28.5.05

Confissões Sexuais de Um Anónimo Português V


Joris van Daele

Repeti o 11° ano, repeti o 12°, voltei a repetir o 12° para melhorar a média, mas com 20 anos consegui entrar em Engenharia dos Têxteis na Covilhã.

Não se pode dizer que não me tenha servido para nada essa experiência. Para além de ter ficado a odiar climas frios, nunca mais perdi um certo pragmatismo que me foi muito útil para o resto da vida. E lamentavelmente, foi pouco tempo depois de sair da Covilhã que descobri que estava com um início de tuberculose. Aqueles ares até me podiam ter feito bem.

Mas mal vi a Paola percebi que tinha que a seguir. A Paola era uma estudante de design industrial que apareceu na Covilhã para pesquisar técnicas de tecelagem tradicionais e a evolução dos processos de fabrico a partir das formas originais. Eu vi logo que era imperativo conhecer e pertencer ao mundo que produzira uma pessoa com aquela beleza e encanto e mistério e reserva e sentido estético. Tive dificuldade em acreditar quando me disse que era virgem e ainda mais, quando salientou que estava noiva. A minha história com ela é longa e marcada por rudes afastamentos e ternas aproximações. Foram necessários mais de doze anos para que ela aceitasse deitar-se comigo.

Vivi assim numa castidade quase absoluta entre os vinte e os trinta e dois anos. De início, a abstinência era-me penosa, mas depois fui-me habituando e deixei de pensar nas mulheres. Em contrapartida, as minhas ocupações e as minhas leituras profissionais, as conversas com gente instruída e inteligente, que não falta em Milão, tornavam-me a vida interessante. A minha saúde era bastante boa; continuava a ter um peito débil e a ser nervoso, mas a tuberculose já não me ameaçava. As poluções nocturnas iam rareando; ocorriam, ao princípio, uma vez por semana, depois uma vez de quinze em quinze dias, e por último, à volta dos trinta anos, uma vez de vinte em vinte dias ou de mês a mês. Eram sempre acompanhadas por imagens dos orgãos sexuais da mulher. Contrariamente ao que tinha lido em livros, verifiquei, pela minha própria experiência, que o instinto sexual é tanto mais estimulado quanto mais satisfeito for e que se apazigua, se acalma, quando se presta menos atenção aos seus apelos. Embora pareça estranho, é indubitavelmente assim que se passam as coisas. Quantas mais vezes se pratica o coito, tanto mais se deseja renová-lo.

Comprovei-o bem nas minhas relações com a Paola. Era logo após vários coitos seguidos e esgotantes que o desejo se tornava mais acutilante, mais agudo, à medida que se tornava difícil satisfazê-lo. E o coito normal já não satisfaz a imaginação excitada: procura-se toda a sorte de refinamentos, de perversões. Neste aspecto, não sou uma excepção, todos os homens me disseram que tiveram uma experiência idêntica.

[Neste capítulo as Confissões sexuais de um anónimo português e de um anónimo russo colaram-se uma à outra. Se preferirem as do russo, e estão no vosso direito, repito que é a ASA que as publica.]

5 comentários:

mfc disse...

As perversões fazem parte do jogo amoroso!

A Gerência disse...

Texteis... valeu a pena estudar!

Francis disse...

Não chegaste a mencionar a marca mas desconfio que deve ser lã da boa!
tem um excelente fim-de-semana :-)

Didas disse...

Mas há q'anos que eu não ouvia chamar a isto coito!

kimikkal disse...

Tantos anos sem.....é obra!