30.4.08

Piano voador enamorado de uma voz. para a Lúcia



_____ Piano suspenso, notas suspensas, seguras. arrebatador. Chove uma canção chamada Beatriz. ensemble (Edu Lobo/Chico Buarque)(Mário Laginha/Maria João). Tinha que fazer a oferenda: à Lúcia, pois.

Rio de Paz


A violência no Brasil mata mais do que qualquer doença epidémica. Por isso respeito tanto as iniciativas do Movimento RIO DE PAZ. Uma das activistas viveu muitos anos em Portugal e é uma daquelas pessoas que nunca esquecemos. Quando estive no Rio de Janeiro (já faz tanto tempo!), tive oportunidade de a rever. Lembro-me de falarmos sobre segurança. Os portugueses estranham a necessidade de gradeamentos bloqueando as entradas dos prédios, ou a ideia de não poder viajar com a janela do carro aberta! Um simples passeio no Rio, a pé ou de automóvel, implica um risco (elevado) de assalto com violência. A certa altura, um amigo dela, carioca, disse: "a gente se habitua". Fiquei na dúvida. É verdade que o ser humano se adapta a todas as situações e até acredito que, felizmente, todos conhecemos mal os nossos limites, até onde conseguimos resistir em situações de adversidade ou dor. Mas banalizar a violência, integrá-la sem resistência no nosso quotidiano, é acéfalo.

Este Movimento RIO DE PAZ decidiu resistir e combater - se não o flagelo, pelo menos a apatia. Têm organizado
acções carregadas de simbolismo que lembram os mortos e evidenciam o carácter massivo do fenómeno. Neste momento, estão também empenhados em criar redes de apoio psicológico para os familiares das vítimas.

Essa minha amiga chama-se Simone Villas Boas e eu sinto orgulho e comoção por a ver (e sentir) tão envolvida nessa batalha. Ela tem um blogue,
[correio electrônico], que reflecte as suas preocupações sociais. Alguém me dizia que reflectir sobre o tecido urbano e social implicava vários tipos de conhecimento erudito mas, sobretudo, um enfoque na ecologia da alma. Simone é a minha ecologista da alma preferida. Já agora, vejam-na aqui e aqui. O mote: «Via Crucis - O Aterro do Flamengo amanheceu com duas mil cruzes brancas simbolizando o número de mortos por assassinato neste ano».

29.4.08

A Estrada



A Estrada, de Cormac McCarthy
Ed. Relógio D'Água, Março 2007
[original: The Road, 2006
]

«Ele pensou que, algures no mar alto, ainda poderia haver navios tripulados por cadáveres, à deriva, com as velas flácidas, em farrapos. Ou vida nas profundezas. Enormes lulas a moverem-se sobre o fundo do mar nas trevas frias. A deslizarem na horizontal como combóios, com olhos do tamanho de pratos. E talvez, do outro lado daquelas vagas ocultas pelo nevoeiro, um outro homem caminhasse efectivamente com outra criança sobre o areal cinzento e sem vida. Com um mero oceano a separá-los, talvez eles dormissem numa outra praia, entre as cinzas amargas do mundo, ou talvez se quedassem de pé, vestidos de andrajos, perdidos sob o mesmo sol indiferentepp. 144-145

A Relógio D' Água manteve as cores da capa original e o negro profundo é a cor das cinzas, do pó, da terra, do areal, do céu, do mar, da estrada percorrida por pai e filho neste romance de Cormac McCarthy. A Estrada é um livro muito distinto de Este país não é para velhos, que li há pouco tempo. É uma obra que nos faz mergulhar num universo futurista e tem uma estrutura singular, como se não houvesse princípio nem fim. Quando abrimos o livro já tudo aconteceu, quando o fechamos sabemos que nada vai mudar. Mas as personagens e nós, leitores, atravessamos a estrada e sentimos frio, fome, choramos, esgotamos forças.

A Estrada conta-nos a história de uma viagem nesse futuro onde não há esperança. Um homem e seu filho, «cada qual o mundo inteiro do outro», vão sobrevivendo através do amor. Um amor desmedido. Nesta obra, temos uma visão do pior e do melhor de que somos capazes: a destruição e devastação total, a persistência desesperada e o afecto.

