12.12.04

Passagem pela China II

Sobre a RPC ou Tschung Hua Jen-Min Kung-Ho (Império Popular das Terras Fluorescentes do Centro).
Segundo João Paulo Oliveira, A República Popular da China vai assumir-se como uma das potências deste novo século. "Quando pensamos na China, pensamos em produtos baratos, de baixa qualidade e cópia. Isso era o que se dizia do Japão nos anos 60 e o Japão é hoje sinónimo de qualidade e de inovação. Daqui a alguns anos a China vai ser tão forte quanto o Japão. A flexibilidade é um ponto forte deles." E a verdade é que o país já começou a demonstrar o seu poder como membro da OMC em disputa com o Japão - por exemplo no que diz respeito às exportações para os EUA. O novo estatuto da China preocupa outros países asiáticos e europeus, que temem perder mercado com a expansão das exportações chinesas.
Mas que desafios tem a China pela frente? Controlar a corrupção - alargada a todos os sectores de actividade; reformar as indústrias estatais - que têm um grau de eficiência muito baixo; criar novas infraestruturas e diminuir o grau de burocracia; e assegurar a unidade política e social - a abertura progressiva fez emergir uma China consumista e mais "liberal", e como re-coordenar o poder central com os novos poderes locais?
Quando João Paulo Oliveira chegou a Cantão encontrou precisamente uma empresa estatal com uma cultura instalada de ineficiência. "Era complicado, uns trabalhavam, outros não. A qualidade nem se discutia, era uma coisa que não havia. Se o produto tinha uma fuga de gás ia na mesma para o mercado". E deparou-se também com o sistema de corrupção generalizado. "O modelo comunista está completamente deturpado. Quem não pertence ao Aparelho não tem oportunidades nenhumas. Mas as empresas têm que pagar facturas de restaurantes e karaokes a quem pertence ou tem ligações no Aparelho. Havia um director comercial que apresentava facturas de 1000/2000 €... e isso representava o salário de vários meses de muitas pessoas!" JPO teve dificuldade em lidar com este tipo de problemas. "Dois anos na China causam mossa".
Para JPO, a abertura da China ao exterior acontece porque já não havia outra alternativa. "A própria sociedade pôde perceber outra forma de vida e isso influenciou as aspirações das pessoas". O seu pensamento insere-se na linha de Eric Hobsbawm para quem a aceitação do comunismo não depende das convicções ideológicas, mas de como julgam as massas o que a vida sob os regimes comunistas faz por elas, e de como comparam a sua situação com a de outros. Não sendo possível o isolamento, o contacto e o conhecimento de outros países torna os seus julgamentos mais cépticos.
Mas JPO salienta que a abertura ao investimento estrangeiro visa essencialmente a aquisição de know-how. "Quase todos os negócios que foram abertos na China a pensar no mercado chinês não resultaram. O lema é - na China mandam os chineses e na China vendem os chineses". E as multinacionais adaptam-se a essas características locais. "Há uma divisão da Bosch que produz para o mercado chinês, mas quem comercializa é uma empresa chinesa. Se não fosse assim, teríamos que entrar no negócio das comissões - eles chamam comissões ao que nós cá chamamos corrupção".
Mas todos os negócios que conheceu, que foram para a China para utilizar mão de obra barata e exportar, tiveram sucesso.
A entrada na OMC pode conduzir a mudanças. A China deve agora diminuir as restrições ao mercado de capitais e melhorar o acesso a produtos e empresas estrangeiras.
Mas o que dizer da necessidade de transformar toda a estrutura de governo e a sua forma de actuação nos diversos quadrantes da sociedade?
JPO considera-se um democrata mas arrisca dizer que "seria um caos se se tentasse democratizar a China" à luz dos nossos modelos. Fala-nos de interiorização de hierarquias. São séculos de subjugação e, por agora, tem a impressão de que as coisas não funcionariam se cada um pudesse escolher o seu próprio destino.
Todos têm papeis "absolutos" atribuídos. Em Hong Kong ouviu uma conferência que não esqueceu. Um americano tentava explicar Tian'anmen. Em 1989, a Praça foi ocupada por um movimento estudantil. Durante dias não houve um único disparo, acabou com milhares de mortos. "A Polícia na China é apenas uma polícia de verificação, não atacou. Mas quando perceberam que tinham perdido o controlo da situação, chamaram o exército. Normalmente a sociedade chinesa não precisa de exército, mas quando ele aparece é terrível. O exército está no extremo, é sanguinário. O resultado foi o que se viu!".
Fica a reflexão.
E Obrigada ao eng° João Paulo Oliveira pela longa entrevista. A partir de hoje no Notícias de Aveiro.

5 comentários:

Politikus disse...

Apenas um reparo a China, não se vai tornar um apotência do Século XXI. Já o é...

Anónimo disse...

bom trabalho o que tem feito. um abraço do wilson t. do escrita solta.

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Obrigada à loiuse - tb pela pub no thelma&louise; ao polittikus - tens razão, a China já é uma grande potência, agora é uma questão de qualidade ou estatuto da Greater China; e ao wilson t., pelas palavras (e saudações de quem nasceu?no mesmo país - sim, o Jorge...)

mfc disse...

Os chineses já dominam uma grossa fatia do comércio mundial, mas a breve prazo...asfixiarão tudo e todos!
E depois??!

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Pois! Boa pergunta. Vai depender do maior/menor grau de declínio do império americano e da consistência da união da velha e nova Europa.