1.11.09
14.1.09
The Gaza War - Take a moment to think
We must stop the war now and find a real solution - a political solution!
20.9.07
Nota sobre os últimos posts

Como sabem, Amos Oz, para além de um excelente escritor, foi co-fundador do movimento pacifista israelita Peace Now, que se tem demarcado sistematicamente do regime de "apartheid" que Jimmy Carter descreveu já como pior que o sul-africano. Esse é também o Amos Oz que admiro.

Entre Emmanuel Ronkin - nascido em Israel, num kibutz, e morto na Guerra dos Seis Dias com 26 anos (este último esboço, Resting Girl, fê-lo em 1967, o ano da sua morte), e Sasha Okun - nascido em Leninegrado em 1949 e emigrado apenas em 1979 para Israel (autor do primeiro desenho, Nude), que emoções se repetem, mesmo que subtilmente? Existirão pintores judeus mais judeus que outros? Será esse o caso de Rifkah (Rita) Goldberg, nascido em Londres em 1950 e emigrado em 1975 para Israel? Ou de Ladizhinsky, ou Lea Zarembo, mesmo se viveram a maior parte da sua vida na Rússia? É a religião a pátria dos judeus e Israel ou, mais especificamente, Jerusalém, apenas(?), um poderoso símbolo, ou os contornos e limites físicos da pátria histórica Israel sobrepõem-se a todas as vivências e aspirações individuais?
Pode o mesmo pintor ser, separadamente, pintor de paisagens, animais e abstractos e, por outro lado, pintor judeu de Israel, ou essa é uma construção redutora, conceptualmente improfíqua?
História de amor e trevas #6

Bolero, 1966
pp. 139
in Amos Oz, Uma História de Amor e Trevas
Ed. ASA, Março de 2007
18.9.07
História de amor e trevas #5

1983
- Tudo isso está nas mãos dos judeus. Quer com os americanos, quer com os bolcheviques, quem inventou todas essas bombas novas foram cientistas judeus, e eles saberão o que se deve e o que se não deve fazer.
- E a paz? Há alguma via para a paz?
- Há, sim, temos de vencer os nossos inimigos. Temos de lhes dar forte e feio, de modo a que eles venham ter connosco para implorar a paz. Porque é que havíamos de recusar? Pois se nós somos um povo amante da paz. E até temos um mandamento assim, perseguir a paz, pois então vamos persegui-la, até Bagdad, se for preciso, ou até ao Cairo, havemos de perseguir a paz.
pp. 125-126
in Amos Oz, Uma História de Amor e Trevas
Ed. ASA, Março de 2007
O avô de Amos Oz falava assim em 1967, alguns dias depois da Guerra dos Seis Dias. Referia-me a esta atitude, Elypse. Subsiste, não achas M.?
17.9.07
História de amor e trevas #4
+Okun+-+Nude+1994.jpg)
Nu, 1994
Da época de Vilna, resta um velho álbum de fotografias: eis aqui o meu pai e o tio David, alunos de liceu [...].
É quase certo que grande parte daqueles rapazes e raparigas da fotografia foram obrigados a correr nus, reduzidos a esqueletos pela fome e paralisados de frio, perseguidos por cães e empurrados por chicotes para as grandes fossas cavadas na floresta de Ponar. Qual deles se terá salvo, para além do meu pai? [...]
Ou aquela rapariga bonita no centro da fotografia, com uma expressão cínica e inteligente, não, querido, a mim não me enganas tu, eu posso ser jovem, mas já sei tudo, sei coisas que vocês nem sonham. Será que se salvou? Que conseguiu juntar-se aos combatentes da floresta de Rudnik? Que conseguiu esconder-se num gueto graças ao seu «tipo ariano»? Que encontrou refúgio num convento? Ou conseguiu escapar aos Alemães e aos seus lacaios lituanos, atravessando clandestinamente a fronteira da Rússia? E que emigrou mais tarde para a terra de Israel onde viveu até aos setenta e seis anos de idade como pioneira num kibutz do vale de Jezréel, a trabalhar com as colmeias ou no galinheiro? [...]
O meu pai nesta foto é mais jovem que o meu filho. Se fosse possível, entrava na fotografia e avisava-o e a todos os seus amigos alegres. Tentava contar-lhes o que os esperava. E é mais do que certo que não acreditariam em mim e que fariam pouco das minhas palavras.
pp. 128-129
in Amos Oz, Uma História de Amor e Trevas
Ed. ASA, Março de 2007
14.9.07
História de amor e trevas #3