Em teoria, estamos nos Estados Unidos da América, mas poderia ser qualquer outro lugar. Por razões que Cormac não explica, já não há vida no planeta. A paisagem é apocalíptica. Todas as espécies desapareceram, à excepção de alguns humanos que andam à deriva. Restam cadáveres, árvores caídas, ossadas de aves, «no limiar da maré alta, um emaranhado de ervas e espinhas de peixe aos milhões, formando um cordão que se estendia pela praia fora até onde a vista alcançava, como uma curva de nível da morte. Um enorme sepulcro de sal. Absurdo. Absurdopp. 147

No pai subsiste a memória do que foi o planeta, no filho subsiste um coração puro, não contaminado e uma confiança absoluta no pai. Responde-lhe sempre «Está bem», mesmo quando o confronto com a violência ou a fome vão debilitando a esperança.
Os dois vão caminhando obstinadamente na direcção do Sul, sem que saibamos porquê. Na verdade, nem eles sabem o que vão encontrar.

O romance é negro, muito negro. E no entanto, há uma luz lateral, discreta, divinal, que nos faz reflectir sobre a essência do que salva a humanidade:

«Lembras-te daquele menino, papá?
Sim. Lembro-me dele.
Achas que ele está bem, o tal menino?
Sim, sim. Acho que ele está bem.
Achas que ele se perdeu?
Não. Não me parece que ele se tenha perdido.
Tenho medo de que ele se tenha perdido.
Acho que está tudo bem com ele.
Mas quem é que o vai encontrar, se ele estiver perdido? Quem é que vai encontrar o menino?
A bondade vai encontrar o menino. Sempre assim foi. E há-de voltar a ser
pp. 183-184

É um dos melhores romances que li nos últimos tempos. Vencedor do Pullitzer Prize for Fiction de 2007, "A Estrada", do escritor norte-americano Cormac McCarthy, vai agora ser adaptado para cinema. Não, desta vez, não serão os irmãos Coen, mas o realizador australiano John Hillcoat. No elenco, teremos Viggo Mortensen e Charlize Theron. Esse filme, eu vou ver.

28.4.08

Feliz Cumpleaños

José Malhoa
O Atelier do Artista (Antes da Sessão)
Óleo sobre tela - 1893-1894
93 × 127 cm


Eduardo, não sei se os meus avôs alguma vez puderam apreciar este quadro de Malhoa. Abel, avô paterno, nasceu a 27 de Abril de 1909. José, avô materno, nasceu a 28 de Abril de 1897. Suspeito que, pelo menos este último, que tinha sensibilidade artística (era ourives), tenha conhecido a obra de Malhoa, nascido, como ele, num dia 28 de Abril (1855). É preciso ver as coisas pelo lado positivo. Esta é a data de aniversário de alguns tristes ditadores (António de Oliveira Salazar, Saddam Hussein), mas também de Tobias Michael Carel Asser, que ninguém reconhece, é certo, mas foi fundador das Conferências Internacionais de Haia e Nobel da Paz em 1911 (n. 28 de Abril de 1838 - f. 29 de Julho de 1913). Mas os artistas, ah os artistas, é que nos deixam felizes! Aos meus avôs, eu dedicaria este quadro do Malhoa. A si, uma vez que já escolheu a loira Jessica Alba, que é assim uma coisinha mais viva e very-americana, eu dedico outra diva, um furor bem euro-latino, que também festeja aniversário neste dia! Enfim, temos que ser uns para os outros... Quando puder, envie-me o Javier Bardem (e não interessa nada o dia em que nasceu!). :)




P.S.: Também li o Publico, mas quem é o António CUNHA Vaz?

Bienal Internacional de Cerâmica de Aveiro VIII



Em Dezembro de 2007, divulguei aqui a VIII Bienal Internacional de Cerâmica de Aveiro (ver I, II, III, IV, V, VI, VII), apelando à visita da magnífica exposição, resultante do mais importante concurso dedicado à Cerâmica Artística realizado em Portugal.

