18.11.09

Semântica...

Caroline Westerhout
The real world does no longer exist, 2009



Lê-se o poema. Espanta-se. com a autoria também. imaginam quem o «orden(h)ou» ?

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Ordeno ao ordenador que me ordene o ordenado
Ordeno ao ordenador que me ordenhe o ordenhado
Ordinalmente
Ordenadamente
Ordeiramente.
Mas o desordeiro
Quebrou o ordenador
E eu já não dou ordens
coordenadas
Seja a quem for.
Então resolvo tomar ordens
Menores, maiores,
E sou ordenado,
Enfim --- o ordenado
Que tentei ordenhar ao ordenador quebrado.
--- Mas --- diz-me a ordenança ---
Você não pode ordenhar uma máquina:
Uma máquina é que pode ordenhar uma vaca.
De mais a mais, você agora é padre,
E fica mal a um padre ordenhar, mesmo uma ovelha
Velhaca, mesmo uma ovelha velha,
Quanto mais uma vaca!
Pois uma máquina é vicária (você é vigário?):
Vaca (em vacância) à vaca.
São ordens...
Eu então, ordinalmente ordeiro, ordenado, ordenhado,
Às ordens da ordenança em ordem unida e dispersa
(Para acabar a conversa
Como aprendi na Infantaria),
Ordenhado chorei meu triste fado.
Mas tristeza ordenhada é nata de alegria:
E chorei leite condensado,
Leite em pó, leite céptico asséptico,
Oh, milagre ordinal de um mundo cibernético!


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[Resposta na caixa de comentários]

4 comentários:

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Poema:«Semântica Electrónica»
Poeta: Vitorino Nemésio

Claudia Sousa Dias disse...

esperctáculo!


e actual.


csd

APC disse...

Era genial o homem das ilhas, não era?
beijinhos

Paulo disse...

Fantástico poema. Surpreendente em qualquer autor, mas Vitorino Nemésio (!!) é o máximo.