Je le vis, je rougis, je pâlis à sa vue; Un trouble s'éleva dans mon âme éperdue; Mes yeux ne voyaient plus, je ne pouvais parler; Je sentis tout mon corps, et transir et brûler. in Racine, Phèdre (1677) (Phèdre quando encontra Hippolyte pela primeira vez)
«Mais de 27% das crianças portuguesas vivem em situação de carência económica. O retrato é traçado no relatório “Medir a Pobreza Infantil”, que é nesta terça-feira apresentado pela Unicef e que coloca Portugal em 25.º lugar numa lista de 29 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico. (...) Dados são de 2009 e ainda não incluem os efeitos da crise.»
A notícia sobre o "Casa Pia study" não aparece na front page do Publico on line. Não se lê ou vê o link para a notícia. Critérios editoriais não se discutem? - Não. Critérios sobre aprovação de mensagens? - Claro que sim!
O director do projecto nos EUA, Michael D. Martin Evens, CC Woods, JS Soares, HL Bernardo, M Leitäo, J. Simmonds, PL Liang, LDeRouen, T
Department of Oral Medicine, University of Washington, Seattle 98195, USA. «(...) não existe sociologia da ciência. Existem apenas inquéritos parcelares sobre a vida dos laboratórios e os costumes dos cientistas, concepções deterministas pueris que transformam a ciência em mero produto da sociedade ou, mesmo, em ideologia de classe. Uma sociologia da ciência deveria ser cientificamente mais forte do que a ciência que abarca e, no entanto, é cientificamente enferma em relação às outras ciências. Então, se não se sabe conceber cientificamente o cientista e a ciência, como pensar cientificamente a responsabilidade do cientista na sociedade?»
Durante oito anos, 500 crianças da Casa Pia foram submetidas, sem saberem, a experiências que “nunca tinham sido feitas sequer em animais”. No início do estudo, tinham entre oito e dez anos de idade. As crianças foram utilizadas como cobaias e os responsáveis da Casa Pia não podem alegar desconhecimento.
A palavra "mercúrio" alerta de imediato para eventuais riscos para a saúde. Não é necessário ser um especialista. Bastaria fazer uso de algum bom senso e, acima de tudo, querer bem e proteger.
Usar crianças sob protecção do estado para experiências médicas, explorando a sua situação de carência, é muito grave. E não podemos banalizar o mal. Tenho dificuldade em acreditar no que leio - não entra no meu universo de possibilidades! E depois, como aceitar o silêncio e impunidade que, sabemos, vão prevalecer?
A pior notícia dos últimos tempos, envolvendo o nosso país. Pergunto: quem assume a responsabilidade deste crime? por que razão não se ouviu ainda o actual Provedor da Casa Pia, nem o Provedor à data dos acontecimentos, 1996*? não se instaura um inquérito a nível nacional? não se pronuncia sobre este caso o Procurador Geral da República? indignam-se todos os comentadores profissionais com a alegada invasão da privacidade de Pinto Balsemão pelas "Secretas" e ninguém se indigna com a utilização de crianças como cobaias? que merda de país é este? que tipo de gente somos nós?
*Luís Rebelo era provedor da Casa Pia e autorizou a participação de 100 alunos internos. Os restantes foram autorizados pelos pais. Quando rebentou o escândalo de pedofilia, Rebelo saiu e a sucessora, Catalina Pestana, aceitou prosseguir o estudo. A Casa Pia não comentou a reportagem.
Uma série de fotografias da iraquiana Tamara Abdul Hadi (2009) para começar o dia com beleza e espírito de mudança! Fotografar homens árabes semi-nus para quebrar paradigmas. Sim! E nós, mulheres, decidimos quais as caudas (de pavão) mais belas (quem viu Laurie Anderson, sabe que sim, apesar de Darwin)!
Outro achado de hoje, na Feira de Velharias, foi uma 1ª ed. de SEQUÊNCIAS, de JORGE DE SENA (org. Mécia de Sena, Moraes Editores, 1978). Este exemplar tem a particularidade de ter sido oferecido por Nuno Bragança (1929-1985) a uma Magda "que cresce e faz crescer". O gato era a sua assinatura para os amigos.
Da primeira série de sequências, "Invenções «Au goût Du Jour»", «Breve História Sócio-Cultural da Nação, Incluindo Um Anglicismo»:
D. Tareja fundou (bastarda) João I defendeu (bastardo) João IV restaurou (bastarda a casa) Pedro IV e Miguel ainda lutam D. João VI chamava à mãe deles «a cabra» - como pode em grandeza alguém não ser suspeito de bastardo, ou como algum bastardo não supor-se grande?
Da série "Clássicos", «Ovação»:
Hoje é muito corrente quando as pessoas se entusiasmam com um artista ou um político. No tempo dos romanos era uma espécie reduzida de triunfo que se concedia quando não se decretava para o sujeito um triunfo inteiro.
Hoje fui à Feira de Velharias que se realiza no quarto domingo de cada mês, em Aveiro. Comprei algumas peças antigas mas o que venho aqui sugerir é novíssimo. Trata-se de uma coleção de livros de poesia de autores africanos, coordenada por Luandino Vieira e editada pela angolana NósSomos. Consegui os livros a preço de venda e vou deixar-vos as coordenadas do alfarrabista. Um dos responsáveis é um jovem que gosta do livro, enquanto objecto, e depois adora lê-los. As conversas não têm fim. Se andarem à procura de qualquer livro, de qualquer autor, ele vai ao armazém (em Lisboa), liga aos seus contactos, e é bem capaz de nos fazer uma surpresa na feira do mês seguinte. É possível encontrá-lo também em Coimbra na Feira de Velharias que, fiquei a saber, se realiza no 4º sábado de cada mês. Em Lisboa, estão neste momento a mudar de instalações.
Contacto: livros1870@yahoo.com
Os autores selecionados, até agora, por Luandino Vieira (ordem aleatória): J.A.S. Lopito Feijóo K., João Melo (de quem conhecia apenas os contos "Imitação de Sartre e Simone de Beauvoir", 1998, e que me surpreendeu porque rompe com as temáticas e ambientes que associava à literatura angolana pós-colonialista), Nok Nogueira, José Luís Mendonça (2 livros), Agostinho Neto, João Maimona, Arnaldo Santos, Zetho Cunha Gonçalves e António Jacinto.
