É Natal, nunca estive tão só. Nem sequer neva como nos versos do Pessoa ou nos bosques da Nova Inglaterra. Deixo os olhos correr entre o fulgor dos cravos e os diospiros ardendo na sombra. Quem assim tem o verão dentro de casa não devia queixar-se de estar só, não devia.
daqui deste lado da história já todos sabemos que é Natal, mas meu príncipe nunca percebe o que é óbvio. em meados de dezembro fui buscar luzinhas e enfeites ao sotão. (as pessoas nunca falam desses adereços como seus, mesmo que os tenham comprado no ano anterior. parece-lhes sempre que pertenceram à mãe ou à avó. mas pertencem a filhos, porque - não sei se vos acontece pensar assim - nós somos pais e avós daqueles que fomos nos anos passados). como me deprimem os pinheiros decepados e os pinheiros de plástico (é desnecessário explicar-vos porquê, estou certa), costumo decorar taças e janelas e cantinhos da casa com eles. e foi o que fiz. meu príncipe aceita todas as minhas decisões desde que elas me façam feliz. e feliz eu estava. des-envolver bolas de natal coloridas encanta-me. des-enlaçar fios cravejados de flores luminosas apazigua-me. e o mesmo acontece quando penduro anjinhos gabriel em prateleiras ou vãos de escada e ajoelho reis magos sobre a lareira e enrodilho palha para o menino que escondo debaixo dos travesseiros da casa até o dia 25, porque me revejo criança e outras crianças, e mergulho a mão na meia de lã pendurada na porta e agarro o pó dourado e parece magia quando ele chove, e menina rio e todas as crianças que não estão ali riem comigo. meu príncipe gosta da festa que faço. então ontem pegou na máquina fotográfica e disse queres um espelho redondinho? muitos espelhos redondinhos? e fez flash flash flash flash e depois mostrou o que os relâmpagos tinham feito a minhas bolas. havia um príncipe lá no meio. zanguei-me. meu príncipe não sabia que era quase Natal? devíamos ser dois nas bolinhas. para ver se um nosso menino nasce e ri mais alto que os irmãos que partiram antes de todos os Natais.
Imperiais, burgueses, grosseria como de duques de uma Idade-Média sonhada por românticos no vómito da cervejaria a mais - e todavia a pompa de sentir que a realidade é como esse equilíbrio de ser besta à beira de sonhar-se o universo.
7/Dez/1870
Jorge de Sena
in "Sequências", colecção Círculo de Poesia da Moraes Editores, 1ª ed. de Julho de 1980
Tristano morre. Tabucchi morre. O seu último romance.
“[…] Disparates, as pessoas não morrem, assiste-me o dever de informar, ficam encantadas, apenas… como disse um escritor que havias de conhecer, ficamos encantados por aqueles que nos amam muito muito muito, e pairamos no ar a meia altura como uns balõezinhos mas ninguém nos vê, vêem-nos apenas aqueles que nos amam muito muito muito, e eles, erguendo-se em bicos dos pés, com um ligeiro impulso, um pulo de nada, agarram-nos pelas pernas que entretanto já são feitas de ar e puxam-nos para baixo, não nos largam, para que não recomecemos a voar, a levitar, mas dando-nos o braço seguram-nos mais rente ao chão, tão rente ao chão quanto eles próprios, como se não tivesse acontecido nada, tal como em certos faz-de-conta da vida, por conveniência social, para não se fazer má figura à frente do dono da retrosaria, ou da tabacaria, que te conhece desde sempre e diria coisa estranha este tipo a passear de braço dado com a mulher e ela a meia altura… E foi o que sucedeu a Tristano, era domingo, e mesmo que não fosse tanto faz porque eu decidi que as coisas importantes de Tristano aconteciam aos domingos, e se tu o escreveres no livro que hás-de escrever passa a ser verdade, porque depois de escritas as coisas tornam-se verdade… e estava-se em Agosto, porque eu decidi que as coisas importantes da vida de Tristano aconteceram num domingo de Agosto, e se tu o escreveres também isto passa a ser verdade, verás… […]”.
Entre a vida e a morte há apenas o simples fenómeno de uma subtil transformação. A morte não é morte da vida. A morte não é inação, inutilidade. A morte é apenas a face obscura, mínima, em gestação de uma viagem que não cessa de ser. Aventura prolongada desde o porão do tempo. Projectando-se nas naves inconcebíveis do futuro.
A morte não é morte da vida: apenas novas formas de vida. Nova utilidade. Outro papel a desempenhar no palco velocíssimo do mundo. Novo ser-se (comércio do pó) e não se pertencer. Nova claridade, respiração, naufrágio na maquina incomparável do universo.
Casimiro de Brito, in "Poemas da Solidão Imperfeita", Faro, Edição do Autor, 1957
[Imagem: Cruzeiro Seixas. "O que vos digo é que antes de voar, o homem já sabia voar". 1985. Tinta-da-China, Lápis s/ Papel. 23x37 cm]
Calvino dizia: saber poemas de cor é bom porque os poemas fazem boa companhia e porque se deve treinar a memória.
Os poemas são úteis.
Cunningham diz: há pessoas que são mais do que úteis e ser mais do que útil é ser belo.
como alguns poemas.
