20.1.07

O impacto da blogosfera

... na vida dos bloggers é o tema da Mini-Entrevista concebida por Luís Carmelo. A amostra já ultrapassa a centena. No seu Miniscente podemos ler todas as semanas as respostas ao "inquérito". Na semana que passou, saiu a minha___ que agora fica aqui "arquivada".

1 – O que lhe diz a palavra “blogosfera”?
É um admirável mundo novo, mesmo se fica nos antípodas da fábula criada por Aldous Axley. É um mundo pouco organizado, onde impera a vontade livre individual, quase sem condicionamentos de estilo, forma ou conteúdo. Tem as suas castas, mas o sistema que as cria nada tem de científico. Se me ocorre esta associação, é apenas pela rapidez com que a inovação “blogosfera” se impôs.
Em 2004, quando me sugeriram que criasse um blogue, resisti. Acho que associava a blogosfera a um ambiente frequentado por informáticos e adolescentes (alguns tardios). Nos jornais, teria lido qualquer boa referência à escrita de um ou outro blogger, mas mantinha a desconfiança. Criaram-me o blogue, ainda me lembro do email com as instruções, “blogger.com/start, por agora não mexas no template”, etc..
Talvez por causa dessa iniciação, persisto em olhar a blogosfera com um conjunto de indivíduos isolados, movidos pelas mais diversas motivações. Existem empresas, associações, embaixadas, várias entidades colectivas a gerir blogues, mas nas leituras que faço procuro sempre a “reason-why” do indivíduo. Cada um cria depois uma teia de relações virtuais, uma pequena “comunidade”. A blogosfera, hoje, é um conjunto infindável de pequenas comunidades e, quando passeio por lá, viaja comigo um sentimento de pertença ou de estranheza. Sei quando estou dentro da “minha” comunidade e quando entro em território desconhecido. Fascina-me, é claro, o visto Schengen comum que dá acesso a toda área. Nenhum outro meio permitirá maior e mais rápida liberdade de acesso e circulação.
A “blogosfera”, por permitir uma nova forma de expressão, massiva e mais livre; por oferecer entretenimento e informação à la carte tem ainda o mérito de ser uma das raras inovações de pendor tecnológico que não desumaniza. Ela serve de facto o Homem.
Penso nas motivações base que nos movem: hedónicas, oblativas e de projecção pessoal. Que outra actividade ou serviço é tão cabal na sua satisfação?

2 - Qual foi o acontecimento (nacional ou internacional) que mais intensamente seguiu apenas através de blogues?
Acho que nenhum. Os blogues têm servido sobretudo para me “avisar” da ocorrência de qualquer acontecimento e para perceber os diferentes estados de espírito ou sensibilidades que um mesmo acontecimento pode gerar.

3 - Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
O Divas & Contrabaixos aconteceu quando comecei a colaborar com um jornal regional. O blogue tem o nome da rubrica do jornal. Mas logo percebi que o jornal e o blogue tinham ritmos próprios. O D&C descolou-se da sua origem e passou a ser um espaço (para uma experiência) pessoal. Mas continuo a associar o blogue à minha inserção na cidade, Aveiro. Acabava de chegar e foi também através dele, ou por causa dele, que passei a viver com mais intensidade a cidade. Fotografei, pesquisei, conheci pessoas ligadas ao “fazer a cidade” e o blogue permitiu-me espalhar essa energia.
Com a minha entrada na blogosfera, descobri também “o zapping blogosférico”. É um entretenimento delicioso e que vicia. Nos primeiros tempos, era capaz de ficar horas em frente do computador, a navegar e a “blogar”; depois tornou-se um hábito mais moderado, mas ainda um hábito.

4 - Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?

Talvez alguns blogues tenham um editor-chefe na penumbra mas, por princípio, a blogosfera é editorialmente livre.
Isso não significa, é claro, nenhuma grande transformação cultural ou social. Transparência e liberdade de expressão são condição, mas não bastam. A blogosfera poderá oferecer conteúdos e prismas mais diversificados do que os media tradicionais, garantir o direito ao contraditório, dar voz ao cidadão anónimo, mas a qualidade das análises e da escrita e, sobretudo, a responsabilidade dos autores, não estão asseguradas. Enfim, será um mal menor num mar imenso de possibilidades. Mas questiono-me sobre o que fazer quando me deparo com blogues que promovem preconceitos extremistas ou como travar boatos e injúrias. Como A. Huxley, num outro contexto, acho que “o abençoado intervalo entre a excessiva falta de ordem e o pesadelo da ordem em excesso não começou e não dá sinais de começar”. Vamos dizer que a blogosfera traduz e revela apenas o que somos, condicionados e imperfeitos por natureza, admiravelmente “novos” todos os dias.

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