Ainda a pensar na poesia-denúncia de Laurie Anderson no espectáculo que vi no TA: Another Day in America, "histórias de Laurie Anderson sobre a vida na América contemporânea".
Uma (micro)história: Desesperadamente à procura de inimigos que nunca mais chegavam, os EUA tornaram-se o seu próprio inimigo. Já não há um país, há um campo de batalha. Os campos de batalha têm leis próprias. A lei mais importante foi aprovada no final de 2011 pelo senado: é permitida a prisão por tempo indefinido.
Outra (micro)história: As pessoas podem viver em casas que têm pianos brancos e cães que tocam piano. As pessoas podem não ter nada. Os que nada têm, normalmente já tiveram: uma casa sem pianos brancos e um trabalho.mas perderam tudo. Quando isso acontece, saiem das cidades e vão viver para florestas. Laurie tinha ouvido falar dessas pessoas e um dia decidiu visitá-las. Perto de Nova Iorque, mais precisamente em New Jersey. Chegou e disse Olá mas ninguém respondia. Enfim, acabou por aparecer uma mulher, uma assistente social que vivia naquele campo há cinco anos. Chorava muito. Laurie viu centenas de famílias que viviam em tendas na floresta.como há muitos anos atrás, antes de haver cidades.
Antes destas histórias, Laurie quis saber por que razão o nosso planeta se chama Terra. Não é um nome particularmente bonito. Sugeriu outros nomes. Um deles pareceu-me perfeito: planeta Lama.
Fôssemos merecidos de água, de chão, de rãs, de árvores, de brisas e de graças! Nossas palavras não tinham lugar marcado. A gente andava atoamente em nossas origens. Só as pedras sabiam o formato do silên...cio. A gente não queria significar, mas só cantar. A gente só queria demais era mudar as feições da natureza. Tipo assim: Hoje eu vi um lagarto lamber as pernas da manhã. Ou tipo assim: Nós vimos uma formiga frondosa ajoelhada na pedra. Aliás, depois de grandes a gente viu que o cu de uma formiga é mais importante para a humanidade do que a Bomba Atômica.
O espetáculo tem como mote Another Day in America, "histórias de Laurie Anderson sobre a vida na América contemporânea". O concerto reunirá violino elétrico, teclas e eletrónica. "Peças de violino a solo tais como Flow from Homeland serão misturadas com sonoridades eletrónicas, de forma a introduzir uma visão íntima no estilo da escrita de canções".
Oh yes!
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«O mais difícil é começar. Em tudo, o mais difícil é começar. É por isso que os gagos só gaguejam no início das palavras. Eles ga-ga-ga-gaguejam.
É difícil começar. Temos sempre medo. Temos sempre medo de começar. Ninguém gagueja no fim. Ninguém gagueja-ja-ja-ja.
Porque ninguém tem medo no fim. No fim, o medo não tem sentido. No fim, às vezes, existe outra coisa. Arrependimento.»
___Disse a Laurie Anderson. No pri-pri-pri-primeiro festival de música do Castelo, em Montemor-o-Velho (2006). Ama-ma-manhã, quer di-dizer, hoje, vou vê-vê-la de novo. Vai ser bom (dito muito rapidamente. e sem arrependimento).
(...) Irene Ah! Whither should we fly, or fly from whom? The Lord is
still the same, today, for ever, And his protection here, and
everywhere. Though gath'ring round our destin'd heads The storm now
thickens, and looks big with fate, Still shall thy servants wait on Thee, O
Lord, And in thy saving mercy put their trust.
18. Air
Irene As with rosy steps the morn, Advancing,
drives the shades of night, So from virtuous toil well-borne, Raise Thou
our hopes of endless light. Triumphant saviour, Lord of day, Thou art the
life, the light, the way! As with rosy steps. . .
Uma pequena introdução ao par conceptual Próspero e Caliban que, há quase um século, é utilizado simbolicamente na literatura.
Este par é inspirado na peça "Une Tempête" (1969) de Aimé Césaire em que, apropriando-se o escritor e ideólogo da negritude, das personagens de Shakespeare na peça homónima "The Tempest" (1670-71), faz Próspero encarnar o colonizador europeu e simboliza em Caliban o povo colonizado e oprimido.
Ao longo do tempo, as personagens de Shakespeare foram sujeitas a variadas apropriações mas este par (e, por vezes, Ariel) entram na problemática da colonização, assumindo este sentido por volta dos anos 50, em países que estavam sob dominação colonial. Octave Mannoni ("La psychologie de la colonization", 1949, traduzido para o inglês, em 1956, com o título "Prospero and Caliban"), George Lamming ("The pleasures of exile", 1960), Roberto Férnandez Retamar ("Notes torwards a Discussion of Culture in our America", 1971), Augusto Boal ("A Tempestade", 1979), contribuem fortemente para a criação desta relação metafórica Prospero/Caliban. Aimé Césaire, ele próprio um símbolo da resistência anti-colonial, será apenas o escritor que deu maior projeção ao par.
Próspero e Caliban continuam a andar por aí, numa livraria perto de si!
Para minha surpresa e gáudio, a semana passada encontrei "Próspero Morreu - Poema em Acto" (2011), de Ana Luísa Amaral, numa livraria perto de mim...
* Boaventura de Sousa Santos (2002). «Entre Prospero e Caliban: Colonialismo, pós-colonialismo e inter-identidade» in Maria Irene António Sousa Ribeiro Ramalho (org.). Entre ser e estar. Porto: Afrontamento.
Duas histórias que se cruzam em Angola: a de Dulce Fernandes, uma portuguesa nascida em vésperas da independência, e a dos milhares de cubanos que combateram na Guerra do Ultramar. Contado na primeira pessoa, um documentário que, tendo como pano de fundo a ilha de Cuba dos dias de hoje, nos leva à descoberta das histórias de alguns dos que viveram em Angola durante os anos 1950/60. Estreia na realização da fotojornalista Dulce Fernandes, "Cartas de Angola" teve a sua estreia em 2011, no DocLisboa.