Outro homem dirá que saber de cor é trazer no coração.
(by) heart
(par) coeur
transportamos a memória no centro do nosso corpo. poemas, às vezes. que podem ser melhor companhia do que uma pessoa mais do que útil. ou não (depende dos dias, e do número de dias sem pessoas).
Calvino também dizia que é importante saber fazer cálculos simples à mão, sem calculadora. por exemplo, saber fazer divisões. a cabeça calcula o que a mão vai traçando.
É complicado existir.
Finalmente, ele que via cidades invisíveis a nascer dos sonhos das cidades invisíveis, concluía da absoluta necessidade de saber que tudo o que temos podemos perder a seguir numa nuvem de fumo.
método de sobrevivência: estar junto instrumento: a música lugar: a praça
abrir a vida à folia. amar.
ruído: fazer o quê com o menos que útil?
Não tenho ideias fixas. (logo, como ele, não poderei ser político) tenho instintos. querer adiar o inabitar. Decidi decorar poemas.
Tenho tentado ficar-em-pé contrariando os sentidos que se inclinam. amas-me com ódio e sou tão pequena que só em bicos de pé o teu olhar não me esmaga. Imagino-te o céu e o vento e ergo-me sobre ti para que o meu rosto não sombreie nem a minha direcção assuma o sentido do teu sopro. ficar-em-pé contrariando os sentidos que se inclinam. silencioso aproximas-te como um animal feroz e sou a corça que salta antes de ficar encurralada e te olhar suplicante. Marro contra a tua fronte para que me temas e não me unhes voraz. ficar-em-pé contrariando este trabalhoso atravessar o-teu-corpo-sem-me-magoar atravessar o-ódio-e-perdoar-o-teu-medo de não seres grande. ficar-em-pé para te ver percorrer o caminho.
Tive, em vez de uma longa vida de doçura, A travessia de vales e montes lamacentos; Em vez de noites breves sob os véus O temor da viagem no seio de infindável treva; Em vez de água límpida sob sombras O fogo das entranhas queimadas pela sede; Em vez de perfume errante das flores O hálito esbraseado do meio-dia; em vez da intimidade entre ama e amiga A rota nocturna cercado de lobos e de génios em vez do espectáculo de um rosto gracioso Desgraças suportadas com nobre constância.
IBD DARRAJ AL-QASTALLI
nasceu em Cacela em meados do séc. X, e foi considerado em todo o al-Andalus, o maior do seu tempo.
[No Dia Mundial da Arquitectura____________________, celebrado em Portugal no dia que as Nações Unidas destinaram ao dia mundial do habitat, 1ª segunda-feira de Outubro.]
Lês os contornos do meu corpo como aquela cigana leu as linhas da minha mão.
dentro do espelho nítida rosto liso peito iluminado esterno saliente ventre de penugem dourada a mão pousa diz Quente sexo pernas moldados por sombras que revelam relevos segredos és vulto que percebemos ao fundo provocador ausente ciente
sais do escuro centras-te dentro do espelho que eu solte os cabelos e o instinto que apenas te espreite no estanho do móvel e depois essa ideia que eu erga o queixo e permaneça imóvel e eu consinto _____que o meu corpo marque os dois destinos
Certamente que me observara de longe, eu atravessei o largo da fonte, pus a carta no marco e no regresso passeei as mãos pela água. Num instante, segurou-me com palavras, esticou-me a mão molhada, olhou e disse: só estás com ele porque ele está longe.
Duermes, mientras la ciudad golpea el cristal con su llanto, ajena a tu sueño. Qué pena que este milagro de verte dormida en paz no desborde el muro de esta habitación. Ojalá que mañana, cuando te despiertes, duerma mi dolor.
Duermes, y bajo el flexo una estudiante reza la locura de huir con los muchachos del camión de la basura. Y, mientras, los bares entierran la culpa de esta gran ciudad. Tantas soledades sin saber que duermes no pueden amar.
Duermes, insomne cruzo la casa y te busco intranquilo, porque sueño a tu lado, aunque no duerma contigo. Duermes, perdona mi maldita costumbre de despertarte porque tengo miedo, o porque llego tarde.
Duermes, y un hombre escribe versos frente a una computadora. Temblando, en la pantalla, abre la caja de Pandora. Y en un cuarto de hotel, busca encendida en el minibar el rumor de las olas una pareja que esta noche no dormirá.
Duermes, y un hombre llora en un taxi mientras suena la radio. Una mujer desnuda lo detiene en un semáforo. Nadie sabe que duermes, no consta en los diarios. Qué lástima la gente que nunca besará la paz sobre tus párpados.
Duermes, insomne cruzo la casa y te busco intranquilo, porque sueño a tu lado, aunque no duerma contigo.
Duermes, perdona mi maldita costumbre de despertarte porque tengo miedo, o porque llego tarde.
En ce temps-là j’étais en mon adolescence
J’avais à peine seize ans et je ne me souvenais déjà plus de mon enfance
J’étais à 16.000 lieues du lieu de ma naissance
J’étais à Moscou, dans la ville des mille et trois clochers et des sept gares
Et je n’avais pas assez des sept gares et des mille et trois tours
Car mon adolescence était si ardente et si folle
Que mon cœur, tour à tour, brûlait comme le temple
d’Éphèse ou comme la Place Rouge de Moscou
Quand le soleil se couche.
