15.11.05

(...) em suma, eu revivia, mesmo se sabia que era a última vez. Toda a energia é de ordem sexual, não principalmente mas exclusivamente, e quando o animal já não serve para se reproduzir ele não serve em absoluto para mais nada. Com os homens é a mesma coisa; no momento em que o instinto sexual desaparece, escreve Schopenhauer, o verdadeiro centro da vida desaparece; assim, assinala ele numa metáfora de aterradora violência, "a existência humana assemelha-se a uma representação teatral que, começando com actores vivos, terminará com autómatos cobertos com os mesmos trajes". Eu não queria tornar-me um autómato, e foi isso, essa presença real, esse sabor de vida viva, como teria dito Dostoïevski, que Esther que ofereceu. De que serve manter em estado de marcha um corpo que não é tocado por ninguém? E porquê escolher um belo quarto de hotel se devemos dormir aí sós? Eu não podia (...) senão inclinar-me: imenso e admirável, decididamente, era o poder do amor.


La possibilité d'une île
Michel Houellebecq
Ed. Fayard
pp 222 (traduzida)

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