Mostrar mensagens com a etiqueta Frédéric Beigbeder. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Frédéric Beigbeder. Mostrar todas as mensagens

2.11.09

Frédéric Beigbeder



O escritor francês Frédéric Beigbeder conquistou hoje o Prémio Renaudot com o romance "Un roman français", publicado pela Grasset.

Comecei por o ver como crítico literário no programa de Thierry Ardisson, o fantástico «Rive Droite, Rive Gauche», que passava no Paris Première (fins de 90, até 2002). Depois achei por bem ler os seus romances (inaugurais). O escritor ficava sempre aquém das aspirações do crítico. As obras, assentes numa ideia-tema (e sátira) forte, eram sobretudo divertidas e "irreverentes".
Havia rumores que o apontavam para o prémio Renaudot deste ano, não quis acreditar. Agora resta-me concluir que a cotação de Beigbeder subiu junto dos "canónicos". O enfant terrible, que começou a conquistar público na viragem do século, começa a ser levado a sério pelos seus pares. Ainda não li "Un Roman Français" mas, dada a assinatura, quero crer que inventou novo(s) cânone(s). É possível até que tenha criado uma Nouvelle Histoire da Literatura francesa... com muito cinismo e humor (negro).

Se quiserem ler breves notas, mini-recensões sobre alguns dos seus anteriores romances, vão ao arquivo do Divas. Para conhecer a marca Beigbeder, visitem o "site não oficial" do escritor, S.N.O.B. (e este título quer dizer alguma coisa, sim).


P.S.: Não sei se não haverá mais surpresas nesta rentrée...

Adenda: reacção do escritor ao Prémio Renaudot


Découvrez Frédéric Beigbeder prix Renaudot 2009 pour "Un roman français"

11.9.07

The windows of the world

«The Windows of the World era o nome do restaurante situado no 107° piso da Torre Norte do WTC. Estavam 171 pessoas nesse restaurante (incl. 72 empregados) no momento do choque do Boeing. The Windows of the World é também o título de uma canção de Burt Bacharach e Hal David, interpretada por Dionne Warwick em 1967. A canção foi escrita contra a guerra no Vietname mas a mensagem ainda é válida e sê-lo-á durante muito tempo.» (ver aqui o Post de 2005)


The windows of the world are covered with rain,
Where is the sunshine we once knew?
Everybody knows when little children play
They need a sunny day to grow straight and tall.
Let the sun shine through.

The windows of the world are covered with rain,
When will those black skies turn to blue?
Everybody knows when boys grow into men
They start to wonder when their country will call.
Let the sun shine through.

11.9.05

Let the sun shine through

No dia 11 de Setembro de 2001 eu acordei com o telefonema de um amigo que, sem dar ainda muita importância ao caso, me disse que um avião se despenhara contra uma das torres gémeas de Nova Iorque. Liguei a tv para ver a CNN. A imagem estava lá mas nesse momento não havia nenhuma informação precisa sobre o avião nem sobre a causa do "acidente". Logo a seguir aparece o segundo avião e eu vejo em directo uma imagem que não compreendo apesar dos gritos do jornalista (?). A segunda Torre tinha sido "atacada". Como escreveu Beigbeder no seu Windows on the World, 1 avião=1 acidente, 2 aviões=0 acidente !

Hoje sabemos com precisão o que aconteceu. Às 8:46, um Boeing 767 da American Airlines transportando 92 passageiros, voando à velocidade de 800 km/h, e abastecido com 40000 litros de querosene, embateu contra os andares 94° a 98° da face norte da Torre 1, pegando fogo de imediato aos escritórios da Marsh & McLennan. Nenhuma das 1344 pessoas que se encontravam nos 19 pisos superiores sobreviveu. O choque e posterior incêndio obstruiram todas as saídas possíveis (as escadas ruíram e os elevadores fundiram).

A Torre Sul, mesmo com a ameaça de queda da Torre Norte, não foi evacuada. Às 9:02:54, o vôo 175 da United Airlines, outro Boeing 767, transportando 65 passageiros, penetra nos pisos 78° a 84°. Voa a maior velocidade que o anterior: 930 km/h. Às 9:59 a Torre ruíu.

