Janeiro
Comecei com Bilhete de Identidade da Maria Filomena Mónica, um livro que confirma a teoria da transmissão dos genes culturais! Dei uma revisão ao L'arrache-coeur de Boris Vian. Sim, esse, esse mesmo. Mas o primeiro baque do ano veio com Predadores de Pepetela. À míngua de edições traduzidas, ou nem isso, de Júlio Cortázar, experimentei, acho que pela primeira vez, ler uma obra via net: Rayuela. Toco tu boca, con un dedo toco el borde de tu boca, voy dibujándola como si saliera de mi mano, como si por primera vez tu boca se entreabriera, y me basta cerrar los ojos para deshacerlo todo y recomenzar, hago nacer cada vez la boca que deseo... (aqui). O ano terminou sem que tivesse notícias que pudessem alterar esta desolação. Yo no sé, mira, es terrible cómo llueve. Llueve todo el tiempo, afuera tupido y gris, aquí contra el balcón con goterones cuajados y duros, que hacen plaf y se aplastan como bofetadas uno detrás de otro, qué hastío.(aqui)
Fevereiro
Autor, Autor de David Lodge, a que se seguiu A Volta no Parafuso de Henri James.
Março
O dia está a chegar ao fim. Mas se calhar ainda é um bocado cedo para a minha canção. Cantar cedo demais é funesto, sempre achei. Por outro lado, às vezes deixa-se passar a altura. Em Os Dias Felizes de Samuel Beckett. Uma das leituras feitas a pensar nisto. E apenas porque era outro dos autores celebrados no Famafest '06, fica o pensamento: depois de conhecer o "seu" cinema, era tempo de ler Harold Pinter!
Abril
De Haruki Murakami, Kafka à Beira-mar. Seguiu-se Norwegian Wood do mesmo autor. Foi a minha revelação do ano e quase não disse nada.
Este foi também "o mês" de Paulo José Miranda. Oficialmente li apenas A Voz Que Nos Trai. Para quando a publicação de outras obras, Paulo?
Maio
Visões de Cristo no Cinema foi um dos vários livros que Lauro António escreveu e que foram editados pela Biblioteca Museu República e Resistência. É bom tê-los na nossa biblioteca.
Ah, afinal referi o Murakami e o Paulo José Miranda e tantos outros. Mas este foi o mês de Philip Roth. Li Pastoral Americana e A Conspiração Contra A América, continua a faltar-me Casei Com Uma Comunista. E já tenho o último dele, O Animal Moribundo. Serão leituras para 2007.
De assinalar como um dos meus melhores livros do ano, Dias Exemplares, de Michael Cunningham. A primeira parte do livro, Dentro da Máquina, deixou-me uma marca (que espero seja) indelével.
Junho
As leituras continuaram até porque "ler bem é também aproveitar a felicidade de ler". Mas não referi nenhum livro. Oh não, também me deixei ir na onda do Mundial! E nem li Kenzaburo Oe, apesar de ter anotado o seu nome.
Julho
A Possibilidade de uma Ilha, de Houellebecq, aparece finalmente nas nossas livrarias. Mas esse livro do meu autor de culto já tinha sido devorado e partilhado aqui no ano anterior. Traduzi algumas páginas para despertar o vosso desejo. Houllebecq é (possivelmente) um homem execrável e um escritor maravilhosamente inteligente. (...) o ciúme, o desejo e a vontade de procriação têm a mesma origem, que é o sofrimento de ser. É o sofrimento de ser que nos faz procurar o outro, como um paliativo; devemos ultrapassar esse estádio a fim de alcançar o estado em que o simples facto de existir constitui por si mesmo um motivo de alegria permanente ... (aqui). Eu não queria tornar-me um autómato, e foi isso, essa presença real, esse sabor de vida viva, como teria dito Dostoïevski, que Esther que ofereceu. De que serve manter em estado de marcha um corpo que não é tocado por ninguém? (aqui)
Em Julho li O Fim da Aventura, de Graham Greene. De vez enquando é bom reler um clássico para saber que (quase) tudo já foi inventado e demonstrado com mestria. Na escrita de um romance, isso significa perceber a sensibilidade de hoje igual à de ontem. ou o contrário.
Agosto
O que li eu estas férias? Peguei no Cuidado com a Doçura das Coisas de Raphaëlle Billetdoux, para descobrir que já o tinha lido. Li La Poursuite du Bonheur, e não gostei pela primeira vez de um livro do Michel Houellebecq. enfim, vou dizer não à sua poesia. Comprei vários outros livros, aproveitando a estadia em França, em que ainda não peguei. Comecei a ler Arno Gruen, e continuo. Agora é A Traição do Eu que está pousado na mesa de cabeceira. E li O Mar de John Banville! Leitura que inspirou vários posts em Setembro. vários. uns três ou quatro, ou cinco ou seis.
