7.10.07

Je m'appelle Fardilha et je n'y suis pour rien. Relatório:

Ando a falar tão pouco dos livros e filmes que me têm varrido. A ver se volto a entrar na linha. Mas hoje ofereceram-me "Le rapport de Brodeck" de Philippe Claudel e eu sei que vou andar por aí. Ontem revi Delicatessen e gostei menos. Anteontem revi La Piscine e gostei mais. Quando finalmente conseguir listar os filmes da minha vida, incluo o Sous le Sable do mesmo François Ozon. Não sei porquê. Se calhar é apenas por causa da memória que tenho do dia em que o vi pela primeira vez. Ou pela forma terna como é (sempre) filmado o corpo maduro de Charlotte Rampling.

La Piscine contém um quê mais teatral que Sous Le Sable. Acho que existem dois Ozon, o teatral (Oito Mulheres) e o naturalista (Sous Le Sable). Prefiro o último. La Piscine funde os dois estilos mas flutuei nas cores, na água, na calma e na desesperada contenção da personagem de Rampling. Como sempre. Agora, anseio por Angel.


Tenho ido pouco ao cinema, desculpo-me com a falta de oferta de qualidade na cidade. O Cineclube continua fechado, dizem que por falta de fundos (outro caso em que a CMA é devedora). Mas, esta semana, a programação melhorou nos Lusomundo. Fui ver Os Fantasmas de Goya de Milos Forman. Fiquei com vontade de conhecer melhor as quatro séries de gravuras, Os Caprichos, Desastres da Guerra, Tauromaquia e Disparates (que, soube depois, já estiveram expostas em Portugal). E gostei do filme, mesmo se ele se descentra do que parecia ser o seu propósito original: mergulhar no universo pictórico de Goya, ou, mais especificamente, nas motivações do autor de Desastres da Guerra. Nestas gravuras, a sátira e a fantasia dão lugar à violência como assunto principal. Talvez seja mea culpa se acabei por me deixar embalar mais pela novela (entre o hermano Lorenzo e Inês, e depois Alicia) do que pelo drama histórico e as condições de criação na época. O que sobressai da sequência dos ciclos históricos - os últimos assaltos da Inquisição no final do século XVIII em Espanha, as conquistas e recuos de uma França revolucionária, o reinado de José Bonaparte e o regresso dos Borbon -, é mais a ironia (tão contemporânea) da não-mudança na revolução, do que A MISÉRIA. "Os desastres da guerra" de Milos Forman são menos os olhos esbugalhados de fome e horror e mais o teatro da política. Mas poderia um homem do nosso tempo reproduzir com fidelidade a visão do mundo de Francisco Goya y Lucientes (1746-1828)!


[Gravura de Goya: da série Desastres da Guerra, Tristes premonicións do que virá]

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