


Dou-vos uma boa razão para terem relações sexuais, hetero/homo, tanto faz, usando sempre preservativo, é claro. É que outras soluções são muito mais perigosas...: clicar na imagem ou ver aqui (atenção ao canto inferior direito da página).


Adenda: lidos os comentários, acho que se esqueceram mesmo de ir ver a legenda no canto inferior direito :)

29.11.09

Le marteau(!) du maître

Le Marteau sans Maître, a obra o conceito de Boulez que fixei. e depois de uma conversa, voltar a ouvir. é difícil aderir. eu, leiga. descobri um fragmento de Sur Incises, composição mais recente (com condução) do mestre. estranha-se sempre. às vezes entranha. Pierre Boulez nasceu em 1925. Com First Sonata for Piano, em 1946, inicia o movimento avant-garde na Europa. Em 1948, no pós-guerra, compõe a Second Sonata for Piano, considerada uma obra-prima e a melhor composição para piano escrita no século XX. ele vive antes-depois do seu meu tempo. eu ainda não nasci.


Pierre Boulez com Ensemble InterContemporain.

27.11.09

Mishima

Já foi há muito tempo. li o livro certo para a idade que tinha, O Tumulto das Ondas. mais tarde vieram os outros livros de Mishima. Confissões de Uma Máscara (1949) e O Templo Dourado (1956) e a tetralogia O Mar da Fertilidade (1964-1970). A existência como uma representação. determinada pela busca do Belo. Quando o filme de Paul Schrader saiu, senti-o como uma resposta a um apelo muito pessoal. (pouca gente lia Mishima). O filme fez-me descobrir Philip Glass. Ouvi a banda sonora até à exaustão. até descobrir a trilogia. rendi-me a P. Glass. (agora, as suas composições já não têm o mesmo efeito). O dia 25 de Novembro, na minha História do mundo, também é o dia da morte planeada e tumultuosa de um samurai, romancista, dramaturgo, actor e realizador de cinema. Yukio Mishima. que num último "acto de beleza mortífera" quis superar a mera representação.


In 25th November, 1970, Yukio Mishima, in the ritual act of Seppuku, knelt on a carpet and plunged a dagger into his abdomen. Mishima had sacrificed his own life, a gesture of defiance against the violation of his country's dignity.
Mishima designed his life as a drama; in his books he plotted out his life down to the last chapter. A twentieth century writer of the highest acclaim, Yukio Mishima generated more than 30 novels, in addition to numerous plays and movies. He was truly a renaissance man and was not only Japanese, but a world figure
.

23.11.09

À escuta #89

- Meninas, quero a luz fechada e logo a seguir vem o beijinho!
S - ... pois, mas como eu quero VER o beijinho, vou aí agora!

Caderno de Memórias Coloniais


«Manuel deixou o seu coração em África. Também conheço quem lá tenha deixado dois automóveis ligeiros, um veículo todo-o-terreno, uma carrinha de carga, mais uma camioneta, duas vivendas, três machambas, bem como a conta no Banco Nacional Ultramarino, já convertida em meticais.
Quem é que não foi deixando os seus múltiplos corações algures? Eu há muitos anos que o substituí pela aorta


Pode descolonizar-se um país. Mas é impossível descolonizar-se a alma.


Não me apetece esperar pela distribuição do livro nas livrarias, eu já o encomendei. Em primeiro lugar, porque eu sei que a Isabela pensa e escreve MUITO bem. E depois, porque o tema me interessa. O tempo histórico está em nós, quase geneticamente inscrito. Com o 25 de Abril e a independência das ex-colónias, houve uma ruptura nos discursos. e dos paradigmas que formavam a nossa Identidade. mas verdade é que todos, ex-colonizadores (os que se aceitaram como tal. e mesmo os que se recusaram a sê-lo) e ex-colonizados, "pensam" diferentes tempos em simultâneo. A Isabela tem razão. Não aconteceu, não conseguimos, em muitos domínios, a descolonização do "ser colonizador" ou do "ser colonizado". A herança colonial é imensa e fazemos transferência dessa memória. Vivemos, aqui e lá, em estado de "colonialidade". nesta era pós-colonial. Que não se confunda esta fragmentação com qualquer aspiração eurocentrista. Frantz Fanon falou da "guerra mental do colonialismo". As marcas dessa guerra são apenas mais duradouras do que poderíamos desejar.


