26.2.07

a função do amor é fabricar conhecimento

a função do amor é fabricar desconhecimento

(o conhecido não tem desejo;mas todo o amor é desejar)
embora se viva às avessas,o idêntico sufoque o uno
a verdade se confunda com o facto,os peixes se gabem de pescar

e os homens sejam apanhados pelos vermes(o amor pode não se
importar
se o tempo troteia,a luz declina,os limites vergam
nem se maravilhar se um pensamento pesa como uma estrela
---o medo tem morte menor;e viverá menos quando a morte acabar)

que afortunados são os amantes(cujos seres se submetem
ao que esteja para ser descoberto)
cujo ignorante cada respirar se atreve a esconder
mais do que a mais fabulosa sabedoria teme ver

(que riem e choram)que sonham,criam e matam
enquanto o todo se move;e cada parte permanece quieta:

in livrodepoemas, de E.E. Cummings
tradução de Cecília Rego Pinheiro
Assírio & Alvim, 1998, pp 125


da tradutora, a Nota: "... em Outubro de 1992, vem a lume o artigo "Not e.e. cummings", assinado por Norman Friedman (...), pretendendo esclarecer definitivamente o problema. Segundo o crítico, o erro [uso de minúsculas] tomou forma quando, em 1964, Harry T. Moore afirmou no prefácio ao segundo livro do próprio Friedman, dedicado a Cummings (The Growth of a Writer), que este tinha, legalmente, mudado o seu nome para minúsculas. Quase trinta anos depois, Norman Friedman desmente o que fora anunciado por Harry T. Moore e afirma a necessidade da correcção gráfica do nome do poeta nos inúmeros comentários de natureza crítica, de que a sua poesia tem sido objecto...." pp 23
Norman Friedman é um dos mais conceituados estudiosos de Cummings pelo que, desde essa data, se usa escrever o nome do poeta em maiúsculas. (pensar que peguei nos "xix poemas" também publicado pela Assírio, em 1991, por me agradar a simplicidade do e.e. cummings)



Para o Windtalker
(conhecem este Cabo dos Ventos?)

2 comentários:

Windtalker disse...

Grato pela dedicatória...
...gosto particularmente da discrição, da simplicidade, no entanto tão original, das minúsculas...

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

também eu... mas parece que temos de nos conformar com a dura realidade. :)

bj