26.11.05

Reflexos de um olhar

(1)Um apelo doce de addiragram. respondi assim. depois são vocês...


I


Em dias assim envolvida neste choro do tempo
ouso sair
Que são tantas as lágrimas que as minhas se perdem


II

que ramos quebrados são esses
que força usámos para nos perdermos

Chicotes de vento
Chicotes de tempo


III

atravessa o vidro, trespassa a árvore
desventra a nuvem e a neblina
percorre a casa que é um fantasma
e o meu olhar não encontra nada.



(2)
Entretanto a Palavras em Linha leu e decidiu contrariar este "registo":


I


Em dias assim
Seco as lágrimas nos cantos da boca
E risco a face de arco-íris sem vento;

II

Depois trago para dentro o olhar,
Ponho ramos secos no centro das mágoas
E neles prendo flores viçosas;

III

Ganho o dia,
Ganho tempo;
Amaino o bater dos chicotes nas memórias
E sento-me na calma das palavras.


(3)
Eu aceitei a desgarrada, continuando no registo à "Madalena":


Em dias assim
o vento rasga os arco-íris
que nascem nos meus olhos

Mas se acaso algum escapa
e desce à foz que são meus lábios
sinto que o tempo o congela
e nem a mão o apaga

e não há mão que me afague
nem manto que me dê asas
nem fogueira que me aqueça
até que esta mágoa passe

Arcos-lágrima que perduram
por sobre sóis e palavras
espelham tua íris negra
despojada de ternura.



(4)
Resposta da Palavras:


E não há mão que me afague
Sem conhecer os meus beijos
Nem afago que resista
Ao arco-iris que ponho
No braseiro dos desejos;
Nem manto que me dê asas
Porque cavalgo com o vento
Porque aproveito os despojos
E não deixo o pensamento
Rasgar a luz dos meus olhos;
Não há mal que me destrua
Nem fogueira que me queime
Quando amanheço na foz
Porque o tempo é meu amigo
E traz-me sempre no vento
Luas novas, sóis diferentes
Iluminando-me a Vida
Até que esta mágoa passe.


(5)
E pois, agora eu:

em dias assim
olho os girassóis na tela
meus olhos que seguem os teus
olhos que levam os meus pela trela

em dias assim
abafo as fogueiras
minhas mãos que querem apenas arder nas tuas
mãos que se fecham n' algibeira

em dias assim
escondo-me neste manto
meu corpo marcado pelo espanto do teu
corpo animal de puro sangue

espasmos, danças, achas, cheias
que em dias assim
rodopiam nos meus olhos como areia.


(6)

Em dias assim
Ponho girassóis nos olhos
E sopro, no som dos búzios,
O apelo do meu corpo;

Sigo depois em dança
Tacteando a neblina;

Em dias assim
Fecho a noite à beira das marés
E componho a minha dança
Na caligrafia das ondas;

Solto os sentidos
Rasgo-te a pele
Soltam-se os gritos
...
Sente-se a calma;

Nesse instante acordo o espanto
E sento-me, descalça, no areal.


(7)
E como de uma desgarrada nasce uma maratona ou toma lá outro poema, ó parceira:


Descalça no areal
parei para sentir a noite
esse instante em que o vento é mais nu

o teu corpo fica frio de vento
os odores caiem c'os açoites do ar
esse instante em que a palavra é mais crua

os olhos erguem-se para a palavra
o céu desce até nós
tocam-me as luzes que tremem

e nesse instante quebras um búzio
e suspiras adeus

1 comentário:

Mónica disse...

os dois lados os dois veres os dois sentires é tudo isso a luta interna gostei!