Sobre o tema, o investigador (em estudos pós-coloniais) Nelson Maldonato-Torres, é uma referência. Leiam The Topology of Being and the Geopolitics of Knowledge: Modernity, Empire, Coloniality.

20.11.09

Ace in the Hole (1951)

Outro filme "completo" no Youtube. Menos conhecido que Double Indemnity (1944). Completamente fora da linha de Some Like It Hot (1959). Still, Billy Wilder.
No cinema seria melhor! still...

19.11.09

Retalhos da vida de um médico


[O CD de homenagem a Ary dos Santos foi distribuído na última edição da Visão e do Expresso]

Serras, veredas, atalhos,
Estradas e fragas de vento,
Onde se encontram retalhos
De vidas em sofrimento

Retalhos fundos nos rostos,
Mãos duras e retalhadas
Pelo suor do desgosto,
Retalha as caras fechadas

O caminho que seguiste,
Entre gente pobre e rude,
Muitas vezes tu abriste
Uma rosa de saúde

Cada história é um retalho
Cortado no coração
De um homem que no trabalho
Reparte a vida e o pão

As vidas que defendeste,
E o pão que repartiste,
São lágrimas que tu bebeste
Dos olhos de um povo triste

E depois de tanto mundo,
Retalhado de verdade,
Também tu chegaste ao fundo
Da doença da cidade

Da que não vem na sebenta,
Daquela que não se ensina,
Da pobreza que afugenta
Os barões da medicina

Tu sabes quanto fizeste,
A miséria não segura,
Nem mesmo quando lhe deste
A receita da ternura

Mário Barradas (1931-2009)

Alertada pela tristeza de um amigo. meu e de Mário Barradas. para a grandeza de Mário Barradas.

«
O encenador Mário Barradas “marcou o teatro de toda a segunda metade do século XX português”, disse o director da Companhia de Teatro de Almada. Joaquim Benite sublinhou "o papel importante que [Barradas] desempenhou na descentralização do teatro, tendo marcado a cena portuguesa pós 25 de Abril".(...) Empenhou-se muito na descentralização, à qual votou toda a sua vida, aliás esta opção fez-se notar quando assumiu funções como director-geral das Artes, cuja acção se sente hoje no tecido teatral português"...»

«
Nascido em Ponta Delgada, em 1931, Mário Barradas fundou em Janeiro de 1975, no primeiro projecto de descentralização teatral em Portugal, o Centro Cultural de Évora, antecessor do CENDREV, e uma escola de formação teatral.»

Cinco anos

Este blogue começou a 19 de Novembro de 2004. com Arendt no pensamento e um livro de Süskind na mão.

... Se Hannah Arendt tiver razão, a liberdade depende da acção (action). Homens livres. Através da sua obra e do seu pensamento, eles empenham-se em transformar o nosso mundo. Enveredaram por caminhos arriscados ou pouco explorados, seguindo o princípio da fidelidade ao sonho. Ou a um sonho. Porque é possível.

Alguns são Divas e todos os reconhecemos. Outros são fantásticos Contrabaixos, instrumentos que as boas orquestras não dispensam mas em que nem sempre reparamos.

Eu queria falar desses Homens.




"Comer marisco ou sopa rica de peixe! Enquanto o homem que a adora fica numa sala à prova de som e não faz outra coisa senão pensar nela, com um instrumento disforme entre as mãos, do qual nem um, nem um único som é capaz de tirar, dos que ela canta! ...Sabem do que é que eu preciso? Preciso sempre de uma mulher que nunca hei-de ter. Enquanto eu não a tiver, não preciso de nenhuma outra."

Patrick Süskind (1984). O Contrabaixo . Ed. Difel: pp 53-54


Eu também preciso do que nunca hei-de ter. para além de me ser indispensável o que já tenho.

18.11.09

Semântica...

Caroline Westerhout
The real world does no longer exist, 2009



Lê-se o poema. Espanta-se. com a autoria também. imaginam quem o «orden(h)ou» ?

