10.12.04

Passagem pela China

1995, Cantão, Sul da China, ou Guangzhou - se utilizarmos a transcrição pinyin dos caracteres chineses, imposta pela China Popular (Mao Tsé-Tung será pois Mao Zedong). O Grupo Bosch faz uma joint venture com a empresa chinesa Guandong Shenzhou para desenvolver e fabricar esquentadores. João Paulo Oliveira revela-se o homem certo para liderar esse projecto. Jiang Zemin está no poder. O que encontra é a herança do maoísmo (ainda) e do anti-maoísmo iniciado por Deng Xiaoping. Neste espaço, registo das impressões que ficaram da China nessa longa marcha que durou dois anos.
Mas antes, alguns dados históricos (centrados no ambiente económico):
1950/51: Campanha para "eliminação dos elementos contra-revolucionários". São lançados sucessivamente os movimentos dos "Três Anti" (contra a corrupção, o desperdício e a burocracia) e dos "Cincos Anti" (contra os subornos, a fraude, a evasão fiscal, a prevaricação e a divulgação de segredos de Estado - visando a burguesia). As empresas são obrigadas a pôr a nu as suas contabilidades e são esmagadas pelos impostos. Campanha de "reforma do pensamento" - visando intelectuais, que serão "reeducados".
Consequências "certificadas": 3000 detenções numa noite, 38000 num mês - apenas em Xangai; 220 execuções públicas num só dia em Pequim; 89000 detenções, das quais 23000 resultaram em condenações à morte, em 10 meses, em Cantão. Cerca de 450000 empresas privadas são sujeitas a inquérito; Um terço dos patrões e quadros são dados como culpados, normalmente por evasão fiscal e punidos - cerca de 300000 com penas de prisão.
O próprio Mao Zedong, em 1957, referindo-se a este período, indicou o número de 800000 contra-revolucionários liquidados.
1953, Nov.: Os patrões são forçados a abrir o seu capital ao Estado.
1955: Os Patrões são obrigados a filiarem-se em sociedades públicas de abastecimento (o racionamento estava generalizado); em Outubro são novamente submetidos a uma investigação geral.
1956: Os patrões não resistem mais de 2 semanas quando, neste ano, lhes "propõem" a colectivização a troco de uma pequena renda vitalícia e, por vezes, o lugar de director técnico nas suas antigas empresas (promessas que a Revolução Cultural renegará).
1958: As empresas do Estado contratam 21 milhões de novos operários (crescimento de 85% num único ano).
1959: Taxa de acumulação de capital pelo Estado - 43.4% do PIB.
1959-1961: "O Grande Salto em Frente". A maior fome da História. Sobremortalidade: entre 20 (número semi-oficial na China) e 43 milhões de pessoas.
1966-1975: A Revolução Cultural. Campanha contra as "Quatro Velharias" (velhas ideias, velha cultura, velhos costumes, velhos hábitos).
1966, Nov.: Autorização para a criação de grupos de Guardas Vermelhos nas fábricas. Aos "rebeldes revolucionários" (na sua maioria estudantes e liceais) juntam-se grupos de trabalhadores industriais - na sua maioria trabalhadores sazonais, tarefeiros, sem garantia de emprego nem protecção sindical - que exigem melhores salários e contratos permanentes; e jovens quadros, outrora punidos por qualquer razão, que entrevêem a ocasião inesperada de uma carreira rápida ou de uma vingança.
1977: Discurso de Deng Xiaoping: " A chave para a modernização é o desenvolvimento da ciência e da tecnologia (...) precisamos de ter conhecimentos e pessoal qualificado (...) Agora parece que a China está uns bons vinte anos atrás dos países desenvolvidos em ciência, tecnologia e educação."
1978, Dez.: Início da era Deng Xiaoping. Reformas privilegiam a economia. Expansão de empresas individuais e privadas.
1986: Pedido de adesão da China ao Acordo Geral sobre Pautas Aduaneiras e Comércio (GATT)
1989: Os estudantes de Pequim ocupam a Praça de Tian'anmen. Reinvindicam democracia e têm o apoio da população. Após várias semanas, o poder decide usar a força. Os tanques tomam posição e na noite de 4 de Junho destroem o acampamento de estudantes.
1993, Março: Jiang Zemin é eleito Presidente da República Popular da China.
1999, Nov.: Acordo comercial assinado entre a China e os EUA.
2001, Dez.: China entra oficialmente na OMC (Organização Mundial do Comércio). É a plena integração da China no sistema comercial internacional e o início de uma nova fase de abertura da China ao exterior.
Fontes: (1)Courtois, Stéphane; Werth, Nicolas; Panné, Jean-Louis; Paczkoxski, Andrzej; Bartosek, Karel; Margolin, Jean-Louis, O Livro Negro do Comunismo, Ed. Quetzal, 1997; (2) Hobsbawm, Eric, A Era dos Extremos, Ed. Presença, 1996

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