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17.5.12

Bósnia

 
Avistar a Stari Most (ponte velha), aproximando-nos a pé do centro de Mostar (viajamos num autocarro, carreira normal, a partir de Sarajevo). A Stari Most foi construída em 1566 e era considerada património da Humanidade. Foi completamente destruída no período de guerra (e em 2008 restaurada).

3.12.09

Killing in Sarajevo


Acabo de ler O Violoncelista de Sarajevo de Steven Galloway (um autor/livro que o marcas d'água me fez conhecer). São várias as descrições de percursos, ruas, praças que reconheço, calcorreados pelas personagens. Poderia ilustrar algumas dessas passagens do livro com fotografias que tirei recentemente (talvez o faça noutra altura). A enorme diferença é que eu percorri uma cidade liberta, tranquila, sem ameaças de morteiros e de balas de atiradores furtivos ao virar de qualquer esquina. O que motivou esta leitura foi a possibilidade de conhecer a Sarajevo anterior às marcas que encontrei: a Sarajevo cercada. Numa obra que evoca ainda uma Sarajevo mais distante, inteira, mesmo se nunca imaculada. Através da leitura, pude sobrepor três tempos próximos uns dos outros, do ponto de vista cronológico, e completamente fragmentados, em termos de memória colectiva. centrados num mesmo espaço. Era o que queria. e o livro cumpriu esta promessa (não outras, mais literárias). O espaço físico confunde-se com o espaço psicológico. As feridas, os buracos, a destruição, as barreiras, atingem paredes, casas, ruas, pessoas, como se as últimas fossem feitas da mesma matéria morta e anónima, ou simbólica e singular: um peão, uma casa; um violoncelista, a histórica Biblioteca Municipal (detalhe na foto abaixo). unidos no mesmo destino. o de ruir. com maior ou menor dignidade.


Em O Violoncelo de Sarajevo ninguém sobrevive. mesmo quando o corpo se ergue e aparentemente domina o espaço: o da vida interior e o que o rodeia. Todos foram forçados a vestir outra personalidade. Flecha, a atiradora furtiva que procura defender a cidade, personifica essa deslocação do ser.

«Perceber que a vida é maravilhosa e que não durará para sempre é uma dádiva rara. Por isso, quando Flecha aperta o gatilho e acaba com a vida de um dos soldados que tem na mira, fá-lo não porque queira vê-lo morto - embora não possa negar que quer - mas porque os soldados a privaram, e a quase todas as outras pessoas que vivem na cidade, dessa dávida. O facto de a vida ter um fim tornou-se tão evidente por si mesmo que perdeu todo o significado.» [pp. 20-21]

Pensei então no (pre)conceito moral dominante segundo o qual matar inimigos, em situação de guerra, não é condenável. O direito à vida pode, nesse contexto, ser violado. Mesmo a propósito, leio (via
Crítica: blog de filosofia) que Jeff McMahan defende em Killing People a teoria de que as condições em guerra não são pertinentes para definir o que a moralidade permite ou não, e que as justificações para matar pessoas são as mesmas em todos os contextos. Por exempo: em caso de legítima defesa. Todos poderíamos, face à percepção dessa ameaça, vestir a pele de Flecha. ou a de um soldado sérvio. e matar. Nesta obra, McMahan acaba defendendo uma visão que põe em causa a teoria da "guerra justa". Para o autor, na maioria dos casos, é moralmente errado lutar numa guerra... que é injusta. No meu ponto de vista, lutar no Iraque, lutar no Afeganistão, ter combatido nas ex-colónias, seria então imoral. Mas quem pode definir de forma objectiva "a justiça" de uma guerra! Muitos nomearão os ataques no Afeganistão "moralmente" aceitáveis.

Sobre a necessidade de libertação de Sarajevo havia unanimidade. Não obstante, a intervenção da NATO foi adiada. Nos 44 meses do cerco, o terror contra Sarajevo e seus moradores variaram de intensidade, mas o propósito sempre foi o mesmo: infligir o maior sofrimento possível aos civis a fim de forçar as autoridades bósnias a aceitar as exigências sérvias. O Exército da República Srpska cercou a cidade, colocando tropas e artilharia nas colinas circundantes. Civis foram atacados durante quase quatro anos. Estima-se que mais de 12.000 pessoas foram mortas e 50.000 feridas durante o cerco, sendo que 85% das vítimas eram civis.