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Ordeno ao ordenador que me ordene o ordenado
Ordeno ao ordenador que me ordenhe o ordenhado
Ordinalmente
Ordenadamente
Ordeiramente.
Mas o desordeiro
Quebrou o ordenador
E eu já não dou ordens
coordenadas
Seja a quem for.
Então resolvo tomar ordens
Menores, maiores,
E sou ordenado,
Enfim --- o ordenado
Que tentei ordenhar ao ordenador quebrado.
--- Mas --- diz-me a ordenança ---
Você não pode ordenhar uma máquina:
Uma máquina é que pode ordenhar uma vaca.
De mais a mais, você agora é padre,
E fica mal a um padre ordenhar, mesmo uma ovelha
Velhaca, mesmo uma ovelha velha,
Quanto mais uma vaca!
Pois uma máquina é vicária (você é vigário?):
Vaca (em vacância) à vaca.
São ordens...
Eu então, ordinalmente ordeiro, ordenado, ordenhado,
Às ordens da ordenança em ordem unida e dispersa
(Para acabar a conversa
Como aprendi na Infantaria),
Ordenhado chorei meu triste fado.
Mas tristeza ordenhada é nata de alegria:
E chorei leite condensado,
Leite em pó, leite céptico asséptico,
Oh, milagre ordinal de um mundo cibernético!


----

[Resposta na caixa de comentários]

17.11.09

My Story



O objectivo do projecto "MyStory – Democracia à altura das crianças” é dar voz às crianças angolanas, como é o direito delas (declaração da ONU dos direitos das crianças, artigos 12 e 13).

O objectivo é estimular a capacidade das crianças de comunicar oralmente, usando as suas próprias histórias como o meio para atingir esse fim.

O projecto “
MyStory – Democracia à altura das crianças” nasceu de uma colaboração entre a organização dinamarquesa Gi en Historie e a Save the Children Denmark.

O objectivo, a longo prazo, da Gi en Historie é criar uma plataforma global na internet chamada MyStory, que pretende reunir histórias contadas por crianças oriundas das mais variadas partes do mundo.



14.11.09

1-0, 1-1, 1-2, n-n

Portugal venceu a Bósnia-Herzegovina por 1-0. Teria sido bom voltar a Mostar (ou Sarajevo) e ver lá o jogo. ou... quero lá saber do jogo. Eu tenho é vontade de voltar à Bósnia-Herzegovina. As sequências de imagens que não vou esquecer são bem melhores que passes de futebol. (ok, viva a Selecção nacional! :P)

Fotos MRF
Mostar, 2008

4.11.09

lembrar Malraux

"A tragédia da morte consiste em que ela transforma a vida em destino."

André Malraux
(Paris, 3 de novembro de 1901 — Créteil, 23 de novembro de 1976)


2.11.09

Marie NDiaye

A escritora francesa Marie NDiaye (de ascendência senegalesa) foi hoje anunciada como a vencedora do prémio Goncourt. (...) NDiaye, de 42 anos, foi distinguida pelo livro “Trois Femmes Puissantes” (“Três Mulheres Poderosas”), que aborda o problema da imigração ilegal de africanos para a Europa e as relações entre os países africanos e os ex-colonizadores, temas que têm sido frequentes na obra da escritora.



Marie NDiaye, Trois femmes puissantes

Frédéric Beigbeder



O escritor francês Frédéric Beigbeder conquistou hoje o Prémio Renaudot com o romance "Un roman français", publicado pela Grasset.

Comecei por o ver como crítico literário no programa de Thierry Ardisson, o fantástico «Rive Droite, Rive Gauche», que passava no Paris Première (fins de 90, até 2002). Depois achei por bem ler os seus romances (inaugurais). O escritor ficava sempre aquém das aspirações do crítico. As obras, assentes numa ideia-tema (e sátira) forte, eram sobretudo divertidas e "irreverentes".
Havia rumores que o apontavam para o prémio Renaudot deste ano, não quis acreditar. Agora resta-me concluir que a cotação de Beigbeder subiu junto dos "canónicos". O enfant terrible, que começou a conquistar público na viragem do século, começa a ser levado a sério pelos seus pares. Ainda não li "Un Roman Français" mas, dada a assinatura, quero crer que inventou novo(s) cânone(s). É possível até que tenha criado uma Nouvelle Histoire da Literatura francesa... com muito cinismo e humor (negro).

