16.2.05

Entre a realidade e o sonho


Angela Berlinde

Devido à próxima entrevista - às fundadoras da escola de artes para crianças Pequenas Artes, andei nos últimos tempos a pesquisar sobre o que de melhor existe neste domínio.
Fui recolhendo ideias, grande parte oriundas do Brasil (onde proliferam sites). O que se segue é um conjunto de características delineadoras de um espaço ideal para o desenvolvimento do potencial criativo das crianças no período pré-escolar. O que começou logo por me surpreender foi a não separação da arte e da ciência. No meu modelo, confesso que colocava a ciência noutro campo. Mas de facto, a matemática e a música têm na sua génese o mesmo tipo de raciocínio. E a aprendizagem da linguagem musical favorece a aprendizagem de línguas estrangeiras. E a criatividade artística supõe a mesma colocação de hipóteses, inerente ao pensamento científico. E a experimentação gera contacto com materiais e aproximação à natureza. E todas as valências são importantes para o conhecimento e para o aumento da auto-estima da criança que, assim, ficará mais enriquecida e mais liberta para exercícios de criatividade.
Algumas destas escolas têm um tipo de organização que as aproxima das creches normais ou dos ATL's, mas o seu pendor é mais de especialização no ensino de artes. De qualquer forma, a sensibilização para a arte (e ciência) faz parte das competências destes organismos, pelo que estes modelos podem aplicar-se a todos os espaços cujo objectivo seja o desenvolvimento global da criança.
Cada sala é desenhada para um grupo de idade específico. O material usado e as actividades escolhidas para cada sala é apropriado à faixa etária. Esta é a base.
Existe um centro de escrita com papel, lápis, canetas, carimbos para actividades de pré-escrita. Existe um centro de matemática com material para contar, medir, pesar, combinar, classificar. Um laboratório de Ciências, onde as crianças farão experiências em química, física e biologia. Uma área para brincadeiras dramáticas, de faz de conta. Histórias são contadas e encenadas pelas crianças. Introdução a uma língua estrangeira. Um espaço de Música e Movimento, com instrumentos diversos e aparelhos de som. Brincar com as mãos, dançar, sozinha ou com outras crianças. Canções, que também desenvolvem a memória e o sentido de pertença. Aprendizagem de um instrumento musical, que também desenvolve a coordenação motora e a capacidade de concentração. Sala de computadores. Uma área aconchegante com sofás e travesseiros para leitura de livros, blocos, jogos, etc..
Na sua sala a criança escolhe um dos diversos centros de actividades. A criança tem liberdade para fazer essa escolha.
Um diário é mantido na sala, para as crianças ditarem o que acham importante dizer, fazer ou lembrar.
Cada criança tem o seu portfólio (que permite aos pais acompanharem as realizações e a evolução da criança). Os pais devem levar para casa as "obras de arte" e expô-las.
Existe um período em que as crianças de todas as idades se encontram e convivem.
Deve haver um tempo para compartilhar, ouvir, fazer perguntas, fazer barulho, rir.
As actividades de arte são mais projecto-orientadas para as crianças de 4 e 5 anos enquanto que os mais pequenos, a partir dos 18 meses, são mais orientados para a pura experimentação.
Para os educadores, estas ideias não são novas. E falta referir aqui muitos aspectos relativos à dinâmica dos grupos. Mas se tivessem que assinalar com uma cruz as características presentes no vosso espaço de trabalho, o que é que ficava de fora?
[Este post é dedicado aos 17 golfinhos da prof. Saltapocinhas]

8 comentários:

Bastet disse...

seria fantástico que todas as escolinhas dispusessem de vontade e meios para "alimentar" as necessidades educacionais das crianças. A minha "piolha" com quase cinco anos faz-me reflectir muito neste tema, nomeadamente na falta que a educação musical faz e na importância que tem mormente na concentração e linguagem lógica e na minha falta de tempo para a por numa escola de música... :(

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Pois é, raramente encontramos uma creche que preencha todos os requisitos que consideramos básicos. As minhas (com quase 5 anos, gémeas) começaram este ano a frequentar uma escola de artes, e sinto que deram um "salto", estão mais desinibidas, fazem mais perguntas, querem saber quem o Mozart (ficam ainda perplexas por poderem ouvir música de alguém que já morreu!) e têm outra "familia" (os novos amigos desse espaço).

Bastet disse...

Gémeas? :) uau, o dobro do trabalho... mas também o dobro das inúmeras compensações! Parabéns!

Anónimo disse...

Já agora, a Berlinde, que é uma fotógrafa, na minha opinião, excepcional, tem um livejournal aqui.

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

bastet, nos 2 primeiros anos foram mesmo muitos trabalhos! Agora é só a parte boa!

bagaço, já lá fui conversar com a senhora. não fazia ideia de que fosse portuguesa. encontrei a foto num site holandês e com este nome e temática imaginei-a sul-americana!? obrigada pela dica

blimunda disse...

queres vir conhecer a minha Nau Catrineta (ATL: Atelier de tempos Livres) escola de artes? porque é isso que faço... se estiveres interessada em saber mais manda-me um mail...

Bastet disse...

Blimunda:
Enviei-te um e-mail por causa da visita à nau catrineta :)

uivomania disse...

Impossível retirar uma actividade.
Possível de adicionar aproximação à vida natural... actividade rural tradicional, rios, mar, astronomia...