O que eu vi foi um debate de 2h30 que passou a correr___ pelo interesse das temáticas e a vivacidade (às vezes, forte agressividade) dos dois candidatos. E, fugindo ao que serão as opiniões mais radicais, voltei a encontrar um discurso diferenciado entre a Direita e a Esquerda. O que os separa: [1] não a necessidade de fortalecer a Europa Comunitária (ponto assente para Sarkozy e Hollande, apesar de isso os afastar dos eleitores do Front Nacional, os Marinistes) mas a orientação económica que nesta deve prevalecer; [2] a política fiscal; [3] a questão da imigração. Difícil acrescentar a política externa francesa como 4º tópico: Hollande apenas defendeu o regresso das tropas francesas no Afeganistão ainda em 2012, enquanto Sarkozy prefere terminar a missão estabelecida para a França e acordar a data com os aliados (provavelmente em 2013)__ e aqui pareceu-me que a atitude de Hollande era "forçada".
Portugal nunca foi mencionado, o que é bom e mau. Não somos dados como mais um terrível exemplo de contas públicas deficitárias, nem mencionados por qualquer boa política. Na verdade, desde a época em que vivi em França, sei que Portugal não interessa a ninguém. Mas Zapatero, Papandreou e Berlusconi não foram poupados! O mais curioso é que este último apoia Hollande___ por se ter sentido humilhado por Sarkozy. E Sarko repudia qualquer ligação ao italiano, apesar de pertencerem à mesma família partidária. Enfim, neste capítulo ambos estiveram mal! Mesmo se Hollande se distanciou, convictamente, do que foi a acção do eixo franco-alemão nestes últimos 3 anos. De resto, é aí que reside a maior diferença e a razão da grande expectativa em relação a estas eleições presidenciais.
Hollande propõe "crescimento" para combater a austeridade, em vez de planos centrados apenas na redução do déficit, nomeadamente por via do despedimento massivo de funcionários públicos. A França de Sarko já demitiu mais de 100 mil professores e auxiliares de educação. E mesmo se a premissa é: «Nous ne redistribuerons que ce que nous aurons fabriqué », Hollande prometeu estabilizar os efectivos da função pública e readmitir professores (a juventude e a melhoria da educação na República é uma das suas prioridades). As políticas fiscal e económica defendidas por cada um dos candidatos, centradas na França, podem ser lidas em pormenor aqui. Mas, para a Europa, são basicamente 4 as propostas de Hollande: (1) Criação de eurobonds para financiar projectos industriais, infraestruturas - com grande oposição de Sarkozy que acha que não compete à França ou à Alemanha pagar a dívida dos países "infractores"; (2) Baixar a taxa de financiamento da Banca (o BCE financia a Banca a 1%, os Bancos não podem depois exigir 5%); (3) Criação de uma taxa sobre as transações financeiras que servirá para financiar projectos de desenvolvimento; (4) Mobilizar os fundos estruturais europeus que estão actualmente inactivos.
Enfim, François Hollande afirma-se pela "mudança" e Nicolas Sarkozy bate-se pela continuidade numa França que, apesar do descontrolo do déficit, continua a crescer.
O mais arrepiante em Sarkozy é a sua aproximação à Front Nacional, em matéria de imigração. O seu discurso, associando os estrangeiros em França à comunidade islâmica (a propósito da proposta de Hollande de abertura das eleições municipais a estrangeiros residentes há mais de 5 anos), caiu mal e foi bem aproveitado por Hollande. Mas lá regressaram ambos aos véus e às burkas, o que era absolutamente desnecessário.
Última nota: anseio por um debate equiparável em Portugal numas futuras eleições, legislativas ou presidenciais. Gostaria de ver candidatos bem preparados para discutir matérias concretas, defendendo políticas com base em dados objectivos e ideias que estão para além do fait divers. E, se tentados ou levados a ataques pessoais, capazes de nomear claramente situações, datas e nomes. Hollande queixou-se da falta de justiça e de transparência no aparelho judicial francês (e apresentou medidas). Se ele desse um saltito a Portugal....
Portugal nunca foi mencionado, o que é bom e mau. Não somos dados como mais um terrível exemplo de contas públicas deficitárias, nem mencionados por qualquer boa política. Na verdade, desde a época em que vivi em França, sei que Portugal não interessa a ninguém. Mas Zapatero, Papandreou e Berlusconi não foram poupados! O mais curioso é que este último apoia Hollande___ por se ter sentido humilhado por Sarkozy. E Sarko repudia qualquer ligação ao italiano, apesar de pertencerem à mesma família partidária. Enfim, neste capítulo ambos estiveram mal! Mesmo se Hollande se distanciou, convictamente, do que foi a acção do eixo franco-alemão nestes últimos 3 anos. De resto, é aí que reside a maior diferença e a razão da grande expectativa em relação a estas eleições presidenciais.
Hollande propõe "crescimento" para combater a austeridade, em vez de planos centrados apenas na redução do déficit, nomeadamente por via do despedimento massivo de funcionários públicos. A França de Sarko já demitiu mais de 100 mil professores e auxiliares de educação. E mesmo se a premissa é: «Nous ne redistribuerons que ce que nous aurons fabriqué », Hollande prometeu estabilizar os efectivos da função pública e readmitir professores (a juventude e a melhoria da educação na República é uma das suas prioridades). As políticas fiscal e económica defendidas por cada um dos candidatos, centradas na França, podem ser lidas em pormenor aqui. Mas, para a Europa, são basicamente 4 as propostas de Hollande: (1) Criação de eurobonds para financiar projectos industriais, infraestruturas - com grande oposição de Sarkozy que acha que não compete à França ou à Alemanha pagar a dívida dos países "infractores"; (2) Baixar a taxa de financiamento da Banca (o BCE financia a Banca a 1%, os Bancos não podem depois exigir 5%); (3) Criação de uma taxa sobre as transações financeiras que servirá para financiar projectos de desenvolvimento; (4) Mobilizar os fundos estruturais europeus que estão actualmente inactivos.
Enfim, François Hollande afirma-se pela "mudança" e Nicolas Sarkozy bate-se pela continuidade numa França que, apesar do descontrolo do déficit, continua a crescer.
O mais arrepiante em Sarkozy é a sua aproximação à Front Nacional, em matéria de imigração. O seu discurso, associando os estrangeiros em França à comunidade islâmica (a propósito da proposta de Hollande de abertura das eleições municipais a estrangeiros residentes há mais de 5 anos), caiu mal e foi bem aproveitado por Hollande. Mas lá regressaram ambos aos véus e às burkas, o que era absolutamente desnecessário.
Última nota: anseio por um debate equiparável em Portugal numas futuras eleições, legislativas ou presidenciais. Gostaria de ver candidatos bem preparados para discutir matérias concretas, defendendo políticas com base em dados objectivos e ideias que estão para além do fait divers. E, se tentados ou levados a ataques pessoais, capazes de nomear claramente situações, datas e nomes. Hollande queixou-se da falta de justiça e de transparência no aparelho judicial francês (e apresentou medidas). Se ele desse um saltito a Portugal....
Segundo todas sondagens, François Hollande será o novo Presidente da República francês. Este debate era crucial. Nicolas Sarkozy deveria, não só bater Hollande aos pontos, como deixá-lo KO. Esteve longe disso.
Resta esperar pelo próximo domingo. Tendo como referência os resultados da primeira volta, continuo a pensar que nada está seguro.
São estas capas de hoje do gauchiste Libération e do pró-Sarko Le Fígaro:
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