Et mes yeux éclairaient des voies anciennes.
Et j’étais déjà si mauvais poète
Que je ne savais pas aller jusqu’au bout.
Le Kremlin était comme un immense gâteau tartare
Croustillé d’or,
Avec les grandes amandes des cathédrales toutes blanches
Et l’or mielleux des cloches…
Un vieux moine me lisait la légende de Novgorode
J’avais soif
Et je déchiffrais des caractères cunéiformes
Puis, tout à coup, les pigeons du Saint-Esprit s’envolaient sur la place
Et mes mains s’envolaient aussi, avec des bruissements d’albatros
Et ceci, c’était les dernières réminiscences du dernier jour
Du tout dernier voyage
Et de la mer.
Pourtant, j’étais fort mauvais poète.
Je ne savais pas aller jusqu’au bout.
J’avais faim
Et tous les jours et toutes les femmes dans les cafés et tous les verres
J’aurais voulu les boire et les casser
Et toutes les vitrines et toutes les rues
Et toutes les maisons et toutes les vies
Et toutes les roues des fiacres qui tournaient en tourbillon sur les mauvais pavés
J’aurais voulu les plonger dans une fournaise de glaives
Et j’aurais voulu broyer tous les os
Et arracher toutes les langues
Et liquéfier tous ces grands corps étranges et nus sous les vêtements qui m’affolent…
Je pressentais la venue du grand Christ rouge de la révolution russe…
Et le soleil était une mauvaise plaie
Qui s’ouvrait comme un brasier.
En ce temps-là j’étais en mon adolescence
J’avais à peine seize ans et je ne me souvenais déjà plus de ma naissance...
«Ao fundo, Antónia e a neta caminham de mãos juntas. Junto à estrada há uma estátua da Virgem, com as mãos postas em oração. Quando tinha três anos, Rosa, ao ver a estátua com as mãos naquela posição, julgava que a Santa batia palmas. Agora, claro, já não pensa assim.»
Tão longe, meu amor, tão longe, quem de tão longe alguma vez regressa?! Jorge de Sena
espantou-me encontrar-te assim tão de passagem na tua própria casa
e que houvesse sempre uma pequena luz (talvez benzida) a mantê-la iluminada
não obstante, pensei amar-te (libertar-te) da ponta dos dedos às ideias mais abstractas
a realidade revelou um corpo-defeito desfeito
que eu tocava com nomes pele água panos ternos jeitos
e um silêncio encalhado que me inspirava sonatas e me levava a beijar-te por falta de
palavras
decidi então assim: nunca mais te verei.
vais ser: o rasto dos aviões no céu, idênticos a si mesmos, não singulares.
serei: se quiseres ainda: o mamilo que toca piano. ou seja, nada que exista.
Em «La Casada Infiel», de Lorca (Fuente Vaqueros, 5 de junho de 1898 — Granada, 19 de agosto de 1936), um cigano narra a sua desilusão com a cigana que levara ao rio. Pensava que ela era solteira mas, ao saber que tinha marido, é obrigado a mostrar a sua honra de “cigano legítimo”. A honra é um valor primordial que organiza as relações amorosas e de poder entre ciganos.
Y que yo me la llevé al río creyendo que era mozuela, pero tenía marido. (…) yo me quité la corbata. Ella se quitó el vestido. Yo el cinturón con revólver. Ella sus cuatro corpiños. (…) No quiero decir, por hombre, las cosas que ella me dijo. La luz del entendimiento me hace ser muy comedido. (…) Sucia de besos y arena, yo me la llevé al río. Con el aire se batían las espadas de los lirios.
Me porté como quien soy. Como un gitano legítimo. La regalé un costurero grande de raso pajizo, y no quise enamorarme porque teniendo marido me dijo que era mozuela cuando la llevaba al río.
in Federico García Lorca, "ROMANCERO GITANO" [1924-7]
P:S.: Uma curiosidade relativa à métrica do poema. Todos os versos têm 8 sílabas, com excepção do primeiro, que tem nove.
Espectáculo na Sala b, diz o programa do Citemor. Damos voltas à vila, um sobe desce pequenas ruas, vielas, na direção do castelo e na direção oposta, ali para os lados da biblioteca, ali para os lados da praça das artes, ali ao pé da praça do município. Comes qualquer coisa no único café que está aberto, D. Dinis de seu nome, mas não, ninguém sabe onde fica a Sala b. Surreal. Finalmente, à segunda tentativa, a recepcionista do Hotel Abade João dá a pista certa. Encontrámos a Sala b, uma casa em ruínas, que ardeu há anos, sem tecto, portas, janelas, cheia de lua cheia e de gente.
Começa o universo Elena Córdoba. Um outro espectáculo que não este aqui. Há imagens muito poéticas, a postura da bailarina-performer é singular, bizarra, mas também decadente, acabei por não gostar. Mas talvez vocês apreciem e ela vai lá estar hoje novamente. na Sala b.
E depois, conversa. O público, a equipa da organização, o Citemor, o estado da cultura, a morte anunciada de mais um festival. O Citemor já vai na 34ª edição, têm 25% do orçamento de há 2 anos. O dinheiro não chega para o aluguer de equipamentos, bancadas, geradores, tudo, até porque a vila só tem o pequeno (e belíssimo) Teatro Esther de Carvalho. Utilizar espaços não convencionais é uma opção estética e... bem, não é opção, é o que tem que ser.
