19.10.07

Corrente da página 161 e outras


Eduardo Graça, do Absorto, não sabe que eu estou em falta com alguns bloggers por causa desta coisa das correntes e pôs-me na roda. Faltam-me listar livros, filmes e mais uns desafios! Eu prometi responder e respondo, mas faço como o Estado em matéria de pagamentos: levo 60, 90, 120 dias. Ainda bem que os credores não precisam de mim para nada! O "meme" da página 161 exigiu poucos dos meus recursos, bastou estender o braço, e por isso foi mais difícil adiar. A lógica é a seguinte:

1ª) Pegar um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);
2ª) Abra-o na página 161;
3ª) Procurar a 5ª frase completa;
4ª) Postar essa frase em seu blog;
5ª) Não escolher a melhor frase nem o melhor livro;
6ª) Repassar para outros 5 blogs.

Vamos a isso:
1ª) Máscaras de Salazar de Fernando Dacosta, Casa das letras, 22ª edição, 2007 (1ª edição em 1997)

2ª/3ª/4ª) Vou ter que recuar à página 160, para poderem compreender o sentido do extracto. Na página 161 existem apenas sete linhas que são a conclusão de um grande parágrafo.

"As famílias pobres tornaram-se as primeiras a empurrar os filhos, sobretudo rapazes (não engravidam, não dão nas vistas), para a rua. «Mais de 6000 jovens prostituem-se, às claras, em Lisboa. Tendo cada um nove clientes, em média, veja-se a dimensão do problema», anota-me o responsável por um centro de assistência a adolescentes em crise. (...)
Havia um frenesim de sensualidade e neurose na Lisboa do final do fascismo, como havia na do final das Descobertas. O número dos que tinham vidas duplas disparava.
Alguns dos que se prostituíam procuravam nos que os procuravam o pai, a mãe, inexistentes. Era, aliás, frequente terem clientes certos, com quem criavam laços de amizade, de afecto, de protecção, de confidência. A parte afectiva surge com mais frequência do que se supõe. E nas circunstâncias mais inimagináveis.
Salazar sabia que esse era o cimento secreto da união nacional dos portugueses - que nada tinha a ver com a União Nacional do regime. Por isso jamais se atreveu a intrometer-se-lhe."

5ª) Este é o livro que ando a ler e ainda não tinha chegado a esta passagem. Fiquei surpreendida com a violência do que é exposto. Por agora, familiarizo-me com a fidelíssima D. Maria de Jesus e com a filosofia de vida privada e pública do presidente do Conselho.


6ª) Cinco novos seleccionadores de página:


Os meus credores de correntes (para lhes dar a oportunidade de equilibrar a balança de pagamentos de correntes): Bilhas, o bom da fita; Maria Eduarda Colares, que detesta sopa; Carlos Araújo Alves, do Ideias Soltas, que acaba de abrir um Forum para debate da Educação Artística (e todos estão convidados a participar!).

E ainda: A Elisa, de Um dia a menos para a morte e o João Ventura, autor de O que cai dos dias.
Todos têm uma sensibilidade artística e humana fora de comum. Que livros terão em cima da mesa?

[Fotografia de Jean Sébastien Monzani]

2 comentários:

Eduardo Graça disse...

Obrigada pela réplica que, como quase sempre acontece, foi um prazer reparar nela. Ainda para mais já li esse livro do Dacosta, aliás nas suas duas edições, que, apesar de suscitar polémica, é, no género, dos mais interessantes e sérios, que se publicaram, recentemente, acerca de Salazar.

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Sim, está a ser um prazer ler este livro. Comecei há pouco, mas gosto do estilo vivo e "solto" como Dacosta vai relatando episódios e reflectindo sobre o regime salazarista. Alterno a impressão de "voyer" com a de re-conhecimento de uma época. Há o aspecto da vivência pessoal - sempre subjectiva, mas interessante como testemunho, e, noutras situações, a nomeação das fontes. Mas tb tenho a sensação de estar a ler um livro "cinzento" com o conforto do distanciamento que a minha idade implica. (e isso inquieta-me)