20.1.09

Grelha de análise (1)


OBRA: LOUCURA, MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO, 1910
Ed: Ulmeiro, Lisboa, 1994
Tema: RELAÇÕES HOMEM/ MULHER

Na verdade, os vinte anos de Raul haviam decorrido sem uma página de romance. Nunca um sorriso de mulher viera iluminar a sua mocidade. Sem mãe, não tinha relações.
p. 12, 20

Raul:
(...) Alguém levou o meu espírito para outras regiões. Só o corpo – o animal – ficou nas salas.
- E qual foi a criatura que operou tamanho milagre? Quem foi esse homem extraordinário...?
- Não foi um homem.
- Uma mulher?!... AH! Então compreendo tudo.
- Não compreendes coisa alguma...(...)
- Já te disse que o «animal» ficou na sala. Não viu portanto a minha companheira. A minha alma só, é que a viu... e a minha alma achou-a linda...

(...) - Com uma mulher bonita, para ocupar toda uma noite, a matéria da palestra só podia ser uma: o amor e o galanteio; tudo isso habilmente misturado com modas, teatros e um bocadinho de maledicência.
- Bem te dizia eu. Não compreendeste nada. Se a conversação tivesse versado sobre tais futilidades, os meus nervos não a teriam podido suportar. Falámos doutras coisas... De coisas muito diferentes... de coisas muito semelhantes...
p. 22

A essa palavra «namoro», Raul, com um gesto violento, largou-me o braço e exclamou asperamente:
- Cala-te... Ah! Cala-te!
p. 23

...regressei a Lisboa. Encontrei outro Raul: alegre, despreocupado, nada misterioso... (...)O motivo: é que nesse dia, ajustava-se o seu casamento com Marcela. O fim do mundo, ter-me-ia causado menos espanto...
p. 25

Raul e Marcela – dizia-se – não eram dois esposos, eram dois amantes.
p. 30

Raul e Marcela, amavam-se verdadeiramente; quer dizer: não se amavam como esposos. Raul era um artista. Abandonando por algum tempo a escultura, dedicava-se à arte do amor, a mais bela de todas.
p. 31

Pensou em se estabelecer em Paris. Não o fez por causa de Marcela, que se desgostaria longe dos seus pais, das suas relações.
p. 53

Dizia-lhe a Luisa:
- Eu quero que tu me ames como eu te amo... Com todo o teu corpo; com as mãos... com os braços... com a boca... E deste modo se amavam na realidade... Com a boca principalmente...
p. 59

Foi por essa altura que eu vi Marcela perder a sua habitual alegria: os lábios descorados, os olhos pisados, indicando lágrimas, evidenciavam qualquer desgosto. Esperei que me escolhesse para seu confidente, como já tinha feito uma vez. Calava-se.
p. 60

Entre os dois esposos houve pela primeira vez uma cena. (...) Depois, reflectindo, implorara o perdão com soluções, jurara eterno arrependimento... Tudo quanto pediu obteve...
p. 60

... continuava a precisar de modelos. Luísa, porém, foi banida.
p. 60



[Imagem: Christian Schad, Self-Portrait (detalhe),1927]

2 comentários:

Anónimo disse...

Gosto deste pequenino Livro. Gostei, li-o há alguns anos e foi daqueles que voaram de uma só vez, comecei e acabei no mesmo fôlego!
Gostei da composição do Fado Moliceiro ;)
Um abraço,
Mystic's

Claudia Sousa Dias disse...

não conhecia...


csd