Antes de continuar, ainda com Aimé Césaire, deixo a sugestão de uma obra que reune diversos artigos centrados em 3 grandes temas: literatura de viagens, multiculturalismo e pós-colonialismo. O título da obra: "The paths of multiculturalism : travel writings and postcolonialism : precedings for the Mossel Bay Workshop of the XVIth Congress of the International Comparative Literature Association" (Lisbon : Cosmos, 2000). Os autores são especialistas de diferentes países de cada continente. Devo dizer que a leitura foi bastante estimulante, permitindo estabelecer pontes entre diferentes conceitos__ e diferentes escritores.... Deixo como exemplo um fragmento do artigo de Peter Merrington, «A staggered orientalism: the Cape-to-Cairo idea»:
"For Hegel, Africa had no history. (...) He makes an exception, however, for two sites on the Mediterranean seabord of Africa - Phoenician Carthage, and Egypt. (...) Numerous authors writing of the Cape in the decades of the «new imperialism», roughly from 1870 to the 1920s, imitated this Hegelian structure, in historical speculation, in travel writing, and in fiction.» [p. 105]
Bem, há um autor português que cabe inteiramente nesta afirmação. Pensem em Eça de Queirós (De Port Said a Suez, 1869; A Relíquia ,1887; O Egipto
,1926, póstumo).
A obra que referi teve como coordenadores Maria Alzira Seixo, Graça Abreu, Linda Labuschagne e John Noyes.
A Negritude transforma-se num movimento literário, afro-franco-caribenho (a partir do início da década de 1930) baseado na concepção de que há um vínculo cultural compartilhado por africanos negros e seus descendentes onde quer que eles estejam no mundo. O termo "negritude" apareceu provavelmente pela primeira vez no poema de Aimé Césaire, «Cahier d'un retour au pays natal» (1939).
Aqui, link para prefácio da edição de 1947 de "Cahier d'un retour au pays natal", escrito por André Bréton.
Depois de tanto degustar, ocorreu-me sugerir algumas leituras. São vários os autores. Começo por FRANTZ FANON (1925-1961), psiquiatra, militante pela independência da Algéria no FLN, nascido na Martinica e autor de uma obra histórica no que diz respeito à resistência anti-colonialista:
Pele Negra, Máscaras Brancas (1952)
L'An V de la révolution algérienne (1959)
Os Condenados da Terra (1961)
Pela Revolução Africana (1964)
Tenho nas mãos "Les damnés de la terre" (prefaciado por Jean-Paul Sartre). Fanon centra-se na psicopatologia da colonização [na origem: «le monde colonial est un monde compartimenté (...) est un monde coupé un deux, habité par des espèces différentes.»] e na questão das identidades nacionais [«la culture nationale est, sous la domination coloniale (...) condamné à la clandestinité»]. No início dos anos 60, a literatura de combate, associada ao conceito de negritude seria a única válida para formar consciências.
Canção dedicadíssima ao ainda ministro Miguel Relvas (temos que ir por partes):
«These boots are made for walking, and that's just what they'll do one of these days these boots are gonna walk all over you
You keep lying, when you ought...a be truthin' and you keep losin' when you oughta not bet. You keep samin' when you oughta be a changin'. Now what's right is right, but you ain't been right yet.
These boots are made for walking, and that's just what they'll do one of these days these boots are gonna walk all over you.
You keep playin' where you shouldn't be a playin and you keep thinkin' that you'll never get burnt. Ha! I just found me a brand new box of matches yeah and what he knows you ain't HAD time to learn.
These boots are made for walking, and that's just what they'll do one of these days these boots are gonna walk all over you.
Are you ready boots? Start walkin'!»
Nancy Sinatra - These Boots Are Made For Walking (1966)
Num telefonema à editora de política do jornal, na quarta-feira, Miguel Relvas ameaçou fazer um blackout noticioso do Governo contra o jornal e divulgar detalhes da vida privada da jornalista Maria José Oliveira, de quem tinha recebido nesses dias um conjunto de perguntas relativas a contradições nas declarações que prestara, no dia anterior, na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias.
(O ministro pediu desculpas ao jornal e está tudo bem! ____ Este país que é o meu ___ envergonha-me.
Depois da versão cinematográfica de Jangada de Pedra, feita em 2002, da animação espanhola A Maior Flor do Mundo, baseada num conto de Saramago para crianças, em 2007, de Ensaio Sobre a Cegueira, em 2008, e finalmente Embargo, em 2010, chegou a vez de levar para as telas O Homem Duplicado, um thriller sobre a extinção da identidade numa sociedade que adora padrões.
O protagonista é Tertuliano Máximo Afonso, um professor de história que está à beira da depressão. Vive um quotidiano entediante, até que decide assistir a um filme para combater o desânimo. O filme não tem nada de especial, mas Tertuliano fica completamente envolvido pelo enredo após identificar um dos actores como um sósia seu – na verdade, um sósia de Tertuliano no passado recente. Obcecado pelo que acredita ser o seu duplo, passa a perseguir o actor, numa sequência encadeada por eventos bizarros.
Será Jake Gyllenhaal quem irá interpretar Tertuliano. Pelo título escolhido, An Enemy, a produção deve evidenciar a perseguição e o suspense propostos por Saramago. Gyllenhaal, que tem alternado papéis em blockbusters como Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo e filmes mais sensíveis (mas não menos populares) como O Segredo de Brokeback Mountain, poderá ser uma boa escolha.
O director canadiano Denis Villeneuve, por sua vez, dirigiu Incendies - A Mulher que Canta(2011), nomeado para o Oscar de melhor filme em língua estrangeira. An Enemy começa a ser filmado em 2013.
Last but not least, vem por aí a adaptação de O Evangelho Segundo Jesus Cristo, uma das obras mais conhecidas de Saramago. À frente da tarefa, está o realizador de José e Pilar, Miguel Gonçalves Mendes. José Saramago espraia-se no site cinematográfico de referência, imdb.