«-
Se ficarmos, vão disparar sobre nós das colinas até estarmos todos mortos (...).
- O mundo nunca permitirá que isso aconteça. Terão que nos ajudar mais tarde ou mais cedo (...) - diz Emina.
Dragan não consegue perceber, pelo tom de voz dela, se acredita naquilo que diz. Não sabe como poderia acreditar. Certamente, ambos vêem a cidade desintegrar-se diante dos seus olhos
.» [p. 66]

A justiça tardou. Raramente se discute a imoralidade da observação passiva.


Obras referidas:
- Steven Galloway (2009). O violoncelo de Sarajevo. Lisboa. Editorial Presença
-
Jeff McMahan (2009). Killing in War. Hardback

14.11.09

1-0, 1-1, 1-2, n-n

Portugal venceu a Bósnia-Herzegovina por 1-0. Teria sido bom voltar a Mostar (ou Sarajevo) e ver lá o jogo. ou... quero lá saber do jogo. Eu tenho é vontade de voltar à Bósnia-Herzegovina. As sequências de imagens que não vou esquecer são bem melhores que passes de futebol. (ok, viva a Selecção nacional! :P)

Fotos MRF
Mostar, 2008

22.7.08

4.7.08

Marcas da guerra IV

«Mezars» é o nome dado aos cemitérios turcos. Em Kovaci, um bairro de Sarajevo, existia um velho «mezars». Em 1878 foi convertido num Parque, um espaço verde no limite da cidade. O que aqui vemos evoca a barbárie num mundo que é contemporâneo, que nos pertence. Na sequência do cerco a Sarajevo entre 1992 e 1995, o cemitério foi reactivado. Milhares de soldados estão sepultados aqui. Desde então, chama-se «Shahids' Mezarje». Subir aquela área, desde a parte baixa do cemitério, até à Fortaleza Zuta Tabija, foi o momento mais doloroso da viagem. Em todas as placas estava assinalada a data da morte. 1992 1992 1994 1993 1993 1994 1992, infinitamente. O poema de Pessoa ressoava:

"Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe»."

No «Shahids' Mejarje» está também sepultado o primeiro Presidente do Estado Independente da Bósnia e Herzegovima, Alija Izetbegovic. O túmulo é guardado por um soldado___ que fica horas imóvel, em sentido, prestando homenagem ao herói nacional.


(Malhas que o Império tece)...

Fotos MRF e BG
Maio 2008

28.6.08

Marcas da guerra III

No dia 28 de junho de 1914, o Arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do Império Austro-Húngaro e sua esposa Sofia foram assassinados em Sarajevo. Pouco tempo depois, eclodia a I Guerra Mundial.
No Congresso de Berlim, em 1878, a monarquia austro-húngara obteve o mandato para ocupar a Bósnia-e-Herzegovina. No dia 29 de Julho desse ano, as suas tropas atravessaram a fronteira. Na manhã de 19 de Agosto de 1878, 14000 soldados chegaram a Sarajevo. A Resistência soçobrou no final desse mesmo dia. A anexação de todo o país foi concluída a 30 de Outubro de 1878.

A História da Resistência em Sarajevo é antiga. A organização Norodni Odbor, cujo líder mais proeminente seria Salih Vilajetovik (mais conhecido por Hajji Lojo), foi criada ainda antes de 1878. Contudo, a Resistência aumenta quando é criada a Organização do Povo Muçulmano (1906) e a Organização do Povo Sérvio (1907). Estas duas organizações têm jornais próprios: Musavat e Srpska Rijec, respectivamente. No início de 1908, é formada a Comunidade do Povo Croata, que também tinha o seu jornal, Hrvastska Zajednika. O primeiro jornal operário fora lançado em 27 de Agosto de 1905. Em 23 de Junho de 1909 foi criado o Partido Social Democrata da Bósnia, que passou a editar também um jornal, Glas slobode.

O Acto de Anexação foi proclamado a 6 de Outubro de 1908. A nova Constituição e o novo corpo legislativo foram endossadas pelo Imperador Francisco José I a 17 de Fevereiro de 1910. As eleições para a Assembleia na Bósnia ocorreram em Maio e um mês depois o Imperador visitou a Bósnia.

Logo após a proclamação da anexação,
a Sérvia lançou um vigoroso protesto, exigindo a sua anulação ou compensações que assegurassem a sua independência e desenvolvimento económico. A imprensa sérvia exigia mesmo o domínio do território, desde a Bósnia ao Adriático. O governo austro-húngaro recusou o protesto e qualquer direito da Sérvia a pôr em causa a anexação.