Se quiserem ler breves notas, mini-recensões sobre alguns dos seus anteriores romances, vão ao arquivo do Divas. Para conhecer a marca Beigbeder, visitem o "site não oficial" do escritor, S.N.O.B. (e este título quer dizer alguma coisa, sim).


P.S.: Não sei se não haverá mais surpresas nesta rentrée...

Adenda: reacção do escritor ao Prémio Renaudot


Découvrez Frédéric Beigbeder prix Renaudot 2009 pour "Un roman français"

1.11.09

À escuta #88

Na missa, o padre:
- Bem aventurados os pobres, bem aventurados os que choram,...

A.:
- ...os que choram? mesmo se for uma birra?
Eu:
- O que é que achas?
A:
- Não deve ser,... mas dava jeito!

Sunday Picnic

Nadav Kander
Chongqing IV (Sunday Picnic)


Vencedor da segunda edição do Prix Pictet: Nadav Kander, natural de Israel.

31.10.09

À escuta #87



S: O que é isso dos diamantes?
...
S: É feio, não comprava..., mesmo com os diamantes!
...
S: Mas para que existem suitãs assim, se os sutiãs nem se vêem?

Pierre Michon



Grand Prix du roman de l'Académie française atribuído a Pierre Michon.

«
Fruit de plus de quinze ans de recherche et d'écriture, Les Onze entrelace l'histoire d'un peintre (Corentin) et celle de la Révolution, à partir de la description d'un grand tableau qui serait exposé au Louvre, représentant les onze membres du Comité de salut public (Robespierre, Saint-Just...) pendant la Terreur. Dans ce roman court - 144 pages très denses -, l'écrivain imagine la rencontre de l'art et de la Révolution

«...le déchirement intime de l'auteur entre l'inégalité que suppose l'individuation de l'art et l'égalité sociale promise par la révolution. Faut-il, pour résoudre l'aporie, se nommer Corentin et se voir commander la splendeur par la Terreur elle-même ? La solution est idéaliste. Tout le monde ne peut pas s'appeler Sade



Giovanni Battista Tiepolo
Europe

30.10.09

The Sea of Grass II


Jim Brewton (Spencer Tracy) para Lutie Brewton (Katharine Hepburn):
You couldn't love me and be against me.

26.10.09

Dundo, Memória Colonial, Diana Andringa


«O filme chama-se Dundo, Memória Colonial, mas podia chamar-se "ambivalência". Foi ambivalência que Diana Andringa sentiu ao regressar ao Dundo, onde nasceu em 1947, e que foi o centro de uma das mais importantes companhias coloniais de Angola, a Diamang.
"Era um filme que planava em mim mas que eu tinha medo de fazer", afirma. Porque era "um filme mais pessoal" do que os que faz normalmente, e porque "não tinha a certeza de conseguir encontrar o registo certo" para falar de uma coisa profundamente pessoal: a culpa por ter nascido branca e privilegiada numa terra em que os negros "eram tratados como se não fossem pessoas" precisamente para ela poder continuar a ser privilegiada.
"Fiquei totalmente marcada pelo Dundo", conta. Pela vida idílica da comunidade branca, mas também pela "sensação de ter vivido em criança num mundo de enorme violência latente". Diana queria saber se as suas memórias eram verdadeiras e por isso voltou, acompanhada pela filha, uma testemunha que, sendo de outra geração, não partilha essa culpa. Não é de todo um filme de nostalgia. "Sentia a necessidade de saber como é que as pessoas do Dundo olhavam para nós".
Encontrou pessoas que falavam, elas sim, com alguma nostalgia do tempo dos portugueses. Mostrou-lhes um filme antigo que conseguira encontrar com uma das "coisas mais sinistras" que guardava na memória: o coro de meninos negros a cantar Josézito já te tenho dito. E filmou-os comovidos a ver essas imagens e a balbuciar as palavras da música que guardavam na memória.
Mas, ao mesmo tempo, ouviu-os a falar dos maus tratos, da tortura, das escolas separadas, dos médicos "para brancos", das humilhações, do serem tratados como menos do que um animal doméstico (lembra-se ainda de um bife que o cozinheiro fez para o gato dela e do desabafo dele: ‘a minha filha nunca comeu um bife').
Percebeu que não se tinha enganado a ler os sinais, que, no meio de coisas boas que a Diamang tinha feito pelo Dundo, havia apesar de tudo uma razão para sentir culpa quando olhava para a sua pele branca. E perante tudo isso, uma palavra continua a vir-lhe à cabeça: ambivalência.»