Recentemente, na minha caixa de comentários, o artista
Ricardo Casimiro chamou-me a atenção para o facto de os prémios ainda não terem sido pagos aos três autores vencedores. No seu blogue, ele narra-nos a sua experiência pessoal e dá-nos a ler uma mensagem da ceramista Sérvia Jasmina Pejcic, vencedora do 1º Prémio: «...Unfortunatelly I haven't received the prize money and I don't know what happened with this.»

No dia 8 de Dezembro, a Câmara Municipal de Aveiro realizou uma cerimónia de entrega dos prémios..., mas não os entregou. Para conhecerem
os valores em dívida, 30 mil euros no total, remeto-vos para o mesmo blogue.

P.S.: Ricardo, Jasmina, talvez o Joaquin Cortés vos possa ajudar!

27.4.08

Un poquito de Sancho Pança, por favor


«(...) mas aqui, o nosso autor refere-se à presteza com que se acabou, se consumiu, se desfez e se dissipou, como em sombra e em fumo, o governo de Sancho, o qual estando na cama, na sétima noite da sua grandeza, mais farto de julgar e de dar sentenças, de fazer estatutos e pragmáticas do que de pão e vinho, quando, apesar da fome, lhe começava o sono a cerrar as pálpebras, ouviu tamanho ruído de sinos e de vozes que não parecia senão que a ilha toda ia ao fundo.» pp. 433, II Volume
«(...) e nem o vê-lo caído inspirou a mínima compaixão àquelas gentes zombeteiras; antes, apagando os archotes, tornaram a reforçar os gritos e a reiterar o alarme, com tanta pressa, passando por cima do pobre Sancho, dando-lhe infinitas cutiladas, que, se ele não se recolhe e encolhe, sumindo a cabeça entre os escudos, passava grandes trabalhos o pobre do governador...» pp. 434, II Volume

Qualquer semelhança entre ficção e realidade é pura coincidência. É que Sancho Pancha, governador por ambição, logo se desenganou:
«Isso não são brincadeiras para duas vezes; com este governo me fico e não torno a aceitar mais nenhum, nem que mo ofereçam numa bandeja, que eu não sou dos que querem voar ao céu sem asas. Sou da linhagem dos Panças, que sempre foram cabeçudos, e que, em dizendo nunes, nunes hão-de ser...» pp. 438, II Volume

E, se dúvida restar, fica o recado do ex-governador ao duque seu senhor: «que sem mealha entrei neste governo e sem mealha saio, muito ao invés do modo como costumam sair os governadores de outras ilhas...» ibidem


Citações in D. Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes
Ed. Círculo de Leitores, 2005

Diva e contrabaixo

Carlos Barreto Trio, em grande, no Music Hall.




[Foto de Arlindo Pereira]

25.4.08

Viva a Liberdade! (ao largo os Passa-Monte!)

Cruzeiro Seixas
O Céu estava lucidíssimo
Gouache s/ papel - 19x16 cm - 1973



CAPÍTULO XXII
Da liberdade que D. Quixote deu a muitos desafortunados que iam levados contra sua vontade onde eles por si não queriam ir

