27.4.05

Roma del Popolo


Fontana di Trevi

É claro que atirei a moedinha para a fonte. Quero voltar a Roma, sim! A cidade é troppo bela e alguns dias não bastam para saciar a vontade de conhecer. Mas quando a ocasião chegar vou planear melhor a viagem. E certamente não vou escolher uma data próxima...:
- da entronização de um Papa;
- da entronização de uma Papa alemão: pelo menos 150 mil alemães na cidade! viu-os passar!
- de um fim de semana prolongado, também em Itália - neste 25 de Abril comemoravam os 60 anos do seu Independence day;
- de uma "domenica sportiva" com um jogo de futebol importantíssimo para o campeonato italiano - no Stadio Olimpico de Roma, a Juventus, que disputa a liderança com o Milan, jogava com o Lazio: vencendo por 1-0, igualou os 73 pontos do Milan na Classificação da Série A.

É que, na prática, isto significou: rios de gente na Piazza di Spagna e suas escadinhas, rios de gente na Piazza del Popolo e suas igrejas, via Condotti (a 5ª avenida de Roma) intransitável, vontade de atirar à Fontana di Trevi todos os turistas que, como nós, queriam sentar-se e fotografar-se e refrescar-se, verdadeira Via Sacra entre o Colosseo e o Foro Romano, filas intermináveis e colossais para entrar no Colosseo, no Musei Vaticani e Cappella Sistina, na Basílica di San Pietro,... e já ficaram com uma ideia!

Mas, apesar de toda esta agitação, não deixava de exclamar a todo o momento: belíssimo! Roma não tem arranha-céus nem janelas de alumínio. Roma tem verde, existem imensos parques. Roma tem charme. As fachadas romanas clássicas têm cores ocres, amarelo, pêssego, e estão bem conservadas. A cada esquina a memória do império romano numa pirâmide, numa coluna, numa parede, num obelisco, numa ruína. E a renascença e o romantismo que pintores e escritores que passaram por Roma lá deixaram, não foram destruídos. Roma tem inúmeras fontanas, palazzos, museos, chiesas, piazzas que vivem! E depois os detalhes, que são dicas a não perder: o museo atelier Canova Tadolin, o antigo estúdio do famoso escultor agora transformado em restaurante; o caffè Greco para o melhor cciocholai da vossa vida; e, até 31 de Maio, a XIV Quadriennale d'Arte di Roma na Galleria Nazionale d'Arte Moderna (com almoço ou lanche dentro do museu)!

No Domingo, dia do entronamento, foi definida uma "área rosa" à volta do Vaticano. A missa começava às 10h mas nenhum automóvel podia entrar na área depois das 8h. O Metro foi fechado, os autocarros não podiam circular. Por razões de segurança (não a dos chefes de Estado mas a do popolo, que aos milhares acorria à zona). Assim, a maior parte dos peregrinos deslocou-se a pé para a Basílica. Benedetto XVI foi aclamado. Comentário da RAI: o Papa teve uma postura muito solene! Imagens da RAI (cumprimentos): todos os monarcas presentes com especial destaque para os reis de Espanha, o irmão de Bush (o único que se ajoelhou), o presidente italiano e o disgraciatto Berlusconi&mulher&filho e o "nosso" Durão Barroso. Foi nesse dia que decidi ir para o Coliseu para fugir às multidões... e descobri que (1) tinham instalado por lá um écran gigante, e que (2) todos os italianos em fim de semana prolongado que não tinham ido para os Alpes ou para Porto Fino, escolheram colmatar uma falha imperdoável no seu curriculum vitae, conhecendo nesse preciso dia aquele pedaço de Roma e do tempo.

Palavras que ficaram:
Mussolini era o Homem da Providência Divina, enquanto governou evocava a Glória da Roma Antiga..., de repente percebi como ele era pequeno, foi um choque - Urbano Lazzaro, o soldado que prendeu o ditador em fuga, na RAI (Mussolini e a amante Laura foram executados no dia 28 de Abril de 1945, sem julgamento, e os corpos mutilados foram expostos em Milão)

O meu pai dizia que os políticos são como canas ao vento, se não abanarem, quebram - ilustre passageiro da TAP, reformado, filho de um carabineri que fez parte do corpo de guarda de Mussolini, com quem conversei no vôo Lisboa-Roma.

O fantasma de Nero aterrorizava aquele local onde, diziam, havia uma árvore amaldiçoada. O Papa Pascal II apaziguou a população mandando queimar a árvore e construindo uma capela. (1099, Santa Maria del Popolo)

Confirmações:
Não podemos deitar-nos no chão da Capela Sistina para ver o tecto.

Em Itália não se fuma em restaurantes e cafés.

Os taxistas discutem em todos os países do mundo.

Os franchisings espanhóis de vestuário não invadiram a Itália.

As cidades conhecem-se a pé.

Tenho que ir a um ortopedista.

Regresso:
Não é só chegar do Outro Mundo, e pronto! Reencontramos o fio dos dias como o deixámos, a arrastar-se por aqui, pegajoso, precário. A esperar-nos. in Céline, Viagem ao fim da noite, Ed. Ulisseia, p. 209

nota: Não é tanto assim...:)

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