O Ritz Club reabriu e lembrei-me, entre muitas coisas (ou muitas noites de dança africana), de ter lá visto a adaptação de O Baile pela companhia A Barraca. Encontrei a imagem do cartaz com a ficha técnica da peça via Museu do Teatro: «Peça que teve a sua estreia a 11 de Fevereiro de 1988 (...) no Ritz Club e reposição a 15 de Maio de 1990». O filme é fantástico e essa peça, inspirada na ideia de J. C. Penchenat e no filme de Ettore Scola, foi um estrondo. O cenário era o ideal!
Eivør Pálsdóttir é originária das Faroe Islands, um arquipélago situado no mar da Noruega, muito próximo da Islândia, mas que pertence ao reino da Dinamarca! A mais recente descoberta!
No dia do início do julgamento do antigo chefe militar dos sérvios da Bósnia, Ratko Mladic, acusado do massacre de Srebrenica, em Julho de 1995, recordar e celebrar a Bósnia e Herzegovina!
Avistar a Stari Most (ponte velha), aproximando-nos a pé do centro de Mostar (viajamos num autocarro, carreira normal, a partir de Sarajevo). A Stari Most foi construída em 1566 e era considerada património da Humanidade. Foi completamente destruída no período de guerra (e em 2008 restaurada).
El miedo y la ira de August Strindberg acabaron el 15 de mayo de 1912, hace ahora un siglo. Ese día, un cáncer de estómago ponía fin a la vida de un escritor que, pese a los tortuosos fuegos cruzados de su carácter, construyó una obra que le convierte no solo en un titán de la literatura nórdica sino en uno de los padres indiscutibles del teatro moderno. Temeroso de todo, y pese a no creer nunca en nada, pidió que le enterraran con una Biblia sobre el pecho. “Salve cruz, única esperanza”, fueron sus últimas palabras. Tenía 62 años y vivía recluido en su casa, sin apenas recibir visitas, acechado por la esquizofrenia que marcó no solo su vida sino también su obra.
La suya era una personalidad quebradiza y enferma, la hipersensibilidad flageló su niñez y juventud, y su vida adulta fue la de un hombre de temperamento tan vehemente como inseguro.
En Genio artístico y locura (Acantilado), Karl Jaspers estudia el caso apoyado en sus propios textos. En Inferno, Strindberg tampoco escatimó detalles. La enajenación no le impidió construir una obra prolífica y dispar: pintor, fotógrafo, dramaturgo Ingmar Bergman, que llevó a escena sus obras hasta 30 veces, dijo que leerle le gustaba tanto como escuchar música. Su sueco, afirmaba el director de Persona, es incomparable. También lo eran su rabia —“y yo la entendía”, confesó el cineasta—. Es difícil no ver la conexión entre estos dos tótems de la cultura sueca. La frase más célebre de Bergman sobre Strindberg ilustra libros y hasta la web de la fundación del cineasta: “Me ha acompañado toda la vida: lo he amado, lo he odiado y he lanzado sus libros contra la pared. Lo único que no he podido hacer nunca es deshacerme de él”.
“Sencillamente, es el mejor escritor sueco de la historia”, afirma Jesús Pardo de Santayana, traductor al español de todo su teatro contemporáneo y de su demoledora novela de juventud El salón rojo (Acantilado). “Aprendí su lengua solo para leerle. Internacionalizó el sueco, que antes de él solo era un idioma pintoresco de un país escandinavo, con una literatura mona y poca cosa más. Pero Strindberg lo cambió todo. Puso a Suecia en el mapa de la cultura europea. Nosotros no tenemos esa experiencia porque Cervantes no creó el castellano, ya existía antes que él. Pero la literatura sueca cobró el empaque de gran literatura de su mano”. Pardo recuerda que, paradójicamente, el gran hombre de las letras suecas jamás obtuvo el Premio Nobel: “Vivía rodeado de gente con la que había reñido. Era superior a todos los demás, y lo sabían, pero fue una figura muy incómoda. Vivía en contraposición a los demás pero sobre todo a sí mismo”.
El duelo entre si es Casa de muñecas, de Henrik Ibsen, o La señorita Julia, de Strindberg, la obra que marca el inicio del teatro europeo moderno se decanta para muchos a favor del sueco y esa trágica y absurda historia sobre un terrible malentendido entre una mujer y su criado. “Strindberg era un misógino que no podía vivir sin mujeres y eso marca toda su obra”, afirma el traductor.
Lo cierto es que, frente al feminismo de Ibsen, Strindberg desarrolló una feroz animadversión a la feminidad, de la que, a sus ojos, el hombre era siempre víctima. Casado tres veces, en sus obras, la mujer aniquila al hombre. El 29 de septiembre de 1888 envió a su editor otra de sus piezas más conocidas, Los acreedores. En una nota decía: “Le envío esta obra más sutil que La señorita Julia, en la que la nueva fórmula está realizada de una manera más estricta. La acción es penetrante, como puede serlo un asesinato psíquico; nada ha sido desdeñado en el carácter de las conductas”.
Estas sombras de Strindberg han ocultado para el gran público sus luces. “Era misógino, sí, y muy complejo, pero su obra también está llena de otro Strindberg mucho más amable, chispeante y divertido”, explica Diego Moreno, cuya editorial, Nórdica, arrancó el año con una edición facsimilar de los cuentos del autor y lo cerrará con un libro sobre su pintura acompañada de fragmentos de su Diario oculto.
Foi no Teatro da Cornucópia. Sentaram-me num sofá, deram-me uma manta, apagaram as luzes da sala e iluminaram o palco. O Pai estava em cena. Deveria ter uns 20 anos. No centenário da morte de Strindgerg, há algum programa que evoque o grande dramaturgo? Passado outro quarto de século, quantos poderão, como eu, hoje, recordar uma ida ao teatro e a descoberta de Strindberg? Não há dinheiro ou andamos a deixar cair, sem pena, a memória do futuro?
«O Prémio Pessoa é uma iniciativa conjunta do jornal "Expresso" e da empresa "Unysis", cuja primeira edição data de 1987. É um galardão concedido anualmente à pessoa de nacionalidade portuguesa que se distinga como protagonista de uma intervenção particularmente relevante e inovadora na vida literária, artística ou científica do país.