(...) alçou D. Quixote os olhos e viu que pelo seu caminho vinham uns doze homens a pé engranzados como contas numa grande cadeia de ferro pelos pescoços, e todos algemados. (...)
- Esta é cadeia de galeotes, gente forçada da parte de el-rei, para servir nas galés.
- Como «gente forçada»? - perguntou Dom Quixote. (...)
- Em conclusão - replicou Dom Quixote -, como quer que seja, esta gente, ainda que os levam, vai à força e não por sua vontade.
- É verdade - concordou Sancho.
- Pois sendo assim - disse o amo - aqui está onde acerta à própria o cumprimento do meu ofício; desfazer violências e dar auxílio a miseráveis. (...)
Nisto, chegou a cadeia de galeotes e Dom Quixote com mui corteses falas pediu aos que os iam guardando fossem servidos de informá-lo e dizer-lhe a causa ou causas, por que levavam aquela gente daquele modo. (...)
- De tudo o que me haveis dito, caríssimos irmãos, tenho tirado a limpo o seguinte: que e bem vos castigaram por vossas culpas, as penas que ides padecer nem por isso vos dão muito gosto, e que ides para elas muito a vosso pesar e contra vontade, e que bem poderia ser que o pouco ânimo daquele nos tratos, a falta de dinheiro neste, os poucos padrinhos daqueloutro, e, finalmente, que o juízo torto do magistrado fossem causa da vossa perdição e de se vos não ter feito a justiça que vos era devida. (...)
- Graciosa pilhéria é essa - respondeu o comissário - e vem muito a tempo. Forçados de el-rei quer que os soltemos, como se para tal houvéssemos autoridade ou ele a tivesse para no-la intimar! Vá-se Vossa Mercê, senhor, nas boas horas; siga o seu caminho e endireite essa bacia que leva na cabeça, e não queira tirar castanhas com a mão do gato.
- Gato e rato e velhaco sois vós, patife - respondeu D. Quixote.
E, dito e feito, arremeteu com ele tão a súbitas, que sem lhe dar azo de se pôr à defesa, deu com ele em terra malferido de uma lançada; e dita foi, que era aquele o da escopeta. (...)
Tamanha foi a revolta que os guardas já para terem mão nos galeotes, que se estavam soltando, já para se haverem com D. Quixote, que os acometia a eles, não puderam fazer coisa que proveitosa lhes fosse.(...)

Passa-Monte, que nada tinha sofrido e já estava caído na conta de que D. Quixote não tinha o juízo todo (pois tal disparate havia cometido como era o de querer dar-lhes liberdade), vendo-se maltratado e daquela maneira, deu de olho aos companheiros, e retirando-se à parte, começaram a chover tantas pedradas sobre D. Quixote que poucas lhe eram as mãos para se cobrir com a rodela; e o pobre Rocinante já fazia tanto caso da espora, como se fosse de bronze.(...)

Ficaram sós o jumento e Rocinante, Sancho e D. Quixote: o jumento cabisbaixo e pensativo, sacudindo de quando em quando as orelhas, por cuidar que ainda não teria acabado o temporal das seixadas, que ainda lhe zuniam os ouvidos; Rocinante, estendido junto do amo, pois também o derrubara outra pedrada; Sancho desenroupado e temeroso da Santa Irmandade; e D. Quixote raladíssimo, por se ver com semelhante pago daqueles mesmos a quem tamanho benefício tinha feito.

in D. Quixote de La Mancha, de Miguel Cervantes
pp. 213 a 223 do I Volume, Ed. Círculo de Leitores, 2005

Que o tempo não desbarata

Cruzeiro Seixas
Cavalo e Cavaleiro eram agora um vivo que possuíam todo o espaço
Desenho s/ papel - 21x29 cm - 1972



Sexta-feira, dia 23 de Abril, comemorou-se o Dia Internacional do livro. Foi em Espanha que surgiu esta ideia de festejar o livro, e a data escolhida sempre homenageou Miguel de Cervantes. Até 1930, coincidia com a sua data de nascimento; nesse ano foi alterada para 23 de abril, dia do seu falecimento.
Só em 1995, a UNESCO instituiu 23 de abril como o Dia Internacional do Livro e dos direitos dos autores.

Comprei há pouco tempo uma edição de D. Quixote de La Mancha (Círculo de Leitores). Devolvi à precedência o exemplar que o meu pai também já adquirira a essa editora há algumas décadas atrás. O meu D. Quixote parece ter outro sabor, não sei bem porquê. Tenho-o desfolhado aos poucos, saltitando páginas, feliz por reencontrar passagens que retive na primeira leitura. Talvez não saibam, mas
o livro foi publicado em Portugal no mesmo ano em que foi editado em Madrid (1605). A obra escapou às perseguições do Santo Ofício.

Decidi associá-lo à comemoração do 25 de Abril. As aventuras do Ingenioso Hidalgo não podiam cair no esquecimento. As aventuras dos nossos capitães também não. Fiquei feliz por assistir a tantas (boas) reportagens e entrevistas televisivas nas últimas semanas, nomeadamente na RTP. Como Cervantes, «não podia inclinar-me a crer que tão galharda história tivesse ficado manca, e já atirava a culpa à malignidade do tempo devorador e consumidor de todas as coisas, que ou tinha aquilo oculto, ou o desbaratara e perdera(pp. 85, Vol. I).