Nenhum artista ou membro da organização teve cachet este ano. No Citemor, artistas e membros da organização pagam para trabalhar. Há qualquer coisa de muito singular a acontecer por todo o lado, neste país.
Atravessar as várias praças de Montemor, algumas com instalações de arte contemporânea. Há uma, do Teatro O Bando (João Brites e Rui Francisco), na praça do município: um muro de tijolos e filas com cadeiras de cinema (de veludo bordeaux) de ambos os lados. O que está do outro lado do muro? E do outro lado de nós mesmos? Virados para o muro, de costas para o mundo, frente a quê e a quem? "Tire uma fotografia de costas e envie para geral@obando.pt"
Uma vila deserta ocupada por "alternativos". Em poucas horas, conhecer os donos do café, a Eva, filha da namorada do dono de..., e a prima da Eva, o cão rafeiro Romeu, o mendigo da terra, o Sr. Ferreira, o pessoal do bar que abriu esta semana e que vai ficar aberto até o sol aparecer lentamente no céu___ que continua estrelado.
Comer bôla de chouriço e sandes de carne assada ao relento. Embrulhados em xailes, ou não. Regressar cheia de sono e de rostos.
Foi bom.
Estreia de "LA MUJER DE LA LAGRIMA" de Elena Cordoba, com Elena Cordoba y Maria José Pire , no Teatro Esther de Carvalho. Estreia no 32º CITEMOR, Festival de Montemor-o-Velho, 5 de agosto 2010. Video de Hugo Barbosa e Pamela Gallo para o blogue do festival do Citemor.
Rien
n'est jamais acquis à l'homme Ni sa force Ni sa faiblesse ni son coeur Et
quand il croit Ouvrir ses bras son ombre est celle d'une croix Et quand il
croit serrer son bonheur il le broie Sa vie est un étrange et douloureux
divorce
Il n'y a pas d'amour
heureux
Sa
vie Elle ressemble à ces soldats sans armes Qu'on avait habillés pour un
autre destin A quoi peut leur servir de se lever matin Eux qu'on retrouve
au soir désoeuvrés incertains Dites ces mots Ma vie Et retenez vos
larmes
Il n'y a pas d'amour
heureux
Mon
bel amour mon cher amour ma déchirure Je te porte dans moi comme un oiseau
blessé Et ceux-là sans savoir nous regardent passer Répétant après moi les
mots que j'ai tressés Et qui pour tes grands yeux tout aussitôt
moururent
Il n'y a pas d'amour
heureux
Le
temps d'apprendre à vivre il est déjà trop tard Que pleurent dans la nuit nos
coeurs à l'unisson Ce qu'il faut de malheur pour la moindre chanson Ce
qu'il faut de regrets pour payer un frisson Ce qu'il faut de sanglots pour un
air de guitare Il n'y a pas d'amour
heureux
Il
n'y a pas d'amour qui ne soit à douleur Il n'y a pas d'amour dont on ne soit
meurtri Il n'y a pas d'amour dont on ne soit flétri Et pas plus que de toi
l'amour de la patrie Il n'y a pas d'amour qui ne vive de pleurs Il n'y a pas d'amour
heureux Mais c'est notre amour à tous les deux
Vous êtes bien belle et je suis bien laid.
A vous la splendeur de rayons baignée ;
A moi la poussière, à moi l'araignée.
Vous êtes bien belle et je suis bien laid ;
Soyez la fenêtre et moi le volet.
Nous réglerons tout dans notre réduit.
Je protégerai ta vitre qui tremble ;
Nous serons heureux, nous serons ensemble ;
Nous réglerons tout dans notre réduit ;
Tu feras le jour, je ferai la nuit.
After you’ve been to bed together for the first time, Without the advantage or disadvantage of any prior acquaintance, The other party very often says to you, Tell me about yourself, I want to know What’s your story? And you think maybe they really and truly do Sincerely want to know your life story, and so you light up A cigarette and begin to tell it to them, the two of you Lying together in completely relaxed positions Like a pair of rag dolls a bored child dropped on a bed. You tell them your story, or as much of your story As time or a fair degree of patience allows, and they say, Oh, oh, oh, oh, oh, Each time a little more faintly, until the oh Is just an audible breath, and then of course There’s some interruption. Slow room service comes up With a bowl of melting ice cubes, or one of you rises to pee And gaze at himself with mild astonishment in the bathroom mirror And then, the first thing you know, before you’ve had time To pick up where you left off with your enthralling life story, They’re telling you their life story, exactly as they intended all along And you’re saying, Oh, oh, oh, oh, oh Each time a little more faintly, the vowel at last becoming No more than an audible sigh, As the elevator, halfway down the corridor and a turn to the left, Draws one last, long, deep breath of exhaustion And stops breathing forever. Then? Well, one of you falls asleep And the other does likewise with a lighted cigarette in his mouth And that’s how people burn to death in hotel rooms.
in
Tennessee Williams, The Winter of Cities, 1956
Imagem: Nan Goldin, Jen's hand on Clemen’s back, Paris, 2001
A.: Acho que estou apaixonada pelo homem-aranha... Oh, porquê que ele já tem 29 anos?... Sempre que vou ver um filme apaixono-me... Enfim, é só por uns dias...