Reconhecido como o mais importante prémio atribuído em Portugal na área da cultura, o Prémio Pessoa inspira-se no nome do poeta português Fernando Pessoa e não pode ser concedido a título póstumo.
O Professor José Mattoso foi o vencedor da primeira edição, em 1987, e entre os galardoados estão ainda os nomes da pintora Menez (1988), do poeta António Ramos Rosa (1989), da pianista Maria João Pires (1990), do arqueólogo Cláudio Torres (1991), do casal de investigadores Hannah e António Damásio (1992), do Professor Fernando Gil (1993), do poeta Herberto Helder (1994), do escritor Vasco Graça Moura (1995), do Professor João Lobo Antunes (1996), do escritor José Cardoso Pires (1997), do arquiteto Eduardo Souto de Moura (1998), do poeta Manuel Alegre e do fotógrafo José Manuel Rodrigues (1999), do compositor Emmanuel Nunes (2000), do crítico e historiador de cinema João Bénard da Costa (2001), do Professor de Anatomia Patológica Sobrinho Simões (2002), do jurista e Professor Gomes Canotilho (2003). Foram ainda premiados: Mário Cláudio (2004), Luís Miguel Cintra (2005), António Câmara (2006), Irene Flunser Pimentel (2007), João Luís Carrilho da Graça (2008), D. Manuel Clemente (2009) e Maria do Carmo Fonseca (2010).
Por ocasião da entrega do Prémio Fernando Pessoa a Eduardo Lourenço, a SIC organizou três mesas redondas com alguns destes premiados. Neste vídeo, só temos uma pequena amostra do que será uma emissão televisiva a não perder. De tempos a tempos, gosto da televisão portuguesa!
Maria Manuel Baptista é Doutorada em Cultura, pela Universidade de Aveiro, com a dissertação «A Paixão de Compreender: A Filosofia da Cultura em Eduardo Lourenço» (2002). Publicou uma vasta bibliografia sobre Eduardo Lourenço.
Este fragmento foi retirado da sua intervenção no Congresso Internacional Eduardo Lourenço (Outubro 2008).
"A reflexão de Eduardo Lourenço sobre a importância da arte, do artista, do imaginário e da criação na compreensão da realidade inicia-se já na década de 40 começando por lançar mão de Kant e Leibniz passando por Hegel e Croce. Note-se, porém que, aquilo que Lourenço partilha nesta fase da sua obra com a estética
romântica (e também com a estética kantiana) não vai muito além de uma forma mitigada de conceber o ‘génio’, pois que toda a sua atenção está predominantemente voltada para a fenomenologia e a correlativa temática da existência nas suas relações com as essências.
Não é surpreendente, pois, que nos seus escritos desta época (finais dos anos 40 einícios dos anos 50) as concepções lourenceanas relativas à fruição estética e à crítica literária se aproximem bem mais de Bachelard do que de Kant. Diríamos mesmo que Lourenço, sobretudo através de Antero de Quental (mas também de Oliveira Martins) participa nesta fase de uma estética romântica, a qual racional e teoricamente, procura de algum modo ultrapassar, recorrendo o quanto possível aos instrumentos teóricos e conceptuais fornecidos pela fenomenologia do acto poético.
Nesta altura começa já Lourenço a relacionar a imaginação poética com a criação de mitos, considerando que «os poetas inventaram sempre os mitos de que precisávamos e aos quais recorremos se não temos génio para os ampliar ou inventar outros»."
Este filme é bem mais do que uma aposta na fórmula "comédia+elenco de actores consagrados". É verdade que a proposta de uma viagem pela Índia, acompanhada de uma boa dose de humor servida por bons actores, não é de negligenciar. Mas o filme é melhor do que isso. O argumento é inteligente. Centrado nas vivências de um grupo já na terceira idade, pertencente a uma abrangente classe média (da ex-empregada doméstica/governante ao juiz aposentado), retrata as dificuldades financeiras, familiares, as contingências de saúde e de perda comuns nesta idade, sem cair num tom nostálgico ou patético. Tendo em conta o género, poderia avançar na comédia recorrendo a promessas de elixires de longa vida ou outras panaceias. Não o faz. O filme é divertido e sóbrio. Todas as personagens são tratadas com a dignidade que merecem. De resto, se há uma lição, é essa: a de não retirar à terceira idade o sonho e o direito à independência, ao romance, a uma vida sexual activa, à realização pessoal. Já todos temos essa consciência? Não será por insensibilidade ou maldade (mesmo se isso também existe), mas as associações mais ou menos estereotipadas sobre cada fase da vida, afastam as diferentes gerações. Este filme leva-nos ao encontro dos outros pelo que são e não pelos anos que já contam. E o deus dos novos tempos já viu que isso era bom.
Uma última nota para a imagem que a nova (velha) Albion projecta do país que já pertenceu ao Grande Império: pareceu-me que não evoluiu muito desde os anos 80 com David Lean e a sua "Passagem para a Índia", mesmo se não se aborda a resistência à dominação inglesa ou a consciência nacionalista indiana. Os ingleses são ridicularizados quando apresentam comportamentos racistas mas todos são condescendentes. Recusam o “ser colonizador”, certamente, mas são rapidamente admitidos como "consultores" (Evelyn Greensladee/Judy Dench) e, no fim, salvam o sonho do protagonista indiano, gerindo sabiamente o Hotel. A personagem indiana central é Sonny Kapoor (Dev Patel), cujo perfil ambivalente se enquadra facilmente no estereótipo do colonizado. É impulsivo mas também digno, subserviente; é o gestor, aprecia a modernidade, e ao mesmo tempo é místico - é ele quem profere o lema do filme: "everything will be alright in the end; if it's not alright, then it's not the end"; mas, mais que doce e bondoso, que é o que são todas as personagens indianas, ele é infantil. Na literatura e cinema, a infantilização do povo que é/foi colonizado é recorrente. Além de que a motivação do grupo pela Índia é basicamente económica. O interesse é intelectual na medida em que buscam "o exótico". Valha-nos o médico eficiente que opera a anca de Muriel (Maggie Smith)! Em 2011, Prospero não consegue deixar de ser Prospero.
