16.6.05

À escuta #7


Paul Rapp

- Quando saio com ele, as reacções são engraçadas.
- As dele?
- Não, as dos outros, os que o conhecem e a mim não.
- São simpáticos?
- Podem ser. Mas num olhar tens várias possibilidades.
- És demasiado analítica!
- Talvez, mas diverte-me observar o que me rodeia.
- E então, quais são as possibilidades?
- Há quem pense "coitadinha, está a ser enganada", há quem me odeie ou despreze de imediato - "mas esta tipa não sabe que ele é um homem casado? e que é a enésima amante deste sujeito?" e há quem me olhe pensando "se ele conseguiu, por que não tentar também?".
- Mas isso é horrível, se eu sentisse esses olhares, ia sentir-me tão desconfortável!
- Às vezes sinto, até porque os compreendo, eu pensaria a mesma coisa se visse aquele sujeito com "mais uma".
- Mas então, como diz o brasileiro, cai fora!
- Não percebes. Somos apenas amigos, ou podemos vir a ser. Às vezes, é claro, dormimos juntos.
- Portanto, não é ele que te engana, és tu que te andas a enganar...
- É mais isso!
- Ele ser casado não te incomoda?
- Não, e gosto que ele goste da mulher. Já não há primeiros dias no resto da minha vida. Nesta idade, todas as pessoas já viveram ou prosseguem a história a que chamam "a minha vida".
- E como respondes aos conhecidos que lançam olhares cobiçosos?
- Não respondo, penso "coitadinho, estás enganado".
- Bem, quem cai numa dessas pode cair noutras.
- Achas? Eu não. Por acaso acho que é mesmo daquelas coisas que só se quer viver uma vez.

11 comentários:

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

:) Amigo Raimundo, aconselha-se a leitura urgente dos posts sobre a técnica da máscara.
Mas é claro que vou já aí vanguar-nadar!

Bin_tex disse...

tás ai?

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

:) não

jp(JoanaPestana) disse...

ehehehe

Maria Heli disse...

Ou de como só nos acontece o que inventamos, vivemos, queremos!
gostei de escutar a conversa...;)
bjo

mfc disse...

A descontracção com que dizes verdades, "apesar de escutadas", faz-nos corar por passarmos uma vida errada.
Porque é que nunca escutamos quem tem alguma coisa para nos dizer... e de uma forma invejável!

mfc disse...

Admirei este texto e tomei a liberdade de publicar um excerto, com o devido link para cá.
Espero que gostes.
Um abraço
Manel

Anónimo disse...

Olá!Passei por cá por sugestão do Amigo MFC.E ainda bem!Não te conheço, mas também não preciso.
Queria dizer-te que essa é uma filosofia compreendida por muito poucos...
Devo saudar-te com toda a delícia com que li as tuas palavras vestidas de afectos.Se te fizer feliz, dizer-te que entendo tão bem...
O que faz com que os outros nos olhem dessa forma é a falta de brilho que possuem.Que brilhes sempre!!!

Lúcia disse...

mais uma vez o Manel. Gostei do texto. Mas eu podia muito bem ser a mulher. E se calhar não ia gostar nada. Então como fico? Que se lixe, gostei da coragem dessa tua personagem, de assumir assim uma relção sem compromissos.

Anónimo disse...

A conselho do amigo MFC, passei por cá e ainda bem.
Este texto poderia ser dissecado ao pormenor. Ressalvo o desnudares [te].
Um beijo e voltarei

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

amigos, obrigada pelas vossas palavras. mas, em nome da verdade, fica a confissão: não sou a protagonista da história. beijinhos