31.10.07

Ópera "Três Vinténs" de Kurt Weil

Orquestra Sinfonieta da Esmae. Direcção Musical - António Saiote.
Encenação - Marcos Barbosa.
Coro – Estúdio Ópera do Departamento de Comunicação e Artes da Universidade de Aveiro.
Co-produção – Fundação João Jacinto Magalhães e Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão.

No Teatro Aveirense, hoje, às 21:30h.



Adenda: Depois desta ópera de Kurt Weill, e tendo já visto Orfeu nos Infernos, não tenho dúvidas de que vou manter-me fiel aos espectáculos da Classe de Canto da Universidade de Aveiro. A encenação de Marcos Barbosa é fiel à intenção original da criação de um novo teatro musical: os conceitos de ópera e de teatro aliam-se com humor e eficácia. A tradução e a integração da mesma (texto) na dinâmica da peça foram decisões inteligentes. Cómica, poética, grotesca, agridoce, cruel, irónica, ontem reconhecemos o espírito Brechtiano. O público aderiu. Culpa nossa, Bertolt Brecht está longe de estar obsoleto.

A Espera - uma criação performativa livremente inspirada em "À Espera de Godot". Direcção Artística - Helena Botto

Estreia hoje, dia 31 de Outubro, às 22h. As apresentações continuam nos dias 1, 2, 3, 7, 8, 9 e 10 de Novembro no Estúdio
PerFormas.



Adenda: Comentário de quem já viu a A Espera - "...é uma experiência quase transcendente. A valer mais do que uma visita."

À escuta #54

Elas começaram a escrever um Diário há poucas semanas. Têm sete anos e deve ser por isso que não se importam que eu leia as suas confissões. As minhas gémeas têm estilos diarísticos muito distintos. Estas passagens foram escritas ontem à noite:

S:
«30/10/2007

No dia 31 do 10 é dia das bruchas e eu pensava que não era dia de aulas mas é dia de aulas. Eu ficei triste e tive pena. Espero que no proximo dia que seija das bruchas não ája aulas. Beijos
[desenho de um coração]»

A.:
«[sem data, escrita contínua]
Hoje passei um grande dia. É fantástico tudo o que existe. Eu adoro brincadeiras giricimas. E nunca pedi nadinha. Eu adoro brincar tanto como as bruxas daquela historia em que as bruxas se divertem mais que as fadas. Gosto de escrever muito! Eu adoro desenhar bonecas e bonecos. Adoro flores. Eu gosto do dia do namorado e do dia do carnavale. No carnavale podemos por disfarces muito diferentes e no dia das bruxas só há bruxas. No inglês a professora disse que fantasma é ghost e eu vou de fantasma. Eu adoro piqueniques divertidos. Eu fasso festas de pijama muito giros. Eu tenho corações na minha janela. Eu uso chapêu quando está muito calor. Eu apanho flores quando estou numa ilha deserta. Eu adoro um chupa-chupa. Eu tenho cinco sentidos! 1+1=2 e essa é fácil. Eu estou numa ilha deserta quer dizer faz de conta.»

30.10.07

Cine Eco #n +1



A deusa grega Deméter deu a agricultura à humanidade. Os Campos de Deméter foi filmado em sete países da Europa mas o professor e realizador norueguês Knut Krzywinski não quis revelar-nos que países eram esses. No filme, as paisagens também não são identificadas por nacionalidade. Tentámos adivinhar mas Os Campos de Démeter remete-nos para além do presente, do pontual, e até do que é visível.

No CineEco' 07, o Júri Internacional atribui-lhe o Prémio Educação Ambiental e o Júri CineEco em Movimento, de que fiz parte, atribuiu-lhe o "Prémio Especial".
Este é um dos filmes que gostaria muito que fosse apresentado em Aveiro. Percebam porquê.

«Quando olhamos para o campo e nos maravilhamos com a sua beleza natural, vale a pena lembrar uma coisa - esta paisagem está longe de ser natural. O que nós estamos a ver, para o melhor e para o pior, é uma paisagem que foi profundamente alterada por gerações de intervenção humana, em particular por antigas práticas agrícolas.

Na Europa, a relação com a terra e a paisagem sempre foi governada pela existência humana. Os habitantes de grutas do Paleolítico, há 40.000 anos, viviam num ambiente que não podiam controlar: no entanto, com a introdução da agricultura esta relação mudou e, através dos milénios que se seguiram, uma combinação de forças naturais e culturais modelaria as paisagens da Europa.
A agricultura necessita de espaços abertos. Áreas foram limpas para o cultivo e os animais domésticos mantinham os espaços abertos através do pastoreio. O Homem tornou-se um factor de estabilização no mundo natural sempre em mudança. Deste modo, uma diversidade de habitats e de paisagens culturais tradicionais foram criadas e mantidas, habitats como os prados, campos de cultivo, vinhas, urzais e pastos.

À medida que lentamente aprendíamos a lidar com a terra, os nossos valores, ideias e identidades começaram a entrelaçar-se com a nova realidade. A ideia de natureza como algo para ser dominado e conquistado desenvolveu-se enquanto economia e a tecnologia tornou atingível o seu controle absoluto. Esta é a origem de muitas calamidades contemporâneas como a perda de biodiversidade, a poluição, a deterioração geral do ambiente e, acima de tudo, a nossa alienação da natureza.

Desde meados do Século XX a agricultura mudou dramaticamente. Nas terras apropriadas, a agricultura intensiva e as monoculturas substituíram a agricultura tradicional, de pequena escala, enquanto nas áreas marginais e isoladas a terra é normalmente abandonada, uma vez que não pode competir com a agricultura intensiva. O abandono é muitas vezes seguido pela invasão do matagal e eventualmente florestação. O aumento do desequilíbrio do uso da terra – reflectido na dupla ameaça da intensificação e do abandono – resultou na erosão das paisagens culturais tradicionais e a sua característica diversidade de habitats e de espécies.

“Campos de Deméter” é uma viagem através das visíveis e invisíveis Paisagens Culturais Europeias – uma viagem através da diversidade, tendências e desafios das nossas paisagens culturais de todos os dias. » [Continuem a ler
aqui, e descubram um pouco da História Agrícola de cada país]

Os Campos de Deméter são um projecto
ECL - European Cultural Landscapes e tem por objectivo comunicar a universal importância das Paisagens Culturais Europeias e possibilitar uma maior compreensão e reconhecimento do seu significado. Isto ajudará a aumentar a consciência acerca da necessidade urgente de proteger o património que é nossa paisagem cultural, através da agricultura e utilização da terra sustentáveis. O projecto ECL promove a produção de documentação e de disseminação transnacional do património das nossas Paisagens Culturais Europeias através da cooperação entre uma rede de cientistas, operadores culturais e promotores.
Coordenador do Projecto: Universidade de Bergen,Noruega.

