Sai documento histórico. Crónica de um Verão (1961) de Edgar Morin & Jean Rouch.
Observação: para assistir com LEGENDA em PORTUGUÊS, active LEGENDA "cc" no canto inferior direito do vídeo.
«Il y a deux façons de concevoir le cinéma du réel : la première est de prétendre donner à voir le réel ; la seconde est de se poser le problème du réel. De même, il y avait deux façons de concevoir le cinéma-vérité. La première était de prétendre apporter la vérité. La seconde était de se poser le problème de la vérité.»
Ontem, no palco da FARAV, Luis Pastor! Por gentileza e vontade de partilhar alegria, à festa juntaram-se alguns músicos que tinham estado no Tom de Festa, evento organizado pela ACERT Tondela: Lourdes Guerra, Uxía Senlle e a Zeca Medeiros! ...Parabéns ao Rui Oliveira pela interpretação fabulosa de uma canção de Zeca Afonso, fonte de inspiração de todos os músicos presentes.
Pena que a divulgação do evento não tenha estado à altura dos artistas convidados. A CMA, sempre, a fazer o esforço mínimo... Sorte a de quem por lá passou! A noite estava fria mas tornou-se mágica!
Isn't it a pity
you don't know what i'm talking about yet
but i will tell you soon
it's a pity
isn't it a pity
isn't it a shame
yes, how we break each other's hearts
and cause each other pain
how we take each other's love
without thinking anymore
forgetting to give back
forgetting to remember
just forgetting and no thank you
isn't it a pity
some things take so long
but how do i explain
why not too many people can see
that we are all just the same
we're all guilty
because of all the tears
our eyes just can't hope to see
but i don't think it's applicable to me
the beauty that surrounds them
child, isn't it a pity
how we break each other's hearts
and cause each other pain
how we take each other's love
the most precious thing
without thinking anymore
forgetting to give back
forgetting to keep open our door
isn't it a pity
isn't it a pity
some things take so long
but how do i explain
isn't it a pity
why not too many people
can see we're all the same
because we cry so much
our eyes can't, can't hope to see
that's not quite true
the beauty that surrounds them
maybe that's why we cry
God, isn't it a pity
Lord knows it's a pity
mankind has been so programmed
that they don't care about nothin'
that has to do with care
c-a-r-e
how we take each other's love
the most precious thing
without thinking anymore
forgetting to give back
forgetting to keep open the door
but i understand some things take so long
but how do i explain
why not too many people
can see we're just the same
and because of all their tears
their eyes can't hope to see
the beauty that surrounds them
God, isn't it a pity
the beauty that surrounds them
it's a pity
we take each other's love
just take it for granted
without thinking anymore
we give each other pain
and we shut every door
we take each other's minds
and we're capable of take each other's souls
we do it every day
just to reach some financial goal
Lord, isn't it a pity, my God
isn't it a pity, my God
and so unnecessary
just a little time, a little care
a little note written in the air
just the little thank you
we just forget to give back
cause we're moving too fast
moving too fast
forgetting to give back
but some things take so long
and i cannot explain
the beauty that surrounds us
and we don't see it
we think things are just the same
we've been programmed that way
isn't it a pity
if you want to feel sorry
isn't it a pity
isn't it a pity
the beauty sets the beauty that surrounds us
because of all our tears
our eyes can't hope to see
maybe one day at least i'll see me
and just concentrate on givin', givin', givin', givin'
and till that day
mankind don't stand a chance
don't know nothin' about romance
everything is plastic
isn't it a pity
my God.
Eu ontem vi-te...
Andava a luz
Do teu olhar, Que me seduz A divagar Em torno a mim. E então pedi-te, Não que me olhasses, Mas que afastasses, Um poucochinho, Do meu caminho, Um tal fulgor De medo, amor, Que me cegasse, Me deslumbrasse Fulgor assim.