Sai documento histórico. Crónica de um Verão (1961) de Edgar Morin & Jean Rouch.
Observação: para assistir com LEGENDA em PORTUGUÊS, active LEGENDA "cc" no canto inferior direito do vídeo.
«Il y a deux façons de concevoir le cinéma du réel : la première est de prétendre donner à voir le réel ; la seconde est de se poser le problème du réel. De même, il y avait deux façons de concevoir le cinéma-vérité. La première était de prétendre apporter la vérité. La seconde était de se poser le problème de la vérité.»
Ontem, no palco da FARAV, Luis Pastor! Por gentileza e vontade de partilhar alegria, à festa juntaram-se alguns músicos que tinham estado no Tom de Festa, evento organizado pela ACERT Tondela: Lourdes Guerra, Uxía Senlle e a Zeca Medeiros! ...Parabéns ao Rui Oliveira pela interpretação fabulosa de uma canção de Zeca Afonso, fonte de inspiração de todos os músicos presentes.
Pena que a divulgação do evento não tenha estado à altura dos artistas convidados. A CMA, sempre, a fazer o esforço mínimo... Sorte a de quem por lá passou! A noite estava fria mas tornou-se mágica!
Isn't it a pity
you don't know what i'm talking about yet
but i will tell you soon
it's a pity
isn't it a pity
isn't it a shame
yes, how we break each other's hearts
and cause each other pain
how we take each other's love
without thinking anymore
forgetting to give back
forgetting to remember
just forgetting and no thank you
isn't it a pity
some things take so long
but how do i explain
why not too many people can see
that we are all just the same
we're all guilty
because of all the tears
our eyes just can't hope to see
but i don't think it's applicable to me
the beauty that surrounds them
child, isn't it a pity
how we break each other's hearts
and cause each other pain
how we take each other's love
the most precious thing
without thinking anymore
forgetting to give back
forgetting to keep open our door
isn't it a pity
isn't it a pity
some things take so long
but how do i explain
isn't it a pity
why not too many people
can see we're all the same
because we cry so much
our eyes can't, can't hope to see
that's not quite true
the beauty that surrounds them
maybe that's why we cry
God, isn't it a pity
Lord knows it's a pity
mankind has been so programmed
that they don't care about nothin'
that has to do with care
c-a-r-e
how we take each other's love
the most precious thing
without thinking anymore
forgetting to give back
forgetting to keep open the door
but i understand some things take so long
but how do i explain
why not too many people
can see we're just the same
and because of all their tears
their eyes can't hope to see
the beauty that surrounds them
God, isn't it a pity
the beauty that surrounds them
it's a pity
we take each other's love
just take it for granted
without thinking anymore
we give each other pain
and we shut every door
we take each other's minds
and we're capable of take each other's souls
we do it every day
just to reach some financial goal
Lord, isn't it a pity, my God
isn't it a pity, my God
and so unnecessary
just a little time, a little care
a little note written in the air
just the little thank you
we just forget to give back
cause we're moving too fast
moving too fast
forgetting to give back
but some things take so long
and i cannot explain
the beauty that surrounds us
and we don't see it
we think things are just the same
we've been programmed that way
isn't it a pity
if you want to feel sorry
isn't it a pity
isn't it a pity
the beauty sets the beauty that surrounds us
because of all our tears
our eyes can't hope to see
maybe one day at least i'll see me
and just concentrate on givin', givin', givin', givin'
and till that day
mankind don't stand a chance
don't know nothin' about romance
everything is plastic
isn't it a pity
my God.
Eu ontem vi-te...
Andava a luz
Do teu olhar, Que me seduz A divagar Em torno a mim. E então pedi-te, Não que me olhasses, Mas que afastasses, Um poucochinho, Do meu caminho, Um tal fulgor De medo, amor, Que me cegasse, Me deslumbrasse Fulgor assim.
A gente já não sabe o que há-de fazer com a lua
gerou-se um curto-circuito no canal telepático
e a caverna clandestina por detrás da cascata
onde os amantes se entregavam à eternidade
hoje não passa dum moderno armazém de sucata
Existem mil produtos para encher o vazio
criámos computadores para ampliar a memória
e todos nós temos disfarces para aumentar a confusão
só não sabemos como fazer o amor durar
o grande enigma continua a dar-nos cabo do curação
"Olá, a que horas parte o teu comboio?
O meu é às cinco e trinta e três
Aida falta um bocado,
Queres contar-me a tua història?
Espera, deixa-me adivinhar,
vais recomeçar noutro lado...
Trazes escrito na bagagem
que a coisa aqui não deu...
Quanto a mim, também me sinto um pouco
desenraízado...
Também o amor se adapta às leis da economia
investe-se a curto prazo e reduz-se a energia
e quando o barco vai ao fundo ninguèm quer ser culpado
mas nunca é tarde para se ter uma infância feliz
o cavaleiro solitário ainda sonha acordado
"O fumo ainda não desapareceu e não vai desaparecer nunca. É certo que tudo renasce. As roupas, o tecido dos bancos do automóvel, o meu cabelo: tudo cheira ainda a fumo, tudo é fumo. Se há memória que sobreviva ao fogo é o cheiro denso e negro do fumo transformado em cinzas.(...)
