17.4.12

E(n)xame

Foi hoje a estreia e foi bom estar lá. Encenação de Jorge Fraga. Não percam! É uma das peças (produzidas por companhias de teatro de Aveiro) que mais prazer me deu assistir nestes últimos anos! Aqui têm a ficha técnica mas ao vivo é só surpresas!

Sei que vale a pena conhecer a Alma, uma mulher que está grávida, que quer ser a melhor mãe do mundo e que vai dar o nome de Aurora à filha. A Alma aprecia a vida! Mas também gostei muito da mulher que já é Mãe e que teve uma vida normal - apaixonou-se, viveu com um homem, teve um filho que era tudo. Vocês sabem, temos um filho e o nosso coração começa a caminhar noutra direcção... Com o filho, gostava de passear, de observar pássaros, faziam planos para voar, paravam para comer e para estudar a lição de amanhã, adormeciam juntos no sofá, até que ele desapareceu, nunca mais ninguém o viu e já passou tempo demais! Agora só há dor! Tem as pernas musculadas de tanto andar, os seus olhos são vigilantes como os de uma ave de rapina. À procura dele... De manhã veste-se e sai, à noite sonha que ele dome no quarto ao lado. Já a Eugénia vive num poço e odeia a sua mãe. A mãe dela atirou o pai para o fundo de um poço e abandonou-a. Movida pelo amor ao seu pai, Eugénia resolveu ir procurá-lo. Ela tornou-se uma pessoa arrogante, revoltada, e projecta todo o ódio que sente pela mãe em todas as mulheres do mundo. Um dia encontra-o mas... A Fátima é uma mulher jovem de coração apaixonado. O seu maior sonho é casar com o Augusto. Hoje é o dia do casamento e ela está no altar. Espera incessantemente por ele. Não há forma de ele chegar mas ela não perde a esperança. Já a Júlia tem uma paixão que é um vício: o jogo. Está sempre no casino! Vendo-se completamente falida, não olha a meios para alimentar o vício! Mas a Ida trabalhou a vida toda! Só que foi despedida e o marido deixou-a. Hoje decidiu comprar o bilhete mais caro, viajar para o lugar mais distante... para se matar. Está revoltada com todos os seres humanos e não sai do seu casulo, a não ser que apareça alguém cheio de bondade e com vontade de oferecer essa bondade. A Ida não é muito diferente da Mulher. A Mulher é casada mas o marido também a deixou e ela vive sozinha, muito sozinha há muitos anos. Ela ficou velha muito cedo! Dobra sempre a mesma camisa, a camisa do marido, porque ele há-de voltar, ela sabe. Absolutamente espantosa é a Violeta! É uma máquina escrava do seu trabalho, a sua função é servir. Tem erros de fabrico: anda para trás e tem parafusos soltos. Vive revoltada com a sua própria natureza artificial. Violeta deseja uma vida plena de humanidade. Mas o que é ser humana? Violeta ainda não entende mas aos poucos vai descobrindo... Não sei se a Ana poderá ajudá-la. A vida da Ana é muito organizada, tem sempre tudo muito bem limpo e ordenado, além de que, sendo consumista, escolhe sempre os produtos mais baratos. É claro que vai entrar em choque com o Pintor, que é um nómada. O Pintor abandonou a sua casa devido a problemas com a família. Ganha dinheiro tocando na rua. A liberdade é a sua casa. Ele atravessou o inferno e agora, nem do diabo tem medo! Enfim, não tem nada a ver com o Igor que vive numa câmara subterrânea, no Mosteiro da Ordem da Luz. Abandonaram-no recém-nascido às portas do mosteiro e acabou sendo criado e educado pelos monges. Igor abraçou a fé e as causas da Ordem, estuda há anos o caminho da perfeição. O que diria ele ao advogado Valério? Valério provinha de uma família abastada e sempre executou bem o seu trabalho. Nunca criou grandes laços com as pessoas. Agora atingiu um ponto de colapso, sente-se distante de qualquer emoção e vai cometer um ou mais homicídios. O Mário tem pensamentos suicidas! Apaixonou-se pela Cecília mas ela trocou-o por outro rapaz. O Mário é um poeta e está perdido. Vamos encontrá-lo ao pé da árvore onde ele e Cecília deram o primeiro beijo... E depois há ainda...esta e aquela, e aquele outro. Mas sabem uma coisa? É preciso conhecê-los mesmo. É que não há gente sem olhos, e boca, e braços, e pernas,... todo o corpo uno e divisível, para nos surpreender, para amarmos ou retalharmos. E depois, há a troca de mundos. É preciso ir lá ver. Eles estão numa sala de teatro. E esperam, esperam,... até ao dia 23 deste mês.


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