Um pouco abaixo vinha a comunidade organizada: leitores do jornal Davar* sentados nas varandas, de camisola interior, no Verão, membros da Histadrut*, da Haganá*, da Caixa de Segurança Social, vestidos de caqui, que contribuíam para a «caixa comunitária», adeptos da salada-omelete-queijo fresco, partidários da contenção, da responsabilidade, de um modo de vida sólido, da «caixa comunitária», da produção local, do proletariado, da disciplina partidária e das azeitonas não picantes em frascos de Tnuva, Azul em cima e azul em baixo, construímos um porto aqui! um porto aqui!
Do outro lado da barreira, frente a esta comunidade organizada, estavam os dissidentes-terroristas, os ultra-ortodoxos de Mea Shearim*, bem como os comunistas «inimigos de Sião», e uma plêiade de intelectuais, de carreiristas, de artistas egocêntricos do tipo cosmopolita decadente e com eles uma quantidade de excêntricos, de individualistas e niilistas duvidosos, de yekes* incapazes de se desfazerem dos seus tiques germânicos, de toda a espécie de snobs anglicizados, de sefarditas afrancesados ricos que, vistos de cá, pareciam lacaios cerimoniosos, de Iemenitas, de Georgianos, de Marroquinos, de Curdos e de originários de Salónica, todos eles indiscutivelmente nossos irmãos, e uma mão-de-obra incontestavelmente muito promissora, mas o que fazer, ainda tínhamos de ter muita paciência com eles e não poupar esforços.
Havia ainda os refugiados e os imigrantes clandestinos, os sobreviventes e os antigos deportados, que eram olhados em geral com um misto de piedade e desprezo: uns pobres coitados, uns miseráveis, mas quem lhes tinha mandado esperar por Hitler, em vez de virem para cá quando ainda era tempo? E porque se tinham deixado levar como gado para o abate em vez de se organizarem e de resistirem? E que acabassem de vez com aquelas lamúrias em iídiche, e não começassem a contar-nos o que lhes fizeram lá, porque não é coisa para se orgulhar, nem eles nem nós. E para além disso, nós aqui estávamos virados para o futuro e não para o passado e, a propósito de passado, nós tínhamos um passado hebraico glorioso, bíblico e hasmoneu, e não valia a pena desfeá-lo com um passado judeu deprimente, feito de amarguras e desgraças (que nós pronunciávamos sempre em iídiche «tsures», com uma careta de nojo e escárnio, para que as crianças percebessem que aquelas desgraças eram uma espécie de lepra deles e não nossa).
pp. 19-20
in Amos Oz, Uma História de Amor e Trevas
Ed. ASA, Março de 2007
*
Davar: Literalmente «palavra». Jornal hebraico, órgão da Histadrut, publicado entre 1925 e 1944.
Histadrut: Organização Geral dos Trabalhadores Israelitas, fundada em 1920.
Haganá: Literalmente «Defesa». Organização militar clandestina da colónia judaica na Palestina, durante o mandato britânico, de 1920 a 1948, que viria a ser a base do futuro exército israelita a partir da fundação do Estado de Israel, em 1948.
Mea Shearim: Literalmente «Cem portões», bairro ultra-ortodoxo de Jerusalém.
Yekes: Nome dado aos judeus alemães.
13.9.07
História de amor e trevas #2

Para além disso, faltavam-lhe as palavras: o hebraico ainda não era para eles uma língua espontânea, e muito menos íntima, e não sabiam bem o que saía quando falavam hebraico. [...]
Mesmo pessoas como os meus pais, que sabiam bem hebraico, não dominavam a língua totalmente.
pp. 17
in Amos Oz, Uma História de Amor e Trevas
Ed. ASA, Março de 2007
* Shtetl: termo iídiche que designava as povoações de população maioritariamente judaica, situadas na Europa Central e de Leste de antes do Holocausto, em particular na chamada «Zona de Residência» do Império russo, Polónia, Galícia e Roménia.
12.9.07
História de amor e trevas #1

Glance over Jaffa, 2005
Para eles a Europa era a terra prometida e proibida, o lugar nostálgico dos campanários e das velhas praças empedradas, dos eléctricos, das pontes e das torres das catedrais, das aldeias isoladas, das fontes termais, das florestas e dos prados cobertos de neve.
[...]
Anos mais tarde, constatei que a Jerusalém do mandato britânico, nos anos vinte, trinta e quarenta, era uma cidade extraordinariamente civilizada, com grandes comerciantes, músicos, intelectuais e escritores: Martin Buber, Gershom Scholem, Agnon, e muitos outros sábios e artistas notáveis.
[...]
A Jerusalém que os meus pais cobiçavam situava-se longe do nosso bairro: em Rehavia, imersa em verdura e sons de piano, nos três ou quatro cafés com lustres dourados da rua de Jaffa ou Ben Yehuda, nos salões YMCA e no Hotel King David, onde judeus e árabes amantes da cultura se cruzavam com britânicos cultos e afáveis, onde damas sonhadoras de pescoços compridos e vestidos de baile esvoaçavam nos braços de homens de fato escuro, onde ingleses de espírito aberto encontravam judeus cultos e árabes educados, onde se realizavam recitais, bailes, serões de leitura, chás-dançantes e debates artísticos elegantes. É possível que essa Jerusalém dos lustres e dos chás-dançantes só existisse nos sonhos dos habitantes de Kerem Avraham, bibliotecários, professores, empregados e encadernadores. Seja como for, não existia no nosso bairro. O nosso bairro, Kerem Avraham, pertencia a Checov.
[...]
No nosso bairro o mundo era geralmente chamado «o grande mundo» [...] Lá, no mundo, os muros estavam cobertos de palavras de ódio, «Judeu, vai para a Palestina», e agora que aqui estamos o mundinteiro grita «Judeu, sai da Palestina».
pp. 6, 7, 8, 9
in Amos Oz, Uma História de Amor e TrevasEd. ASA, Março de 2007