A gente já não sabe o que há-de fazer com a lua
gerou-se um curto-circuito no canal telepático
e a caverna clandestina por detrás da cascata
onde os amantes se entregavam à eternidade
hoje não passa dum moderno armazém de sucata
Existem mil produtos para encher o vazio
criámos computadores para ampliar a memória
e todos nós temos disfarces para aumentar a confusão
só não sabemos como fazer o amor durar
o grande enigma continua a dar-nos cabo do curação
"Olá, a que horas parte o teu comboio?
O meu é às cinco e trinta e três
Aida falta um bocado,
Queres contar-me a tua història?
Espera, deixa-me adivinhar,
vais recomeçar noutro lado...
Trazes escrito na bagagem
que a coisa aqui não deu...
Quanto a mim, também me sinto um pouco
desenraízado...
Também o amor se adapta às leis da economia
investe-se a curto prazo e reduz-se a energia
e quando o barco vai ao fundo ninguèm quer ser culpado
mas nunca é tarde para se ter uma infância feliz
o cavaleiro solitário ainda sonha acordado
"O fumo ainda não desapareceu e não vai desaparecer nunca. É certo que tudo renasce. As roupas, o tecido dos bancos do automóvel, o meu cabelo: tudo cheira ainda a fumo, tudo é fumo. Se há memória que sobreviva ao fogo é o cheiro denso e negro do fumo transformado em cinzas.(...)
Vi como uma casa inteira desaparece e passados dias o chão ainda arde. Ouvi as lágrimas de quem tudo perdeu. Acompanhei corporações de bombeiros que já não viam a família há mais de duas semanas, alguns há um mês. Compreendi a necessidade de descanso quando vi bombeiros a dormir em cantos impróprios para o sono. Fui expulso de uma pequena localidade por fotografar, o medo sempre fez sobressair o melhor ou o pior de todos nós. Quando foi necessário pousei a câmara e ajudei com o que pude no combate às chamas. Recusei-me sempre a pensar que tudo aquilo não me pertencia, recusei-me sempre a ser espectador nos momentos mais críticos. Teria sido um erro enorme não pensar que eu não fazia parte dos acontecimentos. (...)"
Nelson D'aires, vencedor do Prémio FNAC de fotografia "Novos Talentos" 2006, com uma série de fotos (ou só esta?) sobre um terrível incêndio na Pampilhosa em 2005.
O Sol oprime a cidade com a sua terrível luz a prumo; a areia deslumbra e o mar resplende.
in Charles Baudelaire, O Spleen de Paris, XXV A Bela Doroteia
Apetece-me entorpecer, dormir a sesta. ou nada disso, e caminhar numa rua desta cidade ofuscante, assim muito segura no meu vestido quase transparente, que vai permanecer cristalino e engomado, sobre uma pele que se mantém serena e perfumada, sentindo o calor mas fazendo de conta que não. Fazendo de conta que me dirijo a um lugar determinado, ali ao pé da praia, naquela esquina entre os Correios e o café que está sempre cheio à noitinha, não agora. porque agora todos dormem a sesta no fresco dos quartos ou sobre a areia escaldante. Menos tu. que caminhas por outra rua desta cidade ofuscante, assim muito seguro nas tuas vestes de linho azul claro, que vão permanecer incólumes ao respirar da tua pele sob o céu da mesma cor. E debaixo desse céu, ouvindo o marulhar do mar, cruzamo-nos por acaso se o acaso existir, e paramos. E então eu abro a minha sombrinha e coamos a luz daquele lugar, ficando os dois pintados de reflexos sanguíneos. Por cada dez inspirações profundas, a brisa vai varrer-nos a compostura. O vestido esvoaça, os corpos estremecem, a cidade avança no tempo. mas nós prolongamos a admiração. e sem pressa aguardamos a maturidade. Um dia, a roupa vai ficar manchada. e há-de ser bom.
ou não. podemos ser surpreendidos por um tsunami. despedaçado pelo tempo, embriagas-te. com vinho, palavras, premências de prazer e depois depois depois. depois sentimos um tremendo fardo. e uma vaga surge do que parece nada e leva-te. e eu aninho-me na linha da rebentação com a minha sombrinha. e espero por ti para sempre.
ou alguém bate à porta e percebo que a cidade despertou.
