A violência no Brasil mata mais do que qualquer doença epidémica. Por isso respeito tanto as iniciativas do Movimento RIO DE PAZ. Uma das activistas viveu muitos anos em Portugal e é uma daquelas pessoas que nunca esquecemos. Quando estive no Rio de Janeiro (já faz tanto tempo!), tive oportunidade de a rever. Lembro-me de falarmos sobre segurança. Os portugueses estranham a necessidade de gradeamentos bloqueando as entradas dos prédios, ou a ideia de não poder viajar com a janela do carro aberta! Um simples passeio no Rio, a pé ou de automóvel, implica um risco (elevado) de assalto com violência. A certa altura, um amigo dela, carioca, disse: "a gente se habitua". Fiquei na dúvida. É verdade que o ser humano se adapta a todas as situações e até acredito que, felizmente, todos conhecemos mal os nossos limites, até onde conseguimos resistir em situações de adversidade ou dor. Mas banalizar a violência, integrá-la sem resistência no nosso quotidiano, é acéfalo.
Este Movimento RIO DE PAZ decidiu resistir e combater - se não o flagelo, pelo menos a apatia. Têm organizado acções carregadas de simbolismo que lembram os mortos e evidenciam o carácter massivo do fenómeno. Neste momento, estão também empenhados em criar redes de apoio psicológico para os familiares das vítimas.
Essa minha amiga chama-se Simone Villas Boas e eu sinto orgulho e comoção por a ver (e sentir) tão envolvida nessa batalha. Ela tem um blogue, [correio electrônico], que reflecte as suas preocupações sociais. Alguém me dizia que reflectir sobre o tecido urbano e social implicava vários tipos de conhecimento erudito mas, sobretudo, um enfoque na ecologia da alma. Simone é a minha ecologista da alma preferida. Já agora, vejam-na aqui e aqui. O mote: «Via Crucis - O Aterro do Flamengo amanheceu com duas mil cruzes brancas simbolizando o número de mortos por assassinato neste ano».
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