8.3.07

Se por acaso ouvires esta mensagem #4

Sim, a responsabilidade, no fim de contas, seria sobretudo tua. Mas, como eu te aceitaria superior a mim, acreditaria que terias sempre razão, o que quer que fizesses. Mesmo quando me parecesse que agias contra mim e me punhas dificuldades no caminho, como se te desse prazer fazer-me torcer os pes e cair. Até isso, ou qualquer outra coisa, eu aceitaria. Se estivesses comigo.
Até esta pequena mancha na pele eu aceitaria. Este mal, que primeiro começou por ser uma pequena mancha na pele e a que a princípio nem dei importância, pensando que era do excesso do sol, ao lado de um homem que eu amava.
Até perceber que aquela pequena mancha, que depois alastrava, vinha do homem que eu amava, porque eu me tinha deitado com aquele homem que eu amava.
Fiquei em estado de choque muito tempo, como se não conseguisse acordar. Até que acordei e corri ao médico. Para ouvir o que eu suspeitava, o que ele também suspeitava, e ficou de repente muito claro, preto no branco, nas análises.
Está tudo no sangue, e ele não mente, uma gota de sangue é o bastante para que te digam tudo. [continua]


autora: Teolinda Gersão
pré-publicação do conto (fragmento 4): Se por acaso ouvires esta mensagem
do livro: A Mulher que Prendeu a Chuva
editora: Sudoeste

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