Antes que adormeça quero dizer-te coisa. Sabes, meu amor, andei muito tempo sozinha contigo. Aconteceu-me falar-te e tu me responderes sem que eu te visse, mas sentindo os teus dedos cingindos nos meus. E quando pressentia que estavas a sorrir ou que o poderias fazer sorria também, para te fazer feliz. Houve momentos em que a saudade foi maior do que eu. Talvez me tenhas ouvido cantar what a wonderful world, ne me quitte pas ou a canção de dalila. queria acordar-te. E então não resistias a envolver-me com ternura e o teu odor inundava o meu quarto.Hoje vão descobrir-me agarrada ao tronco de uma árvore e alguns dirão que enlouqueci mas quero morrer nos braços de um ser vivo.
Logo depois de adormecer, aparece e leva-me contigo.
Enfim, já perceberam que fui ver Moonrise Kingdom, de Wes Anderson, e que adorei! Argumento delicioso, fotografia espantosa...
Com Edward Norton, Tilda Swinton, Frances McDormand, e os recorrentes Bill Murray e Jason Schwartzman, entre tantos outros.
Para todas as idades!
Em 2001, mais uma vez em conjunto com Owen Wilson, que colaborou como argumentista e actor, Wes Anderson lançou The Royal Tenenbaums (nomeado para melhor argumento original nos Oscares).
Em 2007, Wes Anderson lançou a curta Hotel Chevalier, com Natalie Portman e Jason Schwartzman. Essa curta seria uma espécie de prólogo ao filme The Darjeeling Limited, lançado pouco depois, com seu habitual parceiro Owen Wilson, Adrien Brody, Natalie Portman e Jason Schwartzman. Aqui, essa curta metragem, na íntegra:
"... que o inventado pode ter mais peso e credibilidade que o real, mais vida própria e mais sentido, e por conseguinte mais possibilidades de sobrevivência face ao esquecimento."
"...porque, embora o meu amor continue intacto, já não sou aquele que era nem estou onde estava. Faz de conta que sou um impostor..."
My Brightest Diamond is a chamber pop band led by singer-songwriter Shara Worden, which was formed in New York City, NY, USA (2006).
Worden is the grand-daughter of an Epiphone-playing traveling evangelist; her father was a National Accordion Champion and her mother a classical organist. Having a family of wanderers who migrated across the U.S. every few years, the landscape and the musical influences were constantly changing: Spanish tangos, Sunday morning gospel, classical and jazz were the accompaniment to her home life.
O irmão mais novo de Shinji regressara à ilha. As mães tinham ido todas ao fim do molhe esperar os filhos. Caía uma chuva fina e não se via o mar largo. O ferry-boat estava já a cerca de cem metros do cais quando irrompeu subitamente no meio da bruma. As mulheres puseram-se a gritar em coro pelo nome dos filhos. Conseguiam já distinguir claramente os bonés e os lenços agitados pelas crianças na ponte do navio.
O barco acostara. Mas, mesmo depois de já estarem em terra junto às mães, os jovens estudantes limitaram-se a sorrir-lhes ao de leve e começaram logo de seguida a brincar uns com os outros. Não lhes agradava terem que mostrar o seu afecto pela mãe em presença uns dos outros.
Nem depois de chegar a casa se acalmou a excitação de Hiroshi. O rapaz não parava quieto um momento. Na sua conversa não se referiu nem aos locais famosos, nem às velhas ruínas que visitara. (...) No dia seguinte, estava a cair de sono. É certo que trouxera da viagem profundas impressões, mas não era capaz de traduzi-las por frases. Quando quis contar alguma coisa, não conseguiu recordar nada (...). Mas então - e esses eléctricos e esses automóveis que rebrilhavam ao sol, novinhos em folha, e que, mal se conseguiam fixar, já tinham desaparecido, e esses edifícios altos e esses reclames de néon, onde estava tudo isso?