Até às 10:28 precisas, quando a Torre Norte do World Trade Center desabou, não consegui desviar os olhos do écran. Durante cerca de uma hora e 45 minutos, das 8:46 às 10:28, milhares de pessoas ficaram prisioneiras daquele inferno, podíamos (ou talvez não) imaginar o desespero, o pânico, os seus esforços para sobreviver... em vão. Foi também o primeiro dia do resto de muitas outras vidas.

Nessa altura vivia em Paris, a dois quarteirões da Torre Eiffel e não muito longe da Torre de Montparnasse. Estava chocada com as imagens, decidi sair de casa, passear com as minhas filhas. Elas tinham apenas 18 meses e não queria que percebessem a minha tristeza. Mas depois de atravessar a Av. Sufren apercebi movimentos "anormais", havia policiamento em vários locais. E decidi voltar para trás. Dava-me conta de que todos estávamos sob ameaça e de que, mesmo que se tratasse de psicose, não valia a pena arriscar. Senti medo.

Ainda não podemos medir o impacto do 11 de Setembro no mundo, sabemos apenas que em termos estratego-políticos tudo se alterou, que o mundo seria diferente sem 9/11, que a América provavelmente não teria re-eleito G.W. Bush., que os Taliban viveriam ainda tranquilos no Afeganistão, que o precedente criado pelos EUA ao invadirem o Iraque não teria desacreditado a ONU, que se teriam poupado milhares de vidas de soldados e civis, que o julgamento de Sadam Hussein não aconteceria em Outubro próximo, que os orçamentos para fins militares seriam menos defensáveis...
mas depois ocorreram os atentados em Madrid e em Londres, para só falar da Europa...,
pelo que o nosso medo e dúvidas balançam, serenamos e logo voltamos a ficar agitados.

Em Dezembro de 2003 visitei o Ground Zero. A estação de metro acabara de ser reaberta. O Hotel em frente (outro arranha-céus) tinha sido limpo e cintilava. Mas ao lado ainda havia um prédio coberto para futura demolição por questões de segurança (as estruturas teriam ficado afectadas). Visto da St. Paul Chapel, transformada em memorial aos que morreram do outro lado da rua em 9/11 de 2001, o panorama era de desolação. Por toda a cidade, em quartéis de bombeiros, restaurantes, lojas, encontrávamos ainda fotografias das vítimas, rostos que fixávamos e que demoravam a desaparecer da nossa memória.

Todos nós nos lembramos desse dia, do que estávamos a fazer, do horror e comoção que se instalaram, da sensação de incredulidade - era um acontecimento que nos ultrapassava por completo. Como estamos hoje? Já acreditamos, temos a certeza de que existe um novo risco com o qual temos de aprender a viver. Mas a incredibilidade da História supera todo o conhecimento. Organizamos o nosso Tempo em função do nascimento de um messias, ac, dc. E fanáticos de outra religião pretendem abalar essa civilização. Para quando o Tempo do al, dl, vulgo "antes da laicidade", "depois da laicidade"?



The Windows of the World era o nome do restaurante situado no 107° piso da Torre Norte do WTC. Estavam 171 pessoas nesse restaurante (incl. 72 empregados) no momento do choque do Boeing. The Windows of the World é também o título de uma canção de Burt Bacharach e Hal David, interpretada por Dionne Warwick em 1967. A canção foi escrita contra a guerra no Vietname mas a mensagem ainda é válida e sê-lo-á durante muito tempo...

The windows of the world are covered with rain,
Where is the sunshine we once knew?
Everybody knows when little children play
They need a sunny day to grow straight and tall.
Let the sun shine through.

The windows of the world are covered with rain,
When will those black skies turn to blue?
Everybody knows when boys grow into men
They start to wonder when their country will call.
Let the sun shine through.