Francisco Fernando da Áustria (em alemão, Franz Ferdinand von Österreich), arquiduque da Áustria-Hungria, tornou-se o presumível herdeiro do trono imperial quando o seu primo, o Príncipe-Herdeiro Rodolfo, cometeu suicídio, fazendo do pai de Francisco Fernando, Carlos Luís, o primeiro na linha de sucessão do trono.

Em 28 de Junho de 1914, quando o arquiduque se encontrava em Sarajevo para comandar manobras militares, foi assassinado por Gavrilo Princip, estudante servo-bósnio. O assassino era militante da organização nacionalista sérvia Jovem Bósnia (Mlada Bosna).

O governo austríaco responsabilizou a Sérvia pela morte. Mediante um ultimato exigiu ao governo sérvio a repressão das acções anti-austríacas lançadas do seu território, a autorização para que a Polícia austríaca participasse na investigação do atentado e na punição dos responsáveis. A resposta negativa sérvia, alegando que o ultimato violava a sua soberania, foi o rastilho para o estalar da Primeira Guerra Mundial (1914-18), opondo as alianças da Alemanha com a Áustria-Hungria, às da Sérvia com a Rússia, França e Grã-Bretanha.

[Informação e imagens recolhidas no Museu do Assassinato em Sarajevo (Maio 2008):]

21.6.08

Marcas da guerra II

Já estava a despedir-me de Mostar quando avistei esta enorme cruz de Cristo sobre uma colina. Mostar é a capital da Herzegovina, a que correspondem dois cantões, o cantão ocidental e o cantão Herzegovina-Neretva. Mostar fica no centro deste último cantão. Neretva é um dos rios que o atravessa.


A bandeira da Herzegovina aparece bem visível em vários locais na cidade, como que a esclarecer quem passa, e quem lá vive, que a integração na Bosnia-e-Herzegovina não significou a perda de uma identidade política e cultural própria. Em baixo, uma foto do teatro com uma bandeira gigantesca...

Mas aquela cruz a dominar a paisagem, uma paisagem povoada de mesquitas, tem um significado particular. Bósnios muçulmanos e bósnio-croatas (maioritariamente católicos) coabitam naquele espaço e a tensão é latente. Vivem pacificamente mas basta uma pequena faísca e os ânimos inflamam-se. Ontem, na sequência do jogo Turquia-Croácia, que terminou com a surpreendente vitória dos turcos por 3-1, dezenas de pessoas ficaram feridas em Mostar, devido a confrontos entre bósnios muçulmanos, apoiantes da Turquia, e bósnio-croatas, que se identificam com a selecção croata. Pesquisando um pouco, percebi que não é a primeira vez que o futebol serve de alavanca para o despoletar da violência em Mostar.

Lembrei-me então das palavras desta habitante e guia turística em Mostar. Sentada num muro da famosa e preciosa "Stari Most" (ponte velha), falou-nos da guerra e do horror que viveu, do isolamento da cidade após a destruição de todas as pontes por unidades da Sérvia e Montenegro da JNA (Yugoslav People's Army), incluindo aquela tão emblemática (a Stari Most foi construída em 1566 e era considerada património da Humanidade). Mas o tom da jovem guia não era derrotista. Falava com entusiasmo de uma Mostar em reconstrução - desde 1998, com o envolvimento da comunidade internacional -, e da tradição de multiculturalidade daquele lugar. Muçulmanos e católicos sempre se apaixonaram nas margens do Nuretva, dizia.
O bairro, vivo e colorido, convida à festa e ao enamoramento. "A guerra foi feita por extremistas... que ainda andam por aí. Em todas as partes do mundo existem loucos, este país não é excepção. Mas o povo, a maioria das pessoas, como eu, querem é paz e muitos namorados!"
Ela sorria, todos respirávamos de alívio, mas até que ponto não são os loucos a conduzir a máquina do mundo?



