Mostrar mensagens com a etiqueta Israel. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Israel. Mostrar todas as mensagens

1.11.09

Sunday Picnic

Nadav Kander
Chongqing IV (Sunday Picnic)


Vencedor da segunda edição do Prix Pictet: Nadav Kander, natural de Israel.

14.1.09

The Gaza War - Take a moment to think

Peace Now, um dos mais antigos movimentos pacifistas israelita, co-fundado pelo escritor Amos Oz, clama:

We must stop the war now and find a real solution - a political solution!

20.9.07

Nota sobre os últimos posts



Como sabem, Amos Oz, para além de um excelente escritor, foi co-fundador do movimento pacifista israelita Peace Now, que se tem demarcado sistematicamente do regime de "apartheid" que Jimmy Carter descreveu já como pior que o sul-africano. Esse é também o Amos Oz que admiro.
Os extractos da obra de Amos Oz têm sido acompanhados por pinturas de artistas israelitas. Tenho deixado links para conhecerem melhor o universo desses pintores, marcados indelevelmente pela sua origem, pela migração, pela História atribulada de Israel antes e depois da fundação do Estado, pela guerra e, naturalmente, pelo desejo de amor e de paz.



Entre Emmanuel Ronkin - nascido em Israel, num kibutz, e morto na Guerra dos Seis Dias com 26 anos (este último esboço, Resting Girl, fê-lo em 1967, o ano da sua morte), e Sasha Okun - nascido em Leninegrado em 1949 e emigrado apenas em 1979 para Israel (autor do primeiro desenho, Nude), que emoções se repetem, mesmo que subtilmente? Existirão pintores judeus mais judeus que outros? Será esse o caso de Rifkah (Rita) Goldberg, nascido em Londres em 1950 e emigrado em 1975 para Israel? Ou de Ladizhinsky, ou Lea Zarembo, mesmo se viveram a maior parte da sua vida na Rússia? É a religião a pátria dos judeus e Israel ou, mais especificamente, Jerusalém, apenas(?), um poderoso símbolo, ou os contornos e limites físicos da pátria histórica Israel sobrepõem-se a todas as vivências e aspirações individuais?
Pode
o mesmo pintor ser, separadamente, pintor de paisagens, animais e abstractos e, por outro lado, pintor judeu de Israel, ou essa é uma construção redutora, conceptualmente improfíqua?
Sei tão pouco. Limito-me a deixar-vos pistas para as obras, sem dúvidas quanto ao facto de merecerem ser contempladas.

PS: A citação de "A Morte Feliz" é acompanhada de uma pintura de Amnar Amarni, jovem pintor nascido na Argélia sessenta anos depois de Albert Camus.

História de amor e trevas #6

Emmanuel Ronkin
Bolero, 1966

Toda a sua vida ansiou por mundos de amor e de sentimentos generosos. Aspirava a oferecer às mulheres a sua grandeza de alma e receber em troca o seu apreço e amor eterno (nunca conseguiu distinguir entre o amor e o apreço: tinha uma sede enorme dos dois [...].

pp. 139

in Amos Oz, Uma História de Amor e Trevas
Ed. ASA, Março de 2007

18.9.07

História de amor e trevas #5

RIFKAH GOLDBERG
1983

[...] «Tal como nós, judeus regressamos agora à nossa pátria histórica, também eles [árabes] devem ter o direito de regressar dignamente a casa, à Saúdia Arábia, de onde eles todos vieram.»

[...] Estás a propor que Israel bombardeie Leninegrado, avô? E que rebente uma guerra mundial? O quê, não ouviste falar das bombas atómicas? Das bombas de hidrogénio?
- Tudo isso está nas mãos dos judeus. Quer com os americanos, quer com os bolcheviques, quem inventou todas essas bombas novas foram cientistas judeus, e eles saberão o que se deve e o que se não deve fazer.
- E a paz? Há alguma via para a paz?
- Há, sim, temos de vencer os nossos inimigos. Temos de lhes dar forte e feio, de modo a que eles venham ter connosco para implorar a paz. Porque é que havíamos de recusar? Pois se nós somos um povo amante da paz. E até temos um mandamento assim, perseguir a paz, pois então vamos persegui-la, até Bagdad, se for preciso, ou até ao Cairo, havemos de perseguir a paz.

pp. 125-126

in Amos Oz, Uma História de Amor e Trevas
Ed. ASA, Março de 2007



O avô de Amos Oz falava assim em 1967, alguns dias depois da Guerra dos Seis Dias. Referia-me a esta atitude, Elypse. Subsiste, não achas M.?

