5.12.05

Eu acredito em casais



ela diz que não acredita em casais. mas eu acredito. e muito. desde miúda. e muito por causa disso. era assim, eu com dez anos já não me via só. eu ia ser o casal eu e mais o Quim engenhocas que até sabia tratar do meu aquário. depois era eu e o Paulo tão enamorados que coleccionávamos imagens recortadas de revistas para pôr nas paredes da nossa futura casa. as minhas casas sonhadas eram de casal. e tanto que as memórias dos quinze aos vinte são de casal. o primeiro passeio à serra da estrela, a primeira ópera, o primeiro viajar à boleia, tantas primeiras vezes de casal, para não falar de beijos e descobertas sensuais. depois é claro que passei as primeiras solidões. que se definiam por ausência de casal. e fizeram-me bem, fazem sempre. até porque é bom ser inteiro num casal e ser inteiro é ser composto de tudo, do saber partilhar mas também do saber defender o nosso egoísmo contra o egoísmo do outro. falo dos egoísmos que nos deixam ser o que somos, mesmo em estado de casal. e claro que passei pela experiência de me sentir só mesmo em estado de casal. e essa solidão dói muito. e houve vezes em que o casal se desfez. mas o tempo passa e quando olho para trás sou eu em casal e no presente sou todos esses casais que compus. eu acredito em casais. e na margem de cada um dentro do casal. margens que não têm que ameaçar o casal. se houver o que é preciso. e a gama de propriedades de um casal é vasta. a maior delas é o amor, sabemos. seguem-se todas as derivações que vão da ternura ao desejo. mas existem outras. como a história do casal, que é talvez a segunda propriedade mais importante. e depois as necessidades de cada um, dos dois, da família dos dois se ela existir. e não digam que a base da pirâmide de Maslow não é válida. tudo o que serve o casal é válido. porque só há duas maneiras de me fazerem desacreditar num casal. a primeira é retirar-lhe as pessoas que o compõem. por exemplo, eu e o Paul Newman nunca fomos um casal, por muito que lhe custe. a segunda é retirar a vontade de ser um casal às pessoas que o compõem. por muito que custe a quem mantém essa vontade. e às vezes, a muitos outros. para quem o fim de um casal é o fim do mundo. mas não é. apesar da dor poder ser maior que o prazer que se viveu. e mais longa que o tempo em que se foi esse casal.

1 comentário:

Mónica disse...

esse casal (paul e joanne) é mitico, subiste muito a fasquia... por isso n me apetece dizer nada :-(