21.12.05

"Novas mulheres"

Sokolsky

Talvez por ser mulher, sinto mais dificuldade em identificá-las. O processo inverte-se, quem me salta à vista são as que pressinto ainda "velhas". "Velhas" são as que fazem poesia a rimar e passam o tempo todo a queixar-se dos homens que as deixaram. São as que põem melodias Midi nos blogs. E as que simulam, ou não, susceptibilidade face a meia dúzia de palavrões ou contra-tabus. Ora essa! As "novas" são flexíveis. As "novas" re-inventam tudo, mesmo o que é velho. Conseguem elevar-se e observar-se no seu quotidiano, mesmo assumindo a continuidade de tarefas seculares, que rompem com reflexões, ironia e humor qb. Ou seja, as "novas mulheres" não são um produto da alteração efectiva dos papéis tipicamente masculinos ou femininos. As "novas mulheres" são uma nova atitude. Os franceses inventaram o nome certo para este exercício de inteligência: autoderision. É a autoderision que nos faz sorrir quando juntamos às actividades assalariadas uma carga não reduzida de trabalho doméstico. ou quando somos pais e mães porque o pai só sabe ser pai. ou quando perdoamos o que não nos perdoam. ou nada disso, se tivermos coragem para remar sozinhas contra a corrente. É também à custa desta autoderision que novas escritoras têm emergido. na blogosfera e na literatura. Não vos falo de blogs de gaijas. ou de literatura light, tão mais associada às mulheres que aos homens (mas o que é aquilo que o Paulo Coelho industrializou?). Isso é de "velhas". Falo-vos de uma escrita em que se evoca a intimidade, que parte do ser para o mundo, do onto para o cosmos. Dizem os críticos que, nos últimos anos, essa corrente se tem reforçado graças às mulheres. Concordo. Mas nada de confusões, não se reduza intimidade a sexualidade. É que o despudor ou a linguagem erótica (coisas já distintas) na escrita notabilizam mais facilmente as mulheres que os homens. Dizem que é novo. Novo porque convém, ou esqueceram a Anais Nin. Como ela dizia, nós não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos. E nós somos ainda essa imagem que se quer da mulher. complexa mas imaculada. polifacetada mas convexa. inocente mas, ou sobretudo com, picante.

1 comentário:

Amaral disse...

Que este Natal de 2005 seja uma oportunidade para encontrares o que mais ambicionas na tua vida.
Muita Paz, muita Alegria e muito Amor, para o ano que aí vem!