17.9.07

História de amor e trevas #4


Da época de Vilna, resta um velho álbum de fotografias: eis aqui o meu pai e o tio David, alunos de liceu [...].
É quase certo que grande parte daqueles rapazes e raparigas da fotografia foram obrigados a correr nus, reduzidos a esqueletos pela fome e paralisados de frio, perseguidos por cães e empurrados por chicotes para as grandes fossas cavadas na floresta de Ponar. Qual deles se terá salvo, para além do meu pai? [...]
Ou aquela rapariga bonita no centro da fotografia, com uma expressão cínica e inteligente, não, querido, a mim não me enganas tu, eu posso ser jovem, mas já sei tudo, sei coisas que vocês nem sonham. Será que se salvou? Que conseguiu juntar-se aos combatentes da floresta de Rudnik? Que conseguiu esconder-se num gueto graças ao seu «tipo ariano»? Que encontrou refúgio num convento? Ou conseguiu escapar aos Alemães e aos seus lacaios lituanos, atravessando clandestinamente a fronteira da Rússia? E que emigrou mais tarde para a terra de Israel onde viveu até aos setenta e seis anos de idade como pioneira num kibutz do vale de Jezréel, a trabalhar com as colmeias ou no galinheiro? [...]
O meu pai nesta foto é mais jovem que o meu filho. Se fosse possível, entrava na fotografia e avisava-o e a todos os seus amigos alegres. Tentava contar-lhes o que os esperava. E é mais do que certo que não acreditariam em mim e que fariam pouco das minhas palavras.

pp. 128-129

in Amos Oz, Uma História de Amor e Trevas
Ed. ASA, Março de 2007

14.9.07

História de amor e trevas #3

LEA ZAREMBO

Naquela época, aparentemente, no topo da escala de prestígio estavam os pioneiros. Mas os pioneiros viviam longe de Jerusalém, nas planícies costeiras, na Galileia, nos desertos das margens do Mar Morto. Nós venerávamos de longe a sua imagem forte e sonhadora, com o tractor e os sulcos da terra como pano de fundo, nos cartazes do Fundo Nacional Judaico.
Um pouco abaixo vinha a comunidade organizada: leitores do jornal Davar* sentados nas varandas, de camisola interior, no Verão, membros da Histadrut*, da Haganá*, da Caixa de Segurança Social, vestidos de caqui, que contribuíam para a «caixa comunitária», adeptos da salada-omelete-queijo fresco, partidários da contenção, da responsabilidade, de um modo de vida sólido, da «caixa comunitária», da produção local, do proletariado, da disciplina partidária e das azeitonas não picantes em frascos de Tnuva, Azul em cima e azul em baixo, construímos um porto aqui! um porto aqui!

Do outro lado da barreira, frente a esta comunidade organizada, estavam os dissidentes-terroristas, os ultra-ortodoxos de Mea Shearim*, bem como os comunistas «inimigos de Sião», e uma plêiade de intelectuais, de carreiristas, de artistas egocêntricos do tipo cosmopolita decadente e com eles uma quantidade de excêntricos, de individualistas e niilistas duvidosos, de yekes* incapazes de se desfazerem dos seus tiques germânicos, de toda a espécie de snobs anglicizados, de sefarditas afrancesados ricos que, vistos de cá, pareciam lacaios cerimoniosos, de Iemenitas, de Georgianos, de Marroquinos, de Curdos e de originários de Salónica, todos eles indiscutivelmente nossos irmãos, e uma mão-de-obra incontestavelmente muito promissora, mas o que fazer, ainda tínhamos de ter muita paciência com eles e não poupar esforços.

Havia ainda os refugiados e os imigrantes clandestinos, os sobreviventes e os antigos deportados, que eram olhados em geral com um misto de piedade e desprezo: uns pobres coitados, uns miseráveis, mas quem lhes tinha mandado esperar por Hitler, em vez de virem para cá quando ainda era tempo? E porque se tinham deixado levar como gado para o abate em vez de se organizarem e de resistirem? E que acabassem de vez com aquelas lamúrias em iídiche, e não começassem a contar-nos o que lhes fizeram lá, porque não é coisa para se orgulhar, nem eles nem nós. E para além disso, nós aqui estávamos virados para o futuro e não para o passado e, a propósito de passado, nós tínhamos um passado hebraico glorioso, bíblico e hasmoneu, e não valia a pena desfeá-lo com um passado judeu deprimente, feito de amarguras e desgraças (que nós pronunciávamos sempre em iídiche «tsures», com uma careta de nojo e escárnio, para que as crianças percebessem que aquelas desgraças eram uma espécie de lepra deles e não nossa).

pp. 19-20

in Amos Oz, Uma História de Amor e Trevas
Ed. ASA, Março de 2007


*
Davar: Literalmente «palavra». Jornal hebraico, órgão da Histadrut, publicado entre 1925 e 1944.
Histadrut: Organização Geral dos Trabalhadores Israelitas, fundada em 1920.
Haganá: Literalmente «Defesa». Organização militar clandestina da colónia judaica na Palestina, durante o mandato britânico, de 1920 a 1948, que viria a ser a base do futuro exército israelita a partir da fundação do Estado de Israel, em 1948.
Mea Shearim: Literalmente «Cem portões», bairro ultra-ortodoxo de Jerusalém.
Yekes: Nome dado aos judeus alemães.