(clicar para ouvir a música)

4.3.05

€ 14,99

Free Image Hosting at
O que está in , o que é top, o business, as miúdas, fazem parte do universo de Octave, criativo na filial francesa de uma grande agência de publicidade internacional. Tem como função escrever slogans, “aforismos que se vendem”, e assim abusar de todas as donas de casa com menos de cinquenta anos que vivam à face da terra, transformando os seus fantasmas em actos de compra.
Octave começa a encarar essa actividade como intrinsecamente frustrante, uma vez que utiliza a mentira e a ilusão como motores criativos. Falar em criatividade torna-se mesmo um abuso. "Chamo-me Octave e visto-me na APC. Sou publicitário: sim, poluo o universo. Sou um tipo capaz de vos vender merda. Que vos faz sonhar com coisas que nunca tereis. Céu sempre azul, miúdas que nunca são feias, a felicidade perfeita retocada na PhotoShop."
O narrador torna-se de tal forma cínico em relação ao seu trabalho que parece desejar ser odiado pelo leitor. Ele cita com frequência Goebbels e Hitler para lembrar como a publicidade está próxima da propaganda, compara os directores da agência a generais conduzindo a terceira guerra mundial. Um dia decide recolher elementos que lhe permitam escrever um livro que seja o mais ofensivo possível para a sua empresa, de forma a que o demitam - não dispensa a indemnização por despedimento! Com impertinência e hipocrisia, este autor/narrador (Beigbeder foi publicitário durante anos e o livro é assumidamente autobiográfico), cria um estilo muito eficaz, que usa para defender ideologias como a anti-mundialização, o anti-mercantilismo, o anti-consumismo. "Não vejo interesse em escrever livros a não ser que seja para cuspir na sopa".
Como bom publicitário, Beigbeder adora inventar frases e é capaz de inventar "fórmulas" que são poderosas, aliando ao humor um cinismo muito destrutivo. A depressão do narrador faz-nos pensar em
Houellebecq (que de resto defendeu Beigbeder, ainda antes do romance ser lançado, contra aqueles que desejavam instaurar-lhe um processo). As seis partes do livro, baptizadas com pronomes pessoais (eu, tu, ele...), permitem-lhe adoptar um ponto de vista sempre diferente. Mas o que torna o livro mais singular é que aquilo que o narrador anuncia na abertura da obra - que vai ser despedido quando a direcção tomar conhecimento do livro, o autor vai vivê-la na vida real. Houellebecq qualificou este dispositivo experimental de "auto-ficção prospectiva".
Beigbeder, com esta sua denúncia do sistema capitalista assente num quadro panfletário do mundo da publicidade, foi aplaudido por toda a crítica e criou um best-seller já traduzido em vários países, nomeadamente em Portugal.

99 Francos foi traduzido por € 14.99 - A outra face da moeda, pela Presença.
De alguma forma é um livro moral. Mas o divertimento está garantido!

3.3.05

Ce qu'on est incapable de changer, il faut au mois le décrire.
Rainer Werner Fassbinder

in Beigbeder, Frédéric, 99 Francs, Grasset, 2000

1.3.05

Avec le temps

Aonde é que o Frédéric foi buscar o título para o primeiro capítulo de L'amour dure trois ans... A esta canção belíssima de Léo Ferré:

Avec le temps ...
Avec le temps, va, tout s'en va
On oublie le visage et l'on oublie la voix
Le coeur, quand ça bat plus, c'est pas la peine d'aller
Chercher plus loin, faut laisser faire et c'est très bien

Avec le temps ...
Avec le temps, va, tout s'en va
L'autre qu'on adorait, qu'on cherchait sous la pluie
L'autre qu'on devinait au détour d'un regard
Entre les mots, entre les lignes et sous le fard
D'un serment maquillé qui s'en va faire sa nuit
Avec le temps tout s'évanouit

Avec le temps ...
Avec le temps, va, tout s'en va
Même les plus chouettes souvenirs ça t'as une de ces gueules
A la Galerie je farfouille dans les rayons de la mort
Le samedi soir quand la tendresse s'en va tout seule

Avec le temps ...
Avec le temps, va, tout s'en va
L'autre à qui l'on croyait pour un rhume, pour un rien
L'autre à qui l'on donnait du vent et des bijoux
Pour qui l'on eût vendu son âme pour quelques sous
Devant quoi l'on s'traînait comme traînent les chiens
Avec le temps, va, tout va bien

Avec le temps ...
Avec le temps, va, tout s'en va
On oublie les passions et l'on oublie les voix
Qui vous disaient tout bas les mots des pauvres gens
Ne rentre pas trop tard, surtout ne prends pas froid

Avec le temps ...
Avec le temps, va, tout s'en va
Et l'on se sent blanchi comme un cheval fourbu
Et l'on se sent glacé dans un lit de hasard
Et l'on se sent tout seul peut-être mais peinard
Et l'on se sent floué par les années perdues

Alors vraiment
Avec le temps on n'aime plus ...

