6.1.09

O Desfraldar

Gaza
AP Photo/Nasser Ishtayeh



Uma noite, o oceano entrou em minha casa
Era
um velho respirando
como uma antiga locomotiva
Convidei-o a sentar-se
junto da janela
para que se recompusesse
e eu lesse em sua honra alguns poemas
Mas ele continuou de pé, ofegante
Ofereceu-me peixes
conchas
e partiu

De manhã examinei a minha casa: não havia telhado
nem porta nem janela
nem parede
Tudo estava partido e molhado
Até eu, oh meu Deus
estava partido como um vaso
Já não tinha lábios para falar
braços para cingir o tronco duma mulher
Do meu corpo só restava
uma flor saliente,
o meu coração no meio dos escombros


IUSUF ABDELAZIZ
in Pequena Antologia da Poesia Palestiniana Contemporânea
Selecção e tradução de Albano Martins
Edições ASA, 2004, pp. 12

3 comentários:

PreDatado disse...

Maria, sempre atenta e sempre a propósito.

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Este 2000 e 9 (neuf) que se queria tout neuf já foi ao ar... Triste História!

Claudia Sousa Dias disse...

belíssimo.

vou mandar este link para um grande amigo meu.

CSD