Em casa da mãe, vinha encontrar no seu lugar o aparador, o relógio de parede, o altar búdico, a mesa das refeições, o espelho no seu pé e, claro, também a mãe. Lá estavam o forno de cozinha e as esteiras sujas. Tudo sabia entendê-lo, mesmo que não falasse e, no entanto, tudo isso, até a mãe, tudo o incitava a contar a viagem. Hiroshi acabou por se acalmar, quando Shinji voltou da pesca. Após o jantar, abriu o caderno de viagem e narrou perfeitamente à mãe e ao irmão o que havia visto. Terminada a narrativa, ficaram satisfeitos e deixaram de o espicaçar com perguntas.
Tudo voltou ao normal. A sua existência era tal, que tudo se compreendia, mesmo sem palavras. O aparador, o relógio, a mãe, o irmão, o velho forno de cozinha cheio de fuligem, o rugir do mar... Envolto nessa atmosfera, Hiroshi deixou-se adormecer e caiu num sono profundo.
in MISHIMA, "O Tumulto das Ondas", Relógio d'Água, Lisboa, 1985, pp. 93-94
Que do sono só se salva o sonho
quando, sendo penosa a cadência dos dias, ... esse sonho se torna licor inebriante que por dentro nos lava ou rasura o frio de viajar por entre as catacumbas.
Que esse sonho salva, bem sabemos, nas tão difíceis contas a prestar à razão mais corrente e à voz mesquinha: dizerem que dormir é descansar para voltar - sem sonho - à mesma vinha que, no dia-a-dia, se tem de amanhar...
in Quarteto para as próximas chuvas, Ed. Dom Quixote, 2008.
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A A.P.E. irá realizar, no próximo dia 9 de Julho, pelas 18h30, a cerimónia de entrega do Prémio VIDA LITERÁRIA a João Rui de Sousa. O evento vai decorrer na Culturgest - Caixa Geral de Depósitos (sala 2). O galardão pretende assim distinguir um autor «por estar entre os maiores da literatura portuguesa do presente, com uma vasta e reconhecida obra na poesia e no ensaio», declararam José Manuel Mendes e José Correia Tavares, presidente e vice-presidente da A.P.E..
«O actual mapa da Europa é constituído por 47 países, dos quais 27 pertencem à União Europeia e 3 são candidatos a sê-lo. A resposta à pergunta “Que Europa é esta?” será, em termos de cinema, o tema de 47 sessões de uma “masterclass”, duran...te a qual Lauro Antonio, realizador, crítico e professor de cinema, irá tentar explicar de que forma a arte cinematográfica interage e se identifica com a originalidade de cada país, a sua história, cultura e valores mais intrínsecos. Cada sessão abordará, pois, um país, uma cinematografia, e um filme específico.»
E assim aconteceu em Oeiras. Agora foi publicado o livro "OS CINEMAS DA EUROPA" (Ed. Município de Oeiras). É muito mais do que um catálogo. Temos, para cada país, uma "crónica" sobre a sua História, a História do seu Cinema e outros dados sobre a cultura nacional, a análise do filme selecionado e o perfil do seu realizador. Muito interessante! São 218 páginas que reflectem um saber profundo e um grande amor à Sétima Arte.
Ana de Peñalosa dialoga com a sua imagem em criança
1. "Eu estou à porta azul celeste, e bato" - ouviu.
2. Estou velha, pensa Ana de Peñalosa, e é agora que alguém diz "abandona tudo, mesmo a tua decrepitude, e vem". ... Onde está é um sítio ávido, como são todos as paragens. No seu quarto só avança quando dorme, iluminada pela lamparina sobre
3. a cómoda, diante do ícone que veio da serra da Arrábida. "Vamos ver a nostalgia do mar" - diz-lhe a criança de cinco anos que encontra quando repousa o seu próprio retrato. A força do seu rosto, oculto pelo chapéu de abas, impele-a, para um litoral de maresia através de passos desconhecidos que farão soar pelo mundo. (...)