Realizadora:
Nome: Diana (Marina Dias) Andringa.
Nascida a 21.08.1947 em Dundo, Chitato, Lunda, Angola.
Nacionalidade portuguesa.

Espectadora (onde?)(onde?)(onde?) do "filme que eu queria fazer" e que agora "tenho medo" de ver:
Nome: Maria do Rosário (Borges de Sousa) Fardilha de Girardier
Nascida a 07.10.1966 em Dundo, Chitato, Lunda, Angola.
Nacionalidade portuguesa.

Pare, Escute, Olhe

Depois de Ainda há pastores ?. Este fim de semana. Ganhou três prémios em dois festivais. 3x2. DocLisboa. Cine Eco 2009. Jorge Pelicano.

24.10.09

Wild river

Cada vez melhor. Wild River (1960) de Elia Kazan. Em 11 partes. São muitos serões de Kazan...

23.10.09

22.10.09

Fumo branco

Foi anunciada a composição do XVIII Governo constitucional. Eis a nova ministra da Educação, Isabel Alçada (Apresentação do Programa Eleitoral 2009-2013). Como tudo parece tão simples...

The Sea of Grass

Encontrei o filme de Elia Kazan (1947) na íntegra. Ideal para o serão...


[Vejam o filme em 13 episódios aqui]

Autarquias.org

Esta é uma nova plataforma colocada ao serviço do cidadão. Foi lançada em Agosto deste ano. Para reportar, ver, partilhar ou debater problemas do Município: http://www.autarquias.org/.

Até ao momento a adesão não é muito significativa mas já podemos constatar que, globalmente, os alertas/debates/petições mais frequentes dizem respeito a matérias como Trânsito, Higiene, Segurança e Ambiente. Cultura, Juventude, Educação e Desporto são as áreas menos abordadas pelos cidadãos. (ver gráfico no site)

Relativamente ao município de Aveiro, foram propostos 3 temas para debate e apresentados 8 alertas. Não sei se a CMA aderiu à plataforma, mas todos os alertas ficaram "sem resposta": ver
aqui.

20.10.09

L'amour est mort mas pode ressuscitar

Meus amigos da melhor noitada de há muito tempo, M. João R., Rui O., Zé Medeiros. e I., entre muitas estórias e melodias lembrei-me deste Brel descoberto há poucos anos (enfim, o tempo passa depressa, já foi em 2003). E como me apetece dizer-vos qualquer coisinha parecida com "obrigada", escolhi-o hoje para vocês. Mais um pequeno tesouro para o nosso (partilhado) palácio da ventura.


A Universal lançou em 2003, no meio de muita polémica, uma compilação contendo cinco canções inéditas gravadas no Outono de 1977: "Mai 40", "La Cathédrale", "Sans exigences", "Avec élégance" e "L'amour est mort".

18.10.09

A Língua Toda IV



O festival continua. Hoje, às 18h, Oficina de Leitura. por Elsa Ligeiro. no Mercado Negro. E às 19h, Heterofonia (Pessoas a várias vozes). com Joana Amaral Dias e Elsa Ligeiro. no mesmo lugar. Às 22h, Festa. Celebremos A Língua Toda!

17.10.09

A Língua Toda III

Hoje, às 18h, «Identidade Portuguesa - reflexões a partir de Eça de Queirós e Eduardo Lourenço». No Binibag - conhecem o espaço?

Eu e a Profª Maria Manuel Baptista lá estaremos à vossa espera!

15.10.09

Magnetricidade

Talvez hoje se tenha feito História. Talvez os nossos netos ou bisnetos venham a ter que aprender na escola as descobertas de Steve Bramwell e colegas do University College de Londres (UCL), publicadas hoje na revista "Nature", dando conta de que as cargas magnéticas podem circular como as cargas eléctricas:
«A experiência realizada por estes investigadores “prova a existência de ‘cargas magnéticas’, do tamanho de um átomo, que se comportam e interagem como as familiares cargas eléctricas”, explica ainda o documento. “E também mostra que existe uma simetria perfeita entre electricidade e magnetismo”».
O fenómeno foi baptizado de magnetricidade. Não percebo nada de Física mas adoro a expectativa à volta destas revelações científicas. É uma sensação "magnétrica"! (ah, pois, contemos com a apropriação/adaptação/deturpação rápida do conceito pela literatura e ciências sociais)

Observatório arrasa justiça portuguesa

Vivian Maier

«...Observatório Permanente da Justiça traça um quadro crítico da organização do Ministério Público, acentua a falta de especialização de procuradores e magistrados judiciais e defende ser necessária uma nova cultura judiciária. Ao legislador é apontado o dedo pela falta de preparação das reformas e pela inexistência de um período adequado de adaptação.