Rostos

Alguns dos rostos deste CineEco' 07
Colagem feita pelo
Director do Festival, Lauro António

O Professor Anthímio de Azevedo, os realizadores Lauro António, João Baptista de Andrade, Alain Marie, Knut Krzywinski, a directora executiva do Festival Ambiental de Washington Annie Kaempfer, o director do Festival Internacional de Inverno de Sarajevo Ibrahim Spahia, o escritor Fernando Dacosta, as actrizes Rita Ribeiro, Lia Gama, Natasha Marjanovic, Rita Calçada Bastos, Cátia Garcia, Sílvia das Fadas, os músicos Rao Kyao e Celina Pereira, o director de "Mares Navegados" Amândio da Conceição Silva, o Professor António Maues-Collaço, a jornalista Silvia Alves, João Madeira, Eduarda Colares, Carlos Teófilo, Frederico Corado, Márika Benatti, Orquídea Lopes, Luís Silva, Teresa Matias, entre tantos outros. Obrigada pelo convite, L.A., foi um prazer integrar esta equipa e tertuliar entre filmes e filmes e filmes ;)

29.10.07

Aldeias e cidades (quase) invisíveis #3


Imagens da Igreja Matriz, da Capela de São Pedro, do jardim do Centro de Interpretação da Serra da Estrela (C.I.S.E.), do Museu do Pão e do Museu do Brinquedo, para além de alguns detalhes de ruas.

Vivemos esta semana de CineEco entre o C.I.S.E e a Casa Municipal da Cultura de Seia. Restou-nos pouco tempo livre para andar pela cidade ou ir à Serra, pelo que estas imagens são apenas uma pequena nota sugestiva da beleza do lugar. Como dizia Miguel Torga a propósito da Beira, também Seia anda «à roda, à roda, e sempre à roda da mesma força polarizadora: - a Estrela. (...) Há rios na Beira? Descem da Estrela. Há queijo na Beira? Faz-se na Estrela. Há roupa na Beira? Tece-se na Estrela. Há vento na Beira? Sopra-o a Estrela. Há energia eléctrica na Beira? Gera-se na Estrela. Tudo se cria nela, tudo mergulha as suas raízes no seu largo e materno Seio».

Hoje, este cariz fortemente serrano permanece, mas a cidade não parou no tempo. É impossível não repararmos nas estruturas e equipamentos sociais que foram sendo criados na cidade, nomeadamente o novíssimo C.I.S.E.. O que a Estrela dá, Seia deseja estudar e conservar. A defesa do ambiente não é moda mas forma de estar. Foi ali que, há já treze anos, a CMS aprovou e subsidiou um festival de cinema centrado nesta temática. Este ano, uma nova iniciativa foi criada: a organização da Conferência Anual CineEco subordinada ao tema do Desenvolvimento Sustentado. Foram os seguintes os temas abordados:
"Turismo de Natureza e Cultural, no contexto regional e ibérico das estratégias e programas de desenvolvimento sustentável", "Aldeias de Xisto: Desenvolvimento Sustentável" e "Os valores naturais das montanhas do Centro Interior".

Vive-se bem nesta Beira - que ainda sofre de algumas limitações em matéria de acessibilidades. A gastronomia quase merecia um capítulo próprio. Ficam os nomes dos espaços que nos receberam mais que bem:
Restaurante Borges, Farol, Martinho (Quinta do Crestelo), O Tachinho do Francisco, Restaurante do Museu Nacional do Pão.

Fiquei com vontade de voltar para andar à roda, à roda e sempre à roda.

28.10.07

Cine Eco' 07

Os membros dos júris (Internacional, Especial CineEco em Movimento e da Juventude)
Foto desviada do blogue do Luís Silva, Oceano de Palavras


Ainda estou de ressaca e não é por causa das caipiroskas no Espaço Ego em Seia. Vi cerca de 60 filmes entre segunda-feira e sábado. Ainda estou de ressaca, mas foi bom. As temáticas abordadas pelos vários documentários a concurso deixaram-me mais clarividente - dizia Milton Santos que a clarividência não é instintiva, é um saber que se aprende - e assim foi, em matérias de antropologia ambiental e de educação ambiental.

Aos poucos, irei falar-vos mais deste festival criado há 13 anos por Carlos Teófilo e Lauro António. Por agora deixo-vos o trailer de "Encontro com Milton Santos", filme realizado pelo brasileiro Sílvio Tendler, e que foi o grande vencedor desta edição do Cine Eco.



A foto ali em cima (hei-de soltar outras) é apenas uma maneira de vos falar do grupo de pessoas muito bonitas com quem tive o privilégio de partilhar os últimos dias. Um abraço especial aos meus parceiros do "CineEco em Movimento", o antropólogo António Caetano de Maues-Collaço, a jornalista da RTP Silvia Alves, o Almargenzino João Madeira, e ainda Sandra Silva (Sec. Regional do Ambiente, Açores), Susana Ribeiro (Dep- Ambiente, CML) e Patrick Carré (Delegado da Cultura da Mairie de Contrexéville, França).

23.10.07

The 11th Hour



O Cine Eco continua durante toda a semana. Dia 24 às 00.00h, há Sessão Especial no Cinema da CASA DA CULTURA DE SEIA. Em ante-estreia, o primeiro filme de DiCaprio. Vamos ver se é um filho natural de Uma Verdade Inconveniente de Al Gore ou se traz um special apport ;)


Quanto aos filmes a concurso, infelizmente não posso comentar, mas já vi alguns premiáveis. A saga continua até sábado à noite. São quase 60 filmes.

21.10.07

Vou andar por aqui

Cine Eco

Este ano participarei no Festival com um objectivo muito especial: seleccionar os filmes que serão incluídos na Extensão do CineEco em Aveiro. Não, não tenho ainda nenhuma garantia de que esse projecto (diga-se que de mui fraco investimento, em termos financeiros) possa vir a ser realizado. Mas acredito que a CMA possa vir a compreender o interesse de apresentar nesta cidade cinema de qualidade centrado na temática ambiental.

O ano passado, o vencedor do Prémio Lusofonia do Cine Eco foi o filme
Ainda Há Pastores? de Jorge Pelicano. A porta abriu-se de seguida à sua participação em vários festivais internacionais, nomeadamente no FICA e no Festival Cinemambiente de Turim. Neste último ganhou o GREEN AWARD, a maior distinção do cinema ambiental.

