26.1.07

A recusa dos carniceiros #3

"Ano em que o sr. Théodore Taunay publica, no Rio de Janeiro, Idilles Brésiliennes, escrito em versos latinos; e o sr. Wilhelm von Humboldt, conhecido filólogo alemão, apresenta, ao ensejo de seus estudos sobre a antiga língua dos javaneses, interessantes conclusões sobre a heterogeneidade da linguagem e sua influência no desenvolvimento intelectual da humanidade; segundo o conhecido autor de Prufung der Untersuchungen uber die Urbewohner Hispaniens vermittelst der vaskischen Sprache, o homem passou a andar erecto para poder falar melhor, pois com a face voltada para o solo não podia emitir as palavras com a necessária clareza.
Provavelmente nem todos os deputados conhecem essa original teoria do sábio alemão, mas, conscientes de que postando-se curvados como certos macacos suas vozes não seriam ouvidas com nitidez, sempre se põem de pé para fazer seus discuros. De pé, portanto, e estendendo à frente um dos braços, como, se assim ajudasse a transmitir os sons emitidos por seu aparelho fonator pelo inteiro recinto da Câmara, Paula Calvalcanti fala pausadamente: "Tem-se dito em geral: a sociedade não tem o direito de impor a pena de morte; mas também qualquer homem não deposita na sociedade o direito de o prenderem, e a sociedade toma esse poder. (...) Não duvido que o sentimento de humanidade exigisse a extinção da pena de morte; mas o poderemos nós fazer no Brasil, com costumes tão bárbaros?(...)"."


Extracto de A recusa dos carniceiros, in Romance Negro e Outras Histórias, de Rubem Fonseca
Ed. Campo das Letras, pp 136-137

Sem comentários: