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16.4.12

Musica Nuda

Petra Magoni e Ferruccio Spinetti são a diva e o contrabaixo que Patrick Süskind não imaginou. Leram "O Contrabaixo" (1981), livro escrito antes do famoso "O Perfume - História de um assassino" (1985)? Tenho uma paixão por esse pequeno livro (monólogo)___ e pelos Musica Nuda. Oh cordas vocais virtuosas!

Vídeo coreografia "Bocca di Rosa". Direção vídeo: Roggero Pini. Bailarina e coreógrafa: Sarah Pini.

19.11.09

Cinco anos

Este blogue começou a 19 de Novembro de 2004. com Arendt no pensamento e um livro de Süskind na mão.

... Se Hannah Arendt tiver razão, a liberdade depende da acção (action). Homens livres. Através da sua obra e do seu pensamento, eles empenham-se em transformar o nosso mundo. Enveredaram por caminhos arriscados ou pouco explorados, seguindo o princípio da fidelidade ao sonho. Ou a um sonho. Porque é possível.

Alguns são Divas e todos os reconhecemos. Outros são fantásticos Contrabaixos, instrumentos que as boas orquestras não dispensam mas em que nem sempre reparamos.

Eu queria falar desses Homens.




"Comer marisco ou sopa rica de peixe! Enquanto o homem que a adora fica numa sala à prova de som e não faz outra coisa senão pensar nela, com um instrumento disforme entre as mãos, do qual nem um, nem um único som é capaz de tirar, dos que ela canta! ...Sabem do que é que eu preciso? Preciso sempre de uma mulher que nunca hei-de ter. Enquanto eu não a tiver, não preciso de nenhuma outra."

Patrick Süskind (1984). O Contrabaixo . Ed. Difel: pp 53-54


Eu também preciso do que nunca hei-de ter. para além de me ser indispensável o que já tenho.

12.6.07

O Contrabaixo no Porto


“O Contrabaixo”— uma visão desconcertante e cheia de humor da vida e da música— é uma adaptação do texto homónimo de Patrick Süskind, que o Visões Úteis estreou em 2005. Nesta versão de 50 minutos cruzam-se em palco o actor Pedro Carreira e o músico João Martins.

Patrick Süskind é um autor de culto desde o seu primeiro livro: o romance “O Perfume”. A novela “A Pomba” e o conto “A História do Sr Sommer” tiveram também um notável acolhimento internacional. “O Contrabaixo” não foge à
regra. Estreado em 1981 em Munique é uma das peças de teatro que mais tem
sido levada à cena na Europa.

O Visões Úteis apresenta pela primeira vez no Porto a versão Mix de O Contrabaixo. É no café-concerto da Serv'Artes, neste 12 de Junho às 22h.

A Serv'Artes fica na Rua da Constituição, 2105 r/c. É um espaço que vale a pena conhecer.


31.1.07

Ainda perseguindo a beleza...



"Mais uma vez, então, isto", escreve ele no seu diário, "mais uma vez o amor, o fascínio por um ser, o profundo impulso para ele - há já vinte e cinco anos que não morava aqui, e isto deveria acontecer-me uma vez mais." (...) é para ele um momento de felicidade quando pode trocar algumas palavras com o rapaz que lhe acende o cigarro (...) e quando o rapaz lhe agradece com um sorriso amável. Nada mais se passa entre eles, mas de manhã à noite, e ainda em sonhos, os pensamentos do escritor giram em volta do "querido", a quem ele também chama - no perfeito sentido de Platão - "excitador" ou "enlouquecedor".

Acorda a meio da noite e, como escreve com orgulho e vergonha em simultâneo, experimenta um "violento ataque de poder e liberdade". Fica cada vez mais nervoso, desconcentrado, incapaz de trabalhar, dorme ainda pior do que habitualmente, tem de tomar valeriana e, "como calmante", lê Adorno, o que não lhe adianta nada, porque tudo para ele está "impregnado e dominado (...) pela privação enlutada do excitador, pelo sofimento, pelo amor, pela espera febril, pelos devaneios a toda a hora, pela dispersão e pela dor". (...)