A generalidade do público desconhece este tipo de festivais e a qualidade dos filmes, do ponto de vista dos conteúdos e/ou da estética. Os documentários que abordam questões ambientais mais acessíveis são os televisivos - alguns de excelente qualidade, mas a linguagem do cinema ambiental é distinta. É mais cuidada do ponto vista formal e mais diversificada do ponto de vista temático. Nesta edição 2007 estão a concurso 58 obras oriundas de 21 países pelo que a pluralidade de linguagens, prismas, olhares culturais originais, nem é uma condição, mas um pressuposto.

Conto com o apoio de todos os aveirenses no sentido da realização da Extensão do Festival em Aveiro. E espero a visita de todos os que, no decorrer desta semana, queiram passar por Seia para ficar com uma antevisão do CineEco.

Dança e Novas Tecnologias

Aivars B.
Crazy Dance


O teatro Aveirense está a organizar o Ciclo Dança e Novas Tecnologias que, ao longo do mês de Outubro e de Novembro, incluirá a apresentação de seis espectáculos. São espectáculos interdisciplinares, que criam pontes entre a arte performativa e a tecnologia. Flatland I, de Patrícia Portela, "aterrorizou-nos" sexta e sábado; dia 26 será a vez de Jukebody, criado e interpretado por Cristiana Rocha; dia 7/11 teremos uma tripla perspectiva do conceito de ego, em Ego Skin, de Amélia Bentes; dia 22/11 poderemos observar a relação telemática entre uma mulher e um homem imaginário em Algum Dia Tinha de Ser a Sério de Lígia Teixeira e Ivan Franco; no dia 30/11, Isabel Valverde vai questionar a portuguesidade do fado-dança com Dança Fora de Horas.

Patrícia Portela gosta de utilizar "tecnologia doméstica", Cristiana Rocha expõe o "corpo em diálogo com um dispositivo cenográfico e tecnológico mais ou menos variável", Amélia Bentes opta pelo desenho digital executado com uma caneta + mesa Wacon ligada a um laptop (software: Adobe Phtoshop em full screen mode), Lígia Teixeira programa todo o sistema usando linguagem audiovisual Pure Data, Isabel Valverde usa uma tecnologia para manipulação de vídeo através de biofeedback e captação de sensores vocais e musculares (EMG).

Dança e novas tecnologias. Facilmente nos assustamos com a temática, ou nem sequer concebemos a relação, se andarmos distraídos. Mas as novas ferramentas são cada vez mais utilizadas pelas artes em geral, e não apenas pela indústria e economia. O que é importante discutir face à evidência? Desde logo, ao nível do ensino, os novos conteúdos e a estratégia pedagógica a adoptar e, ao nível do trabalho artístico, a coerência entre o conceito da obra e as aplicações tecnológicas por que se optou. Parece unânime a opinião de que os novos media devem ser encarados apenas como ferramentas adicionais e que o enfoque deve permanecer no conceptual. Vi Flatland I. Foi criada, com esses suportes, uma nova linguagem estética? Os meios utilizados foram eficazes na transmissão da mensagem (assumam aqui um plural)?
Eu respondo SIM. e este é mesmo um SIM grande. A beleza do "livro" gigante, o layout e a forma como foram programados os efeitos, o jogo que se estabeleceu entre voz e imagem, a "materialização" dos limites e ambições da personagem "Flatland" via esse diálogo, são arrebatadores. Na segunda parte, quando o público é raptado, os media integram o espectáculo em pleno. "Flatland" interage com as imagens projectadas, elas reforçam sentidos.

No dia 18 assisti à conversa e à perfomance que inaugurou o Ciclo Dança e Novas Tecnologias. Organizada e moderada pelo Professor Paulo Bernardino (UA - DeCA), com a participação de vários experts no uso e reflexão destas questões (Dolores Wilber - DePaul University; Len Massey - Royal College of Art, Reino Unido; Heitor Alvelos - Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto; etc.), a conversa centrou-se nos medialabs e no modelo que estes devem assumir em Portugal, nomeadamente como novos espaços de investigação e desenvolvimento (fixei algumas ideias para discussão em próximos posts - depois de regressar de Seia).

A perfomance, assente na utilização de medias simples (papel e fita-cola) e tecnológicos (criando efeitos audio e visuais) procurou levar todos os presentes a interagir. Foi uma experiência lúdica e reveladora. Os media que, por definição, são o que está no meio, criam oportunidades - para criar barreiras, ou para estabelecer ligações. Nesta perfomance, uma criação colectiva muito experimental, a produção de sons (música) e a expressão corporal (coreografias individuais e de grupo, mesmo que rudimentares) aliaram-se. Ponto final___ ou de partida para outra discussão: os media favorecem a convergência nas artes, mas podemos deixar de desenhar fronteiras entre disciplinas?


[Sobre toda a trilogia Flatland, remeto-vos para uma crítica sapiente lida em O Melhor Anjo]

Flatland didáctico

FLATLAND
(filme de animação, baseado no livro de Edwin A. Abbott)

Flatland original


20.10.07

Hoje, Flatland I (Trilogia de Patrícia Portela)

Teatro Aveirense
21:30

Flatland I (Para Cima e não para Norte) é o primeiro de 3 episódios que contam a trágica vida de um Homem Plano que um dia descobre que lhe falta uma terceira dimensão.
Nesta primeira parte, podemos seguir O Homem Plano na sua reflexão pelos mundos da bidimensionalidade e da perspectiva até descobrir que a sua existência temporária no mundo 3D é possível se existirem espectadores a olhar para ele.
Contente com a descoberta mas descontente com a dependência, o homem plano inicia uma estratégia para conquistar uma imortalidade tridimensional.

Na segunda parte, O Homem Plano apresenta uma estratégia infalível para se manter eternamente no mundo 3D. Apercebendo-se da vantagem que é ter uma dimensão a mais, organiza uma excursão pelo mundo da ilusão e do terrorismo e convida-nos a participar. O homem Plano descobre que a máquina de produção da realidade é o espectáculo e através da repetição de imagens, numeros de cabaret e circo, o Homem Plano mantem o espectador atento, e consequentemente, mantem-se "real" no mundo 3D, rodeado de cameras de vigilância, espelhos retrovisores e projecções em tempo real.
Por um momento, o mundo obedece mais uma vez, a uma construção paralela do próprio mundo.
Teatro é terrorismo e Terrorismo transforma-se em teatro:
Ambos criam ficção em tempo real!
O homem plano conquista a imortalidade tridimensional através do loop.

