7.11.06

"The painting is not made with lines but with color"




Vi Girl With a Pearl Earring (2003) em DVD e Black Dalia (2006) no cinema, dois dos muitos filmes em que Scarlett Johansson já participou. Impossível não reparar na idade da actriz: este mês, a 22, fará 22 anos. Ela é talento, mas não deixa de ser ainda uma doce Lolita. Como Griet, a jovem de 15 anos que trabalha em casa de Vermeer, é perfeita. Como namorada do detective Leland Blanchard, é o que se espera dela hoje, é uma estrela, e por isso é menos convincente.

Todas as personagens são ambíguas em Black Dalia, existe duplicidade de comportamentos e de intenções. Madeleine Linscott (Hilary Swank) é a nossa primeira pista neste sentido. O que parece, não é. A "subrealidade" é o palco do filme. Kay Lake é a mais autêntica das personagens, esconde apenas o seu passado (de vítima). É aí que vejo uma qualquer inconsistência. Há sofisticação a mais, expressão a menos, no desempenho de Scarlett. A pele que sabe a leite não passou pelo trauma que se revela, a actriz é demasiado teatral com a cigarrilha, os gestos são estudados. No denso romance negro de James Ellroy, Kay Lake é terna e inteligente. E é bela, mas não é uma beldade. Ellroy viu a própria mãe assassinada quando tinha apenas dez anos, e em Kay Lake, dizem, ele projectava a imagem da mãe. Esta Kay Lake começa por ser estonteante e pretensiosa (primeiras cenas), vacila ao longo do filme, e só no fim se aproxima do modelo do escritor. Fiquei com a impressão de que Scarlett Johansson se aprisionou, não ao carácter da personagem, mas à sua imagem de star de Hollywwod.

O décor do filme de De Palma é belo, a intriga flui, mas não há suspense. Fixei a cor sépia. Dalia Negra parece-me um álbum de fotografias.

Do filme de Peter Webber (com uma excelente fotografia de Eduardo Serra) retive a sujidade e o frio em Delft, no ano de 1665, e o desempenho tocante de Scarlett Johansson.

O cinema é todas as artes e uma deliciosa distracção.

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