23.4.08

Cinemas paraíso



Acho que todos tivemos/temos os nossos cinemas-paraíso. O primeiro da minha vida morava em Espinho e chamava-se Cine-Teatro São Pedro. Foi lá que vi Esplendor na Relva, me apaixonei pelo Warren Beatty e senti ciúmes da minha amiga Natália que, pelo nome e pela parecença com Natalie Wood, teria sempre mais chances do que eu na eventualidade - tão real! - de um encontro. Foi também lá que dei um grito terrível, assustada com um primeiro plano repentino de uma serpente em Excalibur. Fiquei com a impressão de que toda a sala se ergueu para ver quem era a histérica. Aos Domingos à tarde, tinha eu 12, 13 anos, eram exibidos filmes indianos, que eu via, chorosa e encantada. Mas também me lembro de cinema brasileiro, nomeadamente Eu te amo, de Arnaldo Jabor, o primeiro filme erótico a que assisti. Como todos se conheciam, e as notícias corriam rápido em Espinho, não me levantei no intervalo para passar o mais despercebida possível. A minha mãe ia saber da minha presença na sala, pela certa!
O Cine-Teatro São Pedro representava para nós o mesmo que o Monumental para os lisboetas, e teve a mesma sorte. Foi destruído, não servindo de nada abaixo-assinados para defesa daquele património. Em sua substituição, construiram um centro comercial medíocre e algumas salas de cinema numa cave (como contrapartida). A perda foi imensa.

O segundo cinema-paraíso da minha vida foi o Quarteto, em Lisboa. A paixão começou nos anos 80, mais precisamente a partir de 1984. Depois, no início dos anos 90 tornei-me vizinha do Quarteto. Passei a ver todas as sessões, independentemente do tipo de filme. Na altura, a curiosidade era imensa e tudo me apetecia, além de que não me faltava tempo disponível. Às sextas à noite, havia dose dupla em cada sala, e lembro-me de correr de sala em sala, com a anuência dos empregados, para compor o meu par preferido. Vi várias centenas de filmes durante anos. Era o único cinema onde se via Godard (andava na universidade ao tempo da polémica que gerou filas para ver
Je vous salue, Marie), Fassbinder (lembro-me perfeitamente da estreia de Querelle), Scorsese (sim, vi lá Touro Enraivecido ou o alucinante After Hours), Coppola (do tempo de Rumble Fish), André Téchiné (que realizou um dos filmes da minha vida, mais um, Ma Saison Preférée), David Lynch (o meu primeiro filme foi Dune e adorei) e tantos outros realizadores. Lembro-me também de fiascos, de filmes de série B, alguns filmes de terror (como se chamava aquele do assassino na sala de cinema que exibia um filme de horror com um assassino que também mata espectadores que estão a ver um filme fantástico de dinossauros que comem pessoas? :)), filmes de que esqueci o nome mas cujo enredo guardo na memória, filmes e filmes, e gente, desconhecidos que começavam o namoro ali ao lado, que falavam alto ou choravam sozinhos, colados a mim, ou cinéfilos conhecidos, como o Paulo Portas (o promissor director do Independente na altura, que ia às sessões da tarde, sozinho) ou o Lauro António (que recordo, com o filho pela mão).

Aquela rua do Quarteto era tão calma e foi também ali a única vez que me assaltaram nos quase vinte anos vividos em Lisboa. Eu e uma amiga a ver os cartazes cá fora, dois sujeitos que nos perguntam as horas, nós sorridentes e eles puxam-nos os colares, quase me arrancando o pescoço, que a moda era usar vários fios de prata cheios de berloques uns por cima dos outros.
Atónitas, deixamo-los fugir, a correr. E depois fomos ao cinema!

O Quarteto, fundado em 1975,
fechou em Novembro, poucos meses antes do seu fundador, Pedro Bandeira Freire, também desaparecer. Talvez a CML venha a classificar o espaço como de interesse cultural da cidade. Mas como se classifica um homem que gera vivências, emoções, gostos, servindo cinema português e do mundo, clássico ou alternativo, a milhares de pessoas durante décadas? Como se agradece?

Eu mando-lhe beijos.


Tant que...

Em Paris, passou uma carrinha que dizia assim...
Acho que este era o nome de uma empresa. promessa de eternidade ou de finitude?

22.4.08

Eu disse crítica de cinema? (III)

Ela faz crítica de cinema (II)


Super Winx!

Primeiro começou tudo como era preciso. E então quando chegaram ao castelo do feiticeiro Hagen encontraram os seus guardas que as atacaram muito. Bloom conseguiu matar os guardas e então as Winx foram ter com o Hagen que estava furioso com Bloom. Hagem apontou a espada ao pescoço da Bloom mas não a matou porque a Faragonda, que é a Directora, apareceu. Faragonda disse a Hagen que Bloom era a filha dos reis de Domino. Hagen disse: "está viva?" - "Sim, senhor Hagen", disse Faragona. Bloom estava feliz por saber coisas novas sobre os seus pais (ela foi adoptada). Num dia, Bloom venceu um ataque da bruxa má que vive em Domino com as três bruxas centrais. Essa bruxa, com os seus insectos maus, atacou Alfea. Bloom conseguiu que ela fosse embora. Faragonda, quando ouviu Bloom dizer que a escola estava destruída, desmaiou, mas Faragonda não morreu porque Hagen pegou nela ao colo. Quando Faragonda acordou, tinha uma bengala na mão. As Pixies apareceram para reconstruir a escola e todos ficaram muito contentes.
Num outro dia, as fadas e os Especialistas, que estão sempre com elas, foram para Domino encontrar os pais verdadeiros de Bloom. Todos tiveram uma grande aventura. Quando sairam da nave foram logo à procura dos pais da Bloom mas foram capturados pela bruxa má. Bloom e as outras Winx conseguiram salvar-se num instantinho. Mais tarde ou mais cedo encontraram os pais verdadeiros da Bloom e então, na linda noite, fizeram todos um baile para festejar a descoberta. Os pais adoptivos da Bloom também assistiram à festa porque alguém lhes enviou um convite. Bloom e Sky, o seu namorado Especialista, casaram-se e viveram felizes para sempre. Fim da história.

Eu adorei ver este filme, e até o preferi aos filmes em DVD. Há cenas que gosto muito: Por exemplo, numa cena a Stela diz "Meu amorzinho, não fujas de mim" e "Olha o vestido da noiva, como é lindo!"

A Bloom também é mais bonita neste filme, mas o Sky é mais lindo nos DVDs.
Só vi uma vez o filme em Aveiro mas foi em Paris que soube que ia haver um filme das Winx. Em Paris, o filme estreou em Abril e aqui foi em Março.

A.
8 anos

Não faço crítica de cinema (I)

Fui ver Entrevista, de/com Steve Buscemi e perdi o meu tempo!
Quis rever Sorrisos de uma Noite de Verão (DVD), de Ingmar Bergman, e adormeci a meio!

21.4.08

Bom início de semana!

Isaque Pinheiro
Sem Título - 2007
Mármore, couro e metal
Diam: 30 cm

em exposição no
CCI até 15 de Junho

Passeio de Domingo II


Dado o revés sofrido pelo insuportável Ribau Esteves - nunca fiando, é claro! - foi com redobrado prazer que finalmente fui conhecer o novo Centro Cultural de Ílhavo.

O projecto do CCI foi desenhado pelos arquitectos Filipe Afonso e por Ilídio Ramos.
«Tentámos configurar um espaço público (centralizado) com o edifício», refere Filipe Afonso, recordando que «a ideia foi formar uma caixa (em betão) dentro de outra caixa (um invólucro em vidro, translúcido e com bastante luz)». A praça pedonal é ilustrada por uma pala com cerca de 20 metros de comprimento, mais de dois de espessura e 70 de largura.




Não vi ainda o auditório, apesar da Agenda ser convidativa (além de que, até Junho, todas as entradas são gratuitas). Este Domingo foi destinado ao Espaço de Exposição. Queria conhecer os 850 metros quadrados de área, garante de uma valência rara para o CCI, ao nível do distrito.




