4.12.06
O narrador vem tomar uma chávena de chá e Albert diz-lhe
"Li um artigo seu, O fogo e o enxofre no Yediot Abronot* de ontem. Foi Rico que o trouxe e disse, lê isto, pai, e não te zangues. (...) Parece-me que ele é ainda mais esquerdista que você, Estado repressivo e coisas do género. Eu tenho menos princípios,
mas a situação também não me agrada lá muito. (...)
Claro que respeito a coragem da criança que grita o rei vai nu enquanto a multidão aclama viva o rei!, mas na situação actual é a multidão que grita o rei vai nu e talvez por isso a criança tenha que inventar um grito novo
ou dizer o que tem a dizer
sem gritar. De qualquer maneira, há barulho a mais, o país está cheio de clamores (...). Ou, pelo contrário, de um sarcasmo corrosivo: todos se condenam uns aos outros. Eu pessoalmente sou de opinião que a crítica
dos assuntos públicos deve conter, digamos, vinte por cento de sarcasmos e insultos, vinte por cento de sofrimento e sessenta de rigor clínico. (...)
O melhor que você tem a fazer é afastar-se da procissão. Fique lá em Arad e se possível escreva com serenidade. Em tempos como este, a serenidade é um bem precioso e raro neste país. E que não haja mal-entendidos:
estou a falar de serenidade, e decididamente não de silêncio."
Amos Oz, O Mesmo Mar, Ed. ASA, 2004, pp147-148
*Yediot Abronot (Ultimas notícias): jornal diário de grande tiragem em Israel
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