Mostrar mensagens com a etiqueta Cruzeiro Seixas. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Cruzeiro Seixas. Mostrar todas as mensagens

1.11.12

Vida Sempre




Vida Sempre

Entre a vida e a morte há apenas
o simples fenómeno
de uma subtil transformação. A morte 
não é morte da vida.
A morte não é inação, inutilidade.
A morte é apenas a face obscura,
mínima, em gestação
de uma viagem que não cessa de ser. Aventura
prolongada
desde o porão do tempo. Projectando-se
nas naves inconcebíveis do futuro.

A morte não é morte da vida: apenas
novas formas de vida. Nova
utilidade. Outro papel a desempenhar
no palco velocíssimo do mundo. Novo ser-se (comércio
do pó) e não se pertencer.
Nova claridade, respiração, naufrágio
na maquina incomparável do universo.

Casimiro de Brito, in "Poemas da Solidão Imperfeita", Faro, Edição do Autor, 1957



 [Imagem: Cruzeiro Seixas. "O que vos digo é que antes de voar, o homem já sabia voar". 1985. Tinta-da-China, Lápis s/ Papel. 23x37 cm]

1.7.12

Sequências




INOCÊNCIA

No pórtico da casa, entre lilases,
o par de namorados brincava de apertar-se as mãos
e de contar os dedos.
Havia sempre um dedo a mais.


SABEDORIA

Tarde da noite, o «party» terminava
num desabar de bêbados
e de falsos bêbados.

O bêbado despiu-se lentamente,
os falsos bêbados rodearam-no.

No dia seguinte, ninguém conseguia lembrar-se do que acontecera.


JORGE DE SENA in "Sequências", Série «América, América, I Love You", colecção Círculo de Poesia da Moraes Editores, 1ª ed. de Julho de 1980
(Os dois poemas foram escritos a 12/Ago/1969)

Ilustração: Cruzeiro Seixas (1969), "Anda espreitar o que há dentro de um desejo", Tinta-da-China s/ papel, 20x15 cm

29.3.12

Linha d´Água - Tapeçaria de Portalegre e Arte Contemporânea

Quadros de Maria Helena Vieira da Silva, Almada Negreiros, Cruzeiro Seixas, Nadir Afonso, Júlio Pomar, Júlio Resende, José de Guimarães, António Charrua, Costa Pinheiro, Lourdes Castro ou Graça Morais foram reproduzidos pelos artífices das Tapeçarias de Portalegre, combinando as técnicas da tecelagem artesanal com a pintura moderna para criar obras originais. Composta por 13 tapeçarias que fazem parte da colecção da Fundação Millenium BCP, a mostra, inaugurada hoje, pode ser vista no MUSEU DE AVEIRO até dia 13 de Maio. São obras impressionantes. Adorei!

[Tapeçaria de Portalegre - Almada Negreiros, sem título, 1930]

27.9.09

Sonhos a votos

Cruzeiro Seixas
Sonho, 2001
Desenho s/ papel, 21x29,5 cm


Peguem nos vossos sonhos e levem-nos para a cabine de voto. Deixem o derrotismo fechado em casa.

6.2.09

Grelha de análise (7)


Obra: [Contos de] Princípio, MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO,
in Princípio e Outros Contos
Ed: Publicações Europa-América, Lisboa, 1985
Tema: «RELAÇÃO ENTRE HOMENS»


«LOUCURA»
Eu e Raul conhecemo-nos desde os bancos do Liceu. (...)
Eu perdoava-lhe sempre... (...)
... a nossa mútua antipatia transformou-se em simpatia mútua. Eu aceitei os seus olhos e os seus cabelos; ele tolerou a minha cor terrosa, e grande intimidade se foi estreitando entre nós.
...uma convivência sempre quotidiana foi acompanhando, avigorando a nossa amizade.
pp. 8-9

Raul continuava a ser o meu confidente. Expunha-lhe todos os meus projectos, todas as minhas esperanças: era ele a primeira pessoa que ouvia ler as minhas obras.
p. 15

Raul estimava-me muito. Se há amigos verdadeiros, ele era um amigo verdadeiro.
p. 16

Notícias pessoais – isto é, notícias da alma – faltavam.
p. 25

Dantes, só um homem me atraía; agora era também uma mulher... uma mulher encantadora, uma criatura ideal. Raul e Marcela – dizia-se – não eram dois esposos, eram dois amantes.
p. 30

Marcela apareceu sem saber da minha presença. Ao ver-me, estacou ruborizada. É que estava positivamente nua. (...) Raul, ao notar a sua perturbação, soltou uma cristalina gargalhada e – voltando-se para mim – clamou:
- Já que não posso mostrar a ninguém a minha melhor obra, ao menos que a conheças tu... Eu nunca tive segredos para ti!...
Com um puxão, despojou Marcela do seu leve vestuário... Numa aparição ideal, eu vi o seu corpo inteiramente nu... Que corpo... Nos braços, nas pernas, nos seios, havia nódoas negras: eram escoriações de amor, compreendi... A visão durou um segundo... Ela fugiu chorando...
........................................
Um louco... Um louco, não havia dúvida.
p. 35

... a minha intimidade com a sua mulher era pequena. Limitava-se à conversação banal das pessoas que se conhecem. Havia mesmo um certo embaraço entre nós desde a cena extraordinária que narrei.
p. 43

«O escultor faz corpos – dizias – o escritor faz almas...» Da nossa colaboração vai sair a vida!
p. 52

O meu amigo levou-me para a estrada da Praia das Maças. O silêncio era absoluto. (...)
- Ciumento? Sim... Tenho tido ciúmes... de ti, sobretudo. És o meu melhor amigo... e isso acontece sempre com os melhores amigos...
Tapei-lhe a boca inclinado:
- Repara no que dizes, hein?!
- Perdoa-me... perdoa-me... - implorou. Sou tão infeliz...(...)
p. 65


«O SEXTO SENTIDO»
Patrício da Cruz, primoroso contista – acercou-se do Dr. Gouveia e, durante toda a noite, os dois conversaram isolados.
(...) desde aí que eu notei uma grande mudança no pobre Patrício. (...) agora, fugia de todos os amigos – de mim próprio, aquele cujo convívio mais lhe agradava.
p. 185

Mais vale desabafar, confiar em ti – o meu único amigo sincero, agora o sei.
p. 185

... soube que todos eram amigos falsos, miseráveis hipócritas – excepto tu, excepto só tu!...
p. 187

«A PROFECIA»
Amigo íntimo do desventurado e herdeiro dos seus papéis, eu era até agora a única pessoa a conhecer a verdade (...)
p. 199

É tempo de derruir lendas que poderiam ofuscar a glória do seu nome.
p. 199


«O INCESTO»
(Noronha) amigo de infância de Luís, um companheiro leal de todos os dias, que estivera sempre junto dele nas horas alegres e tristes.
p. 224


[Imagem: Cruzeiro Seixas, Anda espreitar o que há dentro de um desejo, Tinta da china sobre papel, 20x15 cm, 1969]

5.4.08

O que vos digo

O que vos digo é que antes de voar, o homem já sabia voar
Tinta-da-China, lápis s/ papel - 23x37 cm - 1985


Cruzeiro Seixas tem andado por
aqui