No plano legislativo, o grupo de investigadores dirigido por Boaventura de Sousa Santos propõe mudanças já esperadas em áreas como a prisão preventiva, os prazos de inquérito e consequente preservação do segredo de justiça, além da a realização de julgamentos sumários. Mas acaba por dar igual destaque a recomendações de carácter não legislativo e considera indispensáveis para se conseguirem ganhos de eficácia.

Lembrando que a justiça "é chamada a desempenhar um papel central" num contexto de crise, em que os cidadãos se vêem "cada vez mais confrontados com um conjunto vasto de injustiças sociais", o relatório sustenta que "os poderes político e judicial têm que assumir um alto compromisso com os cidadãos". E esse compromisso passa sobretudo pelo combate à criminalidade grave e à corrupção. "A verdade é que, até agora, a justiça portuguesa não conseguiu que um único caso de criminalidade económico-financeira grave, que envolvesse pessoas poderosas, tivesse chegado ao fim com uma condenação transitada em julgado." Razão para que parte do relatório final, já entregue em Julho ao Ministério da Justiça mas não divulgado, analise as causas dessa falta de resultados.»

[Ler artigo completo no
i]

Vão ali à botica...

15 Oct, Thu, 09:23:41 Google: chá de marcela para tratar treçolhos

14.10.09

"Avenida"


A cidade morre e ressuscita. São as feridas que a tornam interessante. É o carácter excessivo do sonho, impregnação da vontade. Somos conquistados, figuras sem história, observadores de feitos. Um fragmento da obra "Avenida". Música e realização de Joaquim Pavão.
[Já tinha falado
aqui deste projecto]

A Língua Toda II


11.10.09

Autárquicas


Nestas eleições serão eleitos 308 presidentes de câmaras municipais e eleitos 4257 presidentes de juntas de freguesia e as respectivas assembleias. Na foto podem apreciar o actual executivo da CMA. Ao centro, o (re)candidato a Presidente da Câmara pela coligação PSD/CDS-PP. Votem no partido que quiserem mas aviso já que, à excepção do bigode, tudo é postiço.

Adenda 12-10: Nos próximos anos, este blogue vai desenvolver a rubrica «Eu avisei!» (alternada pontualmente com outra intitulada «Olha que bem!»)(porque a esperança não quer morrer)

9.10.09

Nobel da Paz para Barak Obama

E assim se faz História. Nunca este Prémio assumiu uma intenção tão claramente estratégica. A responsabilidade de Obama relativamente à política externa americana (o calcanhar de Aquiles de todas as Administrações, republicanas ou democráticas) é reforçada. numa fase muito inicial do mandato. Os EUA são chamados a liderar o mundo. pensando duas vezes. vinte vezes. antes de tomar qualquer decisão. Na verdade, o Comité Nobel não premeia Obama. condiciona-o duramente. E eu espero que todos os deuses, ao sétimo dia, reconheçam que isso foi bom.

8.10.09

Herta


... pois já eram (os favoritos). O Nobel da Literatura foi para a romena Herta Müller. e O Homem é (mesmo) Um Grande Faisão Sobre a Terra. «Há roseiras em volta do monumento aos combatentes. Transformaram-se num matagal. Tão emaranhadas que asfixiam as ervas.Dão rosas brancas, pequenas e amarrotadas como papel. Rumoreja. Começa a amanhecer. Em breve será dia.
Todas as manhãs, no seu caminho solitário em direcção à azenha, Windisch regista o dia que começa.»

Comprado a 29-07-1993. Gostei deste livro. Só me lembro disso, que gostei. Ontem acabei O Amante do Vulcão de Susan Sontag (prefiro a crítica literária à romancista). Pois vou reler Herta Müller.