2.7.05

O dia é perfeito. E eu detesto-o

Em aceleração estampou-se numa avenida.
Preciso do suor do peito das tuas mulheres.

Sangro infinitamente até me abraçar ao chão como um balão sem ar. E depois vens tu e tornas-me a encher e a lançar-me no céu.

Tu és transparente e és quente. Tu és ausente.

Vieste descalça.


Para onde? Pergunto disponível. Para onde for preciso.


e sussuraste-me ao ouvido.

Anjos Cinza da não vida
Apoderam-se das cores e, frágeis, dormem entrelaçados nelas.

Em círculos salta um golfinho rosa excitado,

Lamentamos, mas de momento não é possível efectuar a operação.

O ódio é uma bala amarga que atinge sempre o atirador.
E em mel lambo-te os dedos dos pés...

Espreitas-me,

É a avenida.
de um sorriso numa face anónima,

Ora lestos, ora lentos.

suster-me à altitude de uma ave de rapina, e procurar-te nos céus...

Acumulam-se os gordos.
Acumulam-se os que têm de fugir à lei.
És uma mentira. Mas eu compro-te.

Triste é o sol que te acende em fúria,
E destapa os teus voos contra o vento.

Suei eu. Suou a flor. E das gotas gordurosas do suor cresceram tempestades em festa, expelidas pelos desenhos das crateras da Terra, que novas se abriram e em deleite trovejaram. Era noite e eu não queria dormir. Nem sozinho, nem com ela.

e onde eu adormeci fingindo sono.

Todos os dias sais pela última vez. Todos os dias voltas beijando-me de carvão. Fazemos amor rodando a alta velocidade, expelindo no ar a matéria morta que se acumula no dia. E eu digo-te: "não há melhor sítio para estar do que este, em que se anda de carroucel sem parar...".

"haVErá ViDA depOIs DA MOrTE?". Tem de haver porque, pelo menos antes da morte, não há.

Tu a pensar nele e eu a pensar nela, como gatos abandonados por já não caçarem ratos. De coleira ainda.

O dia é perfeito. E eu detesto-o.

Não consegues excitar-te duas vezes seguidas no mesmo país.

Curioso foi não encontrar em ti hesitação.

O teu peso vai fazer faltar a luz.

Acima, abaixo. Acima, abaixo. Acima, abaixo. Acima das tuas pernas nada existe. Nem os teus olhos esquivos perfurantes de azul, nem as tuas mãos húmidas de segurar um pit bull.

Escreveu num guardanapo antes de se matar.

Bem vinda ao fundo de um prego espetado no sapato. Cavaleira não chores,

Tu morres e respiras. Eu não.

É de facto Inverno. Sempre. Menos agora.

E o dia escorre-se de mim.

Cinzento percorro-te nos dois sentidos, de sorriso amortecido pela noite que vem. E tu passas, empinada como uma velha peça de artilharia: tão bela, e sem poder disparar.

Um truque razoável era sumo de limão, amargo pela manhã. Percorrias em fuga a chã dos limoeiros.

Em vésperas da última ceia já ninguém tem fome.
E num resto de jornal impresso em vão, voando pela não existência, anuncia-se a catástrofe:
"A Branca de Neve morreu".


Na arena os palhaços comiam os restos da bondade das palmas,

Quis lamber-te e não deixaste.

Se partires, quero andar de bicicleta verde sobre prados azuis de mar.

E depenar-te, que és como um anjo debaixo de um monstro.

Eu não vou chorar, que já é dia. Já há crianças na escola a aprender a ler,

Não há bicicletas que percorram o mar.

Mas agora, ao sangrar sobre o que te queria dizer, lembrei-me do teu lábio trémulo de amor, e arrependi-me.

Queria falar de como ainda passeias nua pela casa, e deixas o cinzeiro em cima da cómoda que era do meu avô, e marcas a cama com o teu aroma de longo campo primaveril. Queria dizer-te que a puta da vizinha do lado ainda liga o aspirador à noite para te irritar, e que ao contrário do que te disse nunca a comi.

E demanhã há pessoas felizes na televisão. Eu tenho pena de ao morrer deixá-las ali,

As pilhas esgotaram-se.

E depois extinguiu-se. A luz, o dia, a íris.

É quase tudo tão pouco.

Bem vinda ao clã do pó onde mais ninguém existe.

Que tu não és vulgar.



LOGO Á NOITE, às 21:30, NA LIVRARIA O NAVIO DE ESPELHOS, IVAR CORCEIRO APRESENTA numa avenida de merda.
Vão soltar-se mandarins!

1 comentário:

mfc disse...

Li tudo num torvelinho rodopiante que por vezes me tirou o ar, que por vezes fiquei sem palavras, que por outras vezes me excitou!