Vi como uma casa inteira desaparece e passados dias o chão ainda arde. Ouvi as lágrimas de quem tudo perdeu. Acompanhei corporações de bombeiros que já não viam a família há mais de duas semanas, alguns há um mês. Compreendi a necessidade de descanso quando vi bombeiros a dormir em cantos impróprios para o sono. Fui expulso de uma pequena localidade por fotografar, o medo sempre fez sobressair o melhor ou o pior de todos nós. Quando foi necessário pousei a câmara e ajudei com o que pude no combate às chamas. Recusei-me sempre a pensar que tudo aquilo não me pertencia, recusei-me sempre a ser espectador nos momentos mais críticos. Teria sido um erro enorme não pensar que eu não fazia parte dos acontecimentos. (...)"
Nelson D'aires, vencedor do Prémio FNAC de fotografia "Novos Talentos" 2006, com uma série de fotos (ou só esta?) sobre um terrível incêndio na Pampilhosa em 2005.
O Sol oprime a cidade com a sua terrível luz a prumo; a areia deslumbra e o mar resplende.
in Charles Baudelaire, O Spleen de Paris, XXV A Bela Doroteia
Apetece-me entorpecer, dormir a sesta. ou nada disso, e caminhar numa rua desta cidade ofuscante, assim muito segura no meu vestido quase transparente, que vai permanecer cristalino e engomado, sobre uma pele que se mantém serena e perfumada, sentindo o calor mas fazendo de conta que não. Fazendo de conta que me dirijo a um lugar determinado, ali ao pé da praia, naquela esquina entre os Correios e o café que está sempre cheio à noitinha, não agora. porque agora todos dormem a sesta no fresco dos quartos ou sobre a areia escaldante. Menos tu. que caminhas por outra rua desta cidade ofuscante, assim muito seguro nas tuas vestes de linho azul claro, que vão permanecer incólumes ao respirar da tua pele sob o céu da mesma cor. E debaixo desse céu, ouvindo o marulhar do mar, cruzamo-nos por acaso se o acaso existir, e paramos. E então eu abro a minha sombrinha e coamos a luz daquele lugar, ficando os dois pintados de reflexos sanguíneos. Por cada dez inspirações profundas, a brisa vai varrer-nos a compostura. O vestido esvoaça, os corpos estremecem, a cidade avança no tempo. mas nós prolongamos a admiração. e sem pressa aguardamos a maturidade. Um dia, a roupa vai ficar manchada. e há-de ser bom.
ou não. podemos ser surpreendidos por um tsunami. despedaçado pelo tempo, embriagas-te. com vinho, palavras, premências de prazer e depois depois depois. depois sentimos um tremendo fardo. e uma vaga surge do que parece nada e leva-te. e eu aninho-me na linha da rebentação com a minha sombrinha. e espero por ti para sempre.
ou alguém bate à porta e percebo que a cidade despertou.
Antes que adormeça quero dizer-te coisa. Sabes, meu amor, andei muito tempo sozinha contigo. Aconteceu-me falar-te e tu me responderes sem que eu te visse, mas sentindo os teus dedos cingindos nos meus. E quando pressentia que estavas a sorrir ou que o poderias fazer sorria também, para te fazer feliz. Houve momentos em que a saudade foi maior do que eu. Talvez me tenhas ouvido cantar what a wonderful world, ne me quitte pas ou a canção de dalila. queria acordar-te. E então não resistias a envolver-me com ternura e o teu odor inundava o meu quarto.Hoje vão descobrir-me agarrada ao tronco de uma árvore e alguns dirão que enlouqueci mas quero morrer nos braços de um ser vivo.
Logo depois de adormecer, aparece e leva-me contigo.
Enfim, já perceberam que fui ver Moonrise Kingdom, de Wes Anderson, e que adorei! Argumento delicioso, fotografia espantosa...
Com Edward Norton, Tilda Swinton, Frances McDormand, e os recorrentes Bill Murray e Jason Schwartzman, entre tantos outros.
Para todas as idades!
Em 2001, mais uma vez em conjunto com Owen Wilson, que colaborou como argumentista e actor, Wes Anderson lançou The Royal Tenenbaums (nomeado para melhor argumento original nos Oscares).
Em 2007, Wes Anderson lançou a curta Hotel Chevalier, com Natalie Portman e Jason Schwartzman. Essa curta seria uma espécie de prólogo ao filme The Darjeeling Limited, lançado pouco depois, com seu habitual parceiro Owen Wilson, Adrien Brody, Natalie Portman e Jason Schwartzman. Aqui, essa curta metragem, na íntegra:
"... que o inventado pode ter mais peso e credibilidade que o real, mais vida própria e mais sentido, e por conseguinte mais possibilidades de sobrevivência face ao esquecimento."
"...porque, embora o meu amor continue intacto, já não sou aquele que era nem estou onde estava. Faz de conta que sou um impostor..."
My Brightest Diamond is a chamber pop band led by singer-songwriter Shara Worden, which was formed in New York City, NY, USA (2006).