Fotos MRF
Maio 2008

20.6.08

Marcas da guerra I

Era o maior e mais representativo edifício do período Austro-Húngaro em Sarajevo. Foi construído com o propósito de albergar a sede da autoridade da cidade. O design inicial foi definido em 1891 pelo arquitecto karl Pãrik mas críticas do Ministro Benjamin Kállay impediram-no de prosseguir o projecto. Alexandar Wittek trabalhou no projecto entre 1892 e 1893, mas morreu no ano seguinte. A obra acaba por ser completada por Ciril Ivekovic. O edifício assumiu um estilo arquitectónico historicamente eclético, com predominância da expressão pseudo-mourisca, influência oriunda da arte Islâmica de Espanha e Norte de África. A inauguração formal ocorreu a 20 de Abril de 1896. Até 1949 foi, como previsto, a sede da cidade (o equivalente a uma Câmara Municipal), mas a apartir de então passa a albergar a Biblioteca Nacional e da Universidade da Bósnia e Hertzegovina (Nacionalna i univerzitetska biblioteka Bosne i Hercegovine). Na noite de 25 para 26 de Agosto de 1992, os Sérvios Nacionalistas bombardearam o edifício com artilharia pesada e uma enorme quantidade de bombas incendiárias. A Biblioteca albergava 1.5 milhões de volumes, incluindo mais de 155,000 livros e manuscritos raros, o arquivo nacional, o depósito de cópias de jornais e livros publicados na Bósnia e as colecções da Universidade de Sarajevo. Na sequência do ataque, a Biblioteca ardeu durante três dias. Quase todo o seu conteúdo ficou reduzido a chamas. Durante os três anos que durou o cerco a Sarajevo e a guerra no país, grande parte da herança cultural da Bósnia e Herzegovina foi destruída.

Recordo-me perfeitamente das imagens da Biblioteca em chamas. O simbolismo desse acto de guerra era claro - mas inaceitável. Anos depois, vivia em França, e assisti a um dos últimos programas de culto da televisão francesa - Bouillon de culture (1991–2001), da autoria de Bernard Pivot - gravado precisamente nas ruínas da Biblioteca de Sarajevo. Acho que foi nesse momento que decidi viajar até à Bósnia. O desejo foi realizado há pouco tempo. As ruínas da Biblioteca continuam lá, Bernard Pivot já não se sentiria em segurança quando entrasse no edifício (o interior está completamente barrado com muros de tijolo e placas de madeira). Sarajevo já restaurou grande parte do seu edificado mas não este Monumento. Ele continua ali, nas margens do rio Miljacka, como uma ferida aberta e incurável.


Fotos MRF
Maio 2008
(a primeira imagem é uma fotografia de um velho postal ilustrado)

10.6.08

A nossa presença

Mostar, Maio 2008
Uma família (turistas) na Mesquita Koshi Mehmed-Pasha
Foto MRF


Às vezes o gato fitava
com estranheza
o que de nós (um excesso)
se interpunha entre nós e o gato,
a nossa presença.

Manuel António Pina
in Poesia Reunida, Theo

Assírio & Alvim - 2001

7.6.08

Euro 2008

Fotos tiradas em Sarajevo, Maio 2008

Espero que a selecção turca voe de trólei!
(desculpem o instinto básico mas esta é uma casa portuguesa, com certeza!


Adenda: Portugal 2 - Turquia 0

1.6.08

Dia Mundial dos nossos amores IV

Sarajevo, Maio 2008

Ele e a mãe circulavam pelas ruas da cidade, mendigando. O menino ia sempre à frente, a mãe seguia-o discretamente. Acabámos por nos encontrar várias vezes. Sentava-se ao nosso lado ou caminhava connosco e expressava-se sobre imensas coisas. Compreendíamos com dificuldade o que nos tentava dizer. Contudo, a primeira vez que se dirigiu a mim, foi claro: eu não devia tirar fotografias dentro da Mesquita do Imperador. Ordenava que saísse dali. Eu tinha pedido autorização a um muçulmano, um militar que viera rezar, outros homens me observavam e sorriam, não sentia nenhuma hostilidade, mas decidi obedecer ao menino. Aquela ordem era mais genuína do que todos os sorrisos.

24.5.08

O que eu mais gostei em Sarajevo II

margens da RUA FERHADIJA

Escutar o eco ecuménico de uma cidade___ que esteve quase moribunda devido a excessos de nacionalismo e de barbárie.

Mesquita Gazi Husrev Bey (1531)

(idem)

Bairro de Bascarsija (ou "o labirinto dos artesãos")

Igreja Ortodoxa Sérvia (1863/1869)

Mesquita Ferhadija

(idem)

Mercado Municipal

Sé Catedral Católica Romana (1884/1889)

(idem)

(vista da Sé Catedral Católica)

Velha Sinagoga Judia

(idem, no interior, agora um museu)





Fotos de MRF
Maio 2008