A criança acordou-a no sonho e não podia retardar__________ Tiveram de sulcar juntas muitos dias que faziam parte do passado com uma imagem do futuro na fímbria ou ponta. Tiveram de abrir a porta passada do presente e quem o fez, foi a criança que lhe tirou definitivamente a bengala. (...)
in MARIA GABRIELA LLANSOL (1931-2008), "Da sebe ao ser", Edições Rolim, 1988
Imagem: Alessandra Sanguinetti (1968), ARGENTINA. Buenos Aires. 2001. Ophelias.
Quando começares a tua viagem para Ítaca, reza para que o caminho seja longo, cheio de aventura e de conhecimento. Não temas monstros como os Ciclopes ou o zangado Poseidon: Nunca os encontrarás no teu caminho enquanto mantiveres o teu espírito elevado, enquanto uma rara excitação agitar o teu espírito e o teu corpo. Nunca encontrarás os Ciclopes ou outros monstros a não ser que os tragas contigo dentro da tua alma, a não ser que a tua alma os crie em frente a ti.
Deseja que o caminho seja bem longo para que haja muitas manhãs de verão em que, com quanto prazer, com tanta alegria, entres em portos que vês pela primeira vez; Para que possas parar em postos de comércio fenícios para comprar coisas finas, madrepérola, coral e âmbar, e perfumes sensuais de todos os tipos - tantos quantos puderes encontrar; e para que possas visitar muitas cidades egípcias e aprender e continuar sempre a aprender com os seus escolares.
Tem sempre Ítaca na tua mente. Chegar lá é o teu destino. Mas não te apresses absolutamente nada na tua viagem. Será melhor que ela dure muitos anos para que sejas velho quando chegares à ilha, rico com tudo o que encontraste no caminho, sem esperares que Ítaca te traga riquezas.
Ítaca deu-te a tua bela viagem. Sem ela não terias sequer partido. Não tem mais nada a dar-te.
E, sábio como te terás tornado, tão cheio de sabedoria e experiência, já terás percebido, à chegada, o que significa uma Ítaca.
Konstantinos Kaváfis. ou Constantine P. Cavafy (Alexandria, 29 de abril de 1863 — Alexandria, 29 de abril de 1933)
Poema publicado em 1910. Tradução de Jorge de Sena.
No pórtico da casa, entre lilases, o par de namorados brincava de apertar-se as mãos e de contar os dedos.Havia sempre um dedo a mais.
SABEDORIA
Tarde da noite, o «party» terminava num desabar de bêbados e de falsos bêbados.
O bêbado despiu-se lentamente, os falsos bêbados rodearam-no.
No dia seguinte, ninguém conseguia lembrar-se do que acontecera.
JORGE DE SENA in "Sequências", Série «América, América, I Love You", colecção Círculo de Poesia da Moraes Editores, 1ª ed. de Julho de 1980 (Os dois poemas foram escritos a 12/Ago/1969)
Ilustração: Cruzeiro Seixas (1969), "Anda espreitar o que há dentro de um desejo", Tinta-da-China s/ papel, 20x15 cm
A escritora romena Herta Müller (n. 1953) ganhou o Nobel de Literatura em 2009. Foi perseguida durante a ditadura de Ceausescu. O seu processo na Polícia de Segurança estatal chegou às 914 páginas. Na exposição sobre a vida e obra da escritora, organizada pelo Centro de Cultura Contemporánea de Barcelona, promovida pelo Goethe Institute, há documentos desse processo que são revelados ao público. O El País (que anda um dislate nestes tempos de Euro 2012) lá cumpriu o seu papel e foi ao encontro de Müller.O artigo é óptimo!
«...la dura tristeza de Müller embiste con el lenguaje, desde el mismo título de la conferencia: El idioma como patria. “Ese epígrafe no es mío: la lengua no es una patria, nunca lo es; las lenguas no causan las catástrofes… Un escritor cubano hablará la misma lengua que sus carceleros pero esa lengua habrá dejado de ser su patria”.»