Worden is the grand-daughter of an Epiphone-playing traveling evangelist; her father was a National Accordion Champion and her mother a classical organist. Having a family of wanderers who migrated across the U.S. every few years, the landscape and the musical influences were constantly changing: Spanish tangos, Sunday morning gospel, classical and jazz were the accompaniment to her home life.
O irmão mais novo de Shinji regressara à ilha. As mães tinham ido todas ao fim do molhe esperar os filhos. Caía uma chuva fina e não se via o mar largo. O ferry-boat estava já a cerca de cem metros do cais quando irrompeu subitamente no meio da bruma. As mulheres puseram-se a gritar em coro pelo nome dos filhos. Conseguiam já distinguir claramente os bonés e os lenços agitados pelas crianças na ponte do navio.
O barco acostara. Mas, mesmo depois de já estarem em terra junto às mães, os jovens estudantes limitaram-se a sorrir-lhes ao de leve e começaram logo de seguida a brincar uns com os outros. Não lhes agradava terem que mostrar o seu afecto pela mãe em presença uns dos outros.
Nem depois de chegar a casa se acalmou a excitação de Hiroshi. O rapaz não parava quieto um momento. Na sua conversa não se referiu nem aos locais famosos, nem às velhas ruínas que visitara. (...) No dia seguinte, estava a cair de sono. É certo que trouxera da viagem profundas impressões, mas não era capaz de traduzi-las por frases. Quando quis contar alguma coisa, não conseguiu recordar nada (...). Mas então - e esses eléctricos e esses automóveis que rebrilhavam ao sol, novinhos em folha, e que, mal se conseguiam fixar, já tinham desaparecido, e esses edifícios altos e esses reclames de néon, onde estava tudo isso?
Em casa da mãe, vinha encontrar no seu lugar o aparador, o relógio de parede, o altar búdico, a mesa das refeições, o espelho no seu pé e, claro, também a mãe. Lá estavam o forno de cozinha e as esteiras sujas. Tudo sabia entendê-lo, mesmo que não falasse e, no entanto, tudo isso, até a mãe, tudo o incitava a contar a viagem. Hiroshi acabou por se acalmar, quando Shinji voltou da pesca. Após o jantar, abriu o caderno de viagem e narrou perfeitamente à mãe e ao irmão o que havia visto. Terminada a narrativa, ficaram satisfeitos e deixaram de o espicaçar com perguntas.
Tudo voltou ao normal. A sua existência era tal, que tudo se compreendia, mesmo sem palavras. O aparador, o relógio, a mãe, o irmão, o velho forno de cozinha cheio de fuligem, o rugir do mar... Envolto nessa atmosfera, Hiroshi deixou-se adormecer e caiu num sono profundo.
in MISHIMA, "O Tumulto das Ondas", Relógio d'Água, Lisboa, 1985, pp. 93-94
Que do sono só se salva o sonho
quando, sendo penosa a cadência dos dias, ... esse sonho se torna licor inebriante que por dentro nos lava ou rasura o frio de viajar por entre as catacumbas.
Que esse sonho salva, bem sabemos, nas tão difíceis contas a prestar à razão mais corrente e à voz mesquinha: dizerem que dormir é descansar para voltar - sem sonho - à mesma vinha que, no dia-a-dia, se tem de amanhar...
in Quarteto para as próximas chuvas, Ed. Dom Quixote, 2008.
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A A.P.E. irá realizar, no próximo dia 9 de Julho, pelas 18h30, a cerimónia de entrega do Prémio VIDA LITERÁRIA a João Rui de Sousa. O evento vai decorrer na Culturgest - Caixa Geral de Depósitos (sala 2). O galardão pretende assim distinguir um autor «por estar entre os maiores da literatura portuguesa do presente, com uma vasta e reconhecida obra na poesia e no ensaio», declararam José Manuel Mendes e José Correia Tavares, presidente e vice-presidente da A.P.E..
«O actual mapa da Europa é constituído por 47 países, dos quais 27 pertencem à União Europeia e 3 são candidatos a sê-lo. A resposta à pergunta “Que Europa é esta?” será, em termos de cinema, o tema de 47 sessões de uma “masterclass”, duran...te a qual Lauro Antonio, realizador, crítico e professor de cinema, irá tentar explicar de que forma a arte cinematográfica interage e se identifica com a originalidade de cada país, a sua história, cultura e valores mais intrínsecos. Cada sessão abordará, pois, um país, uma cinematografia, e um filme específico.»
E assim aconteceu em Oeiras. Agora foi publicado o livro "OS CINEMAS DA EUROPA" (Ed. Município de Oeiras). É muito mais do que um catálogo. Temos, para cada país, uma "crónica" sobre a sua História, a História do seu Cinema e outros dados sobre a cultura nacional, a análise do filme selecionado e o perfil do seu realizador. Muito interessante! São 218 páginas que reflectem um saber profundo e um grande amor à Sétima Arte.
Ana de Peñalosa dialoga com a sua imagem em criança
1. "Eu estou à porta azul celeste, e bato" - ouviu.