Este amor é uma embriaguez, vê - e nomeia - o divino na beleza do amado, à la longue leva à criação, e procura e encontra a imortalidade, ou seja, na obra do escritor. (...)

Não tem a ver com o aspecto homossexual do caso - este Franzl poderia muito bem ser uma Franziska, se as preferências do escritor tivessem sido outras (no velho Goethe foi uma Ulrike). Não, trata-se da perfeita unilateralidade deste amor e da renúncia deliberada do escritor a empreender a mínima tentativa de o tornar recíproco. Na verdade, ele sabe muito bem que este amor (...) se revelaria muito rapidamente uma futilidade, um nada insípido (...) e, o que é mais importante ainda, se revelaria inútil naquilo que verdadeira e unicamente ele toma a peito: ele próprio e a sua obra. (...)

A morte será um tema? Ou será antes aquilo que não pode ser tema? Pode-se falar tanto e tão vivamente sobre o amor, e há tão pouco a dizer sobre a morte! (...)
Como é possível então que esta sinistra maçadora seja relacionada com Eros, que é louco, diga-se, mas mais virado para a alegria e para o prazer; e não só a título de pólo oposto (...), mas na qualidade de parceira? E como é possível que a iniciativa desta parceria não parta de Tanatos (...), mas do próprio Eros, o "enlouquecedor", o "excitador" que estaria pretensamente na origem de todo o impulso criador?


Extractos de sobre o amor e a morte de Patrick Süskind
Edit. Presença, pp. 21-33
[Esta associação entre a paixão de um velho escritor por um jovem Franzl, analisada por Süskind, e a de Gustav Von Aschenbach por Tadzio, criada por Thomas Mann e recriada por Visconti, é minha. O Süskind não foi tido nem achado. Foi assim, sem querer, que o autor de O Contrabaixo me ajudou a "ler" A Morte em Veneza.]

14.12.06

Sobre o amor e a morte

Deve dizer-se que o discurso de Orfeu se distingue agradavelmente do tom bruto e de comando de Jesus de Nazaré. Jesus era um pregador fanático, não pretendia convencer, queria que o seguissem, e sem condições. As suas falas são entremeadas de ordens, de ameaças e desta forma recorrente e apodíctica: "Mas em verdade vos digo..." É assim que falam em todas as épocas, aqueles que pretendem amar e salvar, não um ser humano, mas a humanidade. Quanto a Orfeu, apenas ama uma mulher e é apenas essa mulher que ele quer salvar: Eurídice. É por isso que o seu tom é conciliador, mais amável: ele pleiteia - a raíz da palavra é o provençal plait e significa que ele quer agradar e quer que sejam agradáveis para com ele. E pronto, o seu discurso é um êxito! Os soberanos do reino dos mortos entregam-lhe a mulher que ele ama - mas com a condição bem conhecida de que, no caminho de volta ao mundo do alto, ele não volte uma única vez a cabeça para ela, que seguirá atrás dele.
É aqui que Orfeu comete um erro. (O Nazareno nunca os comete. E mesmo quando comete erros evidentes - por exemplo, quando recruta um traidor para o seu grupo -, é um erro calculado e faz parte do plano escatológico.)