«“Mis preferencias por escribir prosa o lírica son intuitivas. Cuando iba hacia los interrogatorios de la Securitate solía recitarme poesías, me daban fuerza… El miedo a la muerte no elimina nuestros sentimientos; con el miedo no se pierde la fantasía, sino que ella y tú misma te vuelves un poco más loca, los ojos se te hacen más grandes… Lo he vivido; la poesía es más pragmática para sobrevivir, te da más tranquilidad; por eso el amor desmesurado por la poesía en las dictaduras”.»
«Tras El hombre es un gran faisán en el mundo (1986), el acoso de los interrogatorios, el cerco a sus amistades, escuchas y censura de sus textos la colocan al borde del abismo. Y la obligan en marzo de 1987 a buscar desesperadamemte un permiso de salida que le costó 8.000 marcos al gobierno alemán y otros tantos a su familia en sobornos.»
Não é possível dizer mesmo o que quero dizer! Mas se uma lanterna mágica mostrasse na tela a imagem dos nervos: Tinha valido a pena*
Tinha valido a pena, apesar de tudo. Pela ordem de pulsões e sentimentos desordenados em causa. Falo-vos de um amor, é claro.
Encontrámo-nos numa improvável taberna. Habitavam-na velhos, galdérias e miúdos como nós atraídos por cheiros fortes, formas feias, ideias complexas, política embaciada___ a nossa ideia de realidade.
Acho que estávamos um pouco cansados de representações porque logo depois seguiu-se o caixote na cidade, despojado, simples, tenro como nós, que nos abrigou e deixou febris no amor durante anos, determinados a calar o desejo e todos os ruídos.
ah os vizinhos se soubessem!
um dia caímos do sofá que era azul quente de veludo, lembras-te?
Sim, há sempre um compasso contenção travão que se acciona antes do fecho da porta do antigo amor, se era amor diz-se. Mas ele arrepiava-me. Cortámos os laços com o mundo.
Um dia surpreendi-me. Distraída, olhei para ele enquanto dormia frágil e feliz. Guardei-o assim.
tens um sinal pequenino numa pálpebra___ eu não sabia e soprei
Até que, coisa de jovens, começámos a medir desafios.
arrepiavas-me
Demorou muito tempo até sermos engolidos pela mágoa. As pessoas não acreditam. Acham que os grandes amores são eternos. Mas não são.
o bébé não nasceu. se tivesse nascido, estaríamos juntos?
uma vez bati-te, olhaste para o espelho e disseste: dói tanto!
Um dia esvaiem-se as pulsões. Anos depois, os sentimentos cheios. Mas não é isso que desejo.
tinha valido a pena, apesar de tudo, se hoje te encontrasse
e corresses para mim sem saber porquê
e me abraçasses
e até podias falar do teu trabalho da tua mãe que já morreu da tua irmã que não casou e daquele primo que sempre foi para arquitectura e os meus pais? vão bem, envelhecidos é claro, tenho dois e tu tens filhos?
e depois parares a olhar para mim e eu chorar
Eu quero sentir a pele a alma arrepiada mesmo depois da nossa morte.
Aconteceu assim. Encontrámo-nos numa improvável fábrica. Habitavam-na velhos, galdérias e gente como nós habituados a cheiros fortes, formas feias, ideias complexas, política embaciada___ a nossa certeza de realidade.
Tinha valido a pena, apesar de tudo. Pela ordem de sentimentos e pulsões desordenados em causa. Falo-vos de um amor, é claro, desses que no momento hoje nos precedem, se cristalizaram sem consciência e de repente nos acenam. Acabam e não acabam.
Então vem, vamos juntos os dois, A noite cai e já se estende pelo céu, Parece um doente adormecido a éter sobre a mesa; Vem comigo por certas ruas semidesertas Que são refúgio de vozes murmuradas De noites sem repouso em hotéis baratos de uma noite E restaurantes com serradura e conchas de ostra: Ruas que se prolongam como argumento enfadonho De insidiosa intenção Que te arrasta àquela questão inevitável... Oh, não perguntes "Qual será?" Vem lá comigo fazer a tal visita.*
Maria do Rosário Fardilha
*T.S. Eliot, A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock que tu me declamavas