O Homem Plano percebe que andam à sua procura e que o rapto dos espectadores não poderá ser sustentado eternamente como planeado.
O Homem Plano liga a rádio e a televisão. Em todos os media se fala dele.
O Homem Plano percebe que para "ser e ser visto" e existir para todo o sempre no mundo "real" o melhor é mesmo ser jornalista e haverá sempre um foco e uma câmara atrás de si.
A partir daqui, a história continua através da televisão

Texto , imagem e coordenação Patricia Portela
Interpretação Anton Skrzypiciel
Design sonoro Christoph de Boeck
Apoio técnico e composição gráfica de clips Flatland I e II Helder Cardoso
Layout e programação do livro, dvd e notícias Irmã Lucia efeitos especiais
Apoio técnico no Lugar Comum Hélio Mateus
Apoio técnico em Antuérpia Peter de Goy
Apoio técnico em Montemor-o-Novo e design luz Flat II Carlos Jorge Carmo
Construção do suporte do livro Antoine Vandewaude
Captação de imagem vídeo, direcção de fotografia Leonardo Simões
Captação Registo espectáculo e assistência Patrícia Bateira
Produção Patrícia Portela e Helena Serra
Participação especial de Luís Gouveia Monteiro
E guest star como telepizza man (todos os dias um convidado diferente)

Espírito Nativo

Jacqueline Mercado é mexicana, Pumacayo Conde é peruano, Rui Meira e Ricardo Gouveia são portugueses. Os quatro sentem passion pela música ibero-americana. Pesquisaram e dominam as outras personagens que entram no espectáculo: a quena, a flauta de pâ, o charango, o quatro venezuelano, o bombo leguero, congas, bongôs, chajchas, o palo de agua, clavas e maracas. Chacareras e zambas argentinas, huayños das comunidades andinas, cúmbias da Colômbia, joropos da Venezuela, rancheras mexicanas, um continente de ritmos e palavras. Ontem ouvi muito mais que este repertório. Estabeleceram pontes. O folclore português e o uruguaio, Victor Jara e Zeca Afonso, por exemplo.
Jacqueline e Rui Meira são ainda dotados de uma voz belíssima, caliente, portentosa. E têm alma.
O grupo chama-se Espírito Nativo (bom site) e pude ouvi-los no Cine Teatro de Estarreja. O público apreciou mas eram poucos os verdadeiros aficionados. A América Latina é um continente em via de descoberta e de reinvenção, mas é preciso navegar, pá. Do outro lado do mar não existe apenas o grande Brasil. O projecto ganha mais sentido por isso mesmo. A multiculturalidade assumida torna-os ímpares.
Atentem aos futuros concertos, procurem-nos. Deixaram-me uma fotografia de um espectáculo no Palácio Foz com os contactos escritos:
Tel: 966 555 809/966 497 225
espiritonativo@espiritonativo.com

Eu gostaria de os ouver mais por aí.

19.10.07

Corrente da página 161 e outras


Eduardo Graça, do Absorto, não sabe que eu estou em falta com alguns bloggers por causa desta coisa das correntes e pôs-me na roda. Faltam-me listar livros, filmes e mais uns desafios! Eu prometi responder e respondo, mas faço como o Estado em matéria de pagamentos: levo 60, 90, 120 dias. Ainda bem que os credores não precisam de mim para nada! O "meme" da página 161 exigiu poucos dos meus recursos, bastou estender o braço, e por isso foi mais difícil adiar. A lógica é a seguinte:

1ª) Pegar um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);
2ª) Abra-o na página 161;
3ª) Procurar a 5ª frase completa;
4ª) Postar essa frase em seu blog;
5ª) Não escolher a melhor frase nem o melhor livro;
6ª) Repassar para outros 5 blogs.

Vamos a isso:
1ª) Máscaras de Salazar de Fernando Dacosta, Casa das letras, 22ª edição, 2007 (1ª edição em 1997)

2ª/3ª/4ª) Vou ter que recuar à página 160, para poderem compreender o sentido do extracto. Na página 161 existem apenas sete linhas que são a conclusão de um grande parágrafo.

"As famílias pobres tornaram-se as primeiras a empurrar os filhos, sobretudo rapazes (não engravidam, não dão nas vistas), para a rua. «Mais de 6000 jovens prostituem-se, às claras, em Lisboa. Tendo cada um nove clientes, em média, veja-se a dimensão do problema», anota-me o responsável por um centro de assistência a adolescentes em crise. (...)
Havia um frenesim de sensualidade e neurose na Lisboa do final do fascismo, como havia na do final das Descobertas. O número dos que tinham vidas duplas disparava.
Alguns dos que se prostituíam procuravam nos que os procuravam o pai, a mãe, inexistentes. Era, aliás, frequente terem clientes certos, com quem criavam laços de amizade, de afecto, de protecção, de confidência. A parte afectiva surge com mais frequência do que se supõe. E nas circunstâncias mais inimagináveis.
Salazar sabia que esse era o cimento secreto da união nacional dos portugueses - que nada tinha a ver com a União Nacional do regime. Por isso jamais se atreveu a intrometer-se-lhe."

5ª) Este é o livro que ando a ler e ainda não tinha chegado a esta passagem. Fiquei surpreendida com a violência do que é exposto. Por agora, familiarizo-me com a fidelíssima D. Maria de Jesus e com a filosofia de vida privada e pública do presidente do Conselho.


6ª) Cinco novos seleccionadores de página:


Os meus credores de correntes (para lhes dar a oportunidade de equilibrar a balança de pagamentos de correntes): Bilhas, o bom da fita; Maria Eduarda Colares, que detesta sopa; Carlos Araújo Alves, do Ideias Soltas, que acaba de abrir um Forum para debate da Educação Artística (e todos estão convidados a participar!).

E ainda: A Elisa, de Um dia a menos para a morte e o João Ventura, autor de O que cai dos dias.
Todos têm uma sensibilidade artística e humana fora de comum. Que livros terão em cima da mesa?

[Fotografia de Jean Sébastien Monzani]

18.10.07

BS #11

O seu mentor foi Georges Brassens. Foi poeta, pintor-desenhador, cantor de cabaret. Tornou-se um músico fantástico. mais um que Portugal não importou em vida: Claude Nougaro (1929-2004)(aproveitem para ver no site a «ficção musical»).