Setembro
... foi o mês em que eu nunca mais acabava de ler A Sombra do Vento de Carlos Ruiz Zafón. Quando acabei a leitura não me apeteceu dizer-vos nada. Mas parece que são poucas as pessoas que não ficaram "apanhadas" por esta obra, um cruzamento de romance histórico e policial, bem escrito e... pueril.
Outubro
ah, Villa Amalia, de Pascal Quignard!
Novembro
Bom mês! A descoberta de Flannery O'Connor e a leitura do assombro que é A Invenção de Morel de Adolfo Bioy Casares. E poesia, muita.
Dezembro
Começou com O Mesmo Mar de Amos Oz, outro nomeado para a secção dos meus livros do ano. Li o último do Gonçalo M. Tavares. Depois fui forçada a permancer em repouso e rejubilei, lembram-se? António Franco Alexandre, Maria Teresa Horta, Al Berto, António Ramos Rosa e Possidónio Cachapa foram os eleitos. Além de Süskind.
Neste momento tenho em mãos "Romance Negro e Outras Histórias" de Rubem Fonseca.
Muita coisa escapou. Mas não me apetece levantar e procurar. mesmo não confiando totalmente neste auxiliar de memória que é o blogue. De repente lembrei-me de uma agenda pequenina que eu tive (e ainda tenho. aonde?) e onde comecei a apontar os livros lidos. Teria uns 12 ou 13 anos. Nele constavam partes da Bíblia, Enid Blyton, cada número da colecção discriminado, Memórias de uma Menina Bem Comportada de Simone du Beauvoir (que li, à espera de que a menina fosse mal comportada, mas sem nenhum conhecimento sobre a autora), Michel Vaillant, e tantos outros, numa amálgama deliciosa que chegou aos 300 e tal livros. Depois dessa lista, acho que não voltei a fazer outra. até hoje. Mas dou-me conta de que a falta de critério se mantém, ou é um critério em si. Pegar num livro e partir. para um novo dia, ou noite. ou ano. "ler bem é também aproveitar a felicidade de ler"
Comecei com Bilhete de Identidade da Maria Filomena Mónica, um livro que confirma a teoria da transmissão dos genes culturais! Dei uma revisão ao L'arrache-coeur de Boris Vian. Sim, esse, esse mesmo. Mas o primeiro baque do ano veio com Predadores de Pepetela. À míngua de edições traduzidas, ou nem isso, de Júlio Cortázar, experimentei, acho que pela primeira vez, ler uma obra via net: Rayuela. Toco tu boca, con un dedo toco el borde de tu boca, voy dibujándola como si saliera de mi mano, como si por primera vez tu boca se entreabriera, y me basta cerrar los ojos para deshacerlo todo y recomenzar, hago nacer cada vez la boca que deseo... (aqui). O ano terminou sem que tivesse notícias que pudessem alterar esta desolação. Yo no sé, mira, es terrible cómo llueve. Llueve todo el tiempo, afuera tupido y gris, aquí contra el balcón con goterones cuajados y duros, que hacen plaf y se aplastan como bofetadas uno detrás de otro, qué hastío.(aqui)
Fevereiro
Autor, Autor de David Lodge, a que se seguiu A Volta no Parafuso de Henri James.
Março
O dia está a chegar ao fim. Mas se calhar ainda é um bocado cedo para a minha canção. Cantar cedo demais é funesto, sempre achei. Por outro lado, às vezes deixa-se passar a altura. Em Os Dias Felizes de Samuel Beckett. Uma das leituras feitas a pensar nisto. E apenas porque era outro dos autores celebrados no Famafest '06, fica o pensamento: depois de conhecer o "seu" cinema, era tempo de ler Harold Pinter!
Abril
De Haruki Murakami, Kafka à Beira-mar. Seguiu-se Norwegian Wood do mesmo autor. Foi a minha revelação do ano e quase não disse nada.
Este foi também "o mês" de Paulo José Miranda. Oficialmente li apenas A Voz Que Nos Trai. Para quando a publicação de outras obras, Paulo?
Maio
Visões de Cristo no Cinema foi um dos vários livros que Lauro António escreveu e que foram editados pela Biblioteca Museu República e Resistência. É bom tê-los na nossa biblioteca.
Ah, afinal referi o Murakami e o Paulo José Miranda e tantos outros. Mas este foi o mês de Philip Roth. Li Pastoral Americana e A Conspiração Contra A América, continua a faltar-me Casei Com Uma Comunista. E já tenho o último dele, O Animal Moribundo. Serão leituras para 2007.
De assinalar como um dos meus melhores livros do ano, Dias Exemplares, de Michael Cunningham. A primeira parte do livro, Dentro da Máquina, deixou-me uma marca (que espero seja) indelével.