Uma peça musical pode conter a (precária)raridade que somos. Consistência e fragilidade. Queremos pôr a mão no ombro do homem que compõe e executa. A peça compele à aproximação. Se ele é já uma ausência. Descobrimo-nos incapazes ou absurdos. Tememos.
I. Explicar às minhas filhas quem é a Teresa Salgueiro. Se é fadista? - não. É tipo a vocalista dos Deolinda? - não. Canta o quê? - Música portuguesa. (Vá, definam o estilo dos Madredeus a duas miúdas de 12 anos, não esquecendo de as motivar para o espectáculo que vão ver a seguir. Ah, elas gostam da Adele, mas também da Rhianna!). Ela canta MUITO bem, fez parte dos Madredeus - podem ouvir todos os CDs - e esse grupo teve imenso sucesso em todo o mundo, até no Japão! No Japão? - sim. E depois de vários anos a trabalhar juntos, decidiram separar-se. Desde há algum tempo, a Teresa Salgueiro tem projectos a solo. Desconfiadas, foram ver o espectáculo. Primeira impressão: a sala está cheia de pessoas mais velhas, mesmo mais velhas do que eu! É um facto! E não percebo, juro que não percebo. Então agora os fãs dos Madredeus esqueceram ou rejeitam a vocalista! As músicas afinal eram tristes ou chatas, arrastavam-se qual filme de Manoel de Oliveira! Não percebo. A sala está cheia mas não há malta de 20/30 anos e a minha faixa etária também está mal representada. As miúdas têm razão: é só cabelos brancos!
Começa o espectáculo, ouve-se a primeira canção do novo álbum, "O Mistério". E só vos digo: a Teresa Salgueiro e a sua banda exige muito respeitinho. As minhas filhas perceberam o que é cantar irrepreensivelmente bem. Elas sabem, a voz que vem da garganta, o fôlego imenso, e parecer tão simples. E a presença em palco. Sempre contida, é certo. Mas a classe, senhores, a classe. Finalmente (mas não menos importante nestas idades), ela é bonita.
II. Agora eu. Não sei porquê, mas entro no Teatro e penso no Bernardo Sassetti. Vi-o tocar naquela sala. Mas não é isso. É ele todo, o músico e o homem. É a minha geração. Espero que a Teresa Salgueiro lhe dedique uma canção. Espero. Não sei porquê, parece-me bem. Ela não me fez a vontade, apesar de ter falado bastante sobre O Mistério. Há lá maior mistério que a morte! A verdade é que as canções são muito bonitas e a qualidade musical da banda, dos arranjos, a perfomance, é notável. Comovo-me às vezes. Continuo a pensar no Sassetti, enquanto sussuro beijos e pequenas atenções no ouvido das filhas. "Já viram que o contrabaixo está cortado?", "Ela parece uma odalisca, quando abre os braços e ondula as ancas!",....
As filhas vão-se enroscando à medida que as canções se sucedem. Mas não há canções de embalar. O ritmo é forte, o timbre poderoso, o silêncio desperta, há variações que nos fazem querer rodar na cadeira. Há espanto. Estava a ouvi-la e a vê-la e dei comigo a pensar nas minhas divas da América Latina, a postura séria, a voz que encarna uma causa. Teresa Salgueiro defende o conceito do mistério da vida, dos mistérios, fonte da nossa fragilidade e da nossa força. E a necessidade de manter a integridade do ser. Os cabelos compridos da Mercedes Sosa, da Lilla Downs. Um misticismo que-não-é-assim-tão discreto. Mas também ouço e vejo as minhas divas africanas e árabes, Magida El Roumi, Natasha Atlas, Fairouz, Om Lalthoumem. São algumas variações, a tónica musical, a contenção, os temas: a ausência do amado (ela poderia dizer habibi, em vez de meu amado, meu amor), os quatro elementos (a luz da manhã, a terra seca, o firmamento, oásis..., palavras que fixo). Há uma fusão de influências. O acordeão (Carisa Marcelino), a bateria e percussão (Rui Lobato), o contrabaixo (Óscar Daniel Torres) e a guitarra (André Filipe Santos) levam-nos numa viagem. Ouvimos tangos, ritmos tribais, danças do véu, trovas de ventos que passam e vão ficando, fados, toques jazzy, eu sei lá! Mas respiramos bem porque é tudo confusamente simples e harmonioso.
A alegria. Falta falar da alegria que vai crescendo. Eu acho que poderia ser maior ainda se os poemas tivessem sido renovados. Na obra da Teresa Salgueiro, ou neste álbum, isso não aconteceu. Comprei o CD e confirmo a impressão de que a escrita deve ter sido colectiva (como foi colectiva a composição musical). Os poemas não têm autor designado. A artista evoluiu, musicalmente surpreende. Mas as palavras, mesmo que inseridas noutras frases, são as mesmas. «Nas ondas do mar/na luz serena da chuva/eu sei. Aguardo as palavras/suspensas no silêncio/e vou». É belo mas é Madredeus e, naquela mesma voz, o verso belo parece gasto. Foi assim comigo.
De resto, só queria que ela tivesse feito uma pausa no seu imenso profissionalismo, no seu esquema impecável, e dissesse Bernardo Sassetti, o músico velado àquela mesma hora. É a nossa geração, Teresa Salgueiro.
É simplesmente um dos livros mais belos que li. O Primeiro Homem foi a obra que preocupou Albert Camus durante os últimos 7 a 8 anos da sua vida. O seu manuscrito foi encontrado dentro de uma sacola no dia 4 de Janeiro de 1960, o dia em que morreu, vítima de um acidente de automóvel. Por ironia do destino, nas notas que escreve sobre este romance, Camus afirma que «O livro deve ser inacabado».