2. Estou velha, pensa Ana de Peñalosa, e é agora que alguém diz "abandona tudo, mesmo a tua decrepitude, e vem". ... Onde está é um sítio ávido, como são todos as paragens. No seu quarto só avança quando dorme, iluminada pela lamparina sobre
3. a cómoda, diante do ícone que veio da serra da Arrábida. "Vamos ver a nostalgia do mar" - diz-lhe a criança de cinco anos que encontra quando repousa o seu próprio retrato. A força do seu rosto, oculto pelo chapéu de abas, impele-a, para um litoral de maresia através de passos desconhecidos que farão soar pelo mundo. (...)
A criança acordou-a no sonho e não podia retardar__________ Tiveram de sulcar juntas muitos dias que faziam parte do passado com uma imagem do futuro na fímbria ou ponta. Tiveram de abrir a porta passada do presente e quem o fez, foi a criança que lhe tirou definitivamente a bengala. (...)
in MARIA GABRIELA LLANSOL (1931-2008), "Da sebe ao ser", Edições Rolim, 1988
Imagem: Alessandra Sanguinetti (1968), ARGENTINA. Buenos Aires. 2001. Ophelias.
Quando começares a tua viagem para Ítaca, reza para que o caminho seja longo, cheio de aventura e de conhecimento. Não temas monstros como os Ciclopes ou o zangado Poseidon: Nunca os encontrarás no teu caminho enquanto mantiveres o teu espírito elevado, enquanto uma rara excitação agitar o teu espírito e o teu corpo. Nunca encontrarás os Ciclopes ou outros monstros a não ser que os tragas contigo dentro da tua alma, a não ser que a tua alma os crie em frente a ti.
Deseja que o caminho seja bem longo para que haja muitas manhãs de verão em que, com quanto prazer, com tanta alegria, entres em portos que vês pela primeira vez; Para que possas parar em postos de comércio fenícios para comprar coisas finas, madrepérola, coral e âmbar, e perfumes sensuais de todos os tipos - tantos quantos puderes encontrar; e para que possas visitar muitas cidades egípcias e aprender e continuar sempre a aprender com os seus escolares.
Tem sempre Ítaca na tua mente. Chegar lá é o teu destino. Mas não te apresses absolutamente nada na tua viagem. Será melhor que ela dure muitos anos para que sejas velho quando chegares à ilha, rico com tudo o que encontraste no caminho, sem esperares que Ítaca te traga riquezas.
Ítaca deu-te a tua bela viagem. Sem ela não terias sequer partido. Não tem mais nada a dar-te.
E, sábio como te terás tornado, tão cheio de sabedoria e experiência, já terás percebido, à chegada, o que significa uma Ítaca.
Konstantinos Kaváfis. ou Constantine P. Cavafy (Alexandria, 29 de abril de 1863 — Alexandria, 29 de abril de 1933)
Poema publicado em 1910. Tradução de Jorge de Sena.
No pórtico da casa, entre lilases, o par de namorados brincava de apertar-se as mãos e de contar os dedos.Havia sempre um dedo a mais.
SABEDORIA
Tarde da noite, o «party» terminava num desabar de bêbados e de falsos bêbados.
O bêbado despiu-se lentamente, os falsos bêbados rodearam-no.
No dia seguinte, ninguém conseguia lembrar-se do que acontecera.
JORGE DE SENA in "Sequências", Série «América, América, I Love You", colecção Círculo de Poesia da Moraes Editores, 1ª ed. de Julho de 1980 (Os dois poemas foram escritos a 12/Ago/1969)
Ilustração: Cruzeiro Seixas (1969), "Anda espreitar o que há dentro de um desejo", Tinta-da-China s/ papel, 20x15 cm
A escritora romena Herta Müller (n. 1953) ganhou o Nobel de Literatura em 2009. Foi perseguida durante a ditadura de Ceausescu. O seu processo na Polícia de Segurança estatal chegou às 914 páginas. Na exposição sobre a vida e obra da escritora, organizada pelo Centro de Cultura Contemporánea de Barcelona, promovida pelo Goethe Institute, há documentos desse processo que são revelados ao público. O El País (que anda um dislate nestes tempos de Euro 2012) lá cumpriu o seu papel e foi ao encontro de Müller.O artigo é óptimo!
«...la dura tristeza de Müller embiste con el lenguaje, desde el mismo título de la conferencia: El idioma como patria. “Ese epígrafe no es mío: la lengua no es una patria, nunca lo es; las lenguas no causan las catástrofes… Un escritor cubano hablará la misma lengua que sus carceleros pero esa lengua habrá dejado de ser su patria”.»
«“Mis preferencias por escribir prosa o lírica son intuitivas. Cuando iba hacia los interrogatorios de la Securitate solía recitarme poesías, me daban fuerza… El miedo a la muerte no elimina nuestros sentimientos; con el miedo no se pierde la fantasía, sino que ella y tú misma te vuelves un poco más loca, los ojos se te hacen más grandes… Lo he vivido; la poesía es más pragmática para sobrevivir, te da más tranquilidad; por eso el amor desmesurado por la poesía en las dictaduras”.»
«Tras El hombre es un gran faisán en el mundo (1986), el acoso de los interrogatorios, el cerco a sus amistades, escuchas y censura de sus textos la colocan al borde del abismo. Y la obligan en marzo de 1987 a buscar desesperadamemte un permiso de salida que le costó 8.000 marcos al gobierno alemán y otros tantos a su familia en sobornos.»