26.1.07

Mkt do livro #3

O posicionamento no mercado e a imagem do editor de livros são também condicionados por todo o mix do produto (preço, qualidade gráfica, etc.), circuitos de distribuição e comunicação.

Centro-me agora no domínio da comunicação. Temos assistido nos últimos tempos a algumas inovações. A massificação do acesso à internet gerou novas oportunidades. Os sites das editoras estão mais activos, e algumas (novas, independentes) passaram a usá-lo como canal privilegiado de vendas. A blogosfera, através da pré-publicação de obras - a estreia aconteceu via Abrupto, o Miniscente tem agora uma rubrica regular - participa também nessa mudança. Cada um de nós, bloggers, é ou pode ser, também, um novo agente cultural ao serviço do livro (com o interesse e os riscos todos que daí possam advir).

Mas as estratégias de comunicação são normalmente fracas e pouco originais. Procura fazer-se notícia das sessões de apresentação do livro, tarefa mais ou menos facilitada segundo o grau de notoriedade e imagem do autor, o seu capital social, ou seja, a estatuta mediática dos seus amigos, nomeadamente o apresentador da obra. Trabalha-se para e aguarda-se a saída das notas e críticas nos media, em particular na imprensa escrita. Multiplicam-se sessões de autógrafos. Pontualmente arrisca-se o investimento em publicidade directa. Mas sobretudo, diz-se, se o livro é bom, vende por si. O boca a orelha faz o sucesso. Depois, os prémios, a presença em feiras internacionais, enfim, a consagração.

Os preconceitos associados à promoção do livro são imensos. Um bom escritor não precisa de ir à televisão. Os escritores não fazem grandes audiências televisivas. Os escritores são uns chatos. Um livro não é uma mercadoria, pelo que um marketing agressivo pode até gerar um efeito perverso e "desqualificar" uma obra. Quem aposta no marketing não aposta na arte da escrita. O marketing é para a literatura light. São imensas as nossas verdades absolutas.

Em França, país onde vivi alguns anos, os escritores já consagrados, os novos escritores que são ou talvez venham a ser bons, eram presença constante nos écrans televisivos, eram convidados para programas que passavam no horário nobre. O lançamento de um livro era notícia e, se casos como o interesse suscitado por "A vida sexual de Catherine M." de Catherine Millet, não abonam a favor do critério, a verdade é que raramente assisti a debates sobre livros polémicos sem enquadramento da obra, ou sem uma contra-argumentação objectiva. O escândalo pelo escândalo, apoiado em fotos e breves citações, não servia editores de jornais.
Nas rentrées litteraires do Outono, em que, em média, mais de 500 livros são lançados todos os anos, editores e autores batem-se por um lugar de destaque nos media. O lançamento de um novo livro de Michel Houllebecq, um dos melhores escritores da actualidade, é sempre acompanhado de uma enorme (e distinta) polémica. No seu caso há quem fale de "marketing da abjecção". Mas não é preciso chegar a tanto. Os prémios literários e suas novelas são seguidos com expectativa, os media suscitam e jogam com o interesse do público.

Por cá, é o marasmo.

Sem complexos, sem medo de que a publicidade seja mais interessante do que o livro, eu gostaria de assistir a lançamentos mais criativos.

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