CINEMA


TOULOUSE


TU VERRAS


ARMSTRONG

La double vie de Veronique


Tenho uma amiga que se parece imenso com a Irène Jacob de Krzysztof Kieślowski. Lembro-me do M. aparecer com ela. Fiquei impressionada. Não era possível tanto charme e aquele tipo específico de feminidade, tudo tão vivo. Disse a toda a gente que o M. namorava com a Irène Jacob. Durante bastante tempo mantivemos o contacto, fomos aos casamentos uns dos outros, assistimos ao nascimento das crias, mas depois, devido às distâncias, passámos a ver-nos mais raramente. Recentemente voltei a estar com ela. Ela perdeu o viço. Mantém o charme, uma certa elegância, mas a pele ficou baça, os dentes amareleceram. Ela mirrou. Provavelmente também se deu conta de como os anos passaram por mim. É natural, merda. Mas eu tinha a imagem tão nítida da Irène Jacob. Revi agora, também, o modelo original. No filme de Paul Auster, Irène Jacob é Claire Martin. Irène/Claire, mesmo elevada a musa, também já não é a menina Kieślowski. Os seios que eram pequenos e perfeitos parece que mirraram, a boca deixa agora perceber uma má-oclusão. Pior, a nova Jacob perdeu graça e espontaneidade.

Acho insuportável assistir ao envelhecimento das minhas divas.

[
Aqui, trailer dos filmes de Krzysztof Kieślowski]

17.10.07

The inner life of Paul Auster



A água em ebulição. pode ser o ponto de partida para um romance ou para uma teoria filosófica. Se eu observar a água fervente ou se estiver ausente e forem vocês os observadores, ela assume um significado diferente. Água em ebulição: queima, aquece, escalda, evapora-se, liberta, purifica, embacia. Ser é ser percebido. Como é que o filme foi percebido?

Ver
The Inner Life of Martin Frost poucos dias depois de La Piscine, deixou-me presa às similitudes entre os dois filmes. Enfim, até ao início da segunda parte da história - e existe claramente essa segunda parte, porque o escritor estabeleceu que era assim, o realizador notificou o narrador para dar essa informação ao público, e eu deixei de ser perseguida pela minha anterior re-visão do filme. (é claro que sabem que só eu é que não sou o Paul Auster)

Antes dessa segunda parte percebi que em ambos os filmes existe um escritor que necessita afastar-se do mundo. O mundo é a cidade, o palco e a repetitividade. O contraponto ao mundo é a casa no campo, que foi cedida, porque o escritor nada possui, a não ser um saco de bagagem leve, resmas de folhas de papel e uma ideia para uma história que é atropelada pela chegada de um visitante inesperado.

O ritual do escritor quando arranca para a escrita da primeira página. Sarah Morton/Charlotte Rampling e Martin Frost/David Thewlis têm os mesmos tiques.
A exigência de silêncio. A fúria ____que sabemos vai amansar, face ao invasor. O invasor, de identidade ambígua, que incendeia o escritor, ao mesmo tempo que se consome na própria chama. O jogo entre o que é «real» e o que é ficção dentro da ficção. Julie, o oposto de Sarah Morton. Claire Martin, a musa de Martin Frost. Vapores fumegantes no inner world dos escritores.

Mas o vapor que sai da chaleira assume sempre contornos únicos, perde-se em direcções imprevisíveis. Cada história tem, de facto, a sua forma. Paul Auster quis um final feliz e teve esse direito. Pois se ele É todo o filme. François Ozon decidiu acordar a personagem antes do fim. Reservas de liberdade que acabaram por gerar dois filmes muito distintos.

Paul Auster, o anfitrião que viaja por Calcutá, o escritor, o pai da musa Sophie Auster/Anna James, a voz, inner out do
romance e filme, filmou em Portugal (Azenhas do Mar, Sintra) a Califórnia. É absolutamente convincente. Lia a musa Irène Jacob/Claire Martin o Ensaio para uma nova teoria da visão de George Berkeley: «o que existe realmente nada mais é que um feixe de sensações e é por isso que ser é ser percebido».

Pontes

no MoMA a partir de Novembro


Qual é a direcção que todos parecem querer seguir?

Che #5


Em 17 de outubro de 1997, Che foi enterrado com pompas na cidade cubana de Santa Clara (onde liderou uma batalha decisiva para a derrubada de Baptista), com a presença da família e de Fidel Castro. Embora os seus ideais sejam românticos aos olhos de um mundo globalizado, ele transformou-se num ícone na história das revoluções do século XX e num exemplo de coerência política. A sua morte determinou o nascimento de um mito, até hoje símbolo de resistência para os países latino-americanos. Hugo Chávez, de visita a Cuba, fez um directo do seu já célebre programa Alô Presidente a partir de Santa Clara. É dia de voltar a ler o Granma. Che e folclore, pois. (do outro lado da cortina, há Che e pop, vá o diabo e escolha)

16.10.07

Hoje

Cesarinescas,

Teóricas &

Sentimentais

pelo
GATO LEGÍVEL


PERFORMANCE LITERÁRIA
22h no auditório do mercado negro. entrada livre

pode ler-se a fumar mas antes para mário que para tabaco. cesariny de vasconcelos ou rossi nos dias mais felizes.

a rima. o metro. o vinco na calça do marinheiro quando o bairro alto ainda subia para o céu.

uma homenagem lamechas daquelas que se fazem aos mortos. estupidamente honesta apesar da circunstância.

15.10.07

Economia sexual #3



«As pulsões pré-genitais são, por natureza, auto-eróticas, quer dizer associais; o instinto de destruição e o seu corolário erótico, o sadismo, são anti-sociais. Inserido à força na comunidade social, o indivíduo tem que renunciar aos seus próprios objectivos instintivos e aplicar as correspondentes energias (por amor ao objecto amado ou devido à coacção da educação) em objectivos importantes para a sociedade e para a civilização. Freud chamou a esse processo "sublimação".» pp. 113

«Temos que admitir que a deformação no amor tem um papel preponderante no desenvolvimento da crueldade, tanto no indivíduo como nas massas. A brutalidade da Guerra Mundial (e talvez mesmo a Guerra Mundial em si) não teria sido possível se a sede de poder de um punhado de dirigentes não tivesse encontrado qualquer eco na crueldade latente dos indivíduos. (...) Freud conseguiu explicar o entusiasmo bélico: a guerra significa a libertação colectiva dos recalcamentos e em particular das pulsões sexuais, com a autorização do pai, idealizado na pessoa do imperador; pode-se finalmente matar sem sentimento de culpabilidade.» pp. 91