Em 1963, Susan Sontag escreveu: «Kafka suscita piedade e terror, Joyce admiração, Proust e Gide respeito, mas nenhum escritor moderno que me lembre, salvo Camus, suscita amor. A morte dele em 1960 foi sentida como uma perda pessoal por todo o mundo literário» . Ler O Primeiro Homem é pois, também, um exercício de resistência ao afecto que Camus e os seus sujeitos nos inspiram.
Na vida de Jacques, ou do petit Camus - uma vez que os próprios escritos do escritor nos levam a crer que projecta nesta personagem as vivências da sua infância -, não havia lugar para os livros. A criança do bairro pobre de Belcourt, em Argel, descobre os segredos do mundo através do contacto com as pessoas e as coisas reais, e não através das palavras.
Hiroshi Mino, que publica o seu ensaio sobre o silêncio na obra de Albert Camus em 1987, ou seja, antes da publicação de Le Premier Homme (que acontece em 1994, 34 anos após a sua morte), afirma que «Si Camus avait laissé un récit de son enfance, il aurait pu l' intituler "Le Silence"». Este silêncio é, antes de mais, o silêncio da mãe, e depois o silêncio da natureza. O primeiro está na origem da sua história pessoal; o segundo, revela-o a sua obra, está na origem da história humana. Ambos os silêncios, que têm um carácter quase primitivo, não emergem da interrupção da palavra; na verdade, existem, escutam-se, antes que a palavra nasça. Jacques começa por descobrir um mundo simples, bruto, imediato, profundo, mas muito distinto do mundo abstracto das palavras.
O silêncio que envolve a infância do protagonista, Jacques, e de Albert Camus, não foge à regra de todos os silêncios, comporta ambiguidade. O silêncio em O Primeiro Homem provoca euforia mas também, e sobretudo, amargura, pelo muro que levanta entre Jacques e a pessoa que mais ama (a mãe), pelas barreiras que impõe ao conhecimento do seu passado, das suas origens (o pai, a história da imigração e colonização argelina). O silêncio da mãe, em particular, é também o silêncio de quem não ousa a revolta contra o absurdo do mundo real. Quanto ao escritor, cabe-lhe fixar o silêncio em escrita, para que ele não se perca com a morte daquele que o mantém cativo no fundo do coração.
É para dar uma voz ao silêncio que Jacques, ou Camus, aos quarenta anos, face ao túmulo do pai, decide escrever esta obra. Em O primeiro Homem, a sua última obra inacabada, ou desde o primeiro livro que escreveu (L'Envers et L'endroit), a escrita nasce no momento em que o silêncio ameaça eternizar-se.
«Quero escrever aqui a história de um casal unido pelo mesmo sangue e todas as diferenças. Ela semelhante ao que a terra proporciona de melhor e ele tranquilamente monstruoso. Ele lançado em todas as loucuras da nossa história; ela a atravessar a mesma história como se fosse a de todos os tempos. Ela silenciosa a maior parte do tempo e dispondo de escassas palavras para se exprimir; ele falando sem parar e incapaz de encontrar através de milhares de palavras o que ela poderia dizer por meio de um único dos seus silêncios... A mãe e o filho.» (p. 286)
in Albert Camus, O Primeiro Homem,
Edições Livros do Brasil, Lisboa, 1994
[Este post reune fragmentos de textos elaborados por mim para um trabalho no âmbito do mestrado de Línguas e Culturas/UA, centrado precisamente na análise do silêncio na literatura]
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Tudo é belo neste livro. Li-o muitas vezes, está cheio de notas e sublinhados, emprestei-o a um amigo que se queixou de se distrair com tanta anotação. O filme é uma boa notícia mas não sei se conseguirei vê-lo. Gosto da Alger que imaginei, do "meu" jovem Jacques/petit Camus e da sua silenciosa mãe, do "meu" céu sobre a campa do pai onde terá a grande revelação que levará à escrita-ação contra o absurdo, contra o esquecimento da História... O meu tão pessoal e inventado universo camuseano conforta-me.
Enfim, é claro que não vou resistir, lá verei o filme assim que tiver essa oportunidade_____ apavorada com os danos que poderá causar ao meu imaginário. :)
EL PAÍS saca a la luz la misiva dirigida desde Granada a su novio, Juan Ramírez de Lucas. Querían viajar a México pero el asesinato del poeta lo impidió.
“En tu carta hay cosas que no debes, que no puedes pensar. Tú vales mucho y tienes que tener tu recompensa. Piensa en lo que puedas hacer y comunícamelo enseguida para ayudarte en lo que sea, pero obra con gran cautela. Estoy muy preocupado pero como te conozco sé que vencerás todas las dificultades porque te sobra energía, gracia y alegría, como decimos los flamencos, para parar un tren”. Sobre la cuartilla blanca, fechada el 18 de julio de 1936 en Granada, Federico García Lorca trataba de consolar a su enamorado Juan Ramírez de Lucas.
La pareja se encontraba llena de ilusiones y de proyectos. Lorca había decidido aceptar la invitación de Margarita Xirgu para viajar a México pero quería marcharse con el estudiante de 19 años, que soñaba con ser actor y que ya había hecho sus primeros pinitos en el Club Teatral Anfistora. La complicidad era mutua pero necesitaban la aprobación del padre del muchacho, un reputado médico albaceteño. El poeta había cumplido 38 años pero a su amante le faltaban dos para alcanzar la mayoría de edad. Podrían haberse fugado. Seguramente Lorca tenía los contactos necesarios para que pudieran salir de España con papeles falsificados pero se negó a hacerlo. Ramírez de Lucas debía convencer a su familia para marcharse juntos pero las cosas no estaban saliendo bien: “Yo pienso mucho en ti y esto lo sabes tú sin necesidad de decírtelo pero con silencio y entre líneas tú debes leer todo el cariño que te tengo y toda la ternura que almacena mi corazón”, prosigue el poeta.
Los tres folios, escritos a mano, con palabras subrayadas y alguna tachadura, llegaron a su destino cuatro días después, antes de que se cortaran las comunicaciones entre la zona republicana y la nacional. Ese mismo día se conocía el alzamiento franquista, la sublevación militar no tardaría en convertirse en guerra civil y empezaba el reinado del horror.