13.9.07

História de amor e trevas #2

YEFIM LADIZHINSKY

Eram capazes de passar três ou quatro horas a discutir apaixonadamente sobre Nietzsche, Estaline, Freud, Jabotinsky, de se lançar nessas discussões de corpo e alma, de vibrar de emoção, de se indignar sobre o colonialismo, o anti-semitismo, a justiça, a «questão agrária», o «problema da mulher», a «questão da vida em oposição à arte». Mas quando tentavam exprimir um sentimento pessoal, o resultado era sempre crispado, seco, quase amedrontado, fruto de gerações de inibições e tabus. De tabus duplos, de dois sistemas repressivos: a boa educação europeia pequeno-burguesa reforçando as inibições do shtetl* tradicional judaico. Quase tudo era «proibido» ou «não se faz» ou «não é bonito».
Para além disso, faltavam-lhe as palavras: o hebraico ainda não era para eles uma língua espontânea, e muito menos íntima, e não sabiam bem o que saía quando falavam hebraico. [...]
Mesmo pessoas como os meus pais, que sabiam bem hebraico, não dominavam a língua totalmente.

pp. 17

in Amos Oz, Uma História de Amor e Trevas
Ed. ASA, Março de 2007


* Shtetl: termo iídiche que designava as povoações de população maioritariamente judaica, situadas na Europa Central e de Leste de antes do Holocausto, em particular na chamada «Zona de Residência» do Império russo, Polónia, Galícia e Roménia.

12.9.07

História de amor e trevas #1

Rona Boyarski
Glance over Jaffa, 2005



Na escala de valores dos meus pais, quanto mais ocidental, mais cultural: Tolstoi e Dostoievsky estavam muito próximos da sua alma russa, mas penso que consideravam a Alemanha - apesar de Hitler - mais cultural do que a Rússia e a Polónia, a França mais do que a Alemanha, e a Inglaterra mais do que a França. Quanto à América, não estavam assim tão certos: um sítio onde se massacravam os índios, atacavam carruagens, procurava ouro e caçavam raparigas.
Para eles a Europa era a terra prometida e proibida, o lugar nostálgico dos campanários e das velhas praças empedradas, dos eléctricos, das pontes e das torres das catedrais, das aldeias isoladas, das fontes termais, das florestas e dos prados cobertos de neve.
[...]
Anos mais tarde, constatei que a Jerusalém do mandato britânico, nos anos vinte, trinta e quarenta, era uma cidade extraordinariamente civilizada, com grandes comerciantes, músicos, intelectuais e escritores: Martin Buber, Gershom Scholem, Agnon, e muitos outros sábios e artistas notáveis.
[...]
A Jerusalém que os meus pais cobiçavam situava-se longe do nosso bairro: em Rehavia, imersa em verdura e sons de piano, nos três ou quatro cafés com lustres dourados da rua de Jaffa ou Ben Yehuda, nos salões YMCA e no Hotel King David, onde judeus e árabes amantes da cultura se cruzavam com britânicos cultos e afáveis, onde damas sonhadoras de pescoços compridos e vestidos de baile esvoaçavam nos braços de homens de fato escuro, onde ingleses de espírito aberto encontravam judeus cultos e árabes educados, onde se realizavam recitais, bailes, serões de leitura, chás-dançantes e debates artísticos elegantes. É possível que essa Jerusalém dos lustres e dos chás-dançantes só existisse nos sonhos dos habitantes de Kerem Avraham, bibliotecários, professores, empregados e encadernadores. Seja como for, não existia no nosso bairro. O nosso bairro, Kerem Avraham, pertencia a Checov.
[...]
No nosso bairro o mundo era geralmente chamado «o grande mundo» [...] Lá, no mundo, os muros estavam cobertos de palavras de ódio, «Judeu, vai para a Palestina», e agora que aqui estamos o mundinteiro grita «Judeu, sai da Palestina».

pp. 6, 7, 8, 9

in Amos Oz,
Uma História de Amor e TrevasEd. ASA, Março de 2007