«A sociologia não conseguiu dizer-nos ainda porque razão as massas se deixam submeter por alguns indivíduos. Nas condições de vida a que as massas foram submetidas até estes últimos anos (e muitas vezes hoje em dia), se os indivíduos tivessem sido submetidos às mesmas restrições sexuais das classes dominantes, não teriam faltado revoltas caóticas. Esta docilidade psíquica relativa das massas (...) é mais uma vez imputável, entre outras coisas, à liberdade relativa da genitalidade, porque a sua satisfação retira energia às pulsões sádicas. Evidentemente, quando a brutalidade de um indivíduo acorda, é muito mais primitiva e irreflectida do que nas classes dirigentes, porque lhes falta a fachada e a máscara do civismo.» pp. 93-94

«Consequentemente, todos os que pregam o ascetismo em nome de ideologias culturais ou religiosas e com isso só conseguem resultados opostos, andariam melhor, no seu próprio interesse, se dessem a sua colaboração ao desenvolvimento da sexualidade sensual e física; quer dizer, se se deixassem de "depreciar a vida amorosa" (Freud) e substituíssem o slogan Civilização ou Sensualidade por outro: Civilização na Sensualidade. Quando a civilização for uma sublimação e não já uma grande neurose colectiva, tudo o resto deveria vir por si.» pp. 117-118

in Psicopatologia e Sociologia da Vida Sexual (Die Funktion des Orgasmus), de Wilhelm Reich, Publicações Escorpião, Colecção editor/contraditor 6, Porto, Junho 2007


(Imagens via)

Economia Sexual #2



Wilhelm Reich (1897-1957), doutor em medicina, especializado em neuro-psiquiatria, publicou o seu primeiro trabalho, intitulado «O Coito e os Sexos», depois de ingressar na Sociedade Vienense de Psicanálise fundada por Sigmund Freud. Foi também o primeiro assistente de Freud na Policlínica Psicanalítica (1922). Em 1923 apresentou o seu primeiro estudo sobre o que viria a ser «A Função do Orgasmo» e logo se deparou com sérias objecções. Pouco tempo depois, em 1926, as suas teorias sobre "potência orgástica" não são admitidas por Freud (que assiste a uma conferência de Reich para, no final, refutar a tese). Mas «Die Funktion des Orgasmus», obra em dois volumes que descobri num alfarrabista há vários anos, ser-lhe-á dedicada. Reich dedica-a ao seu "mestre" como "prova de profundo respeito".
Em 1927 ingressa no Partido Comunista austríaco. Em 1928 funda, em Viena, a Sociedade Socialista de Informação e Investigação Sexuais - e cria numerosos "dispensários de higiéne mental". No ano seguinte cria "centros de higiéne sexual" que terão grande afluência de pessoas ansiosas por conhecer o novo conceito de sexo.
Em 1931, já estabelecido em Berlim, funda a SEXPOL (Associação para uma política sexual proletária) - esta expande-se rapidamente, em dois anos tem 40000 membros e ramificações em todos os centros industriais do país. Reich concilia as descobertas de Freud com a praxis revolucionária, lutando pela emancipação económica e política do proletariado e, ao mesmo tempo, pela sua "libertação sexual".
Tanto êxito causará alarme ao Comité Central do P.C. alemão que tenta neutralizá-lo oferecendo-lhe um cargo - que recusa - num comité político. Em 1932, com o objectivo de se libertar de qualquer tutela ou pressão, funda a sua própria editora - Edições de Política Sexual, que logo instalará em Copenhaga com o nome Sexpol-Verlag. Em Outubro, o diário das Juventudes Comunistas, Roger Sport, toma oficialmente partido contra Wilhelm Reich, proibindo a difusão dos seus textos. Eis alguns dos opúsculos banidos: «O triângulo de giz - revelação dos segredos adultos» (destinado às crianças), «Quando o teu filho te interroga» (destinado aos pais).


Mas é ainda em 1932 que publica alguns dos seus artigos e livros mais polémicos: «O carácter maso-quista», em que critica a interpretação freudiana do masoquismo, foi publicado numa revista dirigida__ por Freud; «O combate sexual da juventude»; «A irrupção da moral sexual - história da economia sexual».

A chegada ao poder dos nazis obriga-o a fugir da Alemanha. Primeiro refugia-se em Viena mas até Freud o evita por ser comunista e por ter usado a psicanálise "com fins alheios à sua essência". Instala-se em Copenhaga mas é instado a abandonar a Dinamarca (é um agente provocador para o Comité do P.C. e um indesejável revolucionário para as forças de direita). É expulso do P.C. Alemão, ao mesmo tempo que o regime hitleriano inscreve no seu Índice de livros «O combate sexual da juventude».
Em 1934 vai para a Suécia mas também será obrigado a abandonar o país. Estabelece-se em Oslo, onde residirá cinco anos (inicialmente com o pseudónimo de Peter Setein), e em cuja universidade se entrega aos estudos da biogénese.



Em 1939 aceita o convite de Theodore P. Wolfe, porta-voz da Sociedade Americana de Medicina psicanalítica, e muda-se para os EUA. Trabalha como professor da New School for Social Research de Nova Iorque (até 1941). Aprofunda as suas pesquisas biofísicas, descobre o
órgon cósmico. Em 1942 cria o seu laboratório Orgone Institute e funda o «International Journal of Sex-Economy and Orgone Research». Constrói uma cosmogonia baseada no órgan, espécie de cosmos de energia vital. Lança no mercado uns acumuladores de orgones destinados a abrir caminhos no diagnóstico e terapêutica da maioria das doenças funcionais («biopatias»), incluindo o cancro.
Consagra os últimos 23 anos da sua vida a este projecto científico. Progressivamente renuncia ao ideal revolucionário marxista. Em 1946 é editada nos EUA «A Psicologia de massa do fascismo», profundamente modificada pelo autor, com uma crítica às teses leninistas de «O Estado e a Revolução» e com uma análise do capitalismo de Estado soviético como antípoda da verdadeira democracia do trabalho socialista.
Em 1954, a Federal Food and Drug Administration, apoiando-se nas leis federais sobre a venda de objectos terapêuticos, instruiu-lhe um processo, de evidente cariz político e que se insere na recém-iniciada «caça às bruxas» de MacCarthy. Reich não se apresenta no julgamento (alegando que só responderá diante de cientistas) e é condenado a cessar todas as suas actividades médicas, além de que todos os seus livros são proibidos. A 11 de Março é preso na penitenciária federal de Lewisburg, na Pensilvânia. A 3 de Novembro morre naquela penitenciária com um enfarte.