[Aqui, um presente para quem gostar de Léo Ferré, Verlaine e Rimbaud]

L'amour dure trois ans


Dagoberto Nogueira

Este livro começa assim:
"Je parle avec l'autorité de l'échec" - Scott Fitzgerald
"Ben quoi ! Ben oui ! Faut pas compliquer ! Faut dire des choses comme elles sont. On aime et puis on n'aime plus" - Françoise Sagan


I
Avec le temps on n'aime plus
(Com o tempo deixamos de amar)

O amor é um combate perdido à partida.
No início tudo é belo, mesmo você. Você nem quer acreditar que estão assim tão apaixonados. Cada dia traz o seu pequeno carregamento de milagres. (...) A felicidade existe e é simples: é um rosto. O universo sorri. Durante um ano a vida não é mais que uma sucessão de manhãs ensoleiradas, mesmo à tarde quando neva. Escreveis livros sobre tudo isto. Casais, o mais rapidamente possível - porquê reflectir quando somos felizes? Pensar deixa-nos triste; é a vida que deve vencer.
No segundo ano as coisas começam a mudar. Passais a ser mais ternos. Sentis orgulho da cumplicidade que existe na vossa relação. Compreendeis a vossa mulher por meias palavras; que alegria ser só um. (...) Fazeis amor cada vez menos e acreditais que não é grave. Estais persuadidos de que em cada dia que passa o vosso amor é cada vez mais sólido, quando na verdade o fim do mundo está para breve. Defendeis o casamento junto dos vossos amigos celibatários que de resto já nem vos reconhecem. Mas vós mesmos, estais seguros de se reconhecer (...)?
No terceiro ano, já não deixais de olhar para as miúdas frescas que iluminam a rua. Já não falais com a vossa mulher. Passais horas no restaurante com ela a ouvir o que dizem os vizinhos da mesa ao lado. Saís para programas fora de casa com mais frequência: o que vos dá uma desculpa para não foder. Rapidamente chega o momento em que já não suportais mais a vossa mulher, até porque estais apaixonados por outra. Há um único aspecto sobre o qual não se enganaram: efectivamente, é a vida que tem a última palavra. No terceiro ano há uma boa e uma má notícia. A boa notícia: farta, a vossa mulher deixa-vos. A má notícia: começais um novo livro. (pp 15-16)

in Beigbeder, Frédéric, L'amour dure trois ans, Gallimard, 1997 (trad. do francês)

28.2.05

A amor dura uma semana


Frédéric Beigbedder

Ele escreveu L'amour dure trois ans e outros livros cheios de duras verdades. Em Windows of the world diz por exemplo que a única maneira de saber o que se passou no restaurante situado na torre Norte do World Trade Center, no dia 11 de Setembro de 2001, entre as 8h30 e as 10h29, é inventando. Identifica-se com aquela afirmação de Tom Wolfe segundo a qual um escritor que não escreve romances realistas não compreende nada das jogadas e estratégias da época em que vive. E, como Marylin Manson, acha que um artista deve mergulhar no coração do inferno. É amigo de Michel Houellebecq que por acaso é um escritor mais genial que Beigbedder, mas lá chegaremos... A verdade é que esta semana vou dedicá-la ao Frédéric. Gosto de tudo nos livros dele, dos temas, dos prefácios e até dos agradecimentos.


Obrigada a Bruce Springsteen pelo seu último álbum, assim como a Suicide, Robbie Willians, Sigur Ros, The White Stripes, Richard Ashcroft, Zwan e claro, a Cat Stevens-Yusuf Islam pelo In search of the Centre of the Universe (A&M Records).
Obrigada a Amélie Lebrande por se ter tornado Amélie Beigbedder.
(...)
E ao Canal+ pela indemnização pelo despedimento.
(...)
Obrigado a Walks in Hemingway's Paris de Noel Riley Fitch (St Matin's Griffin, New York): prova de que certos americanos conhecem Paris melhor do que nós.
Obrigado a Julien Barbera por me ter reservado a melhor mesa no Cipriano Downtown.
Obrigada a Yann Le Gallais pelo seu champanhe.
(...)
Obrigado ao Concorde...
E viva Sean Penn!

in Windows on the world, Grasset, 2003