(...)
Lembremos que Orfeu é um artista e, como todos os artistas, não deixa de ter vaidade, ou antes: orgulho na sua arte. (...) enquanto subia, numa paisagem escarpada e cheia de ravinas, já muito longe dos mortos e ainda insuficientemente perto dos vivos, ninguém o ouvia. Excepto a pessoa que seguia atrás dele. E ela não dizia nada. Porquê? Tê-la-iam proibido de falar? Não poderia ela gritar uma vez "Bravo!" ou "Que lindo!"? Não poderia ela, pelo menos, bater as palmas, movida pela alegria e entusiasmo?
(...)
Porém, quando se voltou, para seu grande espanto, para seu grande terror, ela estava mesmo lá, apenas a dois passos, mas ainda do outro lado da fronteira, e assim a perdia por sua própria culpa. Ela olhou-o, tão espantada como ele, e também infinitamente triste, mas sem uma censura; disse-lhe "adeus" num sopro de voz que mal se ouvia, e caiu para sempre no Orco.
A história de Orfeu ainda hoje nos comove porque é uma história de fracasso. Acaba por falhar a prodigiosa tentativa de reconciliar as duas forças primitivas e misteriosas da existência humana, o amor e a morte, e de obrigar a mais cruel das duas a, pelo menos, um pequeno compromisso. A história de Jesus, pelo contrário, no que toca à confrontação com a morte, é triunfante desde o princípio até ao seu triste final. (...)
E o amor? O Eros cheio de pulsões e de desejos de que falámos? Pois bem, é desconhecido nesta morada. Em Jesus, o Eros está ausente.


in Süskind, Patrick, Sobre o Amor e a Morte, Ed. Presença, 2006, pp. 54-60

11.12.06

foi um fim de semana

Irving Penn
Girl in Bed, 1949



... em que fiquei enclausurada graças a uma nevralgia intercostal com espasmos que é uma daquelas coisas que devem evitar a todo o custo, sobretudo se tiverem duas filhas que sonham com uma casa enfeitada assim para o Natal, ou se existirem bons programas na cidade, para não falar no tempo, ah o tempo, hoje esteve um belo dia frio de sol, bom para passear, enfim, nem falemos do fim de semana prolongado que estava reservado para uma viagem ao sul até à casa de bons velhos amigos. e que saudades que eu tenho desses amigos que nos conhecem desde sempre, pois, o tempo passa e agora parece desde sempre. sim, evitem. sobretudo os espasmos. e nunca entrem em urgências hospitalares dobrados em dois porque demoram algum tempo a recuperar a dignidade (a postura é importante para exigir que nos falem como gente que somos e não como pobres ignorantes a quem não vale a pena explicar nada). evitem. a injecção da praxe nem dói (dada por enfermeiros, que os nossos médicos ortopedistas preferem ficar sentados, dando a impressão aos pacientes de que sofrem de paralisia. talvez seja estratégico) mas o antes e o quanto-continua-a-doer-depois não compensa. enfim, daqui a uns dias estou boa. mas foi estranho não estar grávida e ter contracções. uma espécie de contracções invertidas, intercostais.
evitem. a não ser que tenham algumas leituras para pôr em dia. o meu consolo. nem a propósito, tinha-me abastecido uns dias antes nas livrarias que por esta altura parece que vão afundar-se em livros e novidades. atirei-me aos tugas e a um alemão. O Senhor Walser do Gonçalo M. Tavares foi consumido numa noite, o Duende de António Franco Alexandre (Assírio & Alvim), em algumas horas. As Feiticeiras que estavam pousadas há algum tempo na mesa de cabeceira, voaram também. O Ultimo Coração do Sonho de Al Berto (Quasi) e O Aprendiz Secreto de António Ramos Rosa (Quasi) estão ali à espera, ando a intercalá-los com Sobre o Amor e a Morte de Patrick Süskind (Ed. Presença), um ensaio. Quando acabar atiro-me ao Possidónio Cachapa, autor de belos livros, que se devoram, e que agora lançou Rio da Glória (Oficina do Livro) e há um ano O Meu Querido Titanic (na mesma editora) mas eu desconhecia.

Diz o Süskind, "os poetas não escrevem sobre aquilo de que detêm conhecimento, mas sobre aquilo de que não possuem a última palavra; não o fazem porque não sabem mais, mas porque querem a todo o custo saber com muita precisão. É este conhecimento imperfeito, é este sentimento de profunda estranheza que os leva a pegar no cinzel, na pena ou na lira.(A cólera, o luto, a exaltação, o dinheiro, etc. são completamente secundários.) De outro modo não haveria poemas, romances, peças de teatro, etc., mas tão só comunicados."
As minhas leituras têm a mesma motivação. Mesmo que também aprecie comunicados___ quando se trata de nevralgias. Vi-me grega para perceber o que era, de onde vem, para onde vai.