Ler mais:
Psicopatologia e Sociologia da Vida Sexual (Die Funktion des Orgasmus), de Wilhelm Reich, Publicações Escorpião, Colecção editor/contraditor 6, Porto, Junho 2007



Wilhelm Reich - essência e conseqüência, in Revista Reichiana, ano XIII, Nº 13, outubro 2004, pp. 12-23
ISSN 1678-9792, uma publicação do Departamento Reichiano do Instituto Sedes Sapientiae, São Paulo SP

Economia Sexual #1

Segundo Freud, o ponto de vista económico está ligado à hipótese segundo a qual os processos psíquicos consistem na circulação e na repetição de uma energia pulsional quantificável.

Segundo Wilhelm Reich, o termo «economia sexual» refere-se ao modo de regulação da energia sexual do indivíduo. A economia sexual designa a forma por que um indivíduo utiliza a sua líbido. Os factores que determinam o modo de regulação são de natureza psicológica, sociológica e biológica.
Mais tarde (1932), Reich insistirá na ligação entre a economia sexual individual e a economia sexual estabelecida pela sociedade, isto é, «a forma como a sociedade regula, encoraja, ou trava a satisfação da necessidade sexual» e designará também pelo nome de «economia sexual» a disciplina que estuda esta ligação.
(É preciso dizer que a partir de 1939, a economia sexual passou a assumir um sentido nitidamente biológico para Reich, devido à pretensa evidência experimental do órgon)(tantas perseguições, do Partido Comunista, da Alemanha Nazi, dos EUA MacCarthista) acabaram por iluminar o autor de «Escuta, Zé Ninguém» mas também perturbar o "pai" do conceito de «economia sexual»)

14.10.07

Do domínio da luta #n


Se a tendência actual culminar na possibilidade de uma ilha «houllebecquiana» e a reprodução se libertar do sexo, até a Igreja (no plural) sobreviverá ao impacto. Neste campo de batalha - histórico - da esquerda não iremos observar avanços substanciais. Mesmo com os Viagra, Vigorin, Cialis & seus herdeiros, ou com anti-depressivos apurados que não incluam nos efeitos secundários a diminuição do desejo sexual, ou seja, mesmo com a revolução tecnológica a servir não só as técnicas reprodutivas mas também o desempenho sexual. How many times can a man turn his head, pretending he just doesn't see? The answer, my friend, is blowin' in the wind. É a cultura que produz tecnologia. Os ventos trazem-nos o pó contaminado de pecados do passado e as contingências do presente:

When i'm drivin' in my car
And that man comes on the radio
He's tellin' me more and more
About some useless information
Supposed to fire my imagination
I can't get no, oh no no no
Hey hey hey, that's what i say
(...)

I can't get no satisfaction
I can't get no girl reaction
'cause i try and i try and i try and i try
I can't get no, i can't get no

When i'm ridin' round the world
And i'm doin' this and i'm signing that
And i'm tryin' to make some girl
Who tells me baby better come back later next week
'cause you see i'm on losing streak
I can't get no, oh no no no
Hey hey hey, that's what i say


I'm kidding, mas a ficção, ou uma simples canção, traduzem tão claramente o estado do mundo.

[Psst, se o marxismo nasceu da Revolução Industrial, como é que os marxistas não sabem ou esqueceram que os avanços tecnológicos têm consequências ideológicas? O fenómeno da globalização e a revolução tecnológica em curso, com a emergência e extensão do ciberespaço, têm sido esquecidos por essa gente? Não percebi o comentário, talvez por não ser marxista. Mas estarei a ser voluntarista?]



[Psst, ando fã do Mexia. E, como ele, queria o Nobel para o Philip Roth. A não ser que Doris Lessing tenha escrito um qualquer "O Animal Moribundo" no feminino :) ]


Foto: Melvin Sokolsky

13.10.07

E se. o Exterminador em Fátima?



Fátima. 1917. A Primeira Guerra Mundial ainda não terminara. O irmão mais velho de Francisco e Jacinta, Manuel, é recrutado e enviado para Cabo Verde, o que para as crianças e os seus pais é a guerra na mesma. O Exterminador aparece. Conseguirá impedir Manuel de partir? Chegará apenas depois das aparições? Carregará a Virgem nos braços temendo uma queda da árvore ou fulminará todas as azinheiras? Apoia ou elimina os republicanos anti-clericais? Persegue as fileiras católicas, aumentando as cisões? Ou limita-se a desintegrar os três pastorinhos?

O que sei é que tudo seria diferente. e melhor!

12.10.07

Rui Matos

Esculturas em Gesso para Bronze
Atelier 1989


O meu mais velho-jovem amigo amante das artes andou por aqui e ontem apareceu-me com um cd das obras do escultor Rui Matos. Esculturas brancas dos anos 90, de 2000, esculturas em ardósia, esculturas em gesso-bronze, esculturas públicas. Olhares de um escultor ao longo do tempo. Materiais de paixão, abandonos, recomeços (a ardósia). Deixei-me afundar nos contrastes, nas formas, perspectivas, torcidas, rígidas, nos seios, umbigos - muitos, troncos, provocações. Até Novembro Rui Matos expõe na Galeria Asthobler e o que vou eu sentir quando lá chegar! Vou reconhecer ou perceber um engano? Como com as pessoas. Ao vivo, sabemos que respiram outro ar, revelam facetas, um perfil diferente. Logo vos direi o resultado deste open-blind date.

Vidraça de ataíja, no. rm03
2007
30 x 30 x 15 cm

BS #10

Ele tem mais de 90 anos. Conheci-o quando vivia em França. De si próprio diz que inventou a Bossa Nova, porque influenciou João Gilberto, Jobim, Vinicius, de quem se tornou amigo nas suas andanças pelo Brasil há muitas décadas atrás. Ele era um francês da Guiana, trazia consigo essa mistura de influências, um dom para o jazz, uma forma de cantar baixinho, de quem parece que conversa, letras simples. Ri-se muito. As gargalhadas são sonoras, abertas, nada parecidas com as melodias que sussurra, que arrasta de forma tão sensual. Gosto dele. Por cá, poucos o conhecem. A língua francesa arrepia público. É pena. A língua francesa é como as longas caminhadas pelo meio de áleas. Já não se usam, o presente elegeu o jogging. Pena que se abandonem bons velhos hábitos sem pensar. A avidez pela novidade elimina demasiadas coisas saborosas. Henri Salvador é saboroso. muito saboroso. O seu canto é estranho familiar. Isso devia chegar.
Chambre Avec Vue, Perfomances (que inclui
Jardin d'Hiver), Ma chère est Tendre, Révérences são os últimos álbuns. Álbuns de 2000, 2002, 2003 e 2006. Henri tem quase cem anos. Jacqueline Garabedian esteve a seu lado durante vinte e seis anos. Henri ri e chora muito também. Quando o ouvimos cantar Avec le Temps (de Léo Ferré) pensamos na morte de Jacqueline e em todas as "nossas" mortes. Petit Fleur/Bonjour Sourire é assim uma coisa quase coquette, não é o Henri Salvador que ouço normalmente. Mas (também) faz parte da sua longa história.