Juan Ramírez de Lucas
El valor documental de estos folios, junto con el poema, los dibujos y los cuadernos, en los que Ramírez de Lucas cuenta sus recuerdos sobre la relación de ambos, deberá ser determinado por los historiadores pero para eso hace falta que los herederos den el visto bueno a la publicación. Hermanos y sobrinos se debaten sobre qué hacer con los documentos, que ya han merecido el interés de un gran sello editorial. Para los partidarios de sacarlos a la luz se trata de una cuestión de tiempo pero otro sector de la familia se niega a utilizar el histórico material. La trascendencia de los documentos podría ser de enorme importancia, puesto que aportarían nuevos datos sobre los últimos días del poeta.
La resonancia internacional de lo publicado estos días por EL PAÍS, con una reproducción de un poema de amor inédito de Lorca dedicado a su novio, ha sido enorme, como casi todo lo que se relaciona con el poeta español más traducido de todos los tiempos. Desde Nueva York, Laura García Lorca ultima los detalles técnicos de una exposición sobre el poeta que se realizará en la Biblioteca Municipal, cuanta cómo ha sido requerida por algunos de los periódicos más prestigiosos para hablar del tema. Y lo mismo Ian Gibson. Ayer mismo, desde un tren camino de Córdoba, el biógrafo más conocido de Lorca destacaba la importancia de que afloren nuevos documentos y de que se remuevan las vías de investigación sobre el escritor. En su opinión, los documentos deberían publicarse cuanto antes para ser estudiados.
Dado que se trata de una carta fechada el mismo 18 de julio de 1936, Gibson considera que podría tratarse de la última misiva del poeta de la que se tiene constancia, aunque sea difícil determinarlo al cien por cien. “Según mis datos, el pintor Pepe Caballero le escribe una carta a Lorca en esos días y se la devuelven diciendo que en esa dirección ya no vivía nadie”, añade. A sus 73 años, el escritor considera que su cabeza se encuentra repleta de nombres y de fechas pero le bastó escuchar los apellidos Ramírez de Lucas para situarse en el tiempo: “¿Vive todavía? Hice todo lo posible por entrevistarme con él pero fue imposible. Sabía que era fundamental su relación con Lorca pero no logré hablar con él y eso supuso una gran frustración. Cuando conseguí hablar con él me dijo que no quería verme, que él mismo preparaba su propia versión de los hechos, pero supongo que era una manera de quitarme de en medio”.
Tres cuartos de siglo después, Federico García Lorca sigue siendo noticia. Resulta casi un milagro que el histórico material haya sobrevivido a tantos avatares. Ramírez de Lucas, al que algunos han comparado en las fotos que se conservan de cuando era joven con el galán de cine Alan Ladd, guardó durante años los recuerdos que le unían a Lorca sobreponiéndose a todos los peligros que conllevaba haber tenido relaciones con un poeta tan estigmatizado por el franquismo. En la carta de tres folios quedaban las últimas palabras que le enviaba el poeta. A los pocos días de recibirla, Albacete quedaba bajo el mando republicano y Granada en poder de los nacionales, lo que agravó la situación de Lorca.
Federico García Lorca
El poeta, tan famoso como carismático, se encontraba en la cumbre de su fama. Bodas de sangre se estaba traduciendo al francés y estaba a punto de publicarse Poeta en Nueva York. Margarita Xirgu lo había invitado a México pero en los planes de Lorca también se encontraba la idea de regresar en otoño a Madrid para estrenar Doña Rosita la soltera. Sin embargo, en el otro bando solo importaba su fama de rojo y de homosexual. La situación en Granada se volvía insostenible. Su cuñado, el alcalde socialista de la ciudad, Fernández Montesinos, fue arrestado el 20 de julio en el Ayuntamiento y fusilado el 16 de agosto, dos días antes del asesinato de su cuñado Lorca.
Durante un registro en la Huerta de San Vicente, en busca de uno de los empleados de la familia, el padre del poeta fue golpeado brutalmente por números de la Guardia Civil. Ante el peligro evidente y la posibilidad de que el poeta fuera el siguiente, Lorca se esconde en casa de la familia Rosales, cuyos hijos, y en especial Luis, eran íntimos del autor de Yerma. El poeta no quiso que Luis Rosales y Pepinique Rosales lo pasasen en su propio coche al bando republicano, como habían hecho con otros amenazados. Fue detenido el 16 de agosto, tras ser denunciado por Ramón Luis Alonso, exdiputado de la CEDA, que odiaba tanto a Garcia Lorca como a la familia Rosales por no querer admitirlo en la Falange de Granada.
Queipo de Llano, gobernador militar de Andalucía Occidental, fue informado telefónicamente del arresto que se acababa de llevar a cabo. “¡Que le den café!” fue su respuesta. La madrugada del 18 de agosto era fusilado “por rojo y por maricón”. La noticia, pese a los rumores y las protestas internacionales que ocasionó, no se confirma hasta el 20 de septiembre, un mes y dos días después de su asesinato.
Como algunos españoles que no podían acreditar un pasado glorioso al lado del bando nacional, Ramírez de Lucas se alistó en la División Azul, donde fue herido grave en la batalla del río Lovat y condecorado posteriormente. Todavía se encuentra en Internet una de las cartas que mandó a su casa desde el frente ruso. Con la ayuda de Luis Rosales buscó trabajo en ABC. Se ganó la vida como periodista y crítico de arte y arquitectura, rehizo su vida sentimental con un compañero con el que compartió treinta años. Ni siquiera a él le contó nada sobre ese amor de juventud.
Mucho tiempo después, seguramente cuando la herida dejada por esa relación frustrada de manera tan dramática, Ramírez de Lucas comenzó a verter todos sus recuerdos en unos cuadernos, en los que cuenta la época que le tocó vivir, los momentos junto a Federico y sus ideas políticas. Todo ello podría ser de enorme valor para los historiadores. Hace dos años, poco antes de fallecer en un hospital madrileño, legó los documentos a una de sus hermanas. Su última voluntad fue que los documentos en su poder se conocieran.
(O El País é o jornal com o melhor suplemento de Cultura da Europa___ e pronto, já disse.)