Aos laboratórios Viatris e Almirall agradeço os momentos de sossego que os respectivos Metanor e Airtal me vão proporcionando, e a vocês desejo uma excelente semana pré Natal!

31.12.04

Se eu fosse um livro


The Clandestine Mind de John Dugdale


O Retrato Chinês resultou num conjunto muito variado de referências a livros. E os livros de eleição das nossas Divas são:
Autores mais referidos
  • de Milan Kundera, A Insustentável Beleza do Ser - para Abuláfia e Boabdil
  • de Somerset Maughan, Servidão Humana - para o Barão d'Holbster, e O Fio da Navalha para mfc
  • de Antoine de Saint-Exupéry, A Cidadela - para o Viajante, e o Princepezinho para a Shadow Dweller

E ainda

  • de Italo Calvino, As Cidades Invisíveis - Jorge
  • de Bernard Cornwell (era este?), Stonehenge - Cosmicmen
  • qualquer um de Mia Couto - Gotinha
  • de Hernest Hemingway, O Velho e o Mar - Japinho
  • qualquer um de Patrick Süskind - Coupon
  • de Friedrich Wilhelm Nietzsche, Assim Falava Zaratrusca - também o Boabdil
  • de Boris Vian, A Espuma dos Dias - Fernando

outros para todas as idades

  • de Lewis Caroll, Alice no País das Maravilhas - Didas
  • de ? O Livro dos Coelhinhos Suicidas - Pedro

e para todos os condutores

O que é que se pode dizer? Todos fizeram boas escolhas (o Pedro e a Louise também devem ter as suas razões!). E as Divas estão convidadas a exporem neste blogue os motivos por que, se fossem um livro, seriam estes aqui referidos. Talvez nos convençam a ler livros ou autores sempre adiados.

19.11.04

O Conceito

Se Hannah Arendt tiver razão e a liberdade depender da acção (action), os nossos entrevistados são homens livres.

Através da sua obra e do seu pensamento, eles empenham-se em transformar o nosso mundo. Enveredaram por caminhos arriscados ou pouco explorados, seguindo o princípio da fidelidade ao sonho. Ou a um sonho. Porque é possível.

Alguns são Divas e todos os reconhecemos. Outros são fantásticos Contrabaixos, instrumentos que as boas orquestras não dispensam mas em que nem sempre reparamos.

E, entre actos, fazem uma pausa. Para pensar, partilhar, conversar connosco.

Ou talvez estas entrevistas sejam outro acto. Porque este é um espaço público.


Completando esta introdução ao novo suplemento de entrevistas do Notícias de Aveiro, acrescento o pressuposto, implícito nas reflexões de Hannah Arendt e no meu propósito, de que este será um espaço público e PLURAL.

E então quem é esta Hannah Arendt? Nos próximos posts vou deixar alguns apontamentos mas não se esqueçam de lêr A Condição Humana, escrito por ela em 1958 (Ed. Relógio D' Agua).

Mas se preferirem livros menos densos (sendo que densidade não é igual a intensidade), leiam O Contrabaixo (1984) de Patrick Süskind (Ed. Difel). Deixo-vos um fragmento:

"Comer marisco ou sopa rica de peixe! Enquanto o homem que a adora fica numa sala à prova de som e não faz outra coisa senão pensar nela, com um instrumento disforme entre as mãos, do qual nem um, nem um único som é capaz de tirar, dos que ela canta! ...Sabem do que é que eu preciso? Preciso sempre de uma mulher que nunca hei-de ter. Enquanto eu não a tiver, não preciso de nenhuma outra." (pp 53-54)