HENRI SALVADOR


Si les fleurs
Qui bordent les chemins
Se fanaient toutes demain
Je garderais au cœur

Celle qui
S'allumait dans tes yeux
Lorsque je t'aimais tant
Au pays merveilleux
De nos seize printemps
Petite fleur d'amour
Tu fleuriras toujours
Pour moi

Quand la vie
Par moment me trahit
Tu restes mon bonheur
Petite fleur

Sur mes vingt ans
Je m'arrête un moment
Pour respirer
Ce parfum que j'ai tant aimé

Dans mon cœur
Tu fleuriras toujours
Au grand jardin d'amour
Petite fleur...

Dans mon cœur
Tu fleuriras toujours
Au grand jardin d'amour
Petite fleur...

[Foto: Henri Salvador et Annie Cordy em Bonjour Sourire de Claude Sautet, 1955]

11.10.07

Cuidado


A ASSOCIAÇÃO GUILHERMINA SUGGIA e a ESCOLA DE MÚSICA DO CONSERVATÓRIO NACIONAL convidam-no a assistir/participar na Conferência “GAUDÍ, GUILHERMINA E A MÚSICA” a realizar no dia 11 de Outubro de 2007 pelas 19,00 horas no SALÃO NOBRE DO CONSERVATÓRIO NACIONAL de LISBOA – Rua dos Caetanos, 29 (ao Bairro Alto) Lisboa.

Serão conferencistas:
TERESA CASCUDO – musicóloga e crítica musical
ANA MARIA FÉRRIN – jornalista e escritora (biógrafa de Gaudí)

Música ao vivo com:
JOSÉ CARLOS ARAÚJO – Órgão
PAULO GAIO LIMA – Violoncelista
PAULO PACHECO – Pianista

Apoio da ANTENA 2 e Instituto CERVANTES
Entrada livre


Em virtude do deficiente estado em que se encontra o SALÃO NOBRE que há 62 anos não tem tido quaisquer obras de conservação, por iniciativa do Movimento FORUM CIDADANIA LX encontra-se a circular na Internet uma petição dirigida aos Senhores: Presidente da República Portuguesa, Presidente da Assembleia da República, Primeiro-Ministro, Ministra da Educação, Ministra da Cultura e Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, pedindo a urgente intervenção a fim de evitar a sua perda total. Pode subscrever a petição
aqui.


[Convite/Mensagem de Virgílio Marques, autor do blogue “Guilhermina Suggia” e criador/fundador da Associação Guilhermina Suggia]

Let's make love


Marilyn Monroe, Frankie Vaughan & Yves Montand - Specialization

Billionaire Jean-Marc Clement learns that he is to be satirized in an off-Broadway revue. He goes to the theatre, where he sees Amanda rehearsing a song, and the director thinks him an actor suited to play himself in the revue. He takes the part in order to see more of Amanda.

Muitos dos nossos políticos entram em cena por razões similares, preocupações com a imagem e french connections. e é um facto que tendem a especializar-se num determinado tipo de papel :)

9.10.07

Che #4



Depois de Andy Warhol, em que se transformou o mito Che? A luta pela liberdade tornou-se pop. E isso quer dizer o quê?


«Em frente do teu rosto / Medita o adolescente à noite no seu quarto / Quando procura emergir de um mundo que apodrece.» (Sophia de Mello Breyner)

Che #3


Foi numa manhã fria, na cidade de Havana. A 5 de Março de 1960, ao lado de várias autoridades cubanas, numa tribuna, Guevara participava de um acto de protesto contra a explosão de um barco que matara 136 pessoas. O fotógrafo Alberto Díaz Gutiérrez, conhecido como Alberto Korda, trabalhava no jornal cubano "Revolución". Tirou apenas duas fotos, uma vertical e outra horizontal. Uma delas iria converter-se na mais famosa foto de Che.

Depois da sua morte, um italiano, o "editor guerrilheiro" Giangiacomo Feltrinelli, recortou as laterais da foto horizontal e espalhou posters de Che Guevara nas selvas bolivianas. A imagem correu mundo e tem sido fonte de inspiração para muitos artistas. Alberto Korda nunca recebeu qualquer tipo de remuneração pelas fotos (nem se empenhou nesse sentido).




Jim Fitzpatrick popularizou a imagem, criando uma estampa em monotipia baseada na foto de Korda e colocando-a em domínio público (o que hoje se chamaria de copyleft). A imagem tornou-se um ícone do movimento contra a guerra dos EUA no Vietname e hoje é ainda o símbolo das F.A.R.C. na Colômbia e dos Zapatistas no Mexico.

Che #2


Sem a barba e a boina tradicionais, disfarçado de economista uruguaio, Che Guevara entrou na Bolívia em novembro de 1966. A ele se juntaram 50 guerrilheiros cubanos, bolivianos, argentinos e peruanos, numa base num deserto do Sudeste do país. O plano era treinar guerrilheiros de vários países para começar uma revolução continental.

Guevara foi capturado em 8 de outubro de 1967. Passou a noite numa escola de La Higuera, a 50 quilômetros de Vallegrande, e, no dia seguinte, por ordem do presidente da Bolívia, general René Barrientos, foi executado com nove tiros numa escola na aldeia de La Higuera, no centro-sul da Bolívia: no dia seguinte, pelos rangers do Exército boliviano, treinados pelos Estados Unidos.

Tinha 39 anos.

Che #1

ÓRGANO OFICIAL DEL COMITÉ CENTRAL DEL PARTIDO COMUNISTA DE CUBA

"Seguir el ejemplo del Che, inspirarnos en su espíritu revolucionario, compenetrarnos a fondo con sus ideas, significa hoy mirar hacia delante."

En el aniversario 40 de su caída en combate - Che Guevara, só poderíamos ler Granma, o jornal oficial de Cuba. De resto, de tempos em tempos, gosto de ler imprensa assumidamente comprometida.