10.6.08

Rainhas de Portugal

No Dia de Portugal, aproveito para vos dar a conhecer a minha última obsessão: ler tudo o que me aparece à frente sobre rainhas de Portugal ou digníssimas descendentes. Desde que a pulsão começou, só tive tempo para terminar dois livros, ambos mui ficcionados, o primeiro sofrível nas duas categorias, como documento histórico e como obra literária, mas, em ambos os casos, acabei por apreciar a leitura. As duas obras são protagonizadas por descendentes de D. Pedro I, O Justiceiro.

João, Mestre de Avis, filho bastardo de D. Pedro e Teresa Guille Lorenzo, casou em 1387, na Sé do Porto, com Philippa (1360-1415), neta de Edward III de Inglaterra, filha legítima de John de Gaunt e Blanche of Lancaster. O nome da rainha aportuguesou-se, passando a ser conhecida por Filipa de Lencastre. Filipa de Lencastre - A Rainha que Mudou Portugal, de Isabel Stilwell, parece um conto de fadas estruturado a partir da sucessão dos (8) partos da rainha, mas não deixa de nos dar uma ideia (subjectiva, encantatória) do que foi o reinado de D. João I, da influência de D. Nuno Álvares Pereira junto do monarca e no reino, e o que marcou a infância da Ínclita Geração. O imaginário de Isabel Stilwell sobre as relações entre os membros do núcleo familiar é tão fértil que, numa recente visita ao Castelo de Ourém, senti-me quase próxima do casal D. Afonso (filho bastardo do Mestre de Avis, 1º Duque de Bragança) e D. Beatriz Pereira de Alvim (filha do Condestável), que promoveram grandes reformas no conjunto do castelo medieval, fazendo erguer ainda o edifício do Paço e a Igreja da Colegiada. A primeira parte da obra, sobre a vida da princesa Philippa em Inglaterra, é menos linear, e daria um excelente argumento cinematográfico. A autora fixa-se no quotidiano da vida da família real, nas relações amorosas legítimas e ilegítimas, na descendência que estas originam e na educação dos infantes e "bastardos", imagina diálogos entre personagens, deixando o horizonte de guerras e disputas fora das paredes dos castelos, mas suficientemente próximos para formar personalidades e mudar destinos pessoais.

Beatriz de Portugal, de Paula Cifuentes, é um verdadeiro romance com ambição e fulgor literários. Nesta obra, a filha bastarda de D. Pedro e D. Inês assume o papel de narrador e sujeito de acção. Cifuentes dá-nos um retrato claro da condição feminina nas monarquias portuguesa e espanhola do século XIV e é audaz na caracterização do heróico par romântico Pedro e Inês. A saber, Beatriz terá sido violada e mantido uma relação incestuosa com o pai, que terá transferido para ela o desejo pela mãe assassinada. É só depois da morte do rei, D.Pedro I, que o casamento de Beatriz com Sancho Grande de Albuquerque (irmão do rei Henrique de Trastâmara) é acordado. O romance passa-se no Alcácer de Segóvia, onde Beatriz passa a maior parte do tempo da primeira gravidez (não desejada). Os capítulos alternam entre passado em Portugal, a relação com a mãe, o assassinato da mãe, a relação com o pai, a descrição da corte de Afonso IV e do reinado de D.Pedro I, e os mistérios da vida no interior do Alcácer, as tentativas de assassinato, a relação com D. Sancho, as aias e o amante D. Rodrigo. É uma obra baseada em factos históricos mas profundamente intimista.

No rol de obras que se seguirão nesta saga de rainhas e damas portuguesas, constam:

- Catarina de Áustria, Infanta de Tordesilhas - Rainha de Portugal, de Ana Isabel Buescu, Ed. A Esfera dos Livros, 2007
- D. Maria I - A Biografia da Rainha Que Teve A Coragem de Despedir O Maquês de Pombal, de
Alexandre Honrado, Ed. Guerra & Paz, 2007
- O Testamento da Princesa do Brasil, D. Maria Benedita (1746-1829), de Alice Lázaro, Ed. Tribuna, 2007
- D. Carlota Joaquina- Rainha de Portugal, de Sara Marques Pereira, Livros Horizonte, 2008
- Rainhas de Portugal, de Francisco da Fonseca Benevides, Livros Horizonte, 2007 (reedição da edição da Typografia Castro Irmão, de 1878)

E ainda, uma viagem a Espanha:
- Isabel, A Rainha - As Filhas da Lua Vermelha, de Ángeles de Irisarri, Ed. O Quinto Selo, 2008

P.S.: Dado o mote, agradeço todos os vossos conselhos de leitura.

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