Em exposição: DEZ - ESCULTORES CONTEMPORÂNEOS

Álvaro de la Vega - Alves André - Filomena Almeida - Isaque Pinheiro - Paco Pestana - Paulo Neves (foto inferior)- Rui Matos - Vitor Ribeiro - Volker Schnuttgen - Xico Lucema


Fotos MRF

Passeio de Domingo I

Era uma vez um tornado que não era tornado mas parecia - o Museu Marítimo de Ílhavo - o Navio Museu Santo André - a Gafanha da Nazaré - e a tranquila Gafanha da Vagueira.














Fotos MRF

18.4.08

Dia Internacional dos Monumentos e Sítios

Um exemplo genuíno do nosso património local

12345678910111213

Quem identifica as 13 imagens aqui expostas?
Prémio: Um passeio de moliceiro para duas pessoas numa data à escolha.



Adenda: "maria alice", o passeio de moliceiro é seu e de quem a acompanhar!

17.4.08

A Sesta de Olga Roriz e Joaquim Pavão


A Sesta

Cinco viajantes à procura de um lugar perfeito, paradisíaco…
O lugar onde o momento se faz repasto para mitológicos deuses.
Malas e mais malas que se transformam em longas mesas.
Mesas e mais mesas… Postas. Cheias.
A comida a transbordar pelos cantos da toalha. O vinho derramado.
A gula de garfo e faca, de goelas abertas e mãos sujas.
Pratos que voam e se suspendem no ar como pássaros.
Tudo às avessas como o próprio tempo. Tudo parado. Quebrado até ao silêncio.
Essa intimidade de um Olimpo perdido no sono profundo da nossa imaginação.


Olga Roriz – In João Mendes Ribeiro [et al.] – Arquitecturas em Palco. Coimbra: Almedina, 2007. p. 11-12.


A curta-metragem realizada por Olga Roriz,
A SESTA, pode ser vista no Teatro Nacional S. João, no Porto, integrada na Exposição ARQUITECTURAS EM PALCO, de João Mendes Ribeiro. Até dia 11 de Maio.

A banda sonora do filme foi composta por um amigo de Aveiro,
Joaquim Pavão (no seu site, podemos escutar o II Andamento). Só quem nunca o ouviu ao vivo, não entenderá estas palavras de Olga Roriz.

Foto MRF, Maio 2006

Quando as escolas são geridas por Autarquias...V

... que sabem aproveitar as vantagens do QREN, nomeadamente ao nível dos apoios para a requalificação da rede escolar do 1º Ciclo do Ensino Básico e da Educação Pré-Escolar, fazem-se alguns progressos.

Numa primeira fase (até 31 de Março), estiveram abertas candidaturas para:
a) Construção de raíz de novos centros escolares, integrando preferencialmente o 1º Ciclo e a Educação Pré-Escolar;
b) Ampliação/requalificação das Escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico e dos Estabelecimentos de Educação Pré-Escolar já existentes.

Os beneficiários: Municípios cuja Carta Educativa se encontre devidamente homologada pelo Ministério da Educação.
Financiamento: 70% NR

Em Aveiro, a coligação PSD-CDS preferiu inventar uma parceria público-privada (que parece escapar de todo ao conceito de interesse público). Enfim, resta-nos olhar para o que
outros Municípios vão fazendo e felicitá-los.

PS e BE vão lançando farpas, mas o touro sairá ferido?

Quando as escolas são geridas por Autarquias...IV

Numa sala do terceiro ano da Escola do 1.º Ciclo da Vera Cruz, em Aveiro, há um pó no ar que provém do chão de cimento, que ficou descoberto pela destruição do piso (...).
Na autarquia, Fernando Pereira (Associação de Pais) diz que são «recebidos com agressividade, maltratados e colocados de parte».
(
ler artigo na íntegra)

É só mais uma escola do 1º Ciclo de Aveiro. O pó tem provocado tosse e problemas respiratórios aos alunos.

[Convirá dizer, mesmo que pareça estranho, que
só tenho feito referência às "melhores escolas" do concelho.]