Para Roberto Juarroz (1925-1995), "o homem é ser que converte o universo em outra coisa. Através da palavra, converte o universo em si, em sua própria transpiração. Como se a mudez do cosmos se metamorfoseasse neste milagre que é a palavra do homem".
Gonçalo Tavares, em forma de homenagem ao poeta argentino, dá o nome de "O Senhor Juarroz" ao seu último livro do Bairro dos senhores. mas não estabelece elos directos entre O que o inspira e a sua escrita. A sua escrita:
Objecto no telhado
A esposa do senhor Juarroz começava a ficar irritada.
- Sobes ou não?!
O senhor Juarroz, porém, nada ouvia e nada via porque estava a pensar:
a invenção da máquina de lavar roupa permite que um cidadão deixe de lavar roupa com as mãos;
a invenção do telefone evita que o cidadão percorra grandes distâncias só para dar um recado;
a invenção do escadote permite que um cidadão não necessite de subir lá acima.
A Chávena e a mão
O senhor Juarroz hesitava em pegar na sua chávena de café porque não conseguia deixar de pensar que não são as mãos que pegam nos objectos, mas sim os objectos que pegam nas mãos. E tal repugnava-o, pois não aceitava que uma simples chávena lhe agarrasse a mão (como o noivo impetuoso agarra nos dedos tímidos da noiva).
Por isso o senhor Juarroz em vez de agarrar na chávena ficava longos minutos a olhar para ela, de modo agressivo.
Mais tarde queixava-se do café frio.
in Tavares, Gonçalo M., O Senhor Juarroz, Ed. Caminho, 2004
1 comentário:
Hmmm... Mais um estabelecimento da terra dos obosmois que eu desconhecia. Grande falha!
Obrigada pela visita!
Enviar um comentário