Junho
As leituras continuaram até porque "ler bem é também aproveitar a felicidade de ler". Mas não referi nenhum livro. Oh não, também me deixei ir na onda do Mundial! E nem li Kenzaburo Oe, apesar de ter anotado o seu nome.
Julho
A Possibilidade de uma Ilha, de Houellebecq, aparece finalmente nas nossas livrarias. Mas esse livro do meu autor de culto já tinha sido devorado e partilhado aqui no ano anterior. Traduzi algumas páginas para despertar o vosso desejo. Houllebecq é (possivelmente) um homem execrável e um escritor maravilhosamente inteligente. (...) o ciúme, o desejo e a vontade de procriação têm a mesma origem, que é o sofrimento de ser. É o sofrimento de ser que nos faz procurar o outro, como um paliativo; devemos ultrapassar esse estádio a fim de alcançar o estado em que o simples facto de existir constitui por si mesmo um motivo de alegria permanente ... (aqui). Eu não queria tornar-me um autómato, e foi isso, essa presença real, esse sabor de vida viva, como teria dito Dostoïevski, que Esther que ofereceu. De que serve manter em estado de marcha um corpo que não é tocado por ninguém? (aqui)
Em Julho li O Fim da Aventura, de Graham Greene. De vez enquando é bom reler um clássico para saber que (quase) tudo já foi inventado e demonstrado com mestria. Na escrita de um romance, isso significa perceber a sensibilidade de hoje igual à de ontem. ou o contrário.
Agosto
O que li eu estas férias? Peguei no Cuidado com a Doçura das Coisas de Raphaëlle Billetdoux, para descobrir que já o tinha lido. Li La Poursuite du Bonheur, e não gostei pela primeira vez de um livro do Michel Houellebecq. enfim, vou dizer não à sua poesia. Comprei vários outros livros, aproveitando a estadia em França, em que ainda não peguei. Comecei a ler Arno Gruen, e continuo. Agora é A Traição do Eu que está pousado na mesa de cabeceira. E li O Mar de John Banville! Leitura que inspirou vários posts em Setembro. vários. uns três ou quatro, ou cinco ou seis.
Setembro
... foi o mês em que eu nunca mais acabava de ler A Sombra do Vento de Carlos Ruiz Zafón. Quando acabei a leitura não me apeteceu dizer-vos nada. Mas parece que são poucas as pessoas que não ficaram "apanhadas" por esta obra, um cruzamento de romance histórico e policial, bem escrito e... pueril.
Outubro
ah, Villa Amalia, de Pascal Quignard!
Novembro
Bom mês! A descoberta de Flannery O'Connor e a leitura do assombro que é A Invenção de Morel de Adolfo Bioy Casares. E poesia, muita.
Dezembro
Começou com O Mesmo Mar de Amos Oz, outro nomeado para a secção dos meus livros do ano. Li o último do Gonçalo M. Tavares. Depois fui forçada a permancer em repouso e rejubilei, lembram-se? António Franco Alexandre, Maria Teresa Horta, Al Berto, António Ramos Rosa e Possidónio Cachapa foram os eleitos. Além de Süskind.
Neste momento tenho em mãos "Romance Negro e Outras Histórias" de Rubem Fonseca.
Muita coisa escapou. Mas não me apetece levantar e procurar. mesmo não confiando totalmente neste auxiliar de memória que é o blogue. De repente lembrei-me de uma agenda pequenina que eu tive (e ainda tenho. aonde?) e onde comecei a apontar os livros lidos. Teria uns 12 ou 13 anos. Nele constavam partes da Bíblia, Enid Blyton, cada número da colecção discriminado, Memórias de uma Menina Bem Comportada de Simone du Beauvoir (que li, à espera de que a menina fosse mal comportada, mas sem nenhum conhecimento sobre a autora), Michel Vaillant, e tantos outros, numa amálgama deliciosa que chegou aos 300 e tal livros. Depois dessa lista, acho que não voltei a fazer outra. até hoje. Mas dou-me conta de que a falta de critério se mantém, ou é um critério em si. Pegar num livro e partir. para um novo dia, ou noite. ou ano. "ler bem é também aproveitar a felicidade de ler"
3 comentários:
E entranhar.
Bela lista!
Que 2007 continue a ser um ano de bons livros e de
Paz Saúde Alegria.
Ultimamente, a minha mágoa é ter livros que me esperam faz tempo infinito e a burocracia das escolas impedem-me de ter tempo. Espero não deixar esta vidinha sem ler alguns deles. Qualquer dia o ensino vira( se já não virou)a aprendizagem da banalidade e da incompetência. A desmotivação dos professores é geral, bem como o panorama